sábado, 29 de dezembro de 2012

Perispírito inútil - Parte 2

Ao apresentar tal idéia a um amigo, que respeito intelectualmente, recebi uma grosseria como resposta.
Foi muito engraçado, pois esperava alguma reação mais ou menos nos moldes da recebida. Segui a estimar esse amigo da mesma forma, e a
admirar seu trabalho intelectual, sempre em um corte renovador para o movimento Espírita que por aí anda. Sempre foge da mesmiçe institucionalizada. A característica de um intelectual é criar, segundo Prof. José Pablo Feinmann da Universidade de Buenos Aires. Isto coloca meu amigo na condição de um intelectual.

Espero apenas do amigo leitor, maior bom humor que esse meu amigo.

Mas eu quero, por motivo de pura justiça, contrapor minhas idéias, pautadas apenas num raciocínio lógico, que me arrogo o direito de faze-lo e divulgá-lo, com algumas palavras de nosso Allan Kardec encontradas em "O Livro dos Médiuns" e "O Livro dos Espíritos".
No texto de "O Livro dos Médiuns" Kardec faz referência a trechos do "Livro dos Espíritos". Todos estão a seguir:


O Livro dos Médiuns

Capítulo IV - Dos sistemas - 50 Sistema da alma material

Julgamo-nos, entretanto, na obrigação de dizer algumas palavras acerca dos fundamentos em que repousa a opinião dos que consideram distintos a alma e o perispírito. Ela se baseia no ensino dos Espíritos, que nunca divergiam a esse respeito. Referimo-nos aos esclarecidos, porquanto, entre os Espíritos em geral, muitos há que não sabem mais, que sabem mesmo menos do que os homens, ao passo que a teoria contraria é de concepção humana. Não inventamos, nem imaginamos o perispírito, para explicar os fenômenos.

Sua existência nos foi revelada pelos Espíritos e a experiência no-la confirmou (O Livro dos Espíritos, n. 93). Apóia-se também no estudo das sensações dos Espíritos (O Livro dos Espíritos, n. 257) e, sobretudo, no fenômeno das aparições tangíveis, fenômeno que, de conformidade com a opinião que estamos apreciando, implicaria a solidificação e a desagregação das partes constitutivas da alma e, pois, a sua desorganização.
Fora mister, além disso, admitir-se que esta matéria, que pode ser percebida pelos nossos sentidos, é, ela própria, o principio inteligente, o que não nos parece mais racional do que confundir o corpo com a alma, ou a roupa com o corpo. Quanto à natureza intima da alma, essa desconhecemo-la.

Quando se diz que a alma é imaterial, deve-se entendê-lo em sentido relativo, não em sentido absoluto, por isso que a imaterialidade absoluta seria o nada. Ora, a alma, ou o Espírito, são alguma coisa. Qualificando-a de imaterial, quer-se dizer que sua essência é de tal modo superior, que nenhuma analogia tem com o que chamamos matéria e que, assim, para nós, ela é imaterial. (O Livro dos Espíritos, ns. 23 e 82).


O Livro dos Espíritos

Perispírito

93. O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?
“Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.”

Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.


Ensaio teórico da sensação nos Espíritos

(Selecta referente ao tema tão somente.
Por favor consulte Livro dos Espíritos.

257. ...
O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da
eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém, não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa.


Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu.

Haurido do meio ambiente, esse invólucro varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do pólo ao equador. Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do perispírito terrestre e então suas percepções se produzem como no comum dos Espíritos.

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23. Que é o Espírito?
“O princípio inteligente do Universo.”

a) - Qual a natureza íntima do Espírito?
“Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai 
sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”
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82. Será certo dizer-se que os Espíritos são imateriais?
“Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de comparação e com uma linguagem deficiente? Pode um cego de nascença definir a luz? Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo uma criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É a matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance dos vossos sentidos.”

Dizemos que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e seus efeitos. O cego de nascença se julga capaz de todas as percepções pelo ouvido, pelo olfato, pelo paladar e pelo tato. Não compreende as idéias que só lhe poderiam ser dadas pelo sentido que lhe falta. Nós outros somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres sobre-humanos. Não os podemos definir senão por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço da
imaginação.

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Peço ao leitor. Apesar da força e respaldo espiritual das palavras dos espíritos a Kardec, não deixe de considerar minha proposta da não necessidade do perispírito.



Lembre sempre. Tanto Kardec como os espiritos que o ajudavam eram todos frutos de uma época.


O mesmo Kardec imprimia ao espiritismo uma dinâmica capaz de faze-lo avancar sempre a novos horizontes. Era contra "a letra que mata" e lutava sempre em favor do "espírito que vivifica".


Não sou dono da verdade, até mesmo por não acreditar em verdades prontas e acabadas, a filosofia nos ensina a colocar todas as coisas sob análise, e isso num processo constante e sério. As próprias teorias científicas são válidas até a data; ou ainda dentro de limites claramente estabelecidos. Tomo como exemplo a Geometria Euclidiana, segue válida, mas sempre respeitados os limites de sua aplicabilidade.


O que trago aqui não é uma leviandade. É o processo de uma reflexão séria e racional. Capaz de ser hoje desconsiderada pela incompreensão dos homens, mas cuja veracidade o tempo e a ampliação do horizonte cultural de todos os homens, espiritistas ou não, trará luz a esta idéia pela qual me debato desde 2008. Seja para confirmá-la; seja para lançar-lhe uma pá de cal.


Se eu, algum dia, chegar a concluir por meu erro, não terei o menor pudor em admití-lo. Não seria ético manter um pensamento pautado no meu orgulho e na minha vaidade.


O que aqui trago é uma proposta teórica, de bases lógicas. Se será aceita ou rejeitada pelo leitor não é fonte de minha preocupação, tenho por dever estar concorde com minha consciência. Lutar pelas idéias nas quais eu acredito, como fiz desde a mais remota juventude. Quer se trate do espiritismo, quer se trate de qualquer outra área de conhecimento a que tenha me dedicado: geologia; filosofia; política; sociologia; etc


O tempo matura todos os frutos. Inclusive os frutos da Razão Humana.

Temos ainda de Livro dos Médiuns

Segunda parte - Capítulo I

Da ação dos espíritos sobre a matéria


58. A natureza íntima do Espírito propriamente dito, isto é, do ser pensante, desconhecemo-la por completo. Apenas pelos seus atos ele se nos revela e seus atos não nos podem impressionar os sentidos, a não ser por um intermediário material. O Espírito precisa, pois, de matéria, para atuar sobre a matéria. Tem por instrumento direto de sua

ação o perispírito, como o homem tem o corpo. Ora, o perispírito é matéria, conforme acabamos de ver. Depois, serve-lhe também de agente intermediário o fluido universal, espécie de veículo sobre que ele atua, como nós atuamos sobre o ar, para obter determinados efeitos, por meio da dilatação, da compressão, da propulsão, ou das
vibrações.

Partindo do desconhecimento atestado por Kardec, a partir das informações dos espíritos, isto me permite teorizar da possibilidade do espirito ser uma forma muita sutil de energia, uma energia capaz de eleboração pensante.

Dessa possibilidade, sendo o espírito energia, este pode atuar diretamente sobre a matéria. Não haveria disparidade de princípios a se contrapor; mas, tão somente energia em diferentes estágios de sutileza.

Um único princípio animaria o espírito, bem como a matéria bruta.

Reitero ser esta apenas uma teoria, uma elaboração pautada na lógica tão somente. Não obrigo ninguém a tomá-la como verdade; espero apenas dos homens de bom senso a abertura mental para analisar tal perspectiva desprovido de preconceitos.

Esta perspectiva traz em seu bojo desdobramentos filosóficos mais amplos, os quais não pretendo trabalhar neste momento. Mas que o leitor mais atento, e preocupado com o princípio de todas as coisas já poderá tirar ilações.

Me refiro a unicidade de princípios, sendo a alma um espiritoo encarnado e tendo o espírito a estrutura energética, daí podemos concluir que um único principio anima tudo o qu existe.

É isso! Uma questão filosófica a requisitar um debate mais profundo. De minha parte, um conhecimento mais profundo de física, principalmente no dizente à constituição da matéria enquanto condensação de energia.

Novo momento virá para tal discussão. Por ora fica lançada a idéia.



Fenômenos tangíveis

Não havendo perispírito como ficariam as materializações, voz direta e outras mais?


Efetivamente tais fenomenos não prescindirão de um médium. Um participante do processo capaz de ceder alguma forma de energia, mais animalizada a ser trabalhada pelo espírito comunicante.


É evidente a necessidade de tal espírito ter conhecimento de como lidar com tal energia. E esse conhecimento não precisa necssáriamente passar por fórmulas de física, de teorias de alta complexidade.


Pode ocorrer do espírito saber lidar com tal material por pura intuição. Da mesma forma ocorre em nossas reuniões diuturnas nas casas espíritas.


Se perguntado ao espírito numa comunicação, muitas das vezes ele não explica como ocorre, ou tem explicações como:


_ Me puseram perto dela/dele e o que eu ia pensando ele/ela ia falando.

Ou ainda:

_ Não sei como é, mas eu vou falando e ele/ela vai escrevendo o que eu falo.


Da mecânica do processo o espirito não tem conhecimento.

Simplesmente atua.


Imagino que o mesmo ocorria entre os espíritos materializados nas tribos da Polinésia. Fatos narrados por José Herculano Pires em seu livro "O Espírito e o Tempo".


Em seu horizonte tribal, tal conhecimento teórico não constava, mas sua prática e inclusive rituais de iniciação deviam haver, rituais passados de geração a geração, garantindo a perpetuação dessas práticas, onde os antepassados vinham e se materializavam, travando um diálogo natural com os membros das tribos.


Espírito e matéria interagem de forma direta e simples. Essa é a visão defendida por mim já fazem alguns anos.

Se ouvidos moucos não lhe deram importância, que posso fazer?

O tempo dirá onde anda a racionalidade. Serenamente aguardo!


Paulo Cesar Fernandes

29  12  2012

Perispírito inútil - Parte 1

Publicado em 23 de outubro de 2008 sob o título "E se..."

Chego ao CEAK, revejo os costumeiros amigos das quartas-feiras.

A alegria do reencontro. Algumas poucas palavras pois o pensamento ainda se pautava no aspecto da aprendizagem, do material de registro, da busca do conhecimento,...

E me deparo com o tema: Perispírito.

Iniciada a palestra um macaquinho perguntador se instala em meus ombros. Ora dizia “E se..., ora dizia “and  if...” tal qual ouvimos nos filminhos norte-americanos. Ora dardejava na orelha esquerda, ora tinha a direita como alvo. Intrigado, me limitei a registrar suas interpelações.

Na berlinda, o companheiro que falava seguia seu roteiro, sempre pautado em Kardec, com toda segurança e bom ânimo.

Transcrevo aqui alguma das questões que vieram à baila:

E se não houver perispírito?

Perderia o homem a possibilidade de viver e atuar no mundo?

Recuperado do espanto inicial, passei a admitir a possibilidade. Ao menos por hipótese, seria vantajoso e enriquecedor admiti-la.

Afinal, ao longo da história muitos avanços ocorreram em diversas áreas, muito provavelmente porque algum macaco perguntador tirou a paz de alguém. O meu seguiu adiante sarcástico:

Vou perguntar de outro jeito: sem o perispírito o espírito não teria como se manifestar fisicamente?

Respirei fundo, mas não perdi a compostura e segui no jogo.

Até porque a questão tinha fundamento. Historicamente pensamos na alma (espírito encarnado) apenas no esquema:

Espírito   »»»   Perispírito   »»»   Corpo


Sendo o perispírito matéria, quem me diz ser impossível esta matéria estar em forma de energia?

Sendo o pensamento um elemento aglutinador de energia, ao pensar, o espírito, em si e per si, seria capaz de atuar sobre o corpo de forma natural.

Tal qual bordão de antigo programa da TV brasileira, me parece que: “O macaco tá certo”.

Mas não para por aí:

Se a energia aglutinada pelo espírito é conversível em matéria, e tal matéria é passível de visualização.

Prá que o perispírito?

Pois é!

E podemos ainda pensar nos fenômenos físicos de materialização, onde o médium que viabiliza tal manifestação nem sequer se sabe médium. Cede ele o perispírito, ou alguma forma de energia animalizada, capaz de ser trabalhada pelo espírito comunicante?


Macacos me mordam pois não tenho respostas!

Paulo Cesar Fernandes

29  12  2012