sábado, 8 de fevereiro de 2014

20140208 O testemunho do inseto

O testemunho do inseto





Do Inconsciente ao Consciente
 
Por Doutor Gustave Geley




Capítulo V

O testemunho do inseto

É suficiente considerar com atenção o inseto para compreender o nada das teorias antigas ou modernas sobre a criação das espécies ou sobre sua evolução.

À concepção de transformações perpétuas por variações lentas e infinitas, o testemunho do inseto opõe seu aparecimento desde as primeiras idades da vida terrestre e, em todos os casos, a estabilidade essencial de suas espécies, uma vez aparecidas.

À concepção de revolução pelos fatores clássicos de seleção e de adaptação, o testemunho do inseto opõe o abismo que o separa de sua larva, abismo no qual se perdem sem recorrer às teorias darwinianas ou lamarckianas. Ele opõe igualmente o espetáculo, por elas inexplicável, de seus instintos primários, desconcertantes e
maravilhosos.

Á concepção da evolução pelo jogo de agentes exteriores, o testemunho do inseto opõe suas transformações formidáveis, mas por assim dizer espontâneas, em uma crisálida fechada, subtraída, em uma larga medida, à ação desses agentes exteriores.

Á concepção da evolução contínua e ininterrupta por “assimilação funcional”, o testemunho do inseto opõe suas transformações e suas metamorfoses, suas alterações progressivas ou regressivas durante sua vida como larva. Ele opõe, sobretudo, em sua crisálida, o inacreditável fenômeno da histólise, reduzindo a maior parte de seus órgãos em uma papa amorfa antes das transformações iminentes.

Esse testemunho estupefante, nos ensinando que nem as formidáveis modificações de larvas nem a misteriosa histólise em nada comprometem a morfologia futura do inseto perfeito, reverte todas nossas concepções sobre a edificação do organismo como sobre as transformações das espécies. O inseto nos oferece assim, em toda sua biologia, como o símbolo do que isso é na realidade, veremos, a evolução: ele nos prova que a causa essencial desse último não deve ser procurada nem na influência do meio ambiente nem nas reações, com respeito ao meio ambiente, da matéria orgânica; mas que ela reside em um dinamismo independente dessa matéria orgânica, superior e diretor.


Um testemunho análogo ao do inseto é o de certas espécies de moluscos ou de crustáceos. Os animais dessas espécies sofrem, sabemos, antes de chegar ao estado de adulto, modificações extraordinárias, por adaptações muito diversas. E, entretanto, o desenvolvimento futuro desses animais prossegue, a despeito de suas metamorfoses, como assegurado por um princípio diretor, inalterado e imanente.

Ele nos mostra a evolução se efetuando sobretudo por um impulso interior, bem distinto da influência do ambiente, por um esforço primordial certo, mas ainda misterioso, e para o naturalismo clássico, absolutamente inexplicável.

Isso não é tudo: o testemunho incomparável do inseto, ao mesmo tempo que coloca em xeque as teorias naturalistas contemporâneas, contradiz igualmente a antiga concepção da criação providencial.

Com efeito, a característica principal do inseto, do ponto de vista psicológico, é possuir o instinto quase puro, quase sem traço de inteligência. Ora, achamos que esse instinto, puro e que permanece puro durante os séculos dos séculos, é marcado por uma ferocidade refinada, formidável, sem equivalente no resto da animalidade e ao mesmo tempo, entretanto, perfeitamente inocente.

Essa ferocidade seria por isso, se houvesse um criador responsável, a obra pura, a obra imaculada desse criador, cuja criação apareceria então como o espelho.

Vê-se que vale a pena considerar o inseto e levar em conta seu testemunho. Se esse testemunho não tivesse sido negligenciado, ele teria evitado à filosofia muitos erros. Infelizmente, como diz Schopenhauer: “Não se compreende a linguagem da natureza, porque ela é muito simples!”


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Me parece complicado a insistência em Geley em derrubar o Lamarckismo e o Darwinismo, se o próprio Kardec, após a apresentação de "A Origem das Espécies" por Sir Charles Darwin e Alfrewd Russel Wallace na mesma data e reunião da Sociedade Real de Ciência da Inglaterra; o próprio Kardec cuidou de alterar a edição seguinte de "O Livro dos Espíritos" incluindo o tema "Os tres reinos" tratando do assunto.


Longe de mim querer tirar valor de quem quer que seja, muito menos de Gustave Geley, nome que me foi ensinado ser um dos contribuidores à obra de Kardec.


Seguirei na leitura de cada tarde e veremos nós se, até o fim do livro, ele traz alguma contribuição verdadeira ou significativa ao espiritismo.


Prosseguimos no trabalho.



Paulo Cesar Fernandes

08 01 2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

20140207 Discurso Kardec (Encerramento ano social

Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Discurso do encerramento do ano social
1858-1859
 
Revista Espírita, julho de 1859

Senhores,

No momento em que se expira vosso ano social, permiti-me vos apresentar um breve resumo da marcha e dos trabalhos da Sociedade.

Conheceis sua origem: ela se formou sem desígnio premeditado, sem projeto preconcebido.

Alguns amigos se reuniam em minha casa num pequeno grupo; pouco a pouco, esses amigos pediram minha permissão para me apresentarem seus amigos. Não havia então presidente: eram reuniões íntimas de oito a dez pessoas, como existem centenas delas em Paris e alhures; mas era natural que, em minha casa, eu tivesse a direção do que ali se fazia, seja como dono da casa, seja também em razão dos estudos especiais que. eu havia feito, e que me davam uma certa experiência da matéria.


O interesse que se tomava por essas reuniões, era crescente, embora não se ocupasse senão de coisas muito sérias; pouco a pouco, de um e de outro, o número dos assistentes aumentava, e meu modesto salão, muito pouco propício para uma assembléia, tomou-se insuficiente. Foi então que, alguns dentre vós, propuseram se
procurasse um lugar mais cômodo, e se cotizarem para subvencionar os gastos, não achando justo que eu os suportasse sozinho, como fizera até aquele momento.


Mas, para se reunir regularmente, além de um certo número, e no local estranho, era necessário conformar-se às prescrições legais, era necessário um regulamento, e, conseqüentemente, um presidente como titular; enfim, era necessário constituir uma sociedade; o que ocorreu com o consentimento da autoridade, cuja
benevolência não nos faltou. Era necessário também imprimir aos trabalhos uma direção metódica e uniforme, e consentistes em me encarregar de continuar o que fazia em minha casa, em nossas reuniões particulares.


Trouxe para minhas funções, que posso dizer laboriosas, toda a exatidão e todo o devotamento de que era capaz; do ponto de vista administrativo, esforcei-me por manter, nas sessões, uma ordem rigorosa, e dar-lhe um caráter de gravidade, sem o qual o prestígio de assembléia séria teria logo desaparecido. Agora que minha
tarefa terminou, e que o impulso foi dado, devo vos participar a resolução que tomei de renunciar, para o futuro, a toda espécie de função na Sociedade, mesmo a de diretor dos estudos; não ambiciono senão um título, o de simples membro titular, com o qual estarei sempre feliz e honrado. O motivo de minha determinação está na multiplicidade dos meus trabalhos, que aumentam todos os dias em razão da extensão das minhas relações, porque além daqueles que conheceis, preparo outros mais consideráveis, que exigem longos e laboriosos estudos, e não absorverão menos de dez anos; ora, os da Sociedade não deixam de tomar muito tempo, seja para a preparação, seja para a coordenação e a cópia correta. Por outro lado, eles reclamam uma assiduidade freqüentemente prejudicial às minhas ocupações pessoais, e que tomam indispensável a iniciativa, quase exclusiva, que me deixastes. Foi por causa disso, Senhores, que tive que tomar tão freqüentemente a palavra, lamentando a miúdo que os membros eminentemente esclarecidos que possuímos nos privassem de suas luzes. Já há muito tempo tinha o desejo de demitir-me de minhas funções; eu o expressei, de um modo muito explícito, em diversas circunstâncias, seja aqui, seja em particular a vários de meus colegas, e notadamente ao senhor Ledoyen. Tê-lo-ia feito mais cedo sem o temor de trazer perturbação à Sociedade, retirando-me ao meio do ano, podendo se crer em uma defecção; e não era necessário dar essa satisfação aos nossos adversários. Portanto, deveria cumprir minha tarefa até o fim; mas hoje, quando esses motivos não mais existem, apresso-me em vos participar a minha resolução, a fim de não entravar a escolha que fareis. É justo que cada um tenha sua parte de encargos e de honras.

Depois de um ano, a Sociedade viu crescer rapidamente sua importância; o número de membros titulares triplicou em alguns meses; tendes numerosos correspondentes nos dois continentes, e os auditores ultrapassariam o limite do possível se não se pusesse um freio pela estrita execução do regulamento. Contastes,
entre estes últimos, as mais altas notabilidades sociais e mais de uma ilustração. O zelo que se toma em solicitar admissão em vossas sessões testemunha o interesse que se tem por elas, não obstante a ausência de toda experimentação destinada a satisfazer a curiosidade, e talvez mesmo em razão de sua simplicidade." Se todos não saem dela convencidos, o que seria pedir o impossível, as pessoas sérias, aquelas que não vêm com uma intenção de difamação, levam da gravidade dos vossos trabalhos uma impressão que as dispõem a aprofundar essas questões. De resto, não temos senão que aplaudir as restrições que colocamos para a admissão de ouvintes estranhos: evitamos assim a massa de curiosos importunes. A medida com a qual limitastes essa admissão a certas sessões, reservando as outras unicamente para os membros da Sociedade, resultou por vos dar maior liberdade nos estudos, que a presença de pessoas  ainda não iniciadas e cujas simpatias não estão asseguradas, poderiam entravar.


Essas restrições parecerão muito naturais para aqueles que conhecem o objetivo da nossa instituição, e que sabem, antes de tudo, que somos uma Sociedade de estudos e de pesquisas, antes que uma arena de propaganda; por essa razão não admitimos, em nossas fileiras, aqueles que, não tendo as primeiras noções da
ciência, nos fariam perder nosso tempo em demonstrações elementares, renovadas incessantemente. Sem dúvida, todos nós desejamos a propagação das idéias que professamos, porque as julgamos úteis, e cada um de nós nisso contribui com a sua parte; mas sabemos que convicção não se adquire senão por observações
continuadas, e não por alguns fatos isolados, sem seqüência e sem raciocínio, contra os quais a incredulidade sempre pode levantar objeções. Um fato, dir-se-á, é sempre um fato; é um argumento sem réplica. Sem dúvida, quando ele não é nem contestado e nem contestável. Quando um fato sai do círculo das nossas idéias e
dos nossos conhecimentos, à primeira vista parece impossível; quanto mais ele é extraordinário, mais objeções levanta, por isso é contestado; aquele que lhes sonda as causas, que se dá conta dele, encontra-lhe uma base, uma razão de ser; compreende-lhe a possibilidade, e, desde então, não o rejeita mais. Um fato,
freqüentemente, não é inteligível senão pela sua ligação com outros fatos; tomado isoladamente, pode parecer estranho, incrível, absurdo mesmo; mas que seja um dos anéis da cadeia, que tenha uma base racional, que se possa explicá-lo, e toda a anomalia desaparece. Ora, para conceber esse encadeamento, para
compreender esse conjunto ao qual se é conduzido de conseqüência em conseqüência, é necessário em todas as coisas, e talvez ainda mais em Espiritismo, uma seqüência de observações racionais.


O raciocínio, portanto, é um poderoso elemento de convicção, hoje mais que nunca, quando as idéias positivas nos levam a saber o por quê e o como de cada coisa.


Espanta-se com a persistente incredulidade, em matéria de Espiritismo, da parte de pessoas que viram, ao passo que outras, que nada viram, são crentes firmes; quer dizer que estes últimos são pessoas superficiais que aceitam, sem exame, tudo o que se lhes diz? Não; pelo contrário: os primeiros viram, mas mas não
compreendem; os segundos não viram, mas compreendem, e não compreendem senão pelo raciocínio. O conjunto dos raciocínios sobre os quais se apóiam os fatos, constitui a ciência, ciência ainda muito imperfeita, é verdade, e da qual nenhum de nós pretende ver atingir o apogeu, mas, enfim, é uma ciência em seu início, e é na direção da pesquisa de tudo que pode ampliá-la e constituí-la que estão dirigidos vossos estudos. Eis o que importa se saiba bem fora desse recinto, a fim de que não se equivoque sobre os objetivos que nos propusemos; a fim de que não se creia, sobretudo, vindo aqui, encontrar uma exibição de Espíritos dando-se em espetáculos. A curiosidade tem um termo; quando está satisfeita, procura um novo objeto de distração; aquele que não se detém na superfície, que vê além do efeito material, encontra sempre alguma coisa para aprender; o raciocínio é para ele uma mina inesgotável: é sem limite. Nossa linha de conduta, aliás, poderia ser melhor traçada pelas admiráveis palavras que o Espírito de São Luís nos dirigiu, e que não deveríamos jamais perder de vista: "Zombou-se das mesas girantes, não se zombará jamais da filosofia, da sabedoria e da caridade que brilham nas comunicações sérias. Que alhures se veja, que em outro lugar se ouça, que entre vós se compreenda e se ame."



Essas palavras: que entre vós se compreenda, são todo um ensinamento. Devemos compreender, e procuramos compreender, porque não queremos crer como cegos: o raciocínio é o facho que nos guia. Mas o raciocínio de um só pode se extraviar, por isso quisemos nos reunir em sociedade, a fim de nos esclarecermos mutuamente pelo concurso recíproco de nossas idéias e de nossas observações. Colocando-nos nesse terreno, assemelhamo-nos a todas as outras instituições científicas, e nossos trabalhos farão mais prosélitos sérios do que se passássemos nosso tempo fazendo girar e bater as mesas. Logo estaríamos saciados; queremos para o nosso pensamento um alimento mais sólido, eis porque procuramos penetrar os mistérios do mundo invisível, cujos fenômenos elementares não são senão os primeiros indícios.


Aquele que que sabe ler, diverte-se repetindo, sem cessar, o alfabeto? Teríamos talvez um maior concurso de curiosos que se sucederiam em nossas sessões como os personagens de um panorama móvel, mas esses curiosos, que não poderiam levar uma convicção improvisada pela visão de um fenômeno inexplicável para eles, que o julgariam sem aprofundá-lo, seriam antes um obstáculo aos nossos trabalhos; eis porque, não querendo desviar de nosso caráter cientifico, afastamos quem não é atraído para nós por um objetivo sério. Ó Espiritismo tem conseqüências tão graves, e toca questões de uma tão grande importância, dá a chave de tantos problemas, nele haurimos, enfim, um tão profundo ensinamento filosófico, que ao lado disso, uma mesa girante é uma verdadeira
infantilidade.




A observação dos fatos sem o raciocínio é insuficiente, dizemos, para conduzir a uma convicção completa, e é de preferência àquele que se declarasse convencido por um fato que não compreende, que se poderia taxar de leviandade; mas essa maneira de proceder tem um outro inconveniente, que é bom mencionar, e cada um de nós pôde testemunhar, é a mania da experimentação, que lhe é a conseqüência natural. Aquele vê um fato espírita sem dele ter estudado todas as circunstâncias, geralmente, não vê senão o fato material, e desde então o julga sob o ponto de vista de suas próprias idéias, sem pensar que fora das leis conhecidas pode, e deve, haver leis desconhecidas. Crê poder fazê-lo manobrar à sua vontade; impõe suas condições e não estará convencido, diz, senão quando se cumpre de tal modo e não de tal outro; ele imagina que se experimenta os Espíritos igual a uma pilha elétrica, não conhecendo nem sua natureza, nem sua maneira de ser que não estudou, crê poder impor-lhe sua vontade, e pensa que devem agir ao sinal dado pelo seu bom prazer de convencer-se; porque está disposto, por um quarto de hora, ouvi-los, se imagina que devem estar às suas ordens. São os erros nos quais não caem aqueles que se dão ao trabalho de se aprofundar; sabem render-se conta dos
obstáculos e não pedem o impossível; em lugar de querem conduzir os Espíritos ao seu ponto de vista, ao que não se prestam de boa vontade, colocam-se no ponto de vista dos Espíritos, e para eles os fenômenos mudam de aspecto.



Para isso são necessárias a paciência, a perseverança, e uma firme vontade, sem a qual não se chega a nada. Quem quer realmente saber, deve submeter-se às condições da coisa, e não querer submeter a coisa às suas próprias condições. Eis porque a Sociedade não se presta a experimentação que seriam sem resultados, porque sabe, pela experiência, que o Espiritismo, não mais que toda ciência, não se aprende em algumas horas e com presteza. Como ela é séria, não quer ter negócios senão com pessoas sérias, que compreendem as obrigações que um semelhante estudo impõe, quando se quer fazê-lo conscientemente. Ela não reconhece como sérios aqueles que dizem: Fazei-me ver um fato e estarei convencido. Isso quer dizer que negligenciamos o fato?


Muito ao contrário, uma vez que toda a nossa ciência está baseada sobre os fatos; procuramos, pois, diligentemente todos aqueles que nos oferecem um objeto de estudo, ou que confirmam princípios admitidos; quero dizer somente que não perdemos nosso tempo reproduzindo aqueles que conhecemos, não mais do que o físico não se diverte se repetindo as experiências que nada lhe ensinam de novo. Centramos nossas investigações sobre tudo aquilo que pode esclarecer nossa marcha; ligando-nos de preferência às comunicações inteligentes, fontes da filosofia espirita, e cujo campo é sem limites, bem mais do que as manifestações puramente materiais, que não têm senão o interesse do momento.



Dois sistemas igualmente preconizados e praticados se apresentam no modo de se receberem as comunicações de além-túmulo; uns preferem esperar as comunicações espontâneas, os outros as provocam por uma chamada direta feita a tal ou tal Espírito. Os primeiros pretendem que na ausência de controle para constatar a identidade dos Espíritos, esperando sua boa vontade, se está menos exposto a ser induzido em erro, já que aquele que fala é porque quer falar, ao passo que não é certo que aquele que se chama possa vir ou responder. Objetam que deixar falar o primeiro que aparece, é abrir a porta aos maus tão bem quanto aos bons. A incerteza da identidade não é objeção séria, pois que, freqüentemente, existem meios de constatá-la, e que, aliás, essa constatação é o objeto de um estudo que se prende aos próprios princípios da ciência; o Espírito que fala espontaneamente se encerra, o mais ordinariamente, em generalidades, ao passo que as perguntas lhe traçam um quadro mais positivo e mais instrutivo. Quanto a nós, não condenamos senão os sistemas exclusivos; sabemos que se obtêm coisas muito
boas por um e por outro modo, e se damos a preferência ao segundo, é porque a experiência nos ensinou que, nas comunicações espontâneas, os Espíritos enganadores não deixam de se ornamentar com nomes respeitáveis do que nas evocações; eles têm mesmo o campo mais livre, ao passo que pelas perguntas são dominados, são dirigidos mais facilmente, sem contar que as perguntas são de uma utilidade incontestável nos estudos. É a esse modo de investigações que devemos a multidão de observações que recolhemos, a cada dia, que nos fazem penetrar mais profundamente esses estranhos mistérios. Quanto mais nós avançamos, mais o horizonte aumenta diante de nós, e nos mostra o quanto é vasto o campo que temos a ceifar.



As numerosas observações que fizemos permitiram levar um olhar investigador sobre o mundo invisível, desde a base até o cume, quer dizer, no que tem de mais ínfimo como no que tem de mais sublime. Ás inumeráveis variedades de fatos e de caracteres que saíram desses estudos, feitos com a calma profunda, a atenção
sustentada e a prudente circunspeção de observadores sérios, nos abriram os arcanos desse mundo tão novo para nós; a ordem e o método que colocastes em vossas pesquisas foram os elementos indispensáveis para o sucesso. Com efeito, sabeis, pela experiência, que não basta chamar ao acaso o Espírito de tal ou tal pessoa; os Espíritos não vêm, assim, ao sabor de nosso capricho e não respondem a tudo aquilo que a fantasia nos leva a perguntar-lhes. É necessário, com os seres de além-túmulo, circunspeção, saber ter uma linguagem apropriada à sua natureza, às suas qualidades morais, ao grau de sua inteligência, à classe que eles ocupam; estar com eles, dominador ou submisso, segundo as circunstâncias, compadecente por aqueles que sofrem, humilde e respeitoso com os superiores, firme com os maus e os obstinados que não subjugam senão aqueles que os escutam com complacência; é necessário, enfim, saber formular e encadear, metodicamente, as perguntas para obter respostas mais explícitas, agarrar nas respostas as nuanças que são, freqüentemente, traços característicos, revelações importantes, que escapam ao observador superficial, sem experiência ou de passagem. A maneira de conversar com os Espíritos é, pois, uma verdadeira arte que exige tato ou
conhecimento do terreno sobre o qual se caminha, e constitui, propriamente falando, o Espiritismo prático. Sabiamente dirigidas, as evocações podem ensinar
grandes coisas; oferecem um poderoso elemento de interesse, de moralidade e de convicção: de interesse, porque elas nos dão a conhecer o estado do mundo que espera todos nós, e do qual se faz, algumas vezes, uma idéia tão bizarra; de moralidade, porque podemos ver aí, por analogia, nossa sorte futura; a convicção, porque se encontra nessas conversações íntimas a prova manifesta da existência e da individualidade dos Espíritos, que não são outros senão nossas almas desligadas da matéria terrestre. Estando formada, em geral, vossa opinião sobre o Espiritismo, não tendes necessidade de assentar vossas convicções sobre a prova material das manifestações físicas; também não quisestes, segundo o conselho dos Espíritos, encerrarvos nos estudos dos princípios e das questões morais, sem negligenciar, por isso, o exame dos fenômenos que podem ajudar na procura da verdade.



A crítica demolidora nos censurou por aceitarmos, muito facilmente, as doutrinas de certos Espíritos, sobretudo naquilo que concerne às questões científicas. Essas pessoas mostram, por isso mesmo, que elas não conhecem nem o verdadeiro objetivo da ciência espírita, nem aquele que nos propusemos e se pode, com todo o direito, retornar-lhe a censura de leviandade em seu julgamento. Certamente não é a vós que é necessário ensinar a reserva com a qual se deve acolher o que vem dos Espíritos; e estamos longe de tomar todas as suas palavras por artigos de fé. Sabemos que entre eles existem os de todos os graus de saber e de moralidade; para nós é todo um povo que apresenta variedades cem vezes mais numerosas que aquelas que vemos entre os homens; é chegar a conhecê-lo e compreendêlo; por isso, estudamos as individualidades, observamos as nuanças, tratamos de compreender os traços distintivos de seus costumes, de seus hábitos, de seu caráter; queremos, enfim, tanto quanto possível, nos identificar com o estado desse mundo. Antes de ocupar uma residência, gostamos muito de saber como ela é, se estaremos ali comodamente, conhecer os hábitos dos vizinhos que teremos, o gênero de sociedade que ali poderemos freqüentar. Pois bem! É nossa residência futura, são os costumes do povo no meio do qual viveremos, que os Espíritos nos fazem conhecer. Mas, do mesmo modo que, entre nós, as pessoas ignorantes e de visão estreita se fazem uma idéia incompleta do nosso mundo material e do meio que não seja o seu, do mesmo modo os Espíritos cujo horizonte moral é limitado, não podem abarcar o conjunto, e estão ainda sob o império de preconceitos e de sistemas; não podem, pois, nos informar, sobre tudo o que concerne ao mundo espírita, mais do que um camponês poderia fazê-lo quanto ao estado da alta sociedade parisiense ou do mundo sábio. Seria, pois, ter de nosso julgamento uma bem pobre opinião, pensando-se que escutamos todos os Espíritos como oráculos. Os Espíritos são o que são, e não podemos mudar a ordem das coisas; não sendo todos perfeitos, não aceitamos suas palavras senão sob o benefício de inventário, e não com a credulidade de crianças; julgamos, comparamos, tiramos
conseqüências de nossas observações, e seus próprios erros são para nós ensinamentos, porque não renunciamos ao nosso discernimento.



Essas observações se aplicam igualmente a todas as teorias científicas que os Espíritos possam dar. Seria muito cômodo não ter senão que interrogá-los para encontrar a ciência toda pronta, e para possuir os segredos da indústria: não adquiriremos a ciência senão ao preço de trabalho e de pesquisas; sua missão não é nos livrar dessa obrigação. Aliás, sabemos que não só nem todos sabem tudo, mas que há, entre eles, falsos sábios, como entre nós, que crêem saber o que não sabem, e falam daquilo que ignoram com o descaramento mais imperturbável. Um Espírito poderia dizer, pois, que é o Sol que gira e não a Terra, e sua teoria não seria mais verdadeira porque vinda de um Espírito. Que aqueles que nos supõem uma credulidade tão pueril, saibam, pois, que tomamos toda opinião manifestada por um Espírito por uma opinião individual; que não a aceitamos senão depois de tê-la submetido ao controle da lógica e dos meios de investigação que a própria ciência espírita nos fornece, meios que todos vós conheceis.



Tal é, senhores, o objetivo que a Sociedade se propõe; certamente, não me cabe vo-lo ensinar, mas alegro-me em lembrá-lo aqui, a fim de que, se minhas palavras ressoarem lá fora, não se equivoquem mais sobre o seu verdadeiro caráter. Estou feliz, de minha parte, por não haver senão que seguir-vos nesse caminho sério que
eleva o Espiritismo à categoria de ciência filosófica. Vossos trabalhos já deram frutos, mas os que darão mais tarde são incalculáveis, se, como disso não duvido, permanecerdes nas condições propícias para atrair os bons Espíritos entre vós.



O concurso dos bons Espíritos, tal é, com efeito, a condição sem a qual ninguém pode esperar a verdade; ora, depende de nós obter esse concurso. A primeira de todas as condições para conciliar sua simpatia, é o recolhimento e a pureza de intenções. Os Espíritos sérios vão onde são chamados com seriedade, com fé, fervor e confiança; não gostam de servir para experiência, nem se darem em espetáculo; ao contrário, comprazem-se em instruir aqueles que os interrogam sem segunda intenção; os Espíritos leviamos, que zombam de tudo, vão por toda parte e de preferência onde encontram ocasião para mistificarem; os maus são atraídos pelos maus pensamentos, e por maus pensamentos é preciso entender todos aqueles que não estejam conforme os princípios da caridade evangélica. Portanto, em toda reunião, quem carregue consigo sentimentos contrários a esses preceitos, conduz consigo Espíritos desejosos de semearem a perturbação, a discórdia e a desafeição.



A comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem é, assim, uma coisa de primeira necessidade, e essa comunhão não pode encontrar-se num meio heterogêneo, onde teriam acesso as baixas paixões do orgulho, da inveja e do ciúme, paixões que sempre se trairiam pela malevolência e pela acrimônia da linguagem, por espesso que seja, aliás, o véu com o qual se procure cobri-las; é o a, b, c, da ciência espírita. Se quisermos fechar, aos maus Espíritos, as portas deste recinto fechado, cerremos-lhes primeiro a porta de nossos corações, e evitaremos tudo o que poderia dar-lhes presa sobre nós. Se alguma vez a Sociedade tornar-se o joguete de Espíritos enganadores, por quem seriam ali atraídos? Por aqueles em quem encontrassem eco, porque não vão senão aonde sabem ser
escutados.



Conhece-se o provérbio: Dize-me com quem andas, dir-te-ei as manhas que tens; e que se pode indagar assim com respeito aos nossos Espíritos simpáticos: Dize-me o que pensas, e dir-te-ei com quem andas. Ora, os pensamentos se traduzem pelos atos; portanto, admitindose que a discórdia, o orgulho, a inveja e o ciúme não podem ser insuflados senão pelos maus Espíritos, quem trouxesse aqui esses elementos de desunião, suscitaria entraves, acusaria, por isso mesmo, a natureza de seus satélites ocultos, e não poderíamos senão lamentar sua presença no seio da Sociedade. Queira Deus que ela jamais seja assim, eu o espero, e com a assistência dos bons Espíritos, se soubermos nos tornar favoráveis, a Sociedade se consolidará, tanto pela consideração que saberá merecer quanto pela utilidade de seus trabalhos. Se não tivéssemos em vista senão experiências de curiosidade, a natureza das comunicações seria quase indiferente, porque não as tomaríamos sempre senão por aquilo que seriam; mas como, em nossos estudos, não procuramos nem nossa diversão, nem a do público, o que queremos são comunicações verdadeiras; para isso ser-nos-á necessária a simpatia dos bons Espíritos, e essa simpatia não é adquirida senão por aqueles que afastam o mal na sinceridade de sua alma. Dizer que os Espíritos levianos jamais puderam se introduzir entre nós, favorecidos por algum ponto fraco, seria muita presunção e pretender a perfeição; os próprios Espíritos superiores poderiam permiti-lo para experimentarem nossa perspicácia e nosso zelo na procura da verdade; mas nosso julgamento deve manter-nos em guarda contra as armadilhas que podem nos ser estendidas, e nos dá, em todos os casos, os meios para evitá-las.



O objetivo da Sociedade não consiste somente na pesquisa dos princípios da ciência espírita; vai mais longe: ela estuda também suas conseqüências morais, porque aí sobretudo está a verdadeira utilidade.



Nossos estudos nos ensinam que o mundo invisível que nos cerca reage, constantemente, sobre o mundo visível; eles no-lo mostram como uma das forças da Natureza; conhecer os efeitos dessa força oculta que nos domina e nos subjuga com o nosso esconhecimento, não é ter a chave de mais de um problema, a explicação de uma multidão de fatos que passam despercebidos? Se esses efeitos forem funestos, conhecer a causa do mal não seria ter o meio de preservar-se deles, como o conhecimento das propriedades da eletricidade nos deu o meio de atenuar os efeitos desastrosos do raio? Se sucumbirmos, então, não nos poderemos queixar senão de nós mesmos, porque não mais teremos a ignorância por desculpa. O perigo está no império que os maus Espíritos tomam sobre os
indivíduos, e esse império não é apenas funesto do ponto de vista dos erros de princípios que possam propagar, mas o é, ainda, do ponto de vista dos interesses da vida material. A experiência nos ensina que jamais é impunemente que se abandona à sua dominação; porque suas intenções nunca podem ser boas. Uma de suas táticas, para alcançar seus fins, é a desunião, porque sabem muito bem que dominarão facilmente aquele que estiver privado de apoio; também seu primeiro cuidado, quando querem se apossar de alguém, é o de sempre inspirar-lhe a desconfiança e o distanciamento de quem possa desmascará-los, esclarecendo-o com conselhos salutares; uma vez senhores do terreno, podem, à sua vontade, fasciná-lo com promessas sedutoras, subjugá-lo gabando suas inclinações, aproveitando, para isso, todos os lados fracos que encontram, para melhor fazê-lo sentir, em seguida, a amargura das decepções, feri-lo em suas afeições, humilhá-lo em seu orgulho, e,
freqüentemente, não elevá-lo um instante senão para precipitá-lo de mais alto.



Eis, senhores, o que nos mostram os exemplos que, a cada instante, se desenrolam aos nossos olhos, tanto no mundo dos Espíritos quanto no mundo corpóreo, os quais podemos aproveitar para nós mesmos, ao mesmo tempo que procuramos aproveitá-los aos outros. Mas, dir-se-á, não atraireis os maus Espíritos evocando
homens que foram a escória da sociedade? Não, porque não sofreremos jamais sua influência. Não há perigo senão quando é o Espírito que se IMPÕE, ele jamais existe quando se IMPÕE ao Espírito. Sabeis que esses Espíritos não vêm ao nosso chamado senão como constrangidos e forçados, e que, em geral, encontram tão pouco do seu meio entre nós, que sempre têm pressa de se irem.


Sua presença é para nós um estudo, porque, para conhecer, é necessário ver tudo; o médico não chega ao apogeu do seu saber senão sondando as feridas mais hediondas; ora, essa comparação do médico é tanto mais justa quando sabeis quantas feridas
cicatrizamos, quantos sofrimentos aliviamos; nosso dever é mostrar-nos caridosos e benevolentes para com os seres de além-túmulo, como para os nossos semelhantes.



Desfrutaria eu, pessoalmente, senhores, de um privilégio extraordinário se estivesse ao abrigo da crítica. Ninguém se coloca em evidência sem se expor aos dardos daqueles que não pensam como nós. Mas há duas espécies de críticos: uma que é malevolente, acerba, envenenada, onde o ciúme se trai a cada palavra; a que tem por objetivo a procura sincera da verdade, e comportamentos diferentes. A primeira não merece senão o desdém: com ela jamais me atormentei; só a segunda é discutível.



Algumas pessoas disseram que fui muito apressado nas teorias espíritas; que não chegara o tempo de estabelecê-las, que as observações não eram bastante completas. Permiti-me algumas palavras a esse respeito.



Duas coisas devem ser consideradas no Espiritismo: a parte experimental e a parte filosófica ou teórica. Fazendo-se abstração do ensinamento dado pelos Espíritos, pergunto se, em meu nome, não tenho o direito, como tantos outros, de elocubrar um sistema de filosofia? O campo das opiniões não está aberto a todo o mundo?
Por que, pois, não faria conhecer a minha? Caberá ao público julgar se ela tem ou não o senso comum. Mas essa teoria, em lugar de fazer um mérito, se mérito há, eu declaro que ela emana inteiramente dos Espíritos.



- Seja, diz-se, mas ides muito longe.
- Aqueles que pretendem dar a chave dos mistérios da criação desvendaram o princípio das coisas e a natureza infinita de Deus, não vão mais longe que eu, que
declaro, em nome dos Espíritos, que não é dado ao homem aprofundar essas coisas sobre as quais não se pode estabelecer senão conjecturas mais ou menos
prováveis?
- Ides muito depressa. - Seria um erro terem certas pessoas avançado? Aliás, quem as impede de caminhar?
- Os fatos não estão ainda suficientemente observados.
- Mas se eu, com ou sem razão, creio tê-los observado bastante, devo esperar o bom prazer daqueles que permanecem atrás? Minhas publicações não barram o
caminho de ninguém.
- Uma vez que os Espíritos estão sujeitos ao erro, quem vos disse que aqueles que vos informaram não estão enganados?
- Com efeito, aí está toda a questão, porque a da precipitação é muito pueril.




Pois bem! Devo dizer sobre o que está fundada a minha confiança na veracidade e na superioridade dos Espíritos que me instruíram.
Direi primeiro que, segundo o seu conselho, não aceito nada sem exame e sem controle; não adoto uma idéia senão se ela me parece racional, lógica e está de acordo com os fatos e as observações, se nada sério vem contradizê-la. Mas meu julgamento não poderia ser um critério infalível; o assentimento que encontrei numa multidão de pessoas mais esclarecidas do que eu, é para mim uma primeira garantia; encontro uma outra, não menos preponderante, no caráter das comunicações que me fizeram desde que me ocupo com o Espiritismo. Nunca, posso dizê-lo, escapou uma única dessas palavras, um único desses sinais pelos quais se traem sempre os Espíritos inferiores, mesmo os mais astuciosos; jamais dominação; jamais conselhos equivocados ou contrários à caridade e à benevolência, jamais prescrições ridículas; longe disso, não encontrei neles senão pensamentos grandes, nobres, sublimes, isentos de pequenez e mesquinharia; em uma palavra, suas relações comigo, nas menores, como nas maiores coisas sempre foram tais que se fora um homem que houvesse falado, tê-lo-ia pelo melhor, o mais sábio, o mais prudente, o mais moral e o mais esclarecido. Eis, senhores, os motivos de minha confiança, corroborados pela identidade de ensinamentos dados a uma multidão de outras pessoas antes e depois da publicação de minhas obras. O futuro dirá .se estou ou não com a verdade; à espera, creio dever ajudar o progresso do Espiritismo trazendo algumas pedras ao edifício.



Mostrando que os fatos podem se assentar sobre o raciocínio, terei contribuído para fazê-los sair do caminho frívolo da curiosidade, para fazê-los entrar na via séria da demonstração, a única que pode satisfazer os homens que pensam e não se detêm na superfície.



Termino, senhores, pelo curto exame de uma questão da atualidade.


Fala-se de outras sociedades que querem se levantar rivalizando com a nossa. Uma, diz-se, conta já com 300 membros e possui recursos financeiros importantes. Quero crer que isso não seja uma fanfarrice, que seria também pouco lisonjeira para os Espíritos que a houvessem suscitado, como para aqueles que deles se fazem os ecos. Se for uma realidade, nós a felicitaremos sinceramente, se ela obtiver a unidade de sentimentos necessária para frustrar a influência dos maus Espíritos e consolidar a sua existência.



Ignoro completamente quais são os elementos da sociedade, ou das sociedades, que se diz querer formar; não farei, pois, senão uma nota geral.



Há em Paris e alhures uma multidão de reuniões íntimas, como foi a nossa outrora, onde se ocupa, mais ou menos seriamente, das manifestações espíritas, sem falar dos Estados Unidos, onde elas se contam por milhares; conheço-as onde as evocações se fazem nas melhores condições e onde se obtêm coisas muito notáveis; é a
conseqüência natural do número crescente de médiuns que se desenvolvem em todos os lados, apesar dos galhofeiros, e quanto mais avançarmos, mais esses centros se multiplicarão. Esses centros, formados espontaneamente de elementos muito pouco numerosos e variáveis, nada de têm de fixo ou de regular e,
propriamente falando, não constituem sociedades. Para uma sociedade regularmente organizada, são necessárias condições de vitalidade muito diferentes, em razão mesmo do número de membros que a compõem, da estabilidade e da permanência. A primeira de todas é a homogeneidade nos princípios e na maneira de ver.



Toda sociedade formada por elementos heterogêneos, carrega consigo o germe de sua dissolução; pode-se dize-la natimorta qualquer que lhe seja o objeto: político, religioso, científico ou econômico. Uma sociedade espírita requer uma outra condição, que é a assistência dos bons Espíritos, querendo-se obter comunicações sérias, porque dos maus, deixando que tomem pé, não podemos esperar senão mentiras, decepções e mistificações; sua própria existência tem esse preço, uma vez que os maus serão os primeiros agentes de sua destruição; eles a minarão pouco a pouco, se não fizerem desabar tudo primeiro. Sem homogeneidade, nada de comunhão de pensamentos, e, portanto, nada de calma, nem de recolhimento possíveis; ora, os bons não vão senão ali onde encontram essas condições; e como encontrá-los numa reunião onde as crenças são divergentes, onde uns não crêem mesmo em tudo, e onde, conseqüentemente, domina sem cessar o espírito de oposição e de controvérsia? Eles não assistem senão aqueles que querem ardentemente se esclarecer, tendo em vista o bem, sem segunda intenção, e não para satisfazer uma vã curiosidade.



Querer formar uma sociedade espírita fora dessas condições, seria dar prova de ignorância, a mais absoluta, dos princípios mais elementares do Espiritismo.



Somos nós, pois, os únicos capazes de reuni-los? Seria bem deplorável, e além do mais, bem ridículo para nós assim crer. O que fizemos, seguramente, outros podem fazê-lo. Que outras Sociedades se ocupem, pois, dos mesmos trabalhos nossos, que prosperem, que se multipliquem, tanto melhor, mil vezes tanto melhor, porque será um sinal de progresso nas idéias morais; tanto melhor, sobretudo, se forem bem assistidas e tiverem boas comunicações, porque não temos a pretensão de um privilégio a esse respeito; como não temos em vista senão nossa instrução pessoal e o interesse da ciência, que nossa sociedade não oculta nenhum pensamento de especulação nem direto e nem indireto, nenhuma via ambiciosa, que sua existência não repousa sobre uma questão de dinheiro, as outras Sociedades serão para nós irmãs, mas não podem ser concorrentes; se delas tivermos ciúmes, provaremos que estamos assistidos por maus Espíritos. Se uma delas se formasse tendo em vista criar-nos uma rivalidade, com a segunda intenção de nos suplantar, ela revelaria por seu próprio objetivo à natureza dos Espíritos que presidiram sua formação, porque esse pensamento não seria nem bom nem caridoso, e os bons Espíritos não simpatizam com os sentimentos de ódio, de ciúmes e de ambição.

Temos, de resto, um meio infalível de não temer nenhuma rivalidade; foi São Luís quem nolo deu: Que entre vós vos compreendais e vos ameis, disse-nos.


Trabalhemos, pois, para compreender; lutemos com os outros, mas lutemos com caridade e abnegação. Que o amor ao próximo esteja inscrito em nossa bandeira e seja a nossa divisa; com isso afrontaremos o escárnio e a influência dos maus Espíritos. Nesse terreno, podem nos igualar, e tanto melhor, porque serão irmãos que nos chegarão, mas depende de nós não estarmos nunca ultrapassados.



Mas, dir-se-á, tendes uma maneira de ver que não é a nossa; não podemos simpatizar com princípios que não admitimos, porque nada prova que estais com a verdade. A isso eu respondo: Nada prova que estejais mais do que nós na verdade, porque duvidais ainda, e a dúvida não é uma doutrina. Pode-se diferir de opinião
sobre pontos da ciência, sem se morder e se atirar a pedra; é mesmo muito pouco digno e muito pouco científico fazê-lo.



Procurai, pois, de vossa parte como procuramos da nossa; o futuro dará razão a quem tem direito. Se nos enganamos, não teremos o tolo amor próprio de nos obstinar em idéias falsas; mas há princípios sobre os quais se está certo de não se enganar: são o amor ao bem, a abnegação, a abjuração de todo sentimento de
inveja e de ciúme; esses princípios são os nossos, e com esses princípios pode-se simpatizar sempre sem se comprometer; é o laço que deve unir todos os homens de bem, qualquer que seja a divergência de suas opiniões: só o egoísmo coloca entre eles uma barreira intransponível.



Tais são, Senhores, as observações que acreditei dever vos apresentar, deixando as funções que me confiastes; agradeço do fundo do coração todos aqueles que consentiram em me darem testemunhos de sua simpatia. Chegue onde chegar, minha vida está consagrada à obra que empreendemos, e ficarei feliz se meus esforços puderem ajudar a fazê-la entrar no caminho sério que é a sua essência, o único que poderá assegurar seu futuro. O objetivo do Espiritismo é de tornar melhores aqueles que o compreendem; tratemos de dar o exemplo e de mostrar que, para nós, a doutrina não é letra morta; em uma palavra, sejamos dignos dos bons Espíritos, se quisermos que os bons Espíritos nos assistam. O bem é uma couraça contra a qual virão sempre se quebrar as armas da malevolência.



ALLAN KARDEC.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

20140206 Companhias

Companhias


Desde 2011 dominicanos, franciscanos, beniditinos, diversos credos tiveram acolhida em meu Lar. Uma unica exigência: a Benevolência.


Aberta a músicos, poetas, literatos, pintores, teóricos de comunicação, intelectuais de diversos países e formas de pensar.


E por que isso?


Pelo simples motivo de minha valorização da diversidade das formas de pensar.


Quando matei a Verdade, abri a mente ao diálogo com as mais diversas formas de pensar, de se expressar artisticamente, ou simplesmente de aqui estar pelo prazer de estar acolhido por um grupo que sonha em cada vez mais e melhor se estruturar para o Bem.


Tenho brincado que "voltados para o mal tem muita gente no mundo" possamos nós, com todas as limitações ainda presentes em nós, servir de base de apoio ao Bem.


Um Lar, um pequeno espaço, uma pequena oficina de trabalho, de planejamento de tarefas.


Se o Bem existe ele está no coração do homem como propunha o Professor de Filosofia da USP José Herculano Pires. E eu prefiro apostar nesse que sempre foi um farol iluminando meus caminhos.


Paulo Cesar Fernandes

06 02 2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

20140205 Le Dantec

Do Inconsciente ao Consciente
Por Doutor Gustave Geley


Título Original em Francês
Gustave Geley - De I’Inconscient au Conscient
Librairie Félix Alcan 108, Boulevard Saint-Germain Paris (1919)
Tradutor - Abílio Ferreira Filho


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Capítulo III

Os fatores clássicos são incapazes de explicar as transformações bruscas criativas de novas espécies



O lamarckismo, como o darwinismo impõem a concepção de modificações lentas, mínimas, inumeráveis para a gênese progressiva das espécies.

Essa concepção, aceita como um dogma, parecia acima de toda controvérsia.

Quando, recentemente, de Vries fez conhecer suas observações sobre o que ele chama de mutações, isto é, os aparecimentos
bruscos de novas espécies vegetais, sem formas de passagem com as espécies ancestrais, isso fez por toda parte, entres as pessoas
interessadas na filosofia naturalista, a confusão e a aflição.

Assistiu-se, durante alguns anos, a um espetáculo extraordinário: os fatos de mutações trouxeram ao transformismo a única prova
que lhe faltava, a da verificação experimental.

Entretanto, vêem-se transformistas se esforçar para diminuir tanto quanto possível a importância dos fatos novos e o alcance da
nova teoria; e, ao contrário, adversários ingênuos adotá-lo com entusiasmo, imaginando-se uns e outros que o sucumbir das
doutrinas clássicas levariam ao sucumbir mesmo da idéia evolucionista!


Le Dantec, em seu livro a crise do transformismo, se exprime assim: “uma nova teoria, baseada em experiências controladas, nasceu há alguns anos e faz numerosos adeptos no mundo das ciências naturais. Ora, essa teoria, dita das mutações ou das variações bruscas, é a negação do lamarckismo: eu diria quase que é negação mesmo do transformismo.” Com efeito, acrescenta ele: “para a filosofia, o transformismo é o sistema que explica o aparecimento progressivo e espontâneo de mecanismos, vivos
maravilhosamente coordenados, como o do homem e dos animais superiores.”


Veremos mais adiante que o aparecimento espontâneo de seres vivos é uma impossibilidade filosófica. Quanto ao aparecimento
progressivo desses seres, ele não é negado pela teoria das mutações.


É somente o mecanismo hipotético, a gênese suposta das transformações progressivas que se acha em oposição formal com os fatos novos.


Le Dantec e os naturalistas de sua escola, que identificam o transformismo com os fatores clássicos, são em certa medida lógicos quando eles se esforçam em restringir o mais possível o domínio das mutações. Mas a idéia evolucionista pura não tem que temer as novas descobertas, bem ao contrário, como eu me esforçarei em mostrar mais tarde.


Aliás, Le Dantec permanece bem perto de sua opinião quando ele afirma que as mutações não afetam senão caracteres secundários,
em geral caracteres ornamentais e “deixam intactos o patrimônio hereditário.”

Desde as experiências de de Vries, numerosas observações novas foram atualizadas e a importância capital das mutações não é mais
negada nem negável.

A única questão que permanece posta é a de saber se as mutações constituem, na evolução, a regra ou uma exceção. De Vries
admite nitidamente que as transformações bruscas são a regra para os animais como para os vegetais; e de Vries poderia bem ter
razão.

Se examinarmos com efeito de perto toda história das transformações na escala evolutiva, perceberemos que a teoria das mutações encontra em toda parte uma deslumbrante confirmação.

Verdades, que saltam aos olhos, mas que não se queria ver ou que se escamoteava inconscientemente, são postas à plena luz por um
exame atento.

Essas verdades tinham sido proclamadas, entretanto, por grandes naturalistas, tais como Geoffroy Saint-Hilaire; mas elas não tinham
triunfado e a tese das transformações lentas não encontra mais, até os trabalhos de de Vries, quem a contradissesse.

Baseando-se na teoria das mutações, Cope retomou o estudo das formas fósseis, especialmente as formas fósseis dos batráquios e
mamíferos da América e não teve dificuldade em mostrar a probabilidade de suas variações progressivas por saltos.

É fácil aliás, de acordo com os documentos paleontológicos que constituem “os arquivos da criação, constatar o aparecimento,
sempre brusco na aparência, das principais grandes espécies”.

Batráquios, répteis, pássaros, mamíferos aparecem bruscamente nos terrenos geológicos. Assim que eles surgem, parecem adquirir
muito rápido os caracteres completos que guardarão em seguida integralmente, sem mais sofrer modificação essencial, tanto que
suas espécies subsistirão.

Sem dúvida, a paleontologia nos oferece formas de transição. Mas essas formas são raras e, constatação mais grave, elas parecem
antes espécies intermediárias que formas de passagem.

Tomemos por exemplo, o arqueópteryx, a mais notável dessas espécies intermediárias. Vemos um pássaro-réptil, um animal tendo
ao mesmo tempo do réptil e do pássaro. Mas sua espécie é bem determinada e bem especializada.

O arqueópteryx tem a constituição do réptil; mas ele tem também asas, asas bem desenvolvidas; asas que permitem o vôo, asas de
pássaro.

Jamais se encontraram répteis munidos de asas embrionárias ou em estado de esboço, no começo de seu desenvolvimento.

O que é verdadeiro para o arqueópteryx é igualmente para todas as formas intermediárias conhecidas: são formas bem determinadas,
com caracteres especiais muito nítidos, que permitem o uso dos órgãos característicos das espécies.

Apesar da paleontologia nos apresentar muitos órgãos rudimentares, resíduos de órgãos degenerados e inúteis, ela não nos oferece jamais órgãos esboçados e ainda inutilizáveis.

Parece então que as transformações bruscas sejam a regra na evolução.

Ora, é evidente que nem a seleção natural nem a influência do meio podem explicar esses aparecimentos bruscos de espécies novas.

É o que reconhece Le Dantec quando exclama: “uma mutação que se produz sob meus olhos, é uma fechadura cuja chave eu não
tenho!”

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Trago aqui tal e qual escreve Geley.

Postula ele que há saltos entre alguns exemplares das espécies. Ao mesmo tempo Kardec advoga que "na Natureza nada dá saltos".

E realmente é o que vemos ocorrer diáriamente.

As provas paloeontológicas que Geley vai buscar em Le Dantec podem estar equivocadas. E mesmo Le Dantec que eu não conheço,
pode ter um conceito distorcido de todo o processo da própria paleontologia.

A meu juizo seria necessária uma investigação das vertentes mais recentes da paleontologia para poder afirmar as pesquisas de Le
Dantec; ou definitivamente derrotá-las. Verdadeiramente eu não me proponho a isso neste momento, quando meu foco de preocupação é o indivíduo na atualidade. Partindo de Alexis Tocqueville e chegando a Alain Renaut. Mas essa é uma outra coisa para um outro momento.

Apenas trouxe este texto pelo incômodo causado por ele. Nós que sempre tivemos Gustave Geley como um referencial de um golpe
nos depararmos com coisas assim tão estranhas ao preconizado pela ciência atual, no mínimo nos deixa com as barbas de molho.

Apenas isso e nada mais.


Paulo Cesar Fernandes

05 02 2014

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Notas adicionais:


Félix Le Dantec
Da Wikipedia, l'enciclopedia libera.


Felix Le Dantec (Plougastel-Daoulas, 16 gennaio 1869 – Parigi, 7 giugno 1917) è stato un biologo e filosofo materialista francese.

«Le teorie dualistiche sono vecchie come il mondo; il monismo è al contrario molto recente ed è stato attaccato dalla nascita per
ragioni che attengono alla pigrizia intellettuale tanto quanto l'abuso della logica sentimentale. Sostengo che il monismo è recente,
sebbene gli avversari lo confondano volentieri in una stessa riprovazione con i materialismo degli antichi, e, in realtà, il monismo d'alcuni monisti attuali non si lascia facilmente separare dal materialismo, di cui ha ripreso le affermazioni metafisiche, inaccessibili all'esperienza».

È con queste parole che Felix Le Dantec apre il § 30, il secondo della Terza Parte del suo L'atheisme, intitolata L'ateismo scientifico o monismo, nella quale egli, dopo le analisi svolte nelle prime due Parti, passa ad enunciare la sua proposta filosofica.


Biografia

Figlio di un medico, il giovane Felix nasce nel 1869 in una paesino della Bretagna. Studia a Brest, quindi a Parigi, al liceo Janson de
Sailly, e a 16 anni entra alla École Normale Supérieur laureandosi poi in medicina.

Insegna per un certo tempo a Brest, quindi emigra in Brasile dove fonda un Institut Pasteur locale.

Rientrato in Francia, insegna dapprima a Lione poi a Parigi dove viene creata per lui una cattedra di embriologia generale,
raggiungendo fama e successo con i suoi libri di carattere scientifico e filosofico.

Muore nel giugno del 1917 al colmo della fama di docente, scrittore e pubblicista brillante.

Poco dopo il suo allievo Jacques Moreau ne celebra la figura di scienziato e filosofo, illustrandone le tesi con il saggio L'œuvre de
Félix Le Dantec, La méthode scientifique, les lois biologiques, les horizons phlilosophiques (edito da Larousse).


Pensiero

Ateismo radicale

Un ateismo radicale quello di Le Dantec, che egli ricava da Claude-Adrien Helvétius, d'Holbach e Laplace (ma senza mai citarli) nei
suoi fondamenti deterministici e monistici.

Un ateismo che, per altro,trova le sue basi nell'anticlericalismo della cultura postitivistica francese dell'800, che cerca di colpire la
credenza in Dio nel suo fondamento irrazionalistico, come avevano già fatto gli Illuministi.

Le Dantec è anche biologo di un certo rilievo, con spiccate simpatie verso l'evoluzionismo di Lamarck e non per quello di Darwin (in
quanto considerato troppo indeterministica)

Oggi quasi unicamente ricordato per il citato saggio L'atheisme, già in Le conflit, Entretiens philosphiques (del 1901) aveva posto le
premesse per il suo ateismo monistico e deterministico su base biologica.

La filosofia atea di Le Dantec è l'espressione di un materialismo monistico e deterministico assoluto, che affonda le sue radici nel
materialismo meccanicistico del Settecento.


Prima parte

Tutta la parte prima de L'atheisme è dedicata alla confutazione della credenza in Dio, considerata il retaggio di stratificazioni culturali superstiziose, così concludendo:

« Ecco ancora un'opinione d'ateo, sapere che il pensiero scaturisce da un meccanismo determinato; non credo alla libertà, e ciò è
fondamentale in me; come potrei dunque farmi comprendere da un credente dotato di libertà assoluta per il fatto stesso d'essere
credente? »

La negazione del libero arbitrio e il necessitarismo assoluto su base biologica sono il risultato della ritraduzione dello stesso
atteggiamento che già fu di D'Holbach, ma con una serie di considerazioni relative alle nozioni sul vivente proprie della fine del XIX secolo.

Egli ribadisce: « La presenza di atei dimostra semplicemente che le prove dell'esistenza di Dio non valgono nulla. Sono valide per
quelli che credono, e che, di conseguenza, non ne hanno bisogno, ma senza effetto per coloro che non credono; è addirittura molto
imprudente fornire prove, poiché un ateo, ritenendole insufficienti, si sentirà, proprio per questo, maggiormente autorizzato a
proclamarsi ateo.»

Negato ogni valore alle prove dell'esistenza di Dio sia su base morale, storica e fisico-cosmologica Le Dantec passa a confutare il
concetto di "caso", considerato irreale ed inesistente, ribadendo il dominio assoluto della necessità nei termini già posti anche da
Laplace, negando ogni finalismo provvidenzialistico.


Favorevole al lamarckismo e diffidente verso il darwinismo egli scrive:

«Arrivo in fine al Dio Caso dei darwinisti. Basta riflettere un attimo per vedere che la selezione naturale agisce come il tubo di acido
malico dell'esperienza di Pfeffer, con questa differenza che è una proprietà della vita stessa che è la causa della selezione degli esseri
viventi. Questa proprietà, questa legge, è la legge della continuità necessaria delle stirpi o eliminazione definitiva di quelli che sono
morti senza posterità: bisogna d'altra parte, checché ne pensino i neodarwinisti, aggiungere a questa legge quella dell'ereditarietà dei
caratteri acquisiti per spiegare la formazione delle specie.»


Seconda parte

La seconda parte (Conseguenze umane dell'ateismo) dell'opera affronta la posizione di Voltaire e il suo anti-ateismo contestandone le tesi, vedendo in vece in Maupertuis e Diderot i precursori di un evoluzionismo che però egli, come si è visto, indirizza (contro
Darwin) in deterministico e dove l'ereditarietà è sovrana. Scrive infatti:

«Oggi, dotati per via ereditaria di una coscienza morale di cui non conosciamo esattamente l'origine, concepiamo agevolmente una
società senza Dio; ma siamo lontani dal concludere che, prima dell'esistenza della coscienza morale, si sarebbe potuta formare una
società senza sfruttare l'idea religiosa.»

Vedendo nella paura l'origine della fede religiosa, a conclusione del capitolo IV, egli scrive:

«Sbarazzato dal terrore vano per quanto riguarda l'avvenire, l'ateo logico deve attingere dalla sua coscienza morale un'immensa pietà
per quelli dei suoi simili che tremano incessantemente davanti alla scadenza prossima. L'ateo logico non può avere né ambizioni, né
odio, né fine remoto; la vita perde per lui molto del suo valore, poiché non crede al merito, ma non teme la morte;»

L'insegnamento delle scienze naturali costituisce per Le Dantec il miglior mezzo per sviluppare anche la cultura filosofica:

«Studiare scientificamente la vita, è fare filosofia; è fare la sola filosofia che merita questo nome; e se si comincia con l'apprendere
una filosofia già pronta, per occuparsi in seguito di Scienze naturali, se si comincia col definire sulla buona fede di autori preferiti, tutto ciò che è relativo alla vita, si mette il carro davanti ai buoi, pratica condannata dalla saggezza popolare.»

Per quanto assertore della validità della concezione evoluzionistica Le Dantec non perdona a Darwin il fatto di ammettere mutazioni
genetiche casuali e non necessitate, ribadendo:

« E non sarà senza interesse dimostrare che Darwin, il fondatore o almeno il restauratore ed il volgarizzatore dell'evoluzionismo, ha
adottato, tra i primi, il metodo difettoso che avrebbe impedito a questa dottrina di dare tutti i suoi frutti.»

Allo scienziato inglese viene con ciò rimproverato l'errore di non inserire il suo concetto in un rigore scientifico che ammetta la
conoscibilità rigorosamente deduttiva e non probabilistica dei fatti biologici.


Terza parte

La Parte Terza de L'atheisme è quella in cui viene teorizzato l'ateismo scientifico su base monistica e necessitaristica.

Ciò significa anche che per Le Dantec le parti hanno senso soltanto in quanto riferite a un tutto costituente la Natura nel suo insieme.

Ma ciò che più gli preme è in ogni caso negare ogni dualismo materia-spirito.

La sua concezione privilegia quindi una materialistica e scientifica logica pura da contrapporre alla logica di sentimento, responsabile
di una non-scienza che spinge immancabilmente verso la religione.
Nel § 33 viene così espressa l'essenza dell'ateismo scientifico:

« La scienza umana è basata sulla constatazione, vecchia come la vita, del determinismo universale; è grazie a questo, che l'uomo può
prospettare di scoprire le leggi dei fenomeni naturali, vale a dire di fissare delle formule che, nelle stesse condizioni, si verifichino
sempre in tutti i fenomeni misurabili.».

L'inevitabile conclusione è: «Le cose sono come sono e non altrimenti.» confermando un radicalismo proprio di un positivismo
ottocentesco che vedeva nella necessità il principio dell'essere.

Per l'ambiente culturale e sociale italiano il Félix Le Dantec pensatore è stato trascurato dalla storiografia filosofica. Una
riproposizione del suo pensiero e una nuova esegesi dei suoi testi sarebbero utili alla sua conoscenza, fatti salvi tutti i limiti di un
radicalismo monistico-necessitaristico oggi non più compatibile con la biologia più avanzata. La quale, non solo conferma Darwin,
ma evidenzia elementi indeterministici che il Positivismo considerava inammissibili.


Opere scientifiche

La matière vivante 1895
Le déterminisme biologique et la personnalité consciente. 1897
L'individualité et l'erreur individualiste 1897
Les lois naturelles 1901
Les limites du connaissable 1902
L'unité dans l'être vivant 1902
Traité de biologie. 1903
La lutte universelle 1906
Introduction à la pathologie générale 1906
De l'homme à la science 1907
Théorie nouvelle de la vie De l'homme à la science 1908
Science et conscience 1916
L'égoïsme, seule base de toute société 1911
La science et la vie 1912



Opere filosofiche


L'athéisme 1907
Eléments de philosophie biologique 1911
Contre la métaphisique 1912
Savoir, Considérations sur la méthode scientifique 1914
Science et conscience, Philosophie du XX siècle 1916