terça-feira, 30 de janeiro de 2018

20180130 Revisitando um velho amigo

Revisitando um velho amigo
 
 
 
 
 
 
 
 
 

4. IMPÉRIO DA JUSTIÇA
 
 

A ordem moral será o império da justiça.
 

O mundo de regeneração não poderá efetivar-se, portanto, enquanto não criarmos na Terra uma estrutura social baseada na justiça. Já vimos que a tarefa é nossa, pois o mundo nos foi dado como campo de experiência.
 
Submetidos a expiações e provas aprendemos que o egoísmo é nefasto e que devemos lutar pelo altruísmo, a começar de nós mesmos.
 
Mas como fazê-lo?
 
Qual o critério a seguir, para que a educação espírita do mundo se converta em realidade, produzindo os frutos necessários?
 
 
 
Kardec nos explica, ao comentar o item 876:
 
“O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quereria para si mesmo, e não de querer para si o que se desejaria para os outros, pois isso não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal como norma de partida, podemos estar certos de jamais desejar para o próximo senão o bem. Desde todos os tempos, e em tôdas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião cristã foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.”

 
 
 
O critério apontado, como vemos, é o da caridade, O império da justiça começará pelo reconhecimento recíproco dos direitos do próximo.
A lei de igualdade regerá êsse processo. Kardec declara ao comentar o item 803:
“Todos os homens são submetidos às mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores, e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Deus não concedeu, portanto, a nenhum homem, superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Todos são iguais diante dêle.”


 
 
Liberdade, igualdade e fraternidade, são os rumos da civilização. Em “Obras Póstumas” aparece um trabalho de Kardec sôbre êsses três princípios, tantas vêzes deturpados, mas que deverão predominar no mundo de justiça.
 
 
Escreveu o codificador:
“Estas três palavras constituem, por si sós, o programa de tôda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da humanidade, se os princípios que elas exprimem pudessem receber integral aplicação.”

 
 
A seguir, Kardec coloca a fraternidade como princípio básico, apontando a igualdade e a fraternidade como seus corolários.
A igualdade absoluta não é possível, dizem os contraditores dos ideais igualitários, alguns mesmo alegando que a desigualdade é lei da natureza.
 
Citam, em favor dessa tese, o fenômeno da individualização, bem como a diversidade de aptidões. Lembram que os próprios minerais, vegetais e animais se diversificam ao infinito. Mas esquecem-se de que a lei natural não é a desigualdade, mas a igualdade na diversidade. Vimos como Kardec define a igualdade dos homens perante Deus. Vejamos também a sua explicação das
desigualdades no plano social, que é precisamente o plano material da fragmentação e da especificação.


 
 
 
Escreveu Kardec, no comentário ao item 805:
 
“Assim, a diversidade das aptidões do homem não se relaciona com a natureza íntima de sua criação, mas com o grau de aperfeiçoamento a que êle tenha chegado, como Espírito.
 
Deus não criou, portanto, a desigualdade das faculdades, mas permitiu que os diferentes graus de desenvolvimento se mantivessem em contato, a fim de que os mais adiantados pudessem ajudar os mais atrasados a progredir, e também a fim de que os homens, necessitando uns dos outros, compreendam a lei da caridade, que os deve unir!”
 
 
Nada existe como absoluto em nosso mundo, que é naturalmente relativo.
 
 

A fraternidade, a igualdade e a liberdade são conceitos relativos, que tendem, porém, para a efetivação absoluta, através da evolução.
 
No mundo de regeneração êsses conceitos encontrarão maiores possibilidades de se efetivarem, porque a evolução moral terá levado os homens a se aproximarem dos arquétipos ideais. O Espiritismo nos convida à superação do relativismo material, para a compreensão dos planos superiores a que nos destinamos, como indivíduos e como coletividade. Nossa marcha evolutiva está
precisamente traçada entre o relativo e o absoluto.
 
 
 
O império da justiça, no mundo de regeneração, marcará o início da libertação dos Espíritos que permanecerem na Terra. Mas esse mesmo fato representará a continuidade da escravidão, para os que forem obrigados a retirar-se para mundos inferiores. A desigualdade se manifesta na separação das duas coletividades espirituais, mas apenas como uma condição temporária da evolução, determinada pelas próprias exigências da igualdade fundamental das criaturas. Essa igualdade fundamental, que se define como de origem, natureza e essência, — origem, pela criação divina, comum a todos os espíritos; natureza, pela mesma qualidade, que é a individualização do princípio inteligente; e essência, pela mesma constituição espiritual e potencialidade consciencial; —desenvolve-se através da existência, nas fases sucessivas da evolução, que constituem as formas temporárias de desigualdade, para voltar à igualdade no plano superior da perfeição. Trata-se de um processo dialético de desenvolvimento do ser. Podemos figurá-lo assim: os espíritos partem da igualdade originária, passam pelas desigualdades existenciais, e atingem finalmente a igualdade essencial.
 
 
 
A justiça de Deus é absoluta, e por isso mesmo escapa às nossas mentes relativas. Mas na proporção em que formos evoluindo, alargaremos as nossas perspectivas mentais, para atingir a compreensão das coisas que hoje nos escapam.
 
 
 
O Espiritismo é doutrina do futuro, que age no presente como impulso, levando-nos em direção aos planos superiores. É natural que muitos adeptos não o compreendam imediatamente, na inteireza de seus princípios e de seus objetivos. Mas é dever de todos procurar compreendê-lo, pelo estudo atento e humilde, pois sem a humildade necessária, arriscamo-nos à incompreensão
orgulhosa e arrogante.
 
 
 
À maneira do Reino do Céu, pregado pelo Cristo, e das leis do Reino, que ele ensinou aos seus discípulos, o Espiritismo prepara o império da justiça na Terra. Não pode fazê-lo senão pela prática imediata da justiça através dos princípios que nos oferece, convidando-nos à aplicação pessoal dos mesmos em nossas vidas individuais, e sua natural extensão, pelo ensino e o exemplo, ao
meio em que vivemos. A transformação espírita do mundo começa no coração de cada criatura que a deseja. Por isso ensinava o Cristo que o Reino de Deus está dentro de nós, e que não começa por sinais exteriores.



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Não concordo com a forma absoluta e ortodoxa usada pelo Professor Herculano Pires. Muito menos do seu CatoEspiritismo. Apesar disso...

Acho este final de livro Magistral. 
Um elemento fundamental para cada um de nós:
Pensadores de uma Nova Era.

Resgata Herculano a realidade do indivíduo ao se referir ao Reino.

Desatentos vivemos todos, sem refletir mais profundamente nas pegadas, as nossas pegadas a ser deixadas nos caminhos da terra após o corpo nos libertar.

Cada qual faça sua parte, com toda sua consciência, com todo seu amor.

Dessa forma, deixaremos o Planeta Terra com a certeza de algo ter feito num sentido maior para nossos semelhantes.

Cada qual em sua área. Com seriedade e afeto.

As gerações vindouras merecem mais e melhor1


Paulo Cesar Fernandes.

30/01/2018