sábado, 14 de junho de 2014

20140614 Transição

Transição



Quem fala muito em estudo e não estuda se assemelha às pessoas que falam muito em Jesus e agem de forma reprovável.


O nosso discurso obrigatoriamente deve ser compatível com a nossa prática.


Deolindo Amorim escrevia bem, falava bem, era um homem de cultura pois dedicava seu tempo ao conhecimento, tranquilamente, incentivando a todos nós estarmos abertos às diversas áreas do conhecimento.


Quem apenas estuda uma disciplina jamais será um humanista de fato.


O Ser humanista se nutre de diversas fontes do conhecimento. O que lhe permite um amplo material de referência.


Quanto ao pensamento de Deolindo Amorim, o nosso tempo apresenta problemas muito mais profundos que o Pós-Guerra, na qual Deolindo escreveu "O Espiritismo e os Problemas Humanos".


Naquele momento, se apresentava a dualidade política entre as duas potências: EEUU e URSS. Era a Guerra Fria e a incerteza quanto ao futuro, com a possibilidade de um crescimento espantoso do arsenal nuclear. Um arsenal que cresceu até certo ponto, qundo a racionalidade se fez sentir, através de movimentos de artistas contra a instalação de novas ogivas nucleares na Europa.


Outro tipo de incerteza se instala hoje. O mundo sofreu uma Revolução Cultural (a partir dos anos 60) e Tecnológica (a partir da década de 80) cuja dimensão não somos capazes de avaliar. A estabilidade de valores presente até a década de 50 se esvaiu por completo. O "É proibido proibir" francês quebrou as prateleiras,
trouxe uma lufada de vento, mas rapidamente o "stablishment" se recompôs, tudo ia voltar aos eixos; nisso nos chega a década de 80 e a revolução tecnológica transtornando a vida das pessoas; das instituições e de todo contexto social.


Para onde vamos?


Ninguém sabe, pois novos valores ainda não se estabeleceram nem sedimentaram.


Um investigador pediu ao sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que fizesse uma previsão para onde caminhava o mundo, e onde desembocaria nossa sociedade.


_ Eu gostaria de responder essa pergunta. Mas em momentos de transição como o nosso, qualquer previsão é temerária.


Ele, com tantos livros esclarecedores sobre o nosso tempo. Ele que nos disse que vivemos em "Tempos Líquidos" pois tudo flue: não há solidez nas relações interpessoais; não há estabilidade no emprego; o capital internacional transita de continente a continente em segundos; a precarização do trabalho se agudiza dia a dia; e outras tantas indicativas em cada uma das suas obras. Se ele não arrisca uma previsão é porque estamos verdadeiramente num momento destituido de parâmetros.


Aqui eu retomo a confiança de Deolindo Amorim no instrumental oferecido pelo espiritismo tal qual o vemos nós; como uma disciplina aberta às outras áreas do conhecimento, capaz se interagir com cada uma dessas áreas de igual para igual.


Não sendo religião, ajudando o Ser a se libertar de tantas amarras quantas este se veja atado, o espiritismo cumpre seu papel, neste momento de falta de rumo para a maioria dos espíritos vinculados ao Planeta Terra.


E nós não ofertamos ilusões, dizemos claro coisas até desagradáveis aos ouvidos das pessoas. Mas não estamos aqui para mentir ou iludir ninguém. Temos sim um roteiro. Até difícil de cumprir, pois nos aponta o caminho das atitudes retas; da ética; da sobriedade em todos os aspectos de nossa vida diária.


O espiritismo é para poucos?


Quem busca ilusões não terá no espiritismo seu ferramental vivencial. Seguirá seguindo os programinhas de TV  com fórmulas sempre simples de encontro com a felicidade.


Mas toda ilusão termina numa desilusão. E nesse processo cíclico de ilusões e desilusões uma hora o espírito se cansa. Acaba se dando conta da necessidade de algo mais consistente para sua vida.


Pode nem ser o espiritismo a sua escolha, mas sairá desse circuito ininterrupto de ilusões e buscará alguma forma de espiritualidade.


As ilusões do materialismo já não cabem em sua nova forma de ser, de existir. Já vislumbra uma ótica de longo prazo, tendo por roteiro o caminho do Bem Maior. Um Bem capaz de contemplar toda a humanidade. É um Ser que se abre à Vida.


Que ofertamos com o espiritismo?


A imortalidade. A Evolução infinita. A pluralidade das existências. São todas noções fundamentais capazes de levar o espírito a optar pela espiritualidade.


E o Bem Maior é o desaguadouro da espiritualidade. O espírito, sem tirar o pé do mundo em que vive, é capaz de alçar voo, vislumbrando outros horizontes.


Desabrocham uma série de qualidades de forma natural. Sem farisaísmo. Ocorre um novo fluir da vivência do espírito.


Somos todos capazes dessa nova jornada. Basta apostarmos nossas fichas numa nova perspectiva. Enveredarmos pela busca do conhecimento da disciplina do espiritismo e de todas as outras, na necessária transdisciplinaridade, apregoada pelos bons pedagogos.


Nada mais.


Posso estar errado, mas assim eu penso, comigo estão alguns  encarnados, e outros já fora da matéria.


Paulo Cesar Fernandes

14 06 2014

quarta-feira, 11 de junho de 2014

20140611 Exame crítico das dissertações de Charlet sobre os animais


Allan Kardec

 

Revista Espírita

 

1860

 

 

Exame crítico das dissertações de Charlet sobre os animais

 


 
Estas reflexões nos são sugeridas como princípio geral, e estar-se-ia errado não vendo nelas uma aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos que foram publicados sobre o Espiritismo, os há, sem dúvida, os que poderiam dar lugar à crítica fundada; mas nos guardamos de colocar tudo na mesma linha; indicamos um meio de apreciá-los, cabe a cada um fazê-lo como entenda. Se ainda não empreendemos deles fazer um exame na nossa Revista, foi pelo temor de que não se menospreze sobre o motivo da crítica que poderíamos fazer; preferimos, pois, esperar que o Espiritismo fosse melhor conhecido e, sobretudo, melhor compreendido; então a nossa opinião, apoiando-se sobre uma base geralmente admitida, não poderia ser suspeita de parcialidade. O que esperamos se produza cada dia, porque vemos que, em muitas circunstâncias, o julgamento da opinião precede o nosso; também nos aplaudimos pela nossa reserva. Empreenderemos este exame quando crermos o momento oportuno; mas já se pode ver qual será a nossa base de apreciação: esta base é lógica, da qual cada um pode fazer uso por si mesmo, porque não temos a tola pretensão de possuí-la por privilégio.

 

A lógica, com efeito, é o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos humanos. Sabemos bem que aquele que raciocina em falso crê ser lógico; o é à sua maneira, mas não o é senão para ele, e não para os outros; quando uma lógica é rigorosa como a de dois e dois são quatro, é que as consequências são deduzidas de axiomas evidentes, o bom senso geral, cedo ou tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:

 

 

1º Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; portanto, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;

 
 

2º Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; portanto, toda comunicação manchada por erros manifestos, ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, atesta, só por isso, a inferioridade de sua origem;



3º A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias, e não na inchação e na redundância do estilo; portanto, toda comunicação espírita onde haja mais de palavras e de frases brilhantes que de pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito verdadeiramente superior;

 
 

4° A ignorância não pode contradizer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; portanto, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, está convicto de fraude;

 
 

5º É da essência de um Espírito elevado se ligar mais ao pensamento que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está em razão da elevação das ideias; portanto, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, em uma palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;

 
 

6a Um Espírito verdadeiramente superior não pode se contradizer; portanto, se duas comunicações contraditórias são dadas, sob o mesmo nome respeitável, uma das duas é necessariamente apócrifa; se uma é verdadeira, esta não pode ser senão aquela que não desmente em nada a superioridade do Espírito cujo nome foi posto em frente.

 

A consequência a se tirar destes princípios é que fora das questões morais não é necessário acolher senão com reserva o que vem dos Espíritos, e que, em todos os casos, nunca é necessário aceitá-lo sem exame. Daí decorre a necessidade de pôr a maior circunspeção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, quando, sobretudo pela estranheza das doutrinas que contêm, ou a incoerência das ideias, podem se prestar ao ridículo. É preciso desconfiar da tendência de certos Espíritos para as ideias sistemáticas, e do amor-próprio que colocam e propagam-nas; é, pois, sobretudo nas teorias científicas que é necessário colocar uma extrema prudência, e se guardar de dar precipitadamente como verdades sistemas frequentemente mais sedutores que reais, e que, cedo ou tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam apresentados como probabilidades, se são lógicos, e como podendo servir de base a observações ulteriores, seja; mas haveria imprudência em dá-los, prematuramente, como artigos de fé. Um provérbio diz: Nada é mais perigoso do que um imprudente amigo. Ora, é o caso daqueles que, no Espiritismo, se deixam levar por um zelo mais ardente que refletido.

 

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Estejamos atentos quer pessoalmente, quer nas instituições aos quais estejamos vinculados. Afinal “prevenir é sempre melhor que remediar”.

Nota: O tópico deste texto é a mediunidade e as precauções no tocante a essa atividade. A imagem da cadela tem apenas intenção estética. É uma forma de gratidão à Niña, pelos momentos de convivência com essa que, durante 7 anos, animou minha vida e meu Lar. Esse Protoespírito na forma de cadela.


Paulo Cesar Fernandes

11 06 2014