quinta-feira, 24 de outubro de 2013

20131024 Evolução do pensamento e evolução

Evolução do pensamento e evolução


Leon Denis


O problema do ser, do destino e da dor


Primeira parte

O problema do ser


I - A evolução do pensamento


"Dia virá em que todos os pequenos sistemas, acanhados e envelhecidos, fundir-se-ão numa vasta síntese, abrangendo todos os reinos da idéia. Ciências, filosofias, religiões, divididas hoje, reunir-se-ão na luz e será então a vida, o esplendor do espírito, o reinado do Conhecimento."


***


Nesse capítulo, de Leon Denis muitas coisas podem ser até questionadas por um pensamento mais aberto, por quem rompeu com as verdades todas, mas esse pequeno parágrafo remete ao chão toda a nossa vaidade, todas as possíveis divisões e cismas.


Chegaremos todos a uma grandeza de pensamento, na qual o foco será o espírito e sua essência ética em primeito lugar, e a somatória dos seus conhecimentos logo em seguida.


Será a prevalência das qualidades intelecto-morais proposta em "Obras Póstumas" por Allan Kardec.


Cada um de nós, ao buscar melhor e maior conhecimento das Leis Naturais, está enveredando pela trilha do esplendor do espírito. E isto não se fechará no breve tempo de uma encarnação, mas será um início de uma longa caminhada.


"Caminhante, não há caminho, o caminho o fazemos ao caminhar." disse o poeta espanhol Antonio Machado.


O mais importante dessa afirmação é o apelo ao caminhante. Ao Ser. Ao Espírito, se assim o quisermos.


Individualiza o chamado, como mostrando da inutilidade de olharmos a caminhada de quem quer que seja.


"Somos solitários, apesar de solidários." disse o Jací certa noite.

È o mesmo chamamento. Um chamamento capaz de fazer ruir a infantilidade da competição no movimento espírita, ainda tão presentte e danosa.


Cuidemos de nossa jornada. Nós somos os mais importantes do mundo nessa nossa encarnação. Comparar com ninguám. Competir com ninguém.


Somente libertos de tudo isso poderemos "fazer os nossos caminhos" sem que os outros ou suas opiniões tenham o menos valor.


A evolução é uma conquista do Ser. E ponto final.


Paulo Cesar Fernandes

24 10 2013

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

20131023 Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor III

Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor III


Nunca um texto tão antigo coube tão bem na atualidade. Veja:

===


Um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em que estamos é de crise, de parto doloroso. As formas esgotadas do passado empalidecem e se desfazem para dar lugar a outras, de início vagas e confusas, mas que se definem cada vez mais. Nelas se esboça o pensamento crescente da humanidade.


O espírito humano está em trabalho, por toda parte, sob a aparente decomposição das idéias e dos princípios. Em tudo, na ciência, na arte, na filosofia e até mesmo no seio das religiões, o observador atento pode constatar que uma lenta e trabalhosa gestação se faz. A ciência, especialmente, lança em abundância sementes de ricas
promessas. O século que começa será o de poderosas descobertas.
As formas e as concepções do passado, dizíamos, não são suficientes. Por mais respeitável que pareça essa herança, apesar do sentimento piedoso com que se podem considerar os ensinamentos legados por nossos pais, sente-se, geralmente, compreende-se, que eles não foram suficientes para desfazer o mistério sufocante do porquê da vida.


Entretanto, atualmente, pode-se viver e agir com mais intensidade do que nunca. Mas é possível viver e agir plenamente sem ter consciência do objetivo a ser atingido? O estado da alma contemporânea pede, reclama, uma ciência, uma arte, uma religião de luz e liberdade que venham dissipar-lhe as dúvidas, libertá-la das velhas servidões e das misérias do pensamento, guiá-la para os horizontes radiosos aonde se sente levada por sua própria natureza e pelo impulso de forças irresistíveis.


Muito se fala sobre progresso, mas o que se entende por progresso? É uma palavra vazia e sonora na boca dos oradores, para a maior parte dos materialistas, ou possui um sentido determinado? Vinte civilizações passaram sobre a Terra, iluminando com suas luzes a marcha da humanidade. Seus grandes focos brilharam na noite
dos séculos e depois se apagaram. E o homem ainda não distingue, atrás dos horizontes limitados de seu pensamento, o além sem limites para onde o destino o leva; sem condições de solucionar o mistério que o rodeia, usa sua força nas obras da Terra e foge aos esplendores de sua tarefa espiritual, que fará sua verdadeira grandeza.


A fé no progresso não caminha sem a fé no futuro, no futuro de cada um e de todos. Os homens só progridem e só avançam se acreditarem nesse futuro e se marcharem com confiança, com certeza, para o ideal entrevisto. O progresso não consiste somente nas obras materiais, na criação de máquinas poderosas e de todo
equipamento industrial; não consiste, igualmente, em descobrir processos novos de arte, de literatura ou de formas de eloqüência.


Seu objetivo mais alto é agarrar, atingir a idéia primordial, a idéia-mãe que fecundará toda a vida humana, a fonte elevada e pura de onde derivarão, ao mesmo tempo, as verdades, os princípios, os sentimentos que inspirarão as obras importantes e as nobres ações.


É tempo de compreendê-lo: a civilização só poderá engrandecer-se, a sociedade só poderá subir, se um pensamento sempre mais elevado, se uma luz mais viva vierem inspirar, esclarecer os espíritos e tocar os corações, renovando-os. Somente a idéia e o pensamento levam à ação. Somente a vontade de realizar a plenitude do ser, cada vez melhor, cada vez maior, pode nos conduzir aos cimos longínquos em que a ciência, a arte e toda obra humana, em uma palavra, encontrarão sua expansão, sua
regeneração.



Tudo nos diz isso: o universo é regido pela lei de evolução; é isso o que entendemos pela palavra progresso. E nós mesmos, em nosso princípio de vida, em nossa alma e nossa consciência, estamos sempre submetidos a essa lei. Não se pode desconhecer hoje essa força soberana que conduz a alma e suas obras através do infinito do tempo e do espaço, rumo a um objetivo sempre mais elevado; mas uma lei assim só pode concretizar-se por nossos esforços.


Para fazer obra útil, para cooperar com a evolução geral e recolher dela todos os frutos, é preciso antes aprender a distinguir, a reconhecer a razão, a causa e o objetivo dessa evolução, saber aonde ela conduz, a fim de participar, na plenitude das forças e das faculdades que dormem em nós, dessa ascensão grandiosa.


Nosso dever é o de traçar o caminho à humanidade futura da qual ainda faremos parte integrante, como nos ensina a comunhão das almas, a revelação dos grandes instrutores invisíveis, do mesmo modo que a natureza ensina, por suas milhares de vozes e pela renovação eterna de todas as coisas, àqueles que sabem estudá-la e
compreende-la. Vamos rumo ao futuro, rumo à vida sempre renascente, pelo caminho imenso que nos abre o Espiritismo!


Tradições, ciências, filosofias, religiões, iluminai-vos com uma chama nova; sacudi vossos velhos sudários e as cinzas que os cobrem. Escutai as vozes reveladoras do túmulo, elas nos trazem uma renovação do pensamento com os segredos do além, que o homem tem necessidade de conhecer para melhor viver, melhor agir e melhor morrer!



LÉON DENIS


Paris - 1908

===
BRAVO. BRAVISIMO.

Paulo Cesar Fernandes

23  10  2013

terça-feira, 22 de outubro de 2013

20131022 Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor II

Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor II


Prosseguimento da Introdução do livro


A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se encontram, como dissemos, em toda ordem social. Por toda parte, há um estado de crise inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização refinada, esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito de interesses, a
luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever tem-se enfraquecido na consciência popular a tal ponto que muitos homens nem mesmo sabem onde está o dever. A lei do número, ou seja, da força cega, domina mais do que nunca. Retóricos mentirosos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a espalhar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e o vento sopra em tempestade, eles se escondem e afastam de si toda responsabilidade.


Onde está, então, a explicação desse mistério, dessa contradição notável entre as aspirações generosas de nosso tempo e a realidade brutal dos fatos? Por que um regime que havia despertado tantas esperanças ameaça chegar à anarquia, à ruptura de todo o equilíbrio social? A implacável lógica vai nos responder: a democracia,
radical ou socialista, nas massas profundas e em seu espírito dirigente, inspirando-se nas doutrinas negativistas, podia chegar somente a um resultado negativo para a felicidade e a elevação da humanidade.


Tal o ideal, tal o homem; tal a nação, tal o país!


As doutrinas negativistas, em suas conseqüências extremas, levam fatalmente à anarquia, ou seja, ao vácuo, ao nada social. A história humana já teve, diversas vezes, essa dolorosa experiência. Enquanto se tratou de destruir os restos do passado, de dar o último golpe nos privilégios que restavam, a democracia serviu-se habilmente de seus meios de ação. Porém, hoje, o que importa é construir a cidade do futuro, o vasto edifício que deve abrigar o pensamento das gerações. E, diante dessas tarefas, as doutrinas mostram sua insuficiência e revelam sua fragilidade; vemos os melhores operários se debaterem em uma espécie de impotência material e moral.


Nenhuma obra humana pode ser grande e durável se não se inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas aplicações, nas leis eternas do universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se constrói na areia e afunda. Acontece que as doutrinas do socialismo atual têm um erro essencial. Elas querem impor uma regra em contradição com a natureza da verdadeira lei da humanidade: o nível igualitário. A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da natureza
e da vida. É a razão de ser do homem, a norma do universo. Posicionar-se contra ela, substituir-lhe por outro fim, seria tão insensato quanto querer parar o movimento da
Terra ou o fluxo e refluxo das marés.


O lado mais fraco da doutrina socialista é a ignorância absoluta do homem, de seu princípio essencial, das leis que dirigem o seu destino. E quando se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem social? A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda sociedade permanecerá fraca e dividida enquanto a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio das leis. As leis e as instituições não seriam nada sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e convicções firmes, será sempre mais feliz e mais poderoso do que um outro povo de moralidade inferior.


Para melhorar a forma de uma sociedade, sendo ela o resultado das forças individuais, boas ou más, é preciso agir inicialmente sobre a inteligência e a consciência dos indivíduos. Porém, para a democracia socialista, o homem interior, o homem da consciência individual, não existe; a coletividade o absorve por completo. Os princípios que adota não passam de uma negação de toda filosofia elevada e de toda causa superior. Não se procura outra coisa a não ser conquistar direitos. Entretanto, o gozo dos direitos não pode ser obtido sem a prática dos deveres. O direito sem o dever, que o limita e o corrige, produz apenas novas aflições, novos sofrimentos.
Eis por que o impulso formidável do socialismo não faz nada mais do que deslocar os apetites, as ambições, as causas das doenças e substituir as opressões do passado
por um despotismo novo, ainda mais intolerável. Vemos isso no exemplo da Rússia. Já podemos medir a extensão dos desastres causados pelas doutrinas negativistas. O determinismo, o materialismo, ao negar a liberdade humana e a responsabilidade, minam as próprias bases da ética universal. O mundo moral não passa de um anexo da fisiologia, ou seja, o reinado, a manifestação da força cega e irresponsável. Os espíritos de elite professam o niilismo metafísico, e a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios determinados com exatidão, fica entregue a homens que exploram suas paixões e especulam com suas ambições.


O positivismo, apesar de ser menos absoluto, não é menos prejudicial em suas conseqüências. Por sua teoria do desconhecido, suprime as noções de objetivo e de larga evolução. Ele pega o homem na fase atual de sua vida, simples fragmento de seu destino, e o impede de ver para diante e para trás de si; método estéril e perigoso, feito, parece, para cegos de espírito e que se tem proclamado, muito falsamente, como a mais bela conquista do espírito moderno. Esse é o estado atual da sociedade. O perigo
é imenso e se alguma grande renovação espiritualista e científica não se produzisse, o mundo acabaria na incoerência e na confusão. Nossos homens de governo já sentem o que lhes custa viver numa sociedade em que as bases essenciais da moral estão abaladas, em que as leis são brandas, frágeis ou superficiais, em que tudo se confunde, até mesmo a noção elementar do bem e do mal.


É verdade que as Igrejas, apesar de suas fórmulas antiquadas e de seu espírito contrário ao progresso, ainda agrupam ao redor de si muitas almas sensíveis; porém, tornaram-se incapazes de afastar o perigo pela impossibilidade em que se colocaram de fornecer uma definição precisa do destino humano e do além, apoiada em fatos
comprovados. A humanidade, cansada de dogmas e de especulações sem provas, mergulhou no materialismo ou na indiferença. Não há salvação para o pensamento, senão por uma doutrina baseada na experiência e no testemunho dos fatos.


De onde virá essa doutrina? Que poder nos livrará do abismo em que nos arrastamos? Que ideal novo virá dar ao homem a confiança no futuro e o fervor pelo bem? Nas horas trágicas da História, quando todos pareciam desesperados, o socorro nunca faltou. A alma humana não pode afundar inteiramente e morrer. No momento em  que as crenças do passado se esgotam, uma concepção nova da vida e do destino, baseada na ciência dos fatos, reaparece. A grande tradição revive sob formas engrandecidas, mais jovens e mais belas. Ela mostra a todos um futuro cheio de esperança e de promessas. Saudemos o novo reino da idéia vitoriosa da matéria e trabalhemos para preparar seus caminhos!


A tarefa a cumprir é grande, e a educação do homem deve ser totalmente refeita. Essa educação, como vimos, nem a universidade nem a Igreja estão em condições de fornecer, uma vez que não possuem mais as sínteses necessárias para esclarecer a marcha das novas gerações. Apenas uma doutrina pode oferecer essa síntese: a do Espiritismo; ela já sobe no horizonte do mundo intelectual e parece iluminar o futuro. A essa filosofia, a essa ciência livre, independente, desprovida de toda pressão oficial, de todo compromisso político, as descobertas contemporâneas trazem a cada dia novas e preciosas contribuições. Os fenômenos do magnetismo, da radioatividade, da telepatia são aplicações de um mesmo princípio, manifestações de uma mesma lei que rege, ao mesmo tempo, o ser e o universo.


Mais alguns anos de trabalho paciente, de experimentação conscienciosa, de pesquisas contínuas, e a nova educação terá encontrado sua fórmula científica, sua base essencial. Esse acontecimento será o maior fato da História desde o aparecimento do Cristianismo. A educação, sabemos, é o fator mais poderoso do progresso; ela contém a origem do futuro. Mas, para ser completa, deve se inspirar no estudo da vida sob suas duas formas alternantes, visível e invisível, em sua plenitude, em sua evolução crescente em direção aos cimos da natureza e do pensamento. Os mestres dirigentes da humanidade têm um dever imediato a cumprir. É o de recolocar o espiritualismo na base da educação, de trabalhar para refazer o homem interior e a saúde moral. É preciso despertar a alma humana, adormecida por uma teoria destrutiva, mostrar-lhe seus poderes ocultos, fazê-la ter consciência de si mesma, para realizar seu glorioso destino. A ciência moderna analisou o mundo exterior; suas descobertas no universo objetivo são profundas: isso será sua honra e sua glória; mas ainda não sabe nada sobre o universo invisível e o mundo interior. É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por quais laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam como na caverna de Platão, percorrer seus labirintos, os redutos secretos, procurar conhecer o “eu” moral e o “eu” profundo, a consciência e a subconsciência: não há estudo
mais necessário que esse. Enquanto as escolas e as academias não o tiverem introduzido em seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da humanidade.

Porém, já vemos surgir e constituir-se uma psicologia totalmente maravilhosa e imprevista da qual vão derivar uma nova concepção do ser e a noção de uma lei superior, que engloba e resolve todos os problemas da evolução e do futuro.


***


Interessante perceber que apesar da vertente conservadora do pensamento Denis toca em elementos ainda presentes em nosso tempo. Metas ainda não atingidas apesar de todos os avanços do conhecimento que temos. Avanços técnicos apenas.


O que nos permite pensar na técnica como um elemento importante, mas na educação integral do homem como o ponto focal de uma nova civilização, a Era do Espírito ao qual estamos vivendo. Resta implementar no planeta uma educação capaz de negar os valores da materialidade dominante na vida de grande parte das pessoas.


Paulo Cesar Fernandes

22 10 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

20131021 Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor I


Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor I


Leon Denis "O problema do ser do destino e da dor"   (1908


INTRODUÇÃO



Uma observação dolorosa surpreende o pensador na velhice. Ela se torna ainda mais lastimável em conseqüência das impressões experimentadas em seu giro pelo mundo espiritual, e ele então reconhece que o ensinamento ministrado pelas instituições humanas em geral – religiões, escolas, universidades –, se nos ensinam muitas coisas supérfluas, em compensação não nos ensinam quase nada do que mais temos necessidade de conhecer para a nossa conduta: a direção da existência terrestre e a
preparação para o além. Aqueles a quem cabe a alta missão de esclarecer e guiar a alma humana parecem ignorar sua natureza e seus verdadeiros destinos.


Nos meios universitários, uma completa incerteza ainda reina sobre a solução do problema mais importante com que o homem se defronta no decorrer de sua passagem pela Terra. Essa incerteza se reflete em todo o ensino. Uma boa parte dos professores e pedagogos afasta sistematicamente de suas lições tudo o que se refere ao problema da vida, às questões de seu objetivo e finalidade. Encontramos a mesma dificuldade nos líderes religiosos. Por suas afirmações desprovidas de provas, conseguem comunicar às almas sobre as quais têm responsabilidade apenas uma crença que não responde mais à lógica de uma crítica sã nem às exigências da razão.


A rigor, na universidade, assim como na Igreja, modernamente a alma encontra somente obscuridade e contradição em tudo que diz respeito ao problema de sua natureza e de seu futuro. É a esse estado de coisas que é preciso atribuir, em grande parte, os males de nosso tempo: a incoerência das idéias, a desordem da consciência, a anarquia moral e social. A educação dispensada às gerações é complicada: não lhes esclarece o caminho da vida e não as estimula para as lutas da existência. O ensino clássico habilita a cultivar, a ornar a inteligência, mas não ensina a agir, a amar, a se dedicar nem a alcançar uma concepção do destino que desenvolva as energias profundas do eu e oriente nossos impulsos, nossos esforços, para um objetivo elevado. No entanto, essa concepção é indispensável a todo ser, a toda sociedade, porque é o sustentáculo, a consolação suprema nas horas difíceis, a fonte das virtudes atuantes e das altas inspirações.


Carl du Prel relata o seguinte fato:


“Um dos meus amigos, professor da universidade, sentiu a dor de perder sua filha, o que reavivou nele o problema da imortalidade. Ele se dirigiu aos seus colegas, professores de filosofia, esperando encontrar consolação em suas respostas. Teve uma amarga decepção: havia pedido pão e lhe ofereciam pedra; procurava
uma afirmação e respondiam-lhe com um ‘talvez’.”



Francisque Sarcey, modelo completo do professor da universidade, escreveu: “Estou na Terra. Ignoro absolutamente como vim e como fui lançado aqui. Ignoro ainda mais como sairei daqui e o que acontecerá quando sair”.


Não se pode confessar mais francamente: a filosofia da escola, após tantos séculos de estudo e trabalho, ainda é apenas uma doutrina sem luz, sem calor, sem vida. A alma de nossos filhos, sacudida entre sistemas diversos e contraditórios – o positivismo de Augusto Comte, o naturalismo de Hegel, o materia lismo de Stuart Mill, o
ecletismo de Cousin, etc. –, flutua incerta, sem ideal, sem um objetivo preciso.


Daí o desânimo precoce e o pessimismo desanimador, doenças das sociedades decadentes, ameaças terríveis para o futuro, às quais se acrescenta o ceticismo amargo e zombeteiro de tantos jovens que acreditam apenas no dinheiro e honram apenas o sucesso. O ilustre professor Raoul Pictet assinala esse estado de espírito na introdução de sua última obra sobre as ciências psíquicas. Ele fala do efeito desastroso produzido pelas teorias materialistas sobre a mentalidade de seus alunos e conclui assim:


“Esses pobres jovens admitem que tudo o que se passa no mundo é efeito necessário e fatal de condições primárias, em que a vontade não intervém. Consideram que sua própria existência é, forçosamente, joguete da fatalidade inevitável, à qual estão ligados, de pés e mãos atados. Esses jovens param de lutar logo que encontram as primeiras dificuldades. Não acreditam mais em si mesmos. Tornam-se túmulos vivos, onde guardam, confusamente, suas esperanças, seus esforços, seus desejos, fossa comum de tudo o que lhes fez bater o coração até o dia do envenenamento. Tenho visto esses cadáveres diante de suas carteiras e no laboratório, e têm-me causado pena.”


Tudo isso não é somente aplicável a uma parte de nossa juventude, mas também a muitos homens de nosso tempo e de nossa geração, nos quais podemos constatar um sintoma de cansaço moral e de abatimento.


F. Myers também o reconhece: “Há como que uma inquietude, um descontentamento, uma falta de confiança no verdadeiro valor da vida. O pessimismo é a doença moral de nosso tempo”.


As teorias de além-Reno, as doutrinas de Nietzsche, de Schopenhauer, Haeckel, dentre outros, muito contribuíram para desenvolver esse estado de coisas. Sua influência se espalha por toda parte. Deve-se atribuir a eles, em grande parte, esse lento trabalho, obra obscura de ceticismo e desencorajamento que se desenvolve na alma contemporânea. É tempo de reagir com vigor contra essas doutrinas funestas e de procurar, fora da órbita oficial e das velhas crenças, novos métodos de ensino que respondam às imperiosas necessidades do momento presente. É preciso preparar os espíritos para as necessidades, os combates da vida atual e das vidas futuras; é preciso, sobretudo, ensinar o ser humano a se conhecer, a desenvolver, em vista de seus objetivos, as forças latentes que nele dormem.


Até aqui, o pensamento esteve limitado a círculos estreitos: religiões, escolas ou sistemas que se digladiam e se combatem reciprocamente. Daí essa divisão profunda das idéias, essas correntes violentas e contrárias que perturbam e transtornam o meio social.


Aprendamos a sair desses círculos rígidos e a dar livre expansão ao pensamento. Cada sistema contém uma parte de verdade; nenhum contém a realidade por completo.


O universo e a vida possuem aspectos bastante variados, bastante numerosos para que algum sistema possa abarcar todos. Dentre essas concepções absurdas, é preciso recolher os fragmentos de verdade que elas contêm, aproximá-los e colocá-los de acordo. Depois, unindo-os aos novos e múltiplos aspectos da verdade que descobrimos a cada dia, caminharmos rumo à unidade majestosa e à harmonia do pensamento. A crise moral e a decadência de nossa época provêm, em grande parte, do fato de o espírito humano ter se imobilizado durante muito tempo. É preciso tirá-lo da inércia, das rotinas seculares, levá-lo às mais elevadas altitudes, sem perder de vista as bases sólidas que vêm oferecer-lhe uma ciência engrandecida e renovada. É essa ciência do amanhã que trabalhamos para que seja constituída. Ela nos fornecerá o critério indispensável, os meios de verificação e de comparação sem os quais o pensamento, entregue a si mesmo, sempre correrá o risco de se perder.


Leon Denis - Paris, 1908

===


Só neste trecho do livro temos toda a atualidade do pensamento de Leon Denis. Embora conservador com relação aos filósofos.


Lemos esse texto como se estivessemos lendo algo deste mesmo ano de 2013.


Por suas posições conservadoras sempre deixei de lado Leon Denis. O que prova que todo preconceito é uma grande imbecilidade.


Peço licença para ser imbecil. Bem me cabe esta pecha. Enfim a cada dia uma nova descoberta. Assim caminhamos.


Paulo Cesar Fernandes

21 10 2013

domingo, 20 de outubro de 2013

20131020 O texto e seu objetivo

O texto e seu objetivo


Vinha trabalhando em minhas meditações com o livro de Carlos Imbassahy, "O Espiritismo à luz dos fatos". Um livro de 1935 cuja principal preocupação é a comprovação da veracidade dos fatos espíritas.


Parei de ler pois esse tempo passou, estamos agora num outro momento.


O tempo de implementação da "Era do Espírito" tão propagada pelo Professor Herculano Pires. Um novo momento histórico que não virá da religiosidade, de práticas irracionais e ilógicas. Não virá da acomodação do homem ao estreito limite da materialidade vigente em nosso mundo.


Quando Alain Renaut, professor de filosofia na Sorbonne (Paris IV) e especialista em Kant e Fichte nos fala do indivíduo em seu livro "O indivíduo: reflexão acerca do Sujeito"; esse sujeito por ele referido é o Espírito do espiritismo; ou o Ser de Martin Heidegger; enfim o homem hoje defrontado com seu tempo e com sua realidade existencial.


A velocidade da nossa vida, indicada por Paul Virílio, acaba focando nosso Ser nas eleições mais profundas da sua personalidade. E para muitas pessoas as desviando de seus possíveis projetos de espiritualidade.


Para atender às necessidades do homem de nosso tempo é necessário tenhamos em mente o mundo em que vivemos, quais as suas características, e quais coisas esse mundo pede ao homem da atualidade.


Falar em espiritismo sem ter essa mirada, esse foco no homem atual, será perda de tempo e energias. Se o espiritismo tem algo a oferecer ao mundo é essa oposição ao materialismo vigente, expresso no consumo irracional; na busca de notoriedade sem o correspondente esforço pelo próprio aprimoramento; despreocupação na busca de valores maiores.


A vida na materialidade estiola as energias do Ser.


Hoje. Este se ilude com a técnica, com as ofertas das facilidades modernas. Não pretendo com isso que voltemos às árvores, mas estejamos atentos às ilusões. Pouco a pouco vai nosso contemporâneo olhando mais e mais para o chão e menos para seus semelhantes. Menos para a lua, para as estrelas, para a natureza de uma forma geral. Atentar não apenas para preservar a natureza, mas para se sentir e perceber elemento componente dessa mesma natureza.


Quanto mais o homem se afasta da natureza mais se sente angustiado, distante de si mesmo, mais sente falta do útero materno, e esse útero é a natureza em sua plenitude. Pois o homem é um animal. E ao abdicar dessa sua animalidade se faz infeliz.


A Razão pura e simples, a razão seca da modernidade de Descartes não atendeu ao homem; talvez a Razão Sensível possa contribuir de alguma maneira numa nova forma de ver a vida e mesmo de viver.


A razão somada à sensibilidade poderá agregar ao espírito as diversas manifestações artísticas, os avanços da ciência, e todos os ramos do conhecimento.


A esse amplo conglomerado de coisas abstratas tenho denominado Espiritualidade. Sempre ressaltando nada ter a ver com religiões ou espiritismo. É apenas a eleição da abstração como um elemento adicional em nossa vida.


Nosso homem atual, não tem consciência de sua infelicidade mas é infeliz. E não tem consciência de nada, pois a materialidade o absorve todo. Seu foco é todo material.


Mesmo quando vai ao culto, à sua igreja, ao seu centro espírita; visa apenas a solução imediata das questões da materialidade.


A Era do Espírito pede espíritos abertos à imaterialidade, mas com os pés bem firmes na areia de nossa Terra. Capaz de alçar voo como o Condor, mas ter fortes vínculos com seu corpo, com seu povo e sua gente. Uma Era sem gurus, sem profetas, sem donos de verdades ou de pessoas.


A principal característica da Era do Espírito será a capacidade do homem voar cada vez mais alto, e com as próprias asas a vislumbrar paisagens de  beleza espiritual incapazes de ser sonhadas por todos os que se voltam para o chão, ciscando na materialidade.


Nascemos para ser felizes. Para ganhar os ares. Para crescer e ajudar a crescer nossos semelhantes.


Pois seremos mais felizes na complementaridade dos corações.


Paulo Cesar Fernandes

20 10 2013