sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Vidas destruidas, vidas em suspensão e outras mais

Hoje 18/08/2011 passei no SENAT, um serviço da Prefeitura Municipal de Santos que atende a dependentes quimicos de toda ordem.

Enquanto aguardava minha vez para pegar  a medicação que me auxilia quanto ao alcoolismo ouvia casos.
Casos duros  contados pelos pais e mães dos jovens quando estes se afastavam.
Alguns outros narravam as próprias experiências diante do consumo das pesadas drogas.

Um que logo foi atendido contou que por muitas noites foi dormir naqueles bancos onde todos nós estavamos sentados. Sem prestígio, sem dinheiro, sem nada. Fazia o tratamento mas sem levar a sério. Até que determinado dia resolveu sair fora de tudo aquilo. E dizia ele que pouco a pouco ia dando um outro jeito na sua maneira de viver. Engordara. Já com alguns serviços. Mas tinha deixado todas as pessoas do circulo das drogas. Um periodo de solidão mas uma sensação de vitória e um grande cuidado quanto as atitudes. Aparentava uns 40 anos, mas tal aparÊncia pode ter ligação com as defromações provenientes do periodo de uso de drogas.

Uma mãe reclamava que nas crises seu filho se tornava agressivo. E logo ele que sempre havia sido uma pesoa doce e com toda uma carreira já estruturada em uma empresa de um familiar.
Suas habilidades profissionais eram notórias e diversos dos clientes elogiavam.
O envolvimento com as drogas pos por terra o profissional e mesmo a confiança que sempre havia sido depositada nele se esvaiu no ar.
A mãe chorava copiosamente em determinado momento do relato.
O rapaz aparentava uns 23 anos.

Mais tarde um pai, em particular me veio falar do seu filho. Um rapaz com visivel respeito pelo pai. Quando pediu licença ao pai para ir até a a calçada foi o espaço do pai abrir um coração evidentemente opresso. Um garoto educado e sensivelque já havia conquistado uma estabilidade profissional e alguns bens.
Não perguntei da profissão, não entrei em detalhes. Isso em nada ajudaria naquele momento. Preferi ouvir.
O pai seguiu dizendo que não sabia como explicar aquela mudança, uma vez que o jovem vivia mais em casa que na rua e tinha uma relação bastante próxima com os pais.
Em principio os pais nada perceberam, mas à medida em que viram os bens serem delapidados alertaram e com certo critério convenceram o rapaz da necessidade de tratamento. Que ainda apresentava dificuldades tidas pelo pai como Pânico, mas a descrição das fases de "pânico" tinha componentes de visões, perseguições elementos caracterizadores de coisas mais graves.

Saí de cabeça baixa pensando em tantos e tantos casos que tive a oportunidade de ouvir e até acompanhar mes a mes.

Uns sumiram. Voltaram ao antigo caminho.

Outros seguem. Recomeçando a vida. Empregos humildes em novos lugares. O preconceito social os detona naqueles lugares e clubes aos quais habitualmente estavam. A sociedade é cruel, hipócrita e cruel. Digo isto pois muitos daqueles que desprezam ao ex-viciado, eles mesmos estão dentro de um ciclo de drogas.

Com minha medicação em mãos segui dando Gracias a la vida por tudo que tenho recebido de carinho dos familiares, de alguns amigos sinceros, dos amigos da UNESP onde trabalhei. Mas principalmente valorizei a minha coragem de saber mudar muito, aprendendo como isto a olhar todos os preconceituosos que não acreditavam na minha vitória com o desprezo que estes todos me merecem.

Agradeço à vida. Ela não se fechou para mim. Tem o ventre aberto para que eu possa inseminar tantos versos quantos fins de tarde me tragam. Inseminar alegria em meu viver e no viver de todos os que me amam e me cercam. A vida está em minhas mãos.

Os preconceituosos, apenas tem em si, a imagem patética de sua imensa pequenez.

Violeta Parra, estou contigo.
Gracias a la vida que me ha dado tanto.

Paulo Cesar Fernandes
18/08/2011