domingo, 8 de março de 2015

20150308 Um Deus pleno de paixões

Um Deus pleno de paixões


Textos como os que se seguem apenas reforçam minha ideia de Deus ser uma criação, uma crença meramente humana.

Não cabe em minha mente um Deus com tal postura diante dos seus filhos.

Deus é crença. Tal como Boi Tatá, Saci Pererê e outras do nosso rico folclore.

Leia e pense. Não quero sua concordância, apenas use sua razão, sua lucidez.

Textos publicados na Revista Espírita de Março de 1862.

Por que motivo Kardec não fez reparo algum?

Confira lá na sua RE.


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Os obreiros do Senhor

(Cherbourg, fevereiro de 1861. - Médium, Sr. Robin.)


Atingis o tempo do cumprimento das coisas anunciadas para a transformação da Humanidade; felizes serão aqueles que tiverem trabalhado no campo do Senhor com desinteresse e sem outro móvel que a caridade! Suas jornadas de trabalhos serão pagas ao cêntuplo do que tiverem esperado.


Felizes serão aqueles que tiverem dito aos seus irmãos:
"Irmãos, trabalhemos juntos, e unamos nossos esforços a fim de que o mestre encontre a obra pronta em sua chegada, porque o mestre lhes dirá: 'Vinde a mim, vós que fostes bons servidores, vós que
fizestes calar vossos ciúmes e vossas discórdias para não deixar a obra parada!"


Mas infelizes daqueles que, pelas suas dissensões, tiverem retardado a hora da colheita, porque a tempestade virá e serão levados pelo turbilhão!

Eles gritarão: "Graça! graça!"

Mas o Senhor lhes dirá: "Porque pedis graça, vós que não tivestes piedade de vossos irmãos, e que recusastes estender-lhes a mão, vós que esmagastes o fraco em lugar de sustentá-lo? Por que pedis
graça, vós que procurastes vossa recompensa nas alegrias da Terra e na satisfação de vosso orgulho? Vós já recebestes, vossa recompensa tal como a quisestes; não a peçais mais: as recompensas celestes são para aqueles que não terão pedido as recompensas da Terra."


Deus faz neste momento o recenseamento de seus servidores fiéis, e marcou com o seu dedo aqueles que não têm senão a aparência do devotamento, a fim de que não usurpem o salário dos servidores
corajosos, porque será a estes, que não recuarão diante de sua tarefa, que vai confiar os postos mais difíceis na grande obra da regeneração pelo Espiritismo, e esta palavra se cumprirá: "Os
primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros no reino dos céus!"
O ESPÍRITO DE VERDADE


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Instrução moral

(Paris, grupo Faucherand. - Médium, Sr. Planche.)


Venho a vós, pobres transviados sobre uma terra escorregadia, cuja inclinação rápida não espera mais que alguns passos ainda para vos precipitar nos abismos. Como bom pai de família, venho vos estender mão caridosa para vos salvar do perigo. Meu maior desejo é vos conduzir sob o teto paterno e divino, a fim de vos fazer gozar, pelo amor de Deus e do trabalho, pela fé e caridade cristã, a paz, os prazeres e as doçuras do lar doméstico. Como vós, meus caros filhos, conheci as alegrias e os sofrimentos, sei tudo o que há de dúvidas em vossos espíritos, e de combate em vossos
corações. É para vos premunir contra vossos defeitos, e vos mostrar os escolhos contra os quais poderíeis vos chocar, que serei justo, mas severo.


Do alto das esferas celestes que eu percorro, meu olhar mergulha com felicidade nas vossas reuniões, e é com um vivo interesse que sigo as vossas santas instruções. Mas, ao mesmo tempo em que a
minha alma se alegra de um lado, de outro sente uma pena muito amarga, quando penetra os vossos corações e ali vê ainda tanto apego às coisas terrestres. Para a maioria, o santuário de nossas
lições vos tem lugar de sala de espetáculo, e esperais sempre ver ali surgir, de nossa parte, alguns fatos maravilhosos. Não estamos encarregados de vos fazer milagres, mas temos a missão de
lavrar os vossos corações, de abrir-lhes largos sulcos para neles lançar, a mãos cheias, a semente divina. Nós nos devotamos sem cessar a torná-la fecunda; porque sabemos que essas raízes devem
atravessar a terra, de um pólo ao outro, e cobrir-lhe toda a superfície. Os frutos que delas sairão serão tão belos, tão suaves e tão grandes que subirão até os céus.



Felizes aqueles que souberem colhê-los para com eles se saciarem; porque os Espíritos bemaventurados virão ao seu encontro, cingirão sua cabeça com a auréola dos eleitos, lhe farão escalar os
degraus do trono majestoso do Eterno, e lhe dirão para tomarem parte na felicidade incomparável, nos gozos e nas delícias sem fim das falanges celestes.


Infeliz aquele a quem houver sido dado ver a luz e ouvir a palavra de Deus, que tiver fechado os olhos e tapado os ouvidos; porque o Espírito das trevas o envolverá em suas asas lúgubres e o
transportará em seu negro império para lhe fazer expiar, durante séculos, pelos tormentos sem número, sua desobediência ao Senhor. É o momento de aplicara sentença de morte do profeta Oséias:
Coedan eos secundum auditionem coetus eorum (eu os farei morrer segundo tiverem ouvido). Que estas poucas palavras não sejam fumaça desaparecendo nos ares; mas que elas cativem a vossa atenção para que as mediteis e as reflitais seriamente. Apressai-vos em aproveitar alguns instantes que vos restam para consagrá-los a Deus; um dia viremos vos pedir que conta fizestes de nossos ensinamentos, e como tereis posto em prática a doutrina sagrada do Espiritismo.


A vós, pois, Espíritas de Paris, que podeis muito pela vossa posição pessoal e pela vossa influência moral, a vós, digo, a glória e a honra de dar o exemplo sublime das virtudes cristãs. Não espereis que a infelicidade venha bater em vossa porta. Ide diante de vossos irmãos sofredores, dai ao pobre o óbolo da jornada, secai as lágrimas da viúva e do órfão, com doces e consoladoras palavras.


Levantai a coragem abatida desse velho curvado sob o peso dos anos e sob o jugo dessas iniqüidades, fazendo luzir em sua alma as asas douradas da esperança numa vida futura e melhor.


Prodigalizai, por toda a parte, sobre a vossa passagem, o amor e a consolação; elevando assim as vossas boas obras à altura de vossos pensamentos, merecereis dignamente o título glorioso e brilhante que vos concedem mentalmente os espíritas da província e do estrangeiro, cujos olhos estão fixados sobre vós, e que, tocados de admiração diante das ondas de luz que escapam de vossas
assembléias, vos chamarão o Sol da França.

LACORDAIRE.

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Eu não consigo conceber as coisas dessa forma. Todo texto que procura diminuir o homem fere os preceitos espíritas. Acima de tudo o espiritismo visa o desenvolvimento do espírito.

Não creio que o primeiro texto seja mesmo do Espírito de Verdade, e não consigo aceitar a linguagem de Lacordaire. Demarquei nesse texto a arrogância do espírito. Diminuindo a população da terra com expressões como: "Venho a vós, pobres transviados sobre uma terra escorregadia"; "Do alto das esferas celestes que eu percorro".


Ou o espírito ou o médium erraram feio.


A única explicação encontrada por mim para a presença de tais textos na RE é uma ação pedagógica de Kardec deixando a nós, seus leitores a tarefa da necessária crítica.


Nesse sentido é perfeitamente aceitável a presença dessses dois textos. Ambos comparam o futuro do homem ao inferno das religiões.


Não são libertadores como é a proposta do espiritismo. São textos para aterrorizar os leitores.


E o crescimento do espírito se dá através de uma "tomada de consciência" como preconizava nosso Professor José Herculano Pires. Esta concepção me basta, não há maior defensor de Kardec que Herculano.


Paulo Cesar Fernandes

08/03/2015