José
Herculano Pires
Pedagogia
Espírita
|
Pag. 173
1. Sinais do mundo novo
Na verdade já temos muito mais do que os
chamados sinais dos tempos. Temos a própria
sinalização do novo mundo em transformação, em evidente transição, do mundo em
que nos criamos. As gerações formadas no século XX passaram por grandes abalos,
como o produzido pela Primeira Guerra Mundial, e depois pelo aparecimento de
novas formas sociais, como o socialismo, o nazismo e o fascismo, e a ocorrência
brutal da Segunda Guerra Mundial, que resultou num aceleramento espantoso da
evolução tecnológica e científica. As transformações decorrentes desses fatos
ainda estão em curso, e diariamente as sentimos em nosso redor.
Na Rússia, após o abalo das invasões de 1920,
surgiu uma figura de pedagogo que teve de enfrentar grandes lutas. Era
Makárenko, o educador que transformou as colônias correcionais de menores em
verdadeiras escolas. Combatido pelos teóricos do partido, perseguido por
autoridades de mentalidade esquemática, criticado até mesmo no exterior,
Makárenko não recuou no seu esforço de renovar os processos educacionais.
Os menores presos pela polícia nas estradas e
nas ruas, e enviados às colônias correcionais como criminosos, para serem
tratados a pancadas, eram recebidos por Makárenko de maneira festiva. O mestre
os considerava como novos colaboradores para a realização das obras em
andamento na sua colônia. Expunha-lhes os planos em execução, solicitava-lhes
ajuda, estimulava-os ao trabalho. Sobretudo, como ele afirma nas suas obras,
procurava despertar-lhes a alegria. Seu lema era este: “Despertemos no jovem
uma pequena alegria e mantenhamos a chama, que o levaremos à felicidade”.
Na Índia, destaca-se o trabalho de Tagore, que
em certa medida é uma reprodução indiana de Tolstói, o renovador educacional da
Rússia czarista. O poeta Rabindranah Tagore, tão nosso conhecido por seus
poemas e romances – sobretudo pela sua poesia repassada de grande ternura
humana e elevada espiritualidade –, procurou encaminhar as novas gerações
indianas através de um processo educacional mais relacionado com a pedagogia
ocidental, sem prejuízo dos valores próprios e tradicionais dos métodos hindus
de ensino.
A obra de Tagore é um dos sinais mais evidentes
do novo mundo, assim como a obra de Gandhi, que mais se destaca no campo da
política e dos movimentos sociais.
Ambos lutaram para oferecer ao seu imenso país uma
orientação renovadora, imprimindo nas novas gerações a marca do novo mundo.
Mas, no Brasil esse esforço não é pessoal, não
se centraliza nesta ou naquela pessoa, neste ou naquele líder. Pelo contrário,
é coletivo, e a sua vanguarda está precisamente no movimento espírita. Isso
ficou claro no momento em que foi necessário levantar a consciência popular
contra as ameaças que pairavam sobre a escola pública. Surgiram rapidamente
pequenos e improvisados organismos espíritas de luta, que desempenharam, na prática,
as funções mais eficazes, porque os espíritas não se perdiam em preocupações de
natureza política ou sectária, nem queriam destacar-se por esta ou aquela
razão. Davam tudo quanto podiam, sem nada pedir. Queriam apenas que se
resguardasse o patrimônio espiritual da educação democrática no Brasil, mantendo-se
abertas as escolas públicas, em número sempre crescente, para o benefício geral
da nossa crescente população escolar.
Hoje, superada em parte aquela fase crítica –
pois a escola pública foi resguardada, apesar dos pesares –, surgem as escolas
espíritas, como organismos de um novo tipo, modificando o panorama da escola
particular.
Essas escolas são um dos sinais evidentes do
novo mundo em nossa terra. Nelas, os dois prejuízos fundamentais da escola
particular são superados: o do comercialismo e o do sectarismo. Porque a escola
espírita nunca objetiva, nem pode objetivar o lucro, como seu interesse
principal. Sua finalidade não é fazer dinheiro, mas ensinar a educar, e sobretudo
educar para o novo mundo. E como o Espiritismo não é uma seita, nem mesmo uma
religião organizada, de tipo formalista e dogmática, mas a religião em espírito
e verdade, anunciada nos Evangelhos, não há nem pode haver intenções sectaristas,
e conseqüentemente deformantes, na escola espírita.
Algumas pessoas nos perguntam se os espíritas
não fariam melhor, lutando apenas pela escola pública, em vez de entrarem na
competição da escola particular. Isso equivaleria a uma fuga. A realidade em
que vivemos constitui, no plano educacional, de dois campos bem definidos: o da
escola pública e o da escola particular.
Sobre ambos, por toda parte, é exercido o poder
deformante do sectarismo religioso. Os espíritas sabem o quanto têm sofrido com
isso, na carne de seus próprios filhos. Deixar que o campo da escola particular
fique inteiramente nas mãos daqueles que pretendem moldar o mundo à sua maneira
seria fugir à responsabilidade que nos cabe, no tocante à preparação e formação
das novas gerações.
O Espiritismo é o sinal maior do novo mundo na
face do mundo atual. No Brasil, cuja destinação espiritual é proclamada pelos
Espíritos e por todos os espiritualistas de mente arejada, o sinal espírita é
mais forte e mais poderosamente marcante do que em qualquer outra nação.
Os espíritas não podem fugir, sob nenhum
pretexto, ao seu dever espiritual e humano de orientar as novas gerações em
direção ao novo mundo, sob as luzes da sua doutrina, que é universalista e
contrária a todo sectarismo.
A presença da escola espírita, no campo da
escola particular, é o cumprimento de um dever e ao mesmo tempo uma prova da
força renovadora do Espiritismo.
===
Evidentemente ninguém precisa concordar em gênero, número e grau com o Professor Herculano Pires.
Mas uma coisa é inegável nesse espírito: é alguém totalmente integrado no tempo em que vive.
Não estabelece limitantes para sua inteligência. Envereda por todas as áreas com a coragem de um desbravador. E em todas elas traz contribuições intelectuais importantes para o desenvolvimento do pensamento espírita.
Dentro dos meus limites, posso apenas apreciar o seu trabalho, e fazer do professor um dos meus referenciais. Junto a outros, geográficamente mais próximos de mim. E não são poucos.
Tenho muita gratidão por toda essa gente que ajudou a formar enquanto pensador espírita. Encarnados e desencarnados compoe essa trupe. Dos 10 aos 40 anos convivendo com várias gerações tive gratas oportunidades de aprendizado em diversas instâncias do Movimento Espírita de todos os matizes.
A todos devo algo. Ora uma palavra de ânimo. Ora um livro recebido. Ora o incentivo a um trabalho para o CPDoc. Ora algum tema a apresentar num Curso de Aprofundamento no CEAK.
Sempre encontrei corações bondosos. Mas chega um momento que novas perquirições intelectuais chamam, e chamam a altos brados, abrindo fronteiras e ampliando perspectivas.
Seria tolice ignorar tudo isso; esse novo universo amplo e instigante. Me fiz tabula rasa e iniciei um processo seletivo do que me valia e do que não mais. É quando me vejo obrigado a uma perspectiva vivencial franciscana. Não mais viagens. Não mais participação no movimento espírita de qualquer matiz.
Eu mudara/mudei muito e não mais sou útil a esses movimentos.
Me limito a um ou outro artigo, e para não calar de vez abri o "Pour Kardec" em 2009, um espaço onde exponho minhas reflexões espíritas.
Como não tenho verdades tudo aqui proposto é passível de questionamentos.
Neste ano de 2014 venho partilhando esses pensamentos na Página da CEPA. Uma contribuição pequena, mas que me tira da ilha em que me tinha postado. Abro meu pensar a um número maior de pessoas. Apenas isso.
Paulo Cesar Fernandes
15 05 2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário