Um novo contexto
É toda uma nova forma de viver, toda uma série de recursos ao nosso dispor, facilitando a vida incapazes de ser pensados por esses espíritos no passado.
Por outro lado, a materialidade se enraizou nos quefazer existencial, de modo a se tornar a "forma natural" de viver.
Tudo é natural e contemporâneo.
Quem não dedica certo numero de horas diárias/semanais ao seu corpo, é um elemento estranho na estrutura social da atualidade. Nossos tempos exigem isso.
Se a pessoa não tem sonhos de consumo, e bem está com o que possue, passa a ser olhado de solslaio. E uma pergunta surge: Quem é esse aí? Que há de errado com ele?
Temos diante de nós novos tempos.
Novas formas de viver.
Novas conformações familiares.
É verdade.
Mas a essência das coisas não muda. O Bem não passou a ser Mal e vice-versa. Temos hoje, ouvidos moucos a tudo o que venha significar uma contenção à materialidade. É na materialidade que nosso mundo está mergulhado, e os Meios de Comunicação de Massa são, em todos os paises, os grandes propulsores dessa "nova vida" a todos apresentada como a natural, e como a única possível.
Aí reside a questão: não é a única e talvez nem seja a melhor para o nosso progresso. Não foi à toa que Kardec colocou o materialismo como o maior inimigo do espiritismo. E a materialidade por mim questionada é exatamente o materialismo criticado por Kardec.
Não é por menos que fracassam todas as campanhas de leitura do campo pedagógico.
Os MCM precisam formar (e formam) espiritos vazios, para lhes dizer qual o "último grito da moda" a "tendência mais atual"; e estes, dócilmente, tal qual autômatos, à loja mais próxima se dirigirem e cumprirem a função destinada a eles: consumir.
Consomem desbragadamente.
Aparelhinhos mil.
Coisas úteis ou bugigangas.
Uma nova ginástica.
Uma fórmula infalível de emagrecimento.
Um ômega "xyz" fantástico no tratamento das rugas. etc.
E assim vão passando a existência sem Ser.
Seu tempo é do Ter.
Essa dicotomia é tratada num livro de Erich Fromm de forma, como sempre, muito interessante intitulado "Ter ou Ser". Ou "Ser ou Ter". Não recordo agora.
Como poderiam os "pobres" Emmanuel e André Luis, no tempo de escritura de suas obras, prever quais desdobramentos teria a sociedade brasileira e mundial?
Impossível.
Se escrevessem hoje o fariam de forma distinta. Os mesmos preceitos axiais lá estariam, já contextualizados para o momento histórico e cultural pelo qual atravessamos.
Mas não. Ambos não estão a reescrever suas obras.
Cabe a nós, minimamente espertos, fazer com seus textos o que os póprios fariam. Trazer e guardar apenas o cerne das idéias ali contidas. Relevando o seu linguajar católico (nada contra o catolicismo notem bem), mas uma vez espiritas, fazer uma leitura espirita de cada texto colocado a nossa frente.
Seja esse texto o que for, inclusive textos de sociologia e politica, de filosofia, de todas as áreas do conhecimento.
Um espirita, bem como um socialista, leem o mundo a partir dos preceitos teóricos dos quais são portadores e arautos. Caso contrário não são uma coisa e nem outra.
O mundo é composto em sua quase totalidade de homens e mulheres sem preceitos. Pensam, porém, mais das vezes "são pensados". Tendo como base o veículo de comunicação social a que se afeiçoam.
Daí nasceu a minha luta pela Razão Própria, e pelo pensamento autônomo de cada pessoa.
Dotar o mundo de um tipo de pessoa incapaz de "ir na onda",
Sempre dará uma parada e pensará, se algo lhe convém ou não. "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém." disse Paulo de Tarso faz muito tempo.
Embora tenha na imortalidade do espirito meu eixo existencial, não faço julgamento de nenhuma outra forma de pensar a existência.
Tanto dentro das hostes espiritas como fora delas. Me valho aqui de velho adágio: "Cada um desce do bonde como quer."
Importa que a Existência das pessoas tenha valor e significado. Pois dessa forma a felicidade lhe estará batendo à porta muito mais facilmente.
Viver é buscar a felicidade. Corretíssimo Aristóteles nas suas proposituras. Talvez a pessoa seja feliz na materialidade na qual se embrenha. Enquanto for assim tudo bem. Tudo bem para o presente momento, mas não pode ser assim indefinidamente. A Lei Natural tem lá seus preceitos e cabe a cada um de nós o ajuste a ela.
Augusto Matraga, personagem de um conto de João Guimarães Rosa, dizia quanto à morte "Todos tem a sua hora e a sua vez".
Assim também ocorre quanto à Vida em Plenitude: todos temos nossa hora e nossa vez. E estou seguro. No momento da chegada dessa vida plena, acompanhada sempre da Liberdade e da Felicidade, ninguém há de querer abrir mão do tesouro conquistado.
Os livros espiritas trazem esse tesouro, porém há que saber transpor todos os textos ao nosso tempo; e mais ainda, ao nosso projeto de vida dentro desse nosso tempo.
Espero apenas trazer reflexões a um mundo tão baldo delas, verdadeiramente tão baldo/baldoso delas!
Asi es la cosa! - como dizem meus amigos nicaraguenses.
Paulo Cesar Fernandes
24/09/2012