quinta-feira, 15 de maio de 2014

20140515 HPires Sinais do mundo novo


José Herculano Pires

Pedagogia Espírita

 

 

 



Ficha Catalográfica
Elaborada pelo Sistema de Bibliotecas Unicamp
Diretoria de Tratamento da Informação
Bibliotecário: Helena Joana Flipsen – CRB-8a/5283
D000L                        Pires, José Herculano.
Pedagogia Espírita / José Herculano Pires.
Campinas (SP), Editora Paidéia, 2008.
21 cm. 320 p. isbn: 978-85-88849-43-3
1. Pedagogia. 2. Espiritismo. I. Título.
CDD000
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 


Pag. 173

 

1.  Sinais do mundo novo

 

Na verdade já temos muito mais do que os chamados  sinais dos tempos. Temos a própria sinalização do novo mundo em transformação, em evidente transição, do mundo em que nos criamos. As gerações formadas no século XX passaram por grandes abalos, como o produzido pela Primeira Guerra Mundial, e depois pelo aparecimento de novas formas sociais, como o socialismo, o nazismo e o fascismo, e a ocorrência brutal da Segunda Guerra Mundial, que resultou num aceleramento espantoso da evolução tecnológica e científica. As transformações decorrentes desses fatos ainda estão em curso, e diariamente as sentimos em nosso redor.

 

Na Rússia, após o abalo das invasões de 1920, surgiu uma figura de pedagogo que teve de enfrentar grandes lutas. Era Makárenko, o educador que transformou as colônias correcionais de menores em verdadeiras escolas. Combatido pelos teóricos do partido, perseguido por autoridades de mentalidade esquemática, criticado até mesmo no exterior, Makárenko não recuou no seu esforço de renovar os processos educacionais.

 

Os menores presos pela polícia nas estradas e nas ruas, e enviados às colônias correcionais como criminosos, para serem tratados a pancadas, eram recebidos por Makárenko de maneira festiva. O mestre os considerava como novos colaboradores para a realização das obras em andamento na sua colônia. Expunha-lhes os planos em execução, solicitava-lhes ajuda, estimulava-os ao trabalho. Sobretudo, como ele afirma nas suas obras, procurava despertar-lhes a alegria. Seu lema era este: “Despertemos no jovem uma pequena alegria e mantenhamos a chama, que o levaremos à felicidade”.

 

Na Índia, destaca-se o trabalho de Tagore, que em certa medida é uma reprodução indiana de Tolstói, o renovador educacional da Rússia czarista. O poeta Rabindranah Tagore, tão nosso conhecido por seus poemas e romances – sobretudo pela sua poesia repassada de grande ternura humana e elevada espiritualidade –, procurou encaminhar as novas gerações indianas através de um processo educacional mais relacionado com a pedagogia ocidental, sem prejuízo dos valores próprios e tradicionais dos métodos hindus de ensino.

 

A obra de Tagore é um dos sinais mais evidentes do novo mundo, assim como a obra de Gandhi, que mais se destaca no campo da política e dos movimentos sociais.

 

Ambos lutaram para oferecer ao seu imenso país uma orientação renovadora, imprimindo nas novas gerações a marca do novo mundo.

 

Mas, no Brasil esse esforço não é pessoal, não se centraliza nesta ou naquela pessoa, neste ou naquele líder. Pelo contrário, é coletivo, e a sua vanguarda está precisamente no movimento espírita. Isso ficou claro no momento em que foi necessário levantar a consciência popular contra as ameaças que pairavam sobre a escola pública. Surgiram rapidamente pequenos e improvisados organismos espíritas de luta, que desempenharam, na prática, as funções mais eficazes, porque os espíritas não se perdiam em preocupações de natureza política ou sectária, nem queriam destacar-se por esta ou aquela razão. Davam tudo quanto podiam, sem nada pedir. Queriam apenas que se resguardasse o patrimônio espiritual da educação democrática no Brasil, mantendo-se abertas as escolas públicas, em número sempre crescente, para o benefício geral da nossa crescente população escolar.

 

Hoje, superada em parte aquela fase crítica – pois a escola pública foi resguardada, apesar dos pesares –, surgem as escolas espíritas, como organismos de um novo tipo, modificando o panorama da escola particular.

 

Essas escolas são um dos sinais evidentes do novo mundo em nossa terra. Nelas, os dois prejuízos fundamentais da escola particular são superados: o do comercialismo e o do sectarismo. Porque a escola espírita nunca objetiva, nem pode objetivar o lucro, como seu interesse principal. Sua finalidade não é fazer dinheiro, mas ensinar a educar, e sobretudo educar para o novo mundo. E como o Espiritismo não é uma seita, nem mesmo uma religião organizada, de tipo formalista e dogmática, mas a religião em espírito e verdade, anunciada nos Evangelhos, não há nem pode haver intenções sectaristas, e conseqüentemente deformantes, na escola espírita.

 

Algumas pessoas nos perguntam se os espíritas não fariam melhor, lutando apenas pela escola pública, em vez de entrarem na competição da escola particular. Isso equivaleria a uma fuga. A realidade em que vivemos constitui, no plano educacional, de dois campos bem definidos: o da escola pública e o da escola particular.

 

Sobre ambos, por toda parte, é exercido o poder deformante do sectarismo religioso. Os espíritas sabem o quanto têm sofrido com isso, na carne de seus próprios filhos. Deixar que o campo da escola particular fique inteiramente nas mãos daqueles que pretendem moldar o mundo à sua maneira seria fugir à responsabilidade que nos cabe, no tocante à preparação e formação das novas gerações.

 

O Espiritismo é o sinal maior do novo mundo na face do mundo atual. No Brasil, cuja destinação espiritual é proclamada pelos Espíritos e por todos os espiritualistas de mente arejada, o sinal espírita é mais forte e mais poderosamente marcante do que em qualquer outra nação.

 

Os espíritas não podem fugir, sob nenhum pretexto, ao seu dever espiritual e humano de orientar as novas gerações em direção ao novo mundo, sob as luzes da sua doutrina, que é universalista e contrária a todo sectarismo.

 

A presença da escola espírita, no campo da escola particular, é o cumprimento de um dever e ao mesmo tempo uma prova da força renovadora do Espiritismo.
 


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Evidentemente ninguém precisa concordar em gênero, número e grau com o Professor Herculano Pires.


Mas uma coisa é inegável nesse espírito: é alguém totalmente integrado no tempo em que vive.


Não estabelece limitantes para sua inteligência. Envereda por todas as áreas com a coragem de um desbravador. E em todas elas traz contribuições intelectuais importantes para o desenvolvimento do pensamento espírita.


Dentro dos meus limites, posso apenas apreciar o seu trabalho, e fazer do professor um dos meus referenciais. Junto a outros, geográficamente mais próximos de mim. E não são poucos.


Tenho muita gratidão por toda essa gente que ajudou a formar enquanto pensador espírita. Encarnados e desencarnados compoe essa trupe. Dos 10 aos 40 anos convivendo com várias gerações tive gratas oportunidades de aprendizado em diversas instâncias do Movimento Espírita de todos os matizes.


A todos devo algo. Ora uma palavra de ânimo. Ora um livro recebido. Ora o incentivo a um trabalho para o CPDoc. Ora algum tema a apresentar num Curso de Aprofundamento no CEAK.


Sempre encontrei corações bondosos. Mas chega um momento que novas perquirições intelectuais chamam, e chamam a altos brados, abrindo fronteiras e ampliando perspectivas.


Seria tolice ignorar tudo isso; esse novo universo amplo e instigante. Me fiz tabula rasa e iniciei um processo seletivo do que me valia e do que não mais. É quando me vejo obrigado a uma  perspectiva vivencial franciscana. Não mais viagens. Não mais participação no movimento espírita de qualquer matiz.


Eu mudara/mudei muito e não mais sou útil a esses movimentos.


Me limito a um ou outro artigo, e para não calar de vez abri o "Pour Kardec" em 2009, um espaço onde exponho minhas reflexões espíritas.


Como não tenho verdades tudo aqui proposto é passível de questionamentos.


Neste ano de 2014 venho partilhando esses pensamentos na Página da CEPA. Uma contribuição pequena, mas que me tira da ilha em que me tinha postado. Abro meu pensar a um número maior de pessoas. Apenas isso.


Paulo Cesar Fernandes

15 05 2014

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