sexta-feira, 2 de agosto de 2013

20130802 Assim vamos nós

De Emmanuel - Fonte viva
Um pouco de fermento
"Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?"
Paulo aos Coríntios I 5: 6


Ninguém vive só.

Nossa alma é sempre núcleo de influência para os demais.

Nossos atos possuem linguagem positiva.

Nossas palavras atuam a distância.

Achamo-nos magneticamente associados uns aos outros.

Ações e reações caracterizam-nos a marcha.

É preciso saber, portanto, que espécie de forças projetamos naqueles que nos cercam.

Nossa conduta é um livro aberto.

Quantos de nossos gestos insignificantes alcançam o próximo, gerando inesperadas resoluções!

Quantas frases, aparentemente inexpressivas, arrojadas de nossa boca, estabelecem grandes acontecimentos!

Cada dia, emitimos sugestões para o bem ou para o mal...

Dirigentes arrastam dirigidos.

Servos inspiram administradores.

Qual é o caminho que a nossa atitude está indicando?

Um pouco de fermento leveda a massa toda.


===


Até aqui ele vinha bem, depois o autor entra num raciocínio turvo, aquele velho esquema de Causa e Efeito.


Danou tudo.


O discurso de Emmanuel como um todo, parte do princípio de todos sermos pecadores. É inaceitável.


Inaceitável pois depoe contra o valor dos homens. Já basta a Igreja Católica a castrar a humanidade desde sua fundação até os dias atuais.


Não. O espiritismo não é nada disso. Não pode ser castrador. Não pode se valer de conceitos capazes de diminuir num ínfimo que seja o valor do homem encarnado.


Somos inteiros. Somos capazes. E, segundo nossos esforços, poderemos realizar coisas inimagináveis aos religiosos de todas as vertentes.


Libertador deve ser o espiritismo. Não for assim, podemos nos despojar de todos os livros e de todas as comunicações mediúnicas. De nada terá valido ao Planeta Terra.


Encarnamos para evoluir, aprender. Vencer os obstáculos naturais da existência, e os obstáculos internos, remanescentes de tantas outras passagens pela vida material.


Cada vez mais livres. Livres inclusive para errar e retomar o caminho. Semelhante a Sísifo, mas sem a eternidade da pena. Sempre uma nova oportunidade nos é ofertada pela Vida, ou pelas Leis Naturais, se assim o preferir o leitor.


Me afaste a vida daqueles que pensam sempre igual, e julgam estar pensando certo. Ortodoxos em suas "verdades". Pensar e repensar a vida de forma constante é natural do processo de mudança e progresso. Fugir à mudança é fugir ao progresso. Estacionar.


Pensamento estático é lodaçal.


Nos venha o novo, mas não como elemento novidadeiro, mas com algo de progresso a ele agregado.


Assim procederemos numa escalada ascencional a paragens mais amplas, cada vez mais próximas da sabedoria.


O campo intelectual, o campo estético e o campo ético formam um todo, facilitador do acesso a essa tão buscada sabedoria.


Um ponto cada dia. Cada dia um passo. Assim vamos nós.


Paulo Cesar Fernandes

02 08 2013

quarta-feira, 31 de julho de 2013

20130324 Em tempos papais

Há um cálice que não é o "Calix Bento", mas um cálice de sangue posto. De ditaduras e desaparecidos. Um continente ultrajado em sua soberania.


Um cálice, na verdade um cale-se. Capaz de manter Jesus na Cruz, justamente para fazer esquecer o Torquemada da Inquisição Católica. Brutal e sanguinária.


Ateus todos.


Puseram de lado o terno nazareno e sua mensagem. Optaram pelas benesses temporais. A união ao poder dos monarcas. Alienando sempre o povo, inclusive das lutas internas do Vaticano, que nunca optou pela simplicidade.


É preciso tirar Jesus da Cruz. Colocá-lo junto ao povo, ao seu povo.


Ao povo de Deus como ensinam nomes como Pedro Casaldáliga; Leonardo Boff e Ernesto Cardenal de minha querida Nicarágua.


Jesus, real de verdade, tá é na rua.


Tá no meu lado na condução.


Ei! Jesus da Cruz! Desce daí, e vem junto a nós, o povo acolhido pela Teologia da Libertação.


Não há Igreja se não estiver nas ruas, nos bairros, nos recantos de todos os homens. Na única comunhão verdadeiramente possível: a "Comunhão Popular".


Todo o resto é fuzarca financeira. Idolatria do Bezerro de Ouro tão condenado por clérigos conscientes. Uma busca burguesa, em distanciar o Ser da mensagem cristalina do bom e justo nazareno.


Viver sua mensagem. Longe de cultos, instituições, etc. Tudo quanto possa permitir a falsidade.


Este é o único caminho, a única verdade, e a única Vida possível de nos trazer a paz de consciência.


Paulo Cesar Fernandes

24 03 2013


NOTA:

Este texto visa os adeptos da Igreja Católica. Mas cabe como uma luva em todas as casas espíritas que eu conheci. Assim, desfrutem-no, e reflitam sobre ele, se forem pessoas capazes de refletir serenamente. Como fez Jesus, quando subiu ao monte, e em diversos momentos de sua passagem pela Terra.

terça-feira, 30 de julho de 2013

20130730 Fatalidade

A fatalidade e os pressentimentos

Revista Espírita, março de 1858

INSTRUÇÕES DADAS POR SÃO LUÍS


Um dos nossos correspondentes nos escreveu o que segue:


"No mês de setembro último, uma embarcação leve, fazendo a travessia de Dunkerque à Ostende, foi surpreendida por um tempo agitado e pela noite; o barquinho soçobra, e das oito pessoas que o tripulavam, quatro perecem; as outras quatro, entre as quais me encontrava, conseguiram se manter sobre a quilha. Permanecemos
toda a noite nessa horrível posição, sem outra perspectiva do que a morte, que nos parecia inevitável e da qual experimentamos todas as angústias. Ao amanhecer, tendo o vento nos levado à costa, pudemos ganhar a terra a nado.


"Por que nesse perigo, igual para todos, só quatro pessoas sucumbiram? Anotai que, por minha parte, é a sexta ou sétima vez que escapo de um perigo tão iminente, e quase nas mesmas circunstâncias. Sou verdadeiramente levado a crer que mão invisível me protege.


Que fiz para isso? Não sei muito; sou sem importância e sem utilidade neste mundo, e não me gabo de valer mais do que os outros; longe disso: havia, entre as vítimas do acidente, um digno eclesiástico, modelo de virtudes evangélicas, e uma venerável irmã de São Vicente de Paulo, que iam cumprir uma santa missão de caridade cristã. A fatalidade me parece ter um grande papel no meu destino. Os Espíritos, nela não estariam para alguma coisa? Seria possível ter, por eles, uma explicação a esse respeito,
perguntando-lhes, por exemplo, se são eles que provocam ou afastam os perigos que nos ameaçam?-"


Conforme o desejo de nosso correspondente, dirigimos as perguntas seguintes ao Espírito de São Luís que gosta de se comunicar conosco todas as vezes que há uma instrução útil para dar.


1. Quando um perigo iminente ameaça alguém, é um Espírito que dirige o perigo, e quando dele escapa, é um outro Espírito que o afasta?


R_ Quando um Espírito se encarna, escolhe uma prova; escolhendo-a se faz uma espécie de destino, que não pode mais conjurar, uma vez que a ele está submetido; falo de provas físicas. Conservando o Espírito no seu livre arbítrio, sobre o bem e o mal, é sempre o senhor para suportar ou repelir a prova; um bom Espírito, vendo-o enfraquecer, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir, sobre ele, de maneira a dominar a sua vontade. Um Espírito mau, quer dizer, inferior, mostrando-lhe, exagerando-lhe um perigo físico, pode abalá-lo e amedrontá-lo, mas, a vontade do Espírito encarnado não fica menos livre de todo entrave.


2. Quando um homem está no ponto de perecer por acidente, me parece que o livre arbítrio nisso não vale nada. Pergunto, pois, se é um mau Espírito que provoca esse acidente, que dele é, de algum modo, o agente; e, no caso em que se livra do perigo, se um bom Espírito veio em sua ajuda.


R_ O bom Espírito ou o mau Espírito não pode senão sugerir bons ou maus pensamentos, segundo a sua natureza. O acidente está marcado no destino do homem. Quando a tua vida é posta em perigo, trata-se de uma advertência que tu mesmo a desejaste, a fim de te desviares do mal e de te tomares melhor. Quando tu escapas
desse perigo, ainda sob a influência do perigo que correste, pensas mais ou menos fortemente, segundo a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tomares melhor. O mau Espírito sobrevindo (digo mau subentendendo que o mal ainda está nele), pensas que escaparás do mesmo modo de outros perigos e deixas, de novo, tuas paixões se desencadearem.


3. A fatalidade que parece presidir aos destinos materiais de nossas vidas seria, pois, ainda o efeito do nosso livre arbítrio?


R_ Tu mesmo escolheste tua prova: quanto mais ela é rude, melhor tu a suportes, mais tu te elevas. Aqueles que passam sua vida em abundância e na felicidade humana, são Espíritos frouxos que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados sobrepuja em muito o dos felizes desse mundo, tendo em vista que os Espíritos procuram, em maior parte, a prova que lhes será a mais frutífera. Eles veem muito bem a futilidade de vossas grandezas e de vossas alegrias. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada, não seria isso senão pela ausência da dor.


4. Compreendemos perfeitamente essa doutrina, mas isso não nos explica se certos Espíritos têm uma ação direta sobre a causa material do acidente. Suponhamos que no momento em que um homem passa sobre uma ponte, essa ponte se desmorona. Que impeliu o homem a passar nessa ponte?


R_ Quando um homem passa sobre uma ponte que deve se romper, não é um Espírito que o conduz a passar nessa ponte, é o instinto do seu destino que para lá o leva.


5. O que fez desmoronar a ponte?


R_ As circunstâncias naturais. A matéria tem nelas suas causas de destruição. No caso do qual se trata o Espírito, tendo necessidade de recorrer a um elemento estranho à sua natureza para mover as forcas naturais, recorrerá antes à intuição espiritual. Assim tal ponte adiante se rompe, a água tendo desconjuntado as pedras que a compõe, a ferrugem tendo corroído a corrente que a suspenda, o Espírito, digo eu, ensinará antes ao homem para que passe por essa ponte do que fazer romper uma outra sob seus passos. Aliás, tendes uma prova material do que eu adianto: qualquer acidente que chegue sempre naturalmente, quer dizer, de causas que se ligam umas as outras, e se conduzem insensivelmente.


6. Tomemos um outro caso no qual a destruição da matéria não seja a causa do acidente. Um homem mal intencionado atira sobre mim, a bala me roça, não me atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado?


R_ Não.


7. Os Espíritos podem nos advertir diretamente de um perigo? Eis um fato que parece confirmá-lo: uma mulher saía de sua casa e seguia pelo boulevar. Uma voz íntima lhe diz: Vai-te; retorna para tua casa. Ela hesita. A mesma voz se faz ouvir várias vezes; então, ela volta sobre seus passos; mas, reconsiderando-se, ela se diz: que vou fazer em minha casa? Dela saí; é sem dúvida um efeito de minha imaginação. Então, ela continua o seu caminho. A alguns passos dali, uma viga que se soltou de uma casa, atinge-lhe a cabeça e a derruba inconsciente. Qual era essa voz? Não foi um pressentimento do que ia acontecer a essa mulher?


R_ A do instinto; aliás, nenhum pressentimento tem tais caracteres: sempre são vagos.


8. Que entendeis pela voz do instinto?


R_ Entendo que o Espírito, antes de se encarnar, tem conhecimento de todas as fases de sua existência; quando estas têm um caráter saliente, delas conserva uma espécie de impressão no foro íntimo, e essa impressão, despertando quando o momento se aproxima, torna-se pressentimento.


Nota. As explicações acima reportam-se à fatalidade dos acontecimentos materiais. A fatalidade morai está tratada, de modo completo, em O Livro dos Espíritos.


===


Aqui me vejo eu diante de uma dificuldade. As palavras de São Luís, se é que foram dele mesmo, defendem o fatalismo.. E, segundo minha forma de compreender a mensagem de Kardec em seu todo, o fatalismo não existe.


A Liberdade é Plena e Total na nossa existência.


Essa ideia de programarmos nossa encarnação é uma amarra, tolhendo nossa capacidade de tecer escolhas para nossa jornada.


Nunca na minha infância, nem de longe, pensara em trabalhar com computadores. Até porque essa área estava longe de nosso pais na época. Ou ainda, trabalhar numa biblioteca.


Como poderia eu ter planejado isso?


Circunstâncias de saúde, e de afeição às pessoas me levaram a ficar mais tempo que o planejado na biblioteca. Quando passei no concurso, tencionava ficar seis meses e volver ao trabalho em informática na cidade de São Paulo. Algumas oportunidades surgiram, mas acabei recusando. Os livros, por certo também exerceram forte atrativo. Ler muito. Ler sem limites. O assunto que me aprouvesse, tomando livros das Universidades Estaduais de São Paulo era para mim um privilégio sem par.


Posso até ter planejado uma existência longe da música, e das artes; visando desenvolver um pouco mais o aspecto da organização pessoal. De fato algo melhorou. Mas ainda muito me falta em organização.


Professor Paulo Freire define duas formas de organização: 1- organização geográfica; 2- organização mental.


Quem tem a organização geográfica, a sua sala é um primor, cada coisa em seu lugar e devidamente arrumado. Mas nem sempre a pessoa acessa facilmente as coisas.


Por outro lado, a sala de quem tem organização mental é uma bagunça, no entanto o acesso é sempre imediato a qualquer item.
Desde que ninguém "faça o favor de ordenar". Aí nada mais é encontrado.


Sou da segunda categoria. Na juventude, quando minha irmã arrumava minha escrivaninha era o inicio de um tormento. Pois havia ordem no antigo caos. Eu sabia onde as coisas andavam. Ainda hoje em minha casa é assim. Busco manter as coisas nos mesmos lugares sempre, e dessa maneira ter sempre rápido acesso a elas.


Mesmo geograficamente desordenadas, as coisas estão em seus lugares.


Voltando à determinação.


Nada está traçado em definitivo. Quem usa o texto de Kardec ao pé da letra, sem ver a obra como um todo pode discordar, por estar lá na Revista Espírita, e vir de São Luís.


Todos temos a missão de ler as coisas todas e raciocinar sobre elas.


Não há verdade e nem Verdade.


Somos capazes de construir nossas conclusões de forma livre e autônoma. Aliás, essa é minha meta para todas as pessoas na face da Terra. Já se foram os tempos do homem necessitar de guias e pastores. De Donos da Verdade. Tudo isso caiu por terra. Vivemos no Reino da Individualidade. E a Individualidade é livre e soberana
sobre os rumos de sua existência.


Estudando e pensando. Pensando e se transformando. O homem se constrói a cada dia, e a cada dia refaz a sociedade na qual está contribuindo com seu trabalho, seja ele braçal, seja ele intelectual.


Homem e sociedade formam uma interação dialética, onde nada pode ser estático. E nada pode ser dado a priori. Daí não haver determinismo na encarnação.


Se discordar me escreva e poste sua opinião. Como já disse não há verdade. Tão somente ideias, passíveis de engano.


Paulo Cesar Fernandes

30 07 2013

domingo, 28 de julho de 2013

20130728 Júpiter

 

Revista Espírita

 

Jornal de Estudos Psicológicos

 

Primeiro Ano – 1858 Março

 

 Júpiter e alguns outros mundos

 
 

De todos os planetas, o mais avançado, sob todos os aspectos, é Júpiter. Ali, é o reino exclusivo do bem e da justiça, porque não há senão bons Espíritos. Pode-se fazer uma idéia do feliz estado dos seus habitantes pelo quadro que demos do mundo habitado sem a participação dos Espíritos da segunda ordem.


A superioridade de Júpiter não está somente no estado moral dos seus habitantes; está, também, na sua constituição física. Eis a descrição que nos foi dada, desse mundo privilegiado, onde encontramos a maioria dos homens de bem que honraram nossa Terra pelas suas virtudes e seus talentos.


A conformação dos corpos é quase a mesma desse mundo, mas é menos material, menos denso e de uma maior leveza específica. Ao passo que rastejamos penosamente na Terra, o habitante de Júpiter se transporta, de um lugar para outro, roçando a superfície do solo, quase sem fadiga, como o pássaro no ar ou o peixe na água. Sendo a matéria, da qual o corpo está formado, mais depurada, ela se dissipa, depois da morte, sem ser submetida à decomposição pútrida. Ali não existe a maioria das enfermidades que nos afligem, sobretudo aquelas que têm sua fonte nos excessos de todos os gêneros e na desordem causada pelas paixões. A alimentação está em relação com essa organização etérea; não seria bastante substanciosa para os nossos estômagos grosseiros, e a nossa seria muito pesada para eles; ela se compõe de frutas e plantas, e, aliás, haurem, de algum modo, a maior parte do meio ambiente do qual aspiram as emanações nutritivas. A duração da vida é, proporcionalmente, muito maior que sobre a Terra; a média equivale a cinco dos nossos séculos. O desenvolvimento também é muito mais rápido, e a infância dura apenas alguns de nossos meses.


Sob esse envoltório leve, os Espíritos se desligam facilmente e entram em comunicação recíproca unicamente pelo pensamento, sem excluir, todavia, a linguagem articulada; também a segunda vista é, para a maioria uma faculdade permanente; seu estado normal pode ser comparado ao dos nossos sonâmbulos lúcidos; é também porque se manifestam, a nós, mais facilmente do que aqueles que estão encarnados em mundos mais grosseiros e mais materiais. A intuição que têm do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos, fazem com que a morte não lhes cause nenhuma apreensão; vêem-na chegar sem medo e como uma simples transformação.


Os animais não estão excluídos desse estado progressivo, sem se aproximarem, entretanto, do homem, mesmo sob o aspecto físico; seus corpos, mais materiais ligam-se ao solo, como nós à Terra. Sua inteligência ó mais desenvolvida do que nos nossos; a estrutura dos seus membros se dobra a todas exigências do trabalho; são
encarregados da execução de obras manuais; são os servidores e os operários: as ocupações dos homens são puramente intelectuais. O homem é, para eles, uma divindade, mas uma divindade tutelar que jamais abusa do seu poder para oprimi-los.


Os Espíritos que habitam Júpiter, geralmente, se comprazem, quando querem se comunicar conosco na descrição do seu planeta, e quando se lhes pergunta a razão, respondem que é a fim de nos inspirar o amor ao bem pela esperança de, para lá, ir um dia. Foi com esse objetivo que um deles, que viveu na Terra com o nome de
Bernard Palissy, o célebre oleiro do décimo sexto século, empreendeu, espontaneamente e sem ser solicitado para isso, uma série de desenhos tão notáveis, tanto pela sua singularidade quanto pelo talento da execução, e destinado a nos dar a conhecer, até nos menores detalhes, esse mundo tão estranho e tão novo para nós. Alguns retratam personagens, animais, cenas da vida privada; mas, os mais notáveis, são aqueles que representam habitações, verdadeiras obras-primas das quais nada sobre a Terra poderia nos dar uma idéia, porque essa não parece com nada do que conhecemos; é um gênero de arquitetura indescritível, tão original e, no entanto, tão harmoniosa, de uma ornamentação tão rica e tão graciosa, que desafia a mais fecunda imaginação. O senhor Victorien Sardou, jovem literato e dos nossos amigos, cheio de talento e de futuro mas em nada desenhista, lhes serviu de intermediário. Palissy nos promete uma série que nos dará, de algum modo, a monografia ilustrada desse mundo maravilhoso.


Esperamos que essa curiosa e interessante coletânea sobre a qual voltaremos num artigo especial consagrado aos médiuns desenhistas, poderá ser, um dia, entregue ao público. O planeta Júpiter, apesar do quadro sedutor que dele nos foi dado, não é o mais perfeito entre os mundos. Há outros, desconhecidos para nós, que lhes são bem superiores, no físico e no moral, e cujos habitantes gozam de uma felicidade ainda mais perfeita; lá é a morada dos Espíritos mais elevados, cujo envoltório etéreo nada mais tem das propriedades conhecidas da matéria.


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Vejo no texto acima uma nobre expressão poética, um texto de grande beleza estética.


Mas nada crível. Uma bela fantasia tão somente.


Aí reside a dificuldade daqueles que se apegam aos textos, a eles dando credibilidade cega.


O fato de Kardec ter colocado na Revista é marca de credibilidade?


Eu não vejo assim. O entusiasmo muitas vezes nos empapa a Razão. Inclusive em Kardec.


Quantas vezes nos vimos, cada um de nós, diante de um entusiasmo inusitado, e até irracional diante de algo, e o tempo foi sabiamente nos ajustando quanto ao tema.


A razoabilidade e o bom senso foram atributos defendidos e ensinados pelo próprio Allan Kardec, para não caíssemos em ciladas, estando diante de desencarnados ou mesmo de encarnados. Um resguardo para nossas opiniões.


O espírito é pensamento puro. Dessa característica lhe vem a liberdade de aceitação e recusa das coisas ao seu redor.


Isto, não nos afasta da possibilidade de usufruir da estética de um texto bem elaborado. O ver como um elemento artístico tão somente.


Assim vejo eu esse texto sobre Júpiter, publicado na Revista Espírita de Março de 1858.


Paulo Cesar Fernandes

28 07 2013