sábado, 10 de agosto de 2013

20130810 Aparições

Aparições


E, pouco a pouco vamos fazendo nossas aparições no mundo.


Quando digo aparição me refiro ao ato de benevolência ou benemerência por nós praticado.


Na generalidade somos desatentos a isto. Vivemos, e isto nos basta.


Um dia porém, sem saber a razão, sentimos energias acumuladas e, raciocinamos da necessidade de partilha. De doar algo a alguém dessa energia tão nossa.


Esta pode ter o nome de afetividade: de conhecimento: de necessidade de servir; ou ser útil a alguém além de nós.


Transpassar a fronteira do Ego. Ir além. Abrir nossa racionalidade e nosso coração a nossos semelhantes.


Por vezes buscamos mentes e corações sedentos de algo mais, mas os buscamos em lugar errado. Perdemos nosso tempo e energias. Nos cabe esperar.


O fruto apenas madura na estação a ele reservada, e no momento exato. Toda tentativa de alterar isso lhe tira a maior qualidade: o sabor.


Momentos da vida também tem seu sabor. Mas para isso é imperioso não trazer para mais cedo esse momento, e nunca deixar de estar aberto se este nos aparecer.


Somos todos lavradores da vida, e trazemos sementes para saciar a fome de quantos se nos estejam ao redor. Cabendo-lhes a semeadura e cuidados necessários.


Se o tempo chegou. Tenhamos as mãos prontas e o coração apto ao serviço.


Essa é a aparição, capaz de nos elevar acima do que fomos, e abrir caminhos mais amplos a outras tantas aparições.


Paulo Cesar Fernandes

10 08 2013

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

20120107 Uma questão de tamanho

Uma questão de tamanho?



Não sou pequeno. Não sou um nada.

Mas me ponho a refletir acerca de tudo aquilo que nos cerca; no âmbito material, bem como no imaterial; nas coisas tangíveis/visíveis, ou nas intangíveis/invisíveis. Apercebo-me do meu real valor, sua pequenez e relatividade ante o todo.

É uma postura de humildade. Mas nego a humildade piegas e autoritária das religiões e dos espíritos que supostamente nos vem ajudar. A humildade a que me submeto é pautada na Razão de alguém capaz de olhar o universo ao seu redor (ou os universos); saber de sua possibilidade de expansão; e ter em conta a impossibilidade de abarcar todo o conhecimento, uma vez que este tem contínuo crescimento.

Um filme de Woody Allen mostra o desespero da mãe cujo filho se nega terminantemente a voltar à escola. Seu raciocínio é simples e cristalino:

_ Se vou à escola aprender e aprendo tudo bem, mas o que aprendo é um nada na medida em que o crescimento do universo suscita novos conhecimentos que a escola não dá conta.

Diante da mãe e do Coordenador da Escola espantados, é categórico:

_ Não vou mais à escola.

Não me nego a novos conhecimentos, até porque, curioso nato, isso seria a morte intelectual, me restando apenas a vida vegetativa. Mas me defronto com o desafio do constante crescimento do que há a conhecer.

Desenvolvi desde a juventude uma metodologia, que se não dá conta cabal do problema, atende até certo ponto. Pinçar um ou dois tópicos, e neles mergulhar por um período, até que sinta saciada a necessidade/sede de melhor conhecer tal/tais assuntos.

Foi com surpresa e contentamento que assistindo uma entrevista do cantor pernambucano Otto, pouco conhecido, pois está fora do circuito dos Meios de Comunicação dominantes; quando o repórter se referiu a determinado ano em que uma obra sua teria sido publicada Otto responde:

_ Não, não. Nesse período a que você se refere, eu estava focado completamente nas Raízes Ibéricas da Música Nordestina.

Esse fato me despertou a atenção, fez cair a ficha do fato de muitas pessoas poder usar o mesmo método, a mesma forma de agir, com relação à determinada área de conhecimento a desbravar.

Mergulhando a fundo num tema, vai se apropriando pouco a pouco de algo mais da imensidão do conhecimento com o qual nos defrontamos. Sendo impossível, abarcar a totalidade, uma vez ser esta expansível.

Tenho dúvida se é mesmo um método, ou alguma forma de obsessividade. Retomo a tranqüilidade, ao pensar que por muitos anos já me vejo livre da obrigatoriedade de alguma coisa. O tormento da frase: “Tenho que ...” sempre causadora de amarras às quais me submetia, causadoras de tensão, ansiedade e frustração.

Agora não “Tenho que ...” mais nada.

Vinha bem no primeiro semestre de 2011, escrevendo, lendo bem.

Já o segundo semestre chegou me trazendo uma série de dificuldades e aborrecimentos. O tipo de clima mental incapacitante da expansão da criatividade; além do abalo ao sossego necessário a qualquer trabalho de cunho intelectual, que simplório seja, requer certo equilíbrio.

As coisas deram uma paralisada. Ficaram no que em informática chamamos de “wait status” (estado de espera). Muitas vezes necessário, como foi o caso.

Sem problema, fui me dedicando a outros aspectos da vida até que tudo se normatizou e a vontade de escrever se recompôs.

Por vezes encontro uma amiga, ex-aluna na universidade onde trabalhei e ela, fazendo mestrado na área de saúde da UNIFESP me incentivou a tentar fazer mestrado na área de psicologia.

Da primeira vez que a ouvi falar me chegou certo animo. No caminho do almoço para casa já ia ponderando o número de “Tenho que ...” que haveria de enfrentar novamente. A tranqüilidade que perderia. E a idéia se diluiu por completo no período de uma hora.

Preferi seguir focado no meu interesse em desvendar a PósModernidade. São muitos os autores, muitas as vertentes de pensamento, um instigante universo que me traz muito prazer mesmo.

Principalmente um autor polonês, nascido em 1925 e que mantém uma lucidez inacreditável. Seu nome é Zygmunt Bauman. Anotem esse nome. Sua análise sociológica, que no início nos parece difícil, em algumas páginas já vai se abrindo à nossa compreensão. A leitura de uma segunda obra desse autor clareia tudo. Realmente fascinante compreender o mundo atual, e os Tempos Líquidos aos quais ele se refere. Nossas perguntas sobre o nosso tempo têm ali uma série de respostas capazes de nos satisfazer a curiosidade plenamente.

Ler Bauman é um convite a ler mais Bauman, e não faltam obras a essa fértil inteligência.

Mas o sem fim do conhecimento não se restringe a Bauman, longe disso está. E tampouco me mete medo. Pois como bem diz o cantor Jorge Bem, quando ainda assim se chamava: “...pois eu só ponho meu chapéu aonde eu posso apanhar.” Deixar de lado o que está fora do foco e fazer o possível para avançar no projeto a que se está dedicando.


Com isso aproveitamos o tempo, e agregamos alegria e conhecimento, mesmo inseridos na conturbação desta PósModerna vida.


Paulo Cesar Fernandes

07/01/2012

20110816 Liberdade para viver

 
Liberdade para viver

 

Quem não tem medo da morte ?


Questão que pega a todos nós, cada qual por seu motivo. O próprio reino animal, sem a possibilidade do pensamento contínuo, já apresenta tal medo em todas as espécies. Presente que está no instinto de sobrevivência.


Digo isto, para que o leitor perceba o quanto este medo é natural, o quanto este faz parte das Leis Naturais. Não é natural, no entanto, quando este medo se torna de tal forma forte que passe a ser um impeditivo à vivência plena do homem. Cabendo-lhe gerenciar tal medo e mantê-lo no patamar da naturalidade, o único aceitável.


Tal temor tinha justificativa, quando nossa educação se baseava na idéia de um céu ou de um inferno. Quando as concepções religiosas buscavam estabelecer como pecado tudo aquilo que faz parte da natureza humana. O homem vivia, e nessa vivência agia naturalmente como não poderia deixar de ser. Sendo essa naturalidade atacada pelas religiões o homem se via diante de diversos dramas de consciência.


Na Idade Média a salvação do homem apenas se daria através da fé. O homem era refém da Igreja a quem servia sob a égide do pavor.


Ao homem cabiam apenas duas alternativas : o se deixava levar pelo medo do futuro, negando-se a viver; ou negava a continuidade da vida, aderindo ao ateísmo e ao materialismo, como filosofia de vida.


Quantos sofrimentos não teriam sido evitados se naquela época, as época medieval já tivessem vindo a lume os conceitos libertadores do Espiritismo?

 
À medida em que a civilização avança no entanto, se ampliam as concepções, e o espaço para a divulgação da idéia de pecado passa a ser exíguo, beirando o limite do ridículo, hilário. Algo não digno de atenção, pois tal discurso ignora os anseios mais profundos do espírito: a busca de uma vivência plena aliada à sua necessidade de transcendência.


As religiões, ao se aliarem ao poder temporal acabaram por deixar de lado sua maior tarefa como condutoras de almas. O medo não conduz, emperra caminhos.



O Espiritismo bem compreendido, e os desdobramentos éticos de tal compreensão, acaba por cumprir o papel de condutor de almas, não naquela ótica de uma verdade pronta e definitiva, porém como um conjunto de idéias que implicam numa revisão de nossa conduta, reorientando nossa prática no sentido da libertação.


A liberdade amplia nosso senso de justiça, implicando num deslocamento dos nossos focos de interesses para um melhor trato com os nossos semelhantes, com a sociedade e principalmente conosco mesmos.


As informações trazidas pelos espíritos a Kardec são um grande incentivo, porém o movimento real é de dentro para fora, é algo fortemente estruturado numa decisão interior. Decisão de se orientar segundo a construção de sua própria racionalidade. Abolindo o pensamento alheio como condutor de nossas existências.


É de Jesus que “se um cego orienta outro cego, caem os dois no abismo”.



Os pensadores são muitos, as idéias variadas, pobre daquele que elege outra pessoa para gerenciar o fluxo dos conceitos norteadores da sua existência. Será criança intelectual. Incompetente de se autogerir.


“Pensar pela própria cabeça” segundo Giorgio Gaber, grande cantor e autor italiano, essa é a fúrmula dada a todos nós, isto para que não tenhamos medo ou preguiça para ser autônomo e principalmente livre.


Todos buscam a felicidade. Mas ninguém estabelece um caminho para chegar a essa meta tão almejada.


Venho estabelecendo uma trilogia que me parece adequada a essa trajetória:


Liberdade       »»        Criatividade    »»        Felicidade


Liberdade:

A primeira etapa é a mais difícil. Todo o contexto social nos leva a tolher nossa liberdade. A família castra. Todas elas, de uma forma ou de outra acabam castrando o espírito em formação, até porque não capazes em sua grande maioria de perceber as qualidades e as características do reencarnante. Poeta? Cientista?  Marceneiro, um artista em seu mister?


Não. Médico. Advogado. Cirurgião Dentista. Veterinário. Fecham o ciclo de possibilidades ao espírito.



_ Ator? Músico? Voce está maluco. Devem ser essas suas companhias. Só me faltava ser bailarino.


_ Mas no Curso de Teatro temos aulas de Ballet para soltar o corpo...


O pai inculto sai bufando sala afora.




Criatividade:

Absolutamente toda atividade permite ao homem a possibilidade de se perguntar alguma vez na vida:


_ Será que eu preciso fazer isto sempre desta forma? Deve ter um outro jeito de ordenar esta rotina, que me poupe trabalho e me traga maior prazer. Mesmo no âmbito de uma biblioteca onde algumas rotinas já se desenvolveram.



Pensando... Pensando... Pensando... Voilá!!!



E algo é rerotinizado. Quando o grupo é coeso e minimamente inteligente, todos se alegram com a modificação criativa.


A grande questão é não ter preguiça e sempre se perguntar: “E se eu fizesse diferente? O que de novo sou capaz de pensar? Os norte-americanos se valem de uma expressão muito significativa: “And IF...?” que significa “ E se ....?”



E se eu pensar diferente? E se eu viver diferente? E se eu me despojar de todas as convenções sociais e mergulhar fundo no universo da plena liberdade?




Felicidade:


É decorrência natural dos dois itens anteriores.


Usei a profissão como exemplo mas em todos os aspectos da existência humana a liberdade pode ser nossa condutora.


Em certo sonho uma moça de lindo rosto, talhado de maturidade me conduzia por caminhos por mim desconhecidos.


Em principio pensei na possibilidade dela representar minha incapacidade de compreensão da mulher. Mas isso não se coadunava com a sensação de alegria e plenitude encontradas ao final do caminho.



Agora compreendo que aquela bela moça meiga, porém madura era a personificação da liberdade que só muito recentemente incorporei em minha existência.



Sem religião, sem gurus, sem pensadores que pensem por mim, contando com quase ninguém para compartilhar conhecimentos, mas como diz Wolfgang Ambroz no título de seu LP “Abandonado, mas livre!”.



Assim é, pois nossa liberdade incomoda as pessoas.



Paulo Cesar Fernandes


16/08/2011

 

Nota: Até esta data eu não estava convicto da inexistência de Deus.