sábado, 24 de maio de 2014

20140524 Hegel Falando sobre o espirito

De Hegel "A Razão na História" um texto anterior a 1831 data em que Hegel morre de cólera.


Falando sobre o Espírito


O princípio do desenvolvimento implica ainda que isso esteja baseado em um princípio interior, uma potencialidade pressuposta, que se esforça por existir. Essa determinação formal é essencialmente o Espírito — cujo cenário, cuja propriedade e cuja esfera de realização são a história do mundo. Ela não se debate na ação externa dos acidentes, pelo contrário, é absolutamente determinada e firme contra eles.


Utiliza-os para seus objetivos e domina-os. Mas o desenvolvimento também é uma característica dos objetos naturais orgânicos. Sua existência não é apenas dependente, sujeita às influências externas, mas vem de um princípio imutável, uma simples essência, que primeiro existe como germe. A partir dessa existência simples ele produz diferenciações que a ligam às outras coisas. Assim, ele tem uma vida de transformação contínua. Por outro lado, podemos observá-lo do ponto de vista oposto, vendo nisso a preservação do princípio orgânico e de sua forma. Desta maneira o indivíduo orgânico produz a si mesmo, transforma-se realmente naquilo que é potencialmente. Da mesma forma, o Espírito é apenas aquilo em que se transforma e transforma-se realmente naquilo que é potencialmente.


O desenvolvimento do organismo continua de maneira imediata, direta (não dialética), sem impedimentos. Nada pode interferir entre o conceito e a sua realização, entre a natureza inerente do germe e a adaptação de sua existência à sua natureza. É diferente com o Espírito. A transição de sua potencialidade para a realidade é
mediada pela consciência e a vontade. Estas são mergulhadas primeiro na vida orgânica imediata, seu primeiro objetivo é a sua existência natural como tal. Mas esta última, sendo animada pelo Espírito, torna-se infinitamente exigente, rica (de uma riqueza moral) e forte. Assim o Espírito está em guerra consigo mesmo, deve superar-se como inimigo e como seu mais formidável obstáculo. O desenvolvimento, que na natureza é um tranqüilo desdobramento, no Espírito é uma dura luta interminável contra si mesmo. O Espírito realmente se esforça por atingir seu próprio ideal, mas o esconde de si mesmo e se orgulha e tem prazer nesta alienação de si mesmo.


Portanto, a história do mundo representa as fases no desenvolvimento do princípio cujo conteúdo é a consciência da liberdade. A análise de suas fases geralmente pertence à Lógica. A de sua especial natureza concreta pertence à Filosofia do Espírito. Iremos aqui apenas repetir que a primeira etapa é a imersão do Espírito na vida natural e a segunda, a saída para a consciência de sua liberdade.



Aqui temos apenas de mostrar que o Espírito começa com sua possibilidade infinita, mas apenas possibilidade — com seu conteúdo absoluto em uma forma subdesenvolvida, como seu objetivo e meta, que só atinge em resultado de sua atividade.


Somente neste momento, e apenas neste momento, é que o Espírito atingiu a sua realidade. Assim, a existência, progresso, aparece como um avanço a partir do imperfeito para o mais perfeito. Mas o primeiro não deve ser tomado apenas em abstração, como o simplesmente imperfeito e sim, como o que ao mesmo tempo contém o seu próprio oposto como germe, o chamado perfeito, um impulso dentro de si mesmo. Da mesma maneira, pelo menos em pensamento, a possibilidade aponta para algo que deverá tornar-se real — mais precisamente, a dynamis aristotélica também é potentia, poder e força. Assim, o imperfeito, sendo o oposto de si em si, é sua própria antítese que por um lado existe mas, pelo outro, é anulado e dissolvido. Ele é o impulso da vida espiritual em si, o anseio para romper o envoltório da natureza, da sensualidade, de sua alienação, e atingir a luz da consciência — ou seja, de seu próprio eu.


Assim, enquanto estamos preocupados exclusivamente com a idéia do Espírito e  levando em consideração apenas o conjunto da história do mundo como não sendo senão a sua manifestação, estamos tratando apenas do presente — por mais longo que seja o passado que estudarmos. [Não há tempo em que o Espírito não tenha estado ou não estará; ele não foi, nem ainda está por ser. Ele é eterno agora.] A Idéia está sempre presente, o Espírito é imortal.


[O que é verdadeiro é eterno em si e por si, não ontem e nem amanhã, mas agora, no sentido de uma presença absoluta. Na Idéia, o que pode parecer estar perdido está preservado eternamente.]

Isso implica que a fase atual do Espírito contém todas as fases anteriores em si. Estas na verdade se desdobraram sucessiva e separadamente, mas o Espírito ainda é o que em si sempre foi. As distinções entre essas fases não são mais que o desenvolvimento de sua natureza essencial. A vida do Espírito sempre eternamente
presente é um ciclo de fases que ainda existe lado a lado mas que, em outro aspecto, parece ser passado. Os momentos que o Espírito parece haver deixado para trás, ainda possui na profundeza de seu presente.


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Escritos de uma outra forma, mas aqui estão conceitos mais tarde desenvolvidos por Allan Kardec.

Gostemos ou não disso.


Paulo Cesar Fernandes

24 05 2014


quarta-feira, 21 de maio de 2014

20140521 CEPA e a FAB

CEPA e a FAB


Eu varria o quintal de casa, e me veio à cabeça um debate (inadequado) na página da CEPA sobre o uso do avião da FAB.


Sabe qual a imagem me veio?


A Praça da Grécia, quando os cidadãos condenaram Sócrates a beber cicuta.


Pró ou contra não importa. Nossa mentalidade segue os padrões da Era Clássica.


Absurdo!


Prego um Espiritismo Libertário. Um espiritismo na qual o espírito seja livre em plenitude. Nesta concepção não cabem julgamentos de qualquer ordem. E ponto final.


"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém." disse o outro Paulo.


O que não me presta eu me afasto. E basta isto.


Admito ter chegado a esta postura no ano último.


Bem faço, se me ativer a julgar a minha vida. Encaminhando esta num sentido de progresso pessoal, e desaguando, se possível, num processo que empurre a sociedade no caminho do Bem Maior, o bem de toda a humanidade.


Essa é a propositura da "Revolução dos Neurônios" por mim enunciada.


Dar fim às armas de metal, colocando em seu lugar a arma da inteligência, da reflexão, da educação libertadora do espírito. Ampliando-lhe os horizontes para um mundo de fraternidade e solidariedade, elementos basilares para a implementação da "Era do Espírito"  tão bem proposta pelo Professor José Herculano Pires.


O espiritismo foi concebido para libertar o espírito. Não apenas dos defeitos, como fazem as religiões e os religiosos.


Mas libertá-lo integralmente. Dando-lhe o pleno controle de sua vida/encarnação. Seus acertos e seus equívocos são coisas dele e apenas dele.


Sem Lei de Ação e Reação, sem CatoEspiritismo; sem nada dessas adesões nefastas à trajetória ascencional do espírito, na medida em que instauram de uma forma disfarçada o conceito/o senso de pecado.


Nada disso! Libertação Plena!


Ninguém julga ninguém e nem se permite ser julgado. Os ambientes autoritários tendem a julgar os seus membros. Caia fora!


Viver. Sem nos preocuparmos com as opiniões alheias, sempre preconceituosas, invejosas, ou simplesmente frutos da falta de cultura.


Somos todos Fernão Capelo Gaivota, a imortal imagem do aperfeiçoamento trazida à Terra pela sensibilidade de Richard Bach.


Nós, enquanto espíritos imortais, temos o direito de alçar voos mais amplos na racionalidade e na afetividade..


Paulo Cesar Fernandes

21 05 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

20140519 Cultura dos Povos Originários



Revista Espírita   -   1860   -   MAIO


Sexta-feira, 27 de abril de 1860. (Sessão geral)

Comunicações diversas.


1. Carta do Sr. doutor Morhéry, contendo novos estudos sobre as curas que obteve com o concurso da senhorita Godu. E com a ajuda do que se pode chamar a medicina intuitiva, (publicada adiante.)


2. A propósito da medicina intuitiva, o Sr. C..., um dos ouvintes presentes à sessão, segundo o convite do Presidente, dá informações, do mais alto interesse, sobre o poder curador de que gozam certas castas de negros. O Sr. C..., natural do Hindustão, e de origem indiana, foi testemunha ocular de numerosos fatos desse gênero, mas dos quais, nessa época, não se dava conta; hoje, deles encontra a chave no Espiritismo e no magnetismo. Os negros curadores fazem bem uso de certas plantas mas, frequentemente, se contentam em apalpar o doente, e agem segundo as indicações de vozes ocultas que lhes falam.

 

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Trago adiante alguns elementos da Filosofia e Psicologia Huna dos povos do Hawai.

Fonte:
http://www.oocities.org/br/huna_estudos/AMortevistapelaPsicofilosofiaHuna.htm

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A MORTE VISTA PELA PSICOFILOSOFIA HUNA

 

Para se falar sobre qualquer tema referente a psicofilosofia Huna, mister se faz que coloquemos alguns dos conceitos básicos desses ensinamentos.

Tudo começou com Max Freedom Long, psicólogo americano que em 1917, logo após sair da faculdade, foi morar no Havaí onde exerceu a profissão de professor em pequenas localidades; depois de vários anos, mudou-se para Honolulu, onde conheceu o Dr. William T. Brigham, antropólogo e pesquisador que trabalhava no “Bishop Museum” de Honolulu.

Sua intenção era conhecer o Dr. Brigham e conversar com ele sobre suas dúvidas em relação a certos fenômenos, sobre os quais, durante todo o tempo que lecionou ouviu narrativas. Relacionavam-se a curas, mortes e andar sobre lavas vulcânicas, não sendo, no entanto, divulgados e, os nativos quando abordados sobre os mesmos calavam-se.

Eram atribuídos a certas pessoas que tinham um poder e conhecimento especial, mas que disso guardavam segredo e se isolavam; eram chamados de kāhuna[1].

Durante três anos de convivência com Dr. Brigham, ele lhe passou quarenta anos de pesquisas e experiências que teve com os kāhuna, eliminando da mente de Long a idéia de que tudo não passava de superstição. Brigham não tinha a chave para explicar os fatos, mas supunha estarem ligados a três situações que deveriam ser desvendadas, o que daria a resposta desejada; dizia que dependiam de uma consciência que manipulava, uma força que exercia ação, sobre uma matéria especial.

M. F. Long durante longo tempo abandonou suas pesquisas por não encontrar respostas para as indagações.

Acordou numa noite com o pensamento de que se estudasse as raízes das palavras havaianas usadas pelos kāhuna em seus rituais, iria encontrar o que vinha procurando. Foi assim, que descobriu o mecanismo desses fenômenos, passando para a prática os resultados; fundou uma associação para pesquisas sobre Psicofilosofia Huna e formulou as teorias que colocou em seu primeiro livro sobre o assunto, publicado em 1936.

Suas conclusões são de que o homem é espiritualmente um ser trino formado de três espíritos independentes e de um corpo físico, quando encarnado. Em Havaiano, são denominados: unihipili, uhane, Aumakua e kino (corpo), equivalentes ao Eu Básico ou Subconsciente, Eu Médio ou Consciente, Eu Superior ou  Superconsciente e corpo físico, facilitando o nosso entendimento de bons  ocidentais.

Possuem uma  substância etérica que chamou de aka responsável pela formação do corpo de cada espírito; em Havaiano kino-aka, que significa corpo sombreado. Estão unidos por uma energia que denominou mana, produzida pelo unihipili e distribuída aos outros dois por meio de fios da substância aka, que fazem a coesão do ser humano e de tudo na teia-aka (universo) que possua vida[2]. A energia mana, parte do Poder Divino Mana[3]; existe na natureza e é fornecida pela alimentação e pelo ar, do qual, absorvemos pela respiração, a essência dessa energia que sustenta a vida. No ser humano, existem sob três formas: Mana, para o unihipili e kino, mana-mana para o uhane e kino e mana-loa para o Aumakua. O unihipili é o responsável pela concentração e distribuição dessa energia aos outros espíritos, mantendo a unidade em sua integridade.

O unihipili possui as memórias e o centro da consciência; ele fornece ao uhane as informações pelas lembranças gravadas nas memórias, sendo levadas pelos cordões-aka ao uhane que formula os pensamentos indutivos, apanágio do homem. O uhane ou “eu médio” é o espírito que fala e usa o pensamento indutivo, propriedade exclusiva do ser humano. Os dois estão ligados ao corpo, sendo o unihipili o modelo celular. O Aumakua está unido aos dois espíritos citados e ao corpo por um cordão de substância aka, mas não faz parte do corpo físico.

Como vemos, há alguma semelhança com a teoria de Freud com o Id, Ego, Superego e Libido.

Outro modelo nos foi dado pelo psicólogo e xamã Serge K. King; que ao contrário de Max Freedom Long, que não teve contato com um kahuna, foi adotado por uma família havaiana aos dezessete anos. Nessa família, havia dois kāhuna, tendo um deles se tornado seu mestre, passando-lhe grande parte desse conhecimento secreto, o qual, só era transmitido até então, de pai para filho e oralmente. Ele atualmente mora no Havaí onde dirige uma Organização chamada Aloha.

Intitula-se Kahuna e pratica o Xamanismo Havaiano transmitido por Wana Kahili, seu mestre kahuna.

Segundo ele, nós somos formados por três aspectos independentes e unidos por uma força ou poder divino, que se manifesta sob a forma de energia.

Como Max Freedom Long, conservou na Língua Havaiana; os nomes dados para o subconsciente, que denominou Ku; ao consciente, Lono e ao superconsciente, Kane. Ao Poder Divino, denominou Mana; cada um desses elementos possui um corpo próprio, denominado kino-aka. Quando há total harmonia entre eles, surge o ser perfeito que denominou de Kanaloa.

Fala de um poder Supremo chamado Kumulipo que também é o livro dos cânticos do Antigo Havaí, o Livro da Criação.

Enquanto Max Freedom Long concentrou a essência de sua teoria na Prece-Ação, como maneira de se obter resultados, Serge King trabalha com os sete princípios básicos, onde se concentra a força do Xamanismo havaiano.

Para ambos, o pensamento é o gerador das ações, e, assim, o responsável por tudo que acontece com o ser humano, tanto para o lado bom como para o ruim da vida.

Não desceremos a detalhes ou maiores explicações dos mecanismos de ação desses conhecimentos e, para os que se interessarem, há uma literatura sobre o assunto, tendo sido alguns livros traduzidos para o Português.

Os sete princípios fazem parte da Tradição Secreta dos kāhuna e sintetizam grande parte da Psicofilosofia Huna e, consequentemente, só poderão ser realmente sentidos por aqueles que conseguiram uma situação interior de percepção, aceitação e conscientização desses princípios. Creio que o estudo dos princípios, dos corolários e de seus atributos ou talentos, é de fundamental importância no aprendizado e na prática de qualquer situação em que entra o conhecimento Huna.

Eles dão o sentido psicológico da palavra, base para se conseguir a fé e o sentido do som emitido ao pronunciá-las; dinamiza a situação, levando-se ao resultado desejado, que para nós hoje, é o estudo da morte.

A cada princípio, corresponde um atributo; representam qualidades especiais a serem desenvolvidas e são percebidas de maneira diferente da do cotidiano.

 Os sete princípios, segundo Serge King, são:

1º. IKE - O mundo é o que você pensa que ele é.
Corolário: Tudo é sonho.
Todos os sistemas são arbitrários.
Utilização do poder do pensamento. 
 

2º. KALA - Seu poder é ilimitado.
Corolário: Tudo está interligado.
Tudo é possível.
Separação é apenas uma ilusão útil.
Utilização das ligações energéticas.
 

3º. MAKIA - A energia segue o curso do pensamento.
Corolário: A atenção segue o fluxo energético.
Tudo é energia.
Utilização do fluxo de energia.
 

4º. MANAWA - Seu momento de poder é agora.
Corolário: Tudo é relativo.
Utilização do momento presente.
 

5º. ALOHA - Amar é ser feliz, é compartilhar com...
Corolário: O amor aumenta quando o julgamento diminui.
Tudo está vivo, perceptivo e ativo.
Utilização do poder do amor.
 

6º. MANA - Todo poder vem de dentro.
Corolário: Tudo tem poder.
O poder vem da permissão (criação).
Utilização do poder da permissão.
 

7º. PONO - A eficácia é a medida da verdade.
Corolário: Existe sempre outra forma de se fazer algo.
Utilização do poder da flexibilidade.



O atributo de cada princípio é:

1º. IKE - Visão; é uma maneira diferente de se perceber as coisas; é a visão metafísica da realidade.
A visão comum das coisas chama-se Ike papakahi; é a visão do primeiro nível. A visão metafísica chama-se  Ike Papalua; é a maneira de se perceber a realidade atuando num segundo nível, de onde se controla o primeiro.

2º. KALA - Esclarecimento; é a maneira que se tem para agir fazendo com que se consiga claramente a união de seu Eu com o universo; é a transformação do homem em um ser holístico.

3º. MAKIA - Focalização; focalizar na mente as intenções, objetivos, metas e propósitos. É uma maneira de se conseguir uma revisão permanente das motivações, o que dá maior eficiência às ações e uma grande capacidade de frustração.

4º. MANAWA - Presença; sendo o presente o nosso tempo, o aqui/agora e o agora/aqui, são situações das quais se tira todo proveito para o entendimento e a compreensão e quanto mais atento se está, mais presente se faz e mais frutos se colhe das ações praticadas.

5º. ALOHA - Bênção; em todas intenções, atitudes e ações, se se consegue reforçar o bem no presente ou em potencial, quer pela palavra, imagem ou ação, pode-se sentir a bondade, enxergar a beleza e apreciar a perícia com que se age; assim, se está abençoando. O xamã age de maneira diferente porque é capaz de abençoar o bem potencial através de desejos de sucesso às pessoas a quem se dirige.

6º. MANAPermissão; para que qualquer coisa tenha poder, é necessário que se lhe atribua esse poder que se quer transmitir, isto é, permite-se que tenha esse poder.
Isso pode ser feito com pessoas e objetos; só se consegue isso com  a energização do que se quer atribuir poder. Assim como se pode dar poder, também se pode tirar.

O xamã guerreiro personifica o mal lhe dando poder, aprendendo como conquistá-lo; o xamã destemido tira o poder do mal despersonificando-o e aprendendo sobre ele, conseguindo a harmonia, fazendo assim, desaparecer o mal.

7º. PONO - Tecelão de sonhos; o xamã tece seus próprios sonhos desenvolvendo suas habilidades e, assim, poderá ajudar os outros a tecerem seus sonhos. Ele tem habilidade para fazer curas, as quais, têm um sentido diferente das curas comuns das doenças. Por exemplo, um massagista, massageando o corpo de um paciente, está usando suas mãos para curar o corpo físico. O xamã massagista, massageando, estará usando o corpo físico como ferramenta para tecer um novo sonho e curar o espírito. São duas situações em que as ações parecem semelhantes, mas a intenção faz com que se diferenciem. No primeiro caso, houve uma cura corporal e no segundo, ao tecer um sonho, propiciou uma cura física e mental; provocou uma mudança espiritual que manterá o indivíduo com novas intenções e atitudes de vida, criando uma nova crença.

Essa situação é eficaz e a eficácia está na capacidade de tecer sonhos do xamã e das mudanças sofridas, que manterão o indivíduo com suas novas crenças.

Cremos estar ai, a diferença das duas palavras da Língua Inglesa: “cure e healing”; a primeira é a resposta de cura do massagista e a segunda, é a resposta de cura do xamã.

Foram também sintetizados nos trabalhos de Max Freedom Long de maneira magistral, na Prece-Ação.

A leitura atenta e livre dos Evangelhos nos mostra que esses princípios não foram ignorados por Jesus, o grande Aumakua.

Para um melhor entendimento, recomendamos a leitura do livro Urban Shaman e Kahuna Healing de Serge Kahili King.

Quando falamos de morte, estamos falando da vida; isso é visto de acordo com cada um e segundo sua crença..

Há uma razão forte de se falar de morte, se nossas crenças nos levam à certeza de que existe algo que sobrevive à vida física; senão, porque falar de um acontecimento que finda no momento em que o cérebro deixa de funcionar? Se o sentido for esse, é melhor falarmos da vida em si, do conhecimento sobre ela e de suas finalidades, até a morte.

Há razão para se falar de morte, se existe a crença de que algo sobrevive à morte física e o chamaremos de espírito, para mais fácil entendimento.

Na Psicofilosofia Huna, é crença que o espírito está presente em tudo, em todos os reinos da natureza.

Tudo no mundo possui Aumakua ou Kane, símbolo da máxima polaridade, sintetizado no Eu Superior. Segundo as teorias de Jung, poderíamos chamá-lo de arquétipo do deus pessoal, o que existe acompanhando-nos através das vidas.

Para os kāhuna, a diferença é que só o ser humano possui uhane ou Lono, “o espírito que fala"; só o homem fala por pensamentos indutivos que propiciam a espontaneidade e a criatividade.

Para os kāhuna, os espíritos são formas-pensamentos individualizadas que por manterem suas energizações conseguem a coesão que lhes dá a condição de indivíduos, quer encarnados (em Ao) ou vivendo em Po (mundo invisível). Po é um estado na multidimensionalidade do tempo.

Há uma interdependência entre os três, necessária para a manutenção dessa coesão, se bem que conservem suas características próprias. A harmonia entre eles é essencial para o crescimento e a evolução, rumo ao homem trino.

Como vimos, tudo está baseado numa crença que segundo a Huna é o que faz a realidade. Para se ter uma crença, é necessário que se tenha um pensamento dirigido; quando isso acontece e desaparece a dúvida, transforma-se em fé assumida (paulele); essa é uma crença que pode mudar os padrões da pessoa guiando-a para  a realidade.


Na Psicofilosofia Huna há três tipos de crenças, assim descritas:

1. Fé assumida (Paulele); é a fé sem dúvidas.

2. Atitude (Kuana); fé com dúvidas; são tão habituais que continuam a influenciar a experiência do cotidiano.

3. Opinião (mana'o); crença facilmente mudada quando se adquire novos conhecimentos. Há mudanças quando a confiança e as idéias não se contradizem.


Dessas crenças, surgem três realidades:

1. Realidade subjetiva (pono'i); significa sentido pessoal do que é correto, bom, etc.

2. Objetiva (oia'i'o); realidade compartilhada; significa substância. As realidades de seu meio ambiente lhe permitem respirar, comer, trabalhar, jogar e interagir com outras pessoas ou coisas.

3. Projeção (maoli); não é conhecida na psicologia ocidental; começa como subjetiva transformando-se em objetiva através de projeção mental contínua; traz o desejo da condição de idéia ou imagem, para a experiência física. "Maoli". Pode também significar "estado de alegria”.

Baseado nas premissas acima expostas pode-se falar do conceito de tempo em Huna; segundo os kāhuna, tempo é uma energia vibratória com múltiplas freqüências, o que possibilita a multidimensionalidade do tempo, mostrando a possibilidade das existências paralelas, em universos paralelos.

O tempo presente depende dos sentidos físicos e da sensibilidade em geral. Desse conceito, concluí-se que a Psicofilosofia Huna se interessa essencialmente pelo aqui/agora e agora/aqui, campo em que atua o ser humano; o passado é então, uma lembrança e o futuro uma possibilidade; a ação passa assim, a ser fator primordial em qualquer ensinamento Huna.

O conceito de reencarnação é abordado de maneira bem diferente das demais filosofias que a têm como verdade. Após a morte física, as memórias das experiências vividas pelo indivíduo são arquivadas no kino-aka do unihipili; são as responsáveis pela produção de formas-pensamentos mantenedoras da situação espiritual de cada um. O progresso se dá pela intensidade das mudanças efetuadas, fruto da análise criativa e da  reflexão paralela feitas no cotidiano.

De acordo com várias palavras apresentadas adiante, concluí-se que para os kāhuna, a morte não existe e é uma continuação da vida fora do tempo presente, com ações próprias desse estado, vivenciadas em dimensões e vibrações diferentes.

Os kāhuna ensinam que Po é um estado e não um lugar, num tempo com vibrações diferentes de quando se está em Ao e sem as limitações causadas pela percepção sensorial corpórea. Aumakua vive em Po e está unido ao corpo por um cordão-aka, quando se está encarnado.

Não tendo a morte como um fim, ela faz parte da vida e é uma necessidade do crescimento e da evolução, assim como o aprendizado escolar é uma necessidade na vida atual para o desenvolvimento de conhecimentos futuros.

Existem dois diagramas chineses para ar. Um, do ar no sentido comum, o que leva oxigênio aos pulmões, provoca ventos e vendavais e um outro, mais complexo, que também significa ar, mas não é semelhante ao anterior; é como se englobasse o anterior, mas com uma função diferente. É a essência do ar que conduz a energia que vivifica. Sem ele, não há vida num sentido bem amplo do existir, e, sem o outro, não há vida no sentido que se tem comumente: vida fisiológica.

Cremos ser esse o sentido que os kāhuna dão quando descrevem os significados de várias palavras que são traduzidas como vida, quando estão falando de morte.

A palavra ola significa vida, mas num sentido amplo englobando algo mais do que o viver fisiológico e patológico, que é representado por duas palavras, ea e ha. Estão ligadas à respiração que mantém vivos os seres. Ola é o “alento” contido na respiração que surge com a primeira inspiração e vivifica o ser até seu último alento na última expiração, quando retorna para Po.

A água em movimento, fluxo (wai), também simboliza vida ou energia (mana) e está em várias palavras da Língua Havaiana como em wailoa e Hawai.

Do ponto de vista ocidental, é natural olhar a morte como o oposto à vida; não se pode supor que as frases havaianas para morte se referissem a uma interrupção do fluxo. Assim, a Psicofilosofia Huna considera a morte como a continuação da vida em estado e direção diferentes.

Fica evidente, quando consideramos vários termos poéticos ou comuns da Língua Havaiana com significado de morte:

make loa - desejo intenso por algo. 

Hiamoe loa - desejo por um longo sono.

Ua makukoa'e'oia - vida que continua fluindo. 

Ala ho'i ole mai - caminho sem volta.

Waiho na iwi - deixar para trás o esqueleto.

Moe kau a ho'oilo - tempo de dormir para germinar (renascer).

A lele nui ka mauli - o espírito (ou a vida) voou.

Ha'ule - começar a fazer algo.

Como vimos, as frases usadas pela Psicofilosofia Huna relacionadas com morte, têm um significado de atividade e crescimento e nunca de um fim ou estagnação; têm um sentido de vida, de ação e de impermanência na vida atual.

Não aceitam o pecado como em algumas doutrinas religiosas, que pregam o pecado contra Deus, mas sim como algo que vem de dentro e cuja responsabilidade é total e exclusiva de quem o pratica. Ensinam que pode ser causado por omissão, excesso ou intenção. Colocam carma e reencarnação como conseqüência e não como causa e efeito. Não há o sentido de castigo, punição, purificação, salvação, etc. Isso mostra terem uma razão muito maior, justificando as idas e vindas entre Po e Ao, até uma conscientização total que levará a viver sempre em Po, "onde muitas são as moradas na casa do Pai”.

Preocupados com o desenvolvimento no aqui/agora, os kāhuna não dão muita importância ao pós-vida, estando muito interessados nas experiências da vida atual. Tendo o pensamento como guia, o carma para os kāhuna está ligado à reflexão que vai conduzir o ser humano em suas ações; ela é uma condição que se adquire pelas crenças e suas modificações; é o resultado das experiências vividas e sentidas, ficando o passado como um ponto de referência quando necessário para libertação dos complexos e sem nenhuma preocupação com salvação, mas sim, com um viver feliz, o que dá uma concepção mais realista das intenções e ações, resultando numa vida mais plena, real e simples.

É como se as ações vivenciadas após uma reflexão, propiciassem uma harmonização entre os espíritos, preparando-os para uma condição de vida sadia, tanto a atual como uma posterior.

Passando para o estado multidimensional em Po, tem-se a oportunidade de revisões das vidas passadas, descanso e renovação de velhos conhecimentos e valores.

Essas renovações darão oportunidades de mudanças das crenças e padrões, com novas reflexões, crescimento e evolução.

Nos sonhos pode-se visitar Po, assim como nos estados alterados de percepção; crêem na possibilidade da comunicação entre Po e Ao (vida atual); o ser total vive nas duas condições, pois Aumakua vive permanentemente em Po e está unido ao unihipili e ao uhane e o que está envolvido, é uma alteração da percepção.

A mudança das crenças pela reflexão, pode colocar-nos em contato com as vidas passadas que estão na memória do kino-aka do unihipili, de onde se pode pelos estados alterados de percepção vivenciar novamente fatos acontecidos, dando condições de transformações interiores, que serão reformulações de padrões e portanto, de vida.

Isso induz a novas crenças até que se consiga uma crença assumida (paulele), que transforma as reflexões em realidades, que conduzem as ações no sentido do reto pensar, sentir e agir.

Nesse conceito, os kāhuna não vêem a vida atual como resultado ou o efeito de condições de vidas anteriores; não aceitam a idéia de "débito cármico", segundo o qual, se paga ou se compensa experiências de uma vida passada. Crêem que se traz todas as experiências reencarnatórias nas memórias do unihipili, mais ou menos como dados latentes e que a vida atual é dado latente para uma vida futura.

O sentido de causa e efeito não existe, mas sim o de reflexão paralela; os sistemas atuais de crenças dadas pelos kāhuna são dirigidos para quais partes da próxima vida se quer ser conscientizado. Pode-se mudar as crenças, explorando, entendendo e permitindo que o que está influenciando no aqui/agora e que tem como causas situações de vidas passadas guardadas nas memórias, sejam reformuladas, o que se faz desativando-se algumas, perdendo-se outras ou criando-se novas, que influenciarão na vida atual e servem de padrões para as vidas futuras.

Esse conceito, só é possível, se se crê que tempo é realmente uma forma de energia vibratória com múltiplas freqüências, permitindo a multidimensionalidade e vidas simultâneas. Concluí-se, assim, que vida é uma sucessão de mortes até que não se renasça mais, sendo a morte a parte da vida, que abre as portas para novas oportunidades de crescimento e evolução.

Futuramente poder-se-á interromper esse ciclo permanecendo-se no estado de Po. No ciclo de vida e morte é de onde se vem e para onde se regressa e de onde se volta, até que não mais se retorne; é onde se está e se é, em outras moradas na casa do Pai, como homem ideal, trino, sendo uno com o universo e em harmonia com o todo.


Sebastião de Melo



[1] Kāhuna é o plural de kahuna em havaiano

[2] Na natureza, somente o homem possui Uhane.

[3] Sopro de Teave, O Poder Supremo, Ra, I’ o, etc...

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Ontem. O encontro com tal conhecimento me deixou atônito.

Não farei outro comentário. Cada qual faça sua reflexão.


Paulo Cesar Fernandes

19 05 2014