sábado, 26 de maio de 2012

Luc Ferry e nós

Algumas vezes, determinado assunto ou pessoa chega até nós por mera casualidade.


Este foi o caso de Luc Ferry. Nas minhas buscas por tópicos concernentes à PosModernidade, dentre tantos aspectos e nomes, tive a oportunidade de descobrir um: Luc Ferry.


Havia passado batido por ele. Numa sexta-feira entretanto, conversando com um companheiro do CEAK, me falava ele da obra desse filósofo. Dela destacando alguns aspectos.


Como já havia baixado a obra em questão nesse diálogo, fiquei tranquilo. Ao abri-la porém, no fim de semana, me dei conta que ali estava tão somente o capitulo inicial, faltando o resto da obra.


Tal qual o cão de Pavlov me pus a salivar. E buscá-la.


A Livraria de São Vicente, onde trabalho não conta com tal livro. Mas antes de chegar a ela quis buscar saber algo mais do autor. Pois bem, o Wikipedia é sempre interessante, lá fui eu: www.wikipedia.fr dar uma olhadela no que dizia sobre ele.


Constatei estar muito próximo de nosso modo de pensar. Vejamos:


Quanto à sociedade:


Segundo ele os valores morais se substituem mais e mais pela religião. O homem é cada vez mais guiado pela ética, partindo dos direitos do homem. Se distanciando das questões relativas à religião. Diz que o autoritarismo das religiões cede lugar a uma espiritualidade laica.


Quanto a outros assuntos:


Diz ser a filosofia uma “soteriologia”: uma doutrina de saúde, possuidora das respostas às questões existenciais, tal qual o sentido da vida, uma vez que somos mortais. Salvando sua pele, não quanto à morte pois ela é inevitável, mas vivendo o tempo que temos de maneira satisfatória.


Qual seria esta maneira satisfatória e como a conseguir? A filosofia seria, nesse aspecto, a grande concorrente das religiões, uma vez que ela nos convida a buscar por nós mesmos a resposta a esta questão existencial, em lugar de aceitar o ensinamento, as ordens, de qualquer autoridade.


Segundo ele, um filosofo, se torna pleno e inteiro à medida que se afasta de Deus, e quanto mais um filosofo é ateu, mais ele corresponde à definição da filosofia.


A filosofia não é somente uma reflexão critica, pois a ciência também o é; não é uma retórica sedutora, mas sim a busca da sabedoria.

Seguem suas obras, tal qual aparece no site:

1984 - 1985, Philosophie politique, en 3 volumes dont le troisième en collaboration avec Alain Renaut.
1985, La Pensée 68. Essai sur l'antihumanisme contemporain, en collaboration avec Alain Renaut.
1985, Système et critique, en collaboration.
1988, Heidegger et les modernes, en collaboration.
1990, Homo aestheticus. L'invention du goût à l'âge démocratique.
1991, Pourquoi nous ne sommes pas nietzschéens ?, en collaboration.
1992, Le Nouvel Ordre écologique, sous-titré « L'arbre, l'animal et l'homme », prix Médicis essai et prix Jean-Jacques-Rousseau.

1996, L'Homme-Dieu ou le sens de la vie4, Prix littéraire des Droits de l'homme.
1998, La Sagesse des modernes en collaboration avec André Comte-Sponville, prix Ernest-Thorel de l'Académie des sciences morales et politiques.


1998, Le Sens du beau.
1999, Philosopher à dix-huit ans, en collaboration.
2000, Qu'est-ce que l'homme ?, en collaboration avec Jean-Didier Vincent.
2002, Qu'est-ce qu'une vie réussie ?
2003, Lettres à tous ceux qui aiment l'école avec Xavier Darcos et Claudie Haigneré.
2004, Le Religieux après la religion, avec Marcel Gauchet.
2005, Comment peut-on être ministre ? Essai sur la gouvernabilité des démocraties.
2006, Apprendre à vivre : Traité de philosophie à l'usage des jeunes générations, prix Aujourd'hui.
2006, Vaincre les peurs. La philosophie comme amour de la sagesse, éditions Odile Jacob.
2006, Kant. Une lecture des trois Critiques, éditions Grasset.
2006, Apprendre à vivre. Cours en 4 CDs audio, éditions Frémeaux & Associés.
2007, Familles, je vous aime : Politique et vie privée à l'âge de la mondialisation, XO Editions.
2008, Kant. L'oeuvre philosophique expliquée. Un cours particulier en 4 CDs audio, éditions Frémeaux & Associés.


2008, Nietzsche. L'oeuvre philosophique expliquée. Un cours particulier en 4 CDs audio, éditions Frémeaux & Associés.


2009, La tentation du christianisme avec Lucien Jerphagnon, Éditions Grasset
2009, Quel devenir pour le christianisme avec Philippe Barbarin, Éditions Salvator
2009, Face à la crise. Matériaux pour une politique de civilisation, Éditions Odile Jacobs
2009, Le Christianisme. Un cours particulier de Luc Ferry, éditions Frémeaux & Associés.
2009, Philosophie du temps présent. La pensée du philosophe en 3 CDs audio, éditions Frémeaux & Associés.


2009, Heidegger. L'oeuvre philosophique expliquée. Un cours particulier en 4 CDs audio, éditions Frémeaux & Associés (à paraître).


2009, Combattre l’illettrisme, éditions Odile Jacob
2008, Apprendre à vivre: Tome 2. La sagesse des mythes, éditions Plon

Finalizando.


Ferry é pouco conhecido no Brasil, pois o Brasil é culturalmente débil.


Mais que livres pensadores, devemos ser livres em todos os aspectos, capazes de encarar todas as formas culturais com grandeza de pensamento e com espirito desarmado. Esta é a concepção que deve nortear aqueles que nos últimos 20 anos vem buscando uma nova vertente de pensamento. Condizente com nosso tempo e com nossa hora: a hora da PosModernidade.

Paulo Cesar Fernandes

26/05/2012

Fichamento - Imbassahy - Freud e as manifestações da alma

Freud e as manifestações da alma

Carlos Imbassahy

Editora Eco - Rio de Janeiro - 1976
Edição original - 1969


Pág. 37

O Inconsciente

O Inconsciente tornou-se, no laboratório de psicanalistas, psicólogos e até parapsicólogos, um recipiente má-gico. Dali saem prodígios, ali se resolvem mistérios, ali se processam as maiores complicações, solucionam-se questões intrincadas, matam-se charadas psíquicas.
O Inconsciente produz, arquiteta, elabora, inventa, prevê, descobre,, resolve, adivinha. É um propulsor incansável; não ha para ele dificuldades, empecilhos, barreiras, desconhecimentos. É onimodo, é onisciente, é onipotente. Dali sai o que nunca entrou. Ele tira do nada.
Nas mãos de doutos e indoutos é um Deus ex-machina. Basta que se aperte um botão, ou mesmo que não se aperte nenhum, e toca a sair de lá o que há de mais fantástico: é o chapéu do Frégoli.
E o interessante é que esse Inconsciente não passa de uma abstração. Não há de sua existência nenhum indício, tópico ou qualquer característica típica; dir-se-ia tudo utópico. Nada se sabe a seu respeito, senão por seus misteriosos predicados.
Formou-se não se sabe como, não tem localização definida, não é passível de exame, nem de verificação de qualquer espécie. Não se lhe podem aplicar sondagens com as sondas que conhecemos; não se conhecem as investigações científicas, as observações microscópicas; é tão imaginoso como o eixo da Terra. E é esse órgão, anatomicamente inverificável, fisiológicamente imprescrutável, que se tornou responsável por todas as incógnitas psíquicas.

Pág. 39

A Psicanálise não conhecendo as vidas pregressas, não passou da fase que começa no ventre materno; daí as suas proposições inverificáveis, comumente absurdas, e somente aceitáveis, dada a sugestibilidade dos nossos psicólogos, prontos a aceitarem qualquer fantasmagoria desde que tome um aspecto complicado, tenha um fundo nebuloso, seja insusceptível de demonstração e se torne incompreensível ao vulgo, o que lhes dá a eles, psicólogos, grande superioridade, visto irem onde nin¬guém vai, alcançarem o que ninguém alcança, perceberem o que ninguém percebe, fora os seus pares, aliás nem sempre de acordo.
Mas esses atributos são do Espírito. Quando mui¬to, ele vai buscar á bagagem que traz consigo, guardada nos escaninhos do ser, e com seu auxílio produz aquilo que nos admira e que não sabemos onde foi buscar. Toda a energia, porém, é do Espírito, porque nele e com ele é que está a vida, e com ela o ser intelectual, emotivo, volitivo; o ser imperecível, posto no Mundo para os efeitos de sua evolução, no atrito da Natureza e no convívio com seus semelhantes.

Pág. 41

O papel do Inconscìente consiste, pois, em fornecer ao Espírito os elementos de que ele necessita e que ficaram lá depositados. É o Espírito que, no sono, na meditação, no transe, na sugestão, vai buscar esses elementos armazenados, o material acumulado na sua viagem através dos séculos e através dos Mundos, para apresentar os fenômenos que muitos supõem produzidos pelo Inconsciente, embora não houvesse ainda quem se dispusesse a lançar um olhar nas suas fornalhas, a ver como ali se forjam as espetaculares manifestações.
Nesse engano de nos apresentarem o Inconsciente como o produtor de fenômenos para os quais falecem os dados conhecidos, caem até os grandes cultores do Psi¬quismo, enviscados pelas lantejoulas da Ciência.

Pág. 48

O arquétipo inconsciente não é mais do que as im¬pressões que foram ficando gravadas no Espírito através de suas jornadas. Compreende-se que essas impressões se tornem indeléveis num Espírito, no indivíduo que evolve, por em nada perde de suas aquisições espirituais. Não se percebe, porém, como se perpetuariam elas na matéria e matéria que se renova constantemente. E não se imaginaria ainda essa persistência em inúmeras gerações, com todos os percalços da transmissão hereditária.

Pág. 51

Darem ao Inconsciente papel ou função primordial nos mistérios da vida psíquica é desconhecer por com-pleto o Espírito, os seus atributos, a sua dinâmica., o que ele representa no organismo, que superintende, dirige e impulsiona. O papel dinâmico do Inconsciente seria defensável num materialista, mas incompreensível num espiritualista.

Pág. 52

Citando José Alves Garcia :

a) NOS SONHOS -"No sonho o indivíduo faz uma série de coisas que repele: furtos, as-sassínios: É a manifestação do outro Eu. Não há lógica, mas confusão de pessoas, cidades, situações, tudo na mais completa falta de lógica."

Pág. 53

Existe, de fato, na memória recôndita todo um imenso passado, referto dos mais variados episódios. É de crer que, no sono, fossem exumados tais episódios, e daí os assassínios, os furtos e outras ações pecaminosas; é de crer que o Espírito andasse por muitos lugares e daí a mistura de , cidades e situações, vindas pêle-mêle à mente; é de crer que as recordações surgissem em retalhos e de mistura, e daí a falta de lógica. Não há porém outro Eu, é o mesmo Eu, apresentando um amálgama, onde passado, presente e futuro se fundem, onde o passado surge sem a ordem que o tempo e o espaço estabelecem. São recortes de cenas, de incidentes, de situações que a memória reteve, e que no sonho aparecem de mistura, ou a mistura se dá ao acordar.
Há ainda as viagens do Espírito, e o sonho é o que ele presencia; há a reunião com outros Espíritos, as comunicações, os avisos, os sonhos premonitórios. Em todo esse panorama o agente é único, o agen¬te é o mesmo, o sonhador, que se desprendeu da cama e do corpo, que relembra o presente, sonda o passado, pressente o futuro, e de tudo tem, por vezes, uma recordação nebulosa, onde as coisas absurdas, a falta de lógica, a miscelânea de tempo, espaço, pessoas, cidades situações, são para muitos indecifrável mistério: outras vão buscar a solução no Inconsciente, como se esse Incons¬ciente fosse um infalível decifrador de charadas.

Pág. 73

EXPLICAR O CASO BREUER - Caso de Ana

O que pensa Imbassahy :

Há que observar ainda o seguinte: Davam-se os tiques quando a senhora sofria algum abalo nervoso. É de crer que não existindo o abalo não houvesse os tiques, e porque não os havia, Freud acreditou na sua ação terapêutica.

O caso dos agrupamentos mentais, independentes entre si, essa "dupla consciência", é o fenômeno da dupla personalidade, que também se manifesta na doente de Breuer, o que faz acreditar fosse ela sensitiva ou médium.
O estado mental consciente era o da sensitiva em seu estado normal; o inconsciente - que Freud chamava o estado separado - seria á personalidade segunda, isto é, a revivescência de uma personalidade anterior, conforme as experiências de De Rochas e tantos outros que lhe seguiram na esteira.
Há ainda um fenômeno com a sensitiva semelhante ao da regressão da memória: na emersão das idéias a cadeia de recordações se fazia em ordem cronológica. Mas que é que Breuer e Freud poderiam conhecer nesse terreno? . . .

Pág. 77

Em certa mocinha que perdera o pai, nascera particular simpatia pelo cunhado, o que poderia passar por simples ternura familiar. Quando a irmã faleceu correu-lhe na mente, em rápido instante, uma idéia mais ou menos assim: - Ele agora está livre. pode desposar-me. E Freud conclui :

"É-nos lícito admitir, como certo, que essa idéia, denunciando-lhe à consciência o intenso amor, que sem o saber tinha ao cunhado, foi logo entregue ao recalcamento pelos próprios sentimentos revoltados. A jovem adoeceu com graves sintomas histéricos e quando comecei a tratá-la, tinha esquecido não só a cena junto ao leito da irmã, como seu sentimento indigno e egoísta. Mas recordou-se de tudo durante o tratamento, reproduziu o incidente patogênico com sinais de intensa emoção e curou-se."

Dá-nos o mestre vienense mais um exemplo por onde se pode compreender o que se passa nesse terreno:

Um sujeito porta-se inconvenientemente num salão de conferência; põem-no fora. Ele fica "recalcado". Para que não volte, indivíduos ficam postados como "resistências". Transporte-se a sala para a psique como, "consciente" e a porta como "inconsciente , e ai tem a imagem do recalque.

Pág. 78 E 79

VERIFICAR EM PETER GAY SE ELA NÃO TINHA IDO MORAR NA INGLATERRA

Analisemo-la.

Lembra ele que a doente de Breuer, esquecendo 0 seu idioma e outros que conhecia, teve como compensação o inglês. Tratava-se de uma compensadora barganha psíquica. E isto vai servir de apoio a justificar, daí por diante, o injustificável. Coisas do inconsciente, que opera prodígios sem que se saiba como se dá o milagre. Ora, vejam a simplicidade: o indivíduo esquece um idioma, e parte dos subterrâneos do Eu, como ficha de consolação, outro idioma de que ele não sabia nada. De onde lhe veio esse conhecimento reparador, a título de indenização, é coisa sem importância, desde que se confira ao inconsciente poderes discricionários. E já estamos vendo onde se foram abeberar certos parapsicólogos.
O que não viria à mente de um psicanalista é que se tratasse de um fenômeno psíquico, onde entram lem-branças de um passado remoto. Nem poderia supor que a personalidade pregressa se tivesse sobreposto à atual e daí a substituição de uma linguagem por outra. Se a antiga individualidade emerge da profundidade do ser é natural que obscureça o presente para dar relevo ao passado. Reminiscências de outra existência, como nos casos da dupla personalidade. É o que teria acontecido com a paciente de Breuer.
O Mestre abandonou o hipnotismo, quando o hipnotismo é que traz a chave de muitas experiências e principalmente a razão das curas atribuídas aos desrecalques.

Pág. 81

NOTA DO PC : Imbassahy estabelece juízo de valor o que me parece incorreto. Julga Freud de certa forma imputando-lhe desonestidade.

Freud dá-nos um caso isolado, embora nos diga que o colheu entre muitos. Aquele, provavelmente, deveria ser o melhor, se houve, mesmo, os outros. Mas esse, dado como exemplo, é psicologicamente falho, sem garantia de autenticidade, absurdo na sua exposição, inverificável na prática, incompreensível no mecanismo. E o fato mais curioso e mais relevante é apresentado em duas linhas, sem maiores explicações: sacou-se o segredo, que saiu do interior com o único testemunho do mestre, e a cura foi instantânea como se houvera a aplicação de um anes¬tésico.
Ninguém indaga até onde vai o poder de imaginação de um homem culto mas obsidiado por uma idéia fixa, nem onde iria o poder sugestivo sobre a doente, nem quais os casos que poderiam sustentar e corrobo¬rar o apresentado. Mas logo temos as bases de uma nova Ciência que o Mundo proclama como um dos maiores achados do século.


SONHOS

Pág. 88

É esta a fonte principal dos pensamentos ou sentimentos recalcados. É a pedra de toque, é a "estrada real para o conhecimento do inconsciente. a base mais segura da psicanálise".
O estudo do sonho é vasto na ciência psicanalítica e a exposição do mestre vienense faz-nos pensar num indivíduo a tatear num labirinto até encontrar uma saída qualquer.
As objeções que lhe opõem julga Freud superfïcia¬líssimas e afirma, com o mais invejável dos assombros
que "as soluções dos problemas da vida onírica já não apresentam dificuldade alguma".
Não cabendo nos limites deste capítulo um estudo completo desta parte, e não sendo possível, infelizmente, apresentar os exemplos que Freud nos mostra e por onde veríamos como são risíveis os seus esforços de in-terpretação, limitar-nos-emos ao resumo da terceira lição.
Principia confessando que não tem necessidade de hipóteses místicas e por isso nunca pôde descobrir nada que confirmasse a natureza profética dos sonhos.
Dois erros profundos numa pequena frase. O pri¬meiro é o do misticismo. Ora, não há misticismo ne¬nhum onde há realidade. Nunca se fez disso um mis¬tério, nem crença religiosa, nem se trata de devoção ou sobrenaturalidade. O sonho premonitório é um fato sob o domínio de um dos métodos científicos, o da ob-servação.
O segundo lapso, e esse pior ainda, é o inacreditável desconhecimento do mais conhecido, do mais relatado, do mais demonstrado fenômeno psíquico supranormal. Dele se ocupam grandes sábios do Velho e do Novo Mundo; sobre a previdência em sonho têm-se escrito muitas obras de extraordinário valor. Já delas fizemos uma resenha em outras obras. A documentação é pasmosa. Entretanto, o emérito fundador de uma escola psicológica, aquele que assentou os alicerces de uma doutrina revolucionária, ignora por completo, e o proclama, esse curioso fato anímico, que é o de vermos em sonho o que vai acontecer. Tal fato por si bastaria para duvidarmos das afirmativas de Freud no que concerne aos problemas da alma humana.

Pág. 98

COM RELAÇÃO AOS TRAUMAS DA INFÂNCIA

Acha que é na memória da mais remota infância que vamos encontrar os acontecimentos que determi-naram a moléstia do adulto; foram os desejos recalcados da meninice que deram força aos sintomas, e esses desejos infantis têm que ser reconhecidos como sexuais.
Não nos dá qualquer exemplo elucidativo e muito menos qualquer prova. Os enunciados transformam-se em axiomas. E quanto ao espanto que poderá produzir tal declaração, por não se descobrir sexualidade na infância, responde :

"Não. Não é verdade que o instinto sexual na puberdade entre no indivíduo como, segundo o Evangelho, os demônios entraram nos porcos.
A criança possui, desde o princípio, o instinto e a atividade sexuais. Ela os traz consigo para o mundo e deles provêm, através de uma evolução rica de etapas, a chamada sexualidade normal do adulto. Não são difíceis de observar as manifestações da atividade sexual infantil; ao contrário, para deixá-las passar despercebidas é que é preciso certa arte."

Pág. 102

Os doutíssimos investigadores da alma compreenderiam melhor os problemas da sexualidade infantil se soubessem - retiradas as vendas científicas - que há as existências anteriores do indivíduo; destas existência: trazem eles para a nova, se não se purificarem, os caracteres ainda inferiores do ser, os sintomas da animalidade primitiva. Há por isso crianças cujo passado foi um acervo de sentimentos e ações inferiores, ou de ações eróticas, e que voltam ainda intoxicadas, dominadas por pendores que ainda não se extinguiram. São estes que se manifestam, mesmo sem terem os infantes a correspondência física, não estando o corpo ainda preparado para ela.
Mas este fato não tem a generalidade que Freud lhe empresta, nem a significação que lhe dá. Muitos voltam já libertos das excitações excessivamente materiais, o que se traduz na inocência da criança e na sobriedade do adulto.
Isto seria tão fácil de entender !

Pág. 119/120

Há um capítulo do Psiquismo supranormal que daria a chave de muitos problemas com que lida a Psica-nálise. É o da obsessão. Iríamos divisar as neuroses como resultados de falhas e quedas num antigo passado, e em vez das fantasias, veríamos num fantasma a fonte dos males.
Não provêm os sintomas dos recalques da alma, porém de ódios recalcados. São antigas vítimas, sedentas de vingança, que vêm cobrar as dívidas irresgatadas.
A neurose será um sintoma, mas a gênese da doença está no pulso vingador. Pelo menos em muitos, em mui-tíssimos casos.
Mas daqui até lá, ou daqui até que se faça a verdadeira luz no entendimento dos profissionais da Neurologia ou da Psiquiatria, muita água há de passar por baixo da ponte. (22)

Pág. 137 a 140

O Sonho

É este um dos mais interessantes capítulos da concepção freudiana. E também um dos mais ilusórios le-gados à humanidade. Produto de uma fantasia quase mórbida, sem o menor supedâneo, temos, por essa es-cola, nossa convicção dependendo do arbítrio, de construções imaginárias, de hipóteses inverossímeis, apresentadas, entretanto, com o cunho de verdades irrefragáveis.
Além disso, Freud entrou em terreno que lhe era desconhecido, sem nenhuma idéia do que seja o espí¬rito e sua dependência temporária, tendo apenas a seu dispor um material de ficção.
Ignorando como toda a gente a causa e os elemento dos sonhos, o que no sonho se realiza, como pode produzir-se, sujeitou suas conclusões a idéias preconcebidas, a noções falsas, bordou-as como pôde, e apresentou à Ciência os maiores absurdos, arrastando após si uma vasta cauda de admiradores, discípulos, seguidores apaixonados, e muitos tão fanatizados como ele.
Vamos ver o que foi posto de lado.
O sonho tem diversas causas: É a memoração de fatos da véspera ou de fatos recentes, ou de fatos antigos, ou de fatos antiquíssimos. Os que tratam do assunto ficam apenas nos fatos recentes e foi o ponto único verdadeiro que Freud apresentou. Na realidade, não há só os fatos de ontem, nem apenas os dos próximos dias, nem só ainda os da vida presente, mas os de todas as existências do indivíduo, os da série da vida pregressa, desse imenso passado que não sabemos onde teria começado, mas que nos fornece um fabuloso repositório de lembranças.
É nesse repositório imensurável que o espírito vai buscar, muitas vezes, o que apresentou no sonho; em alguns, a recordação se apresenta clara, coesa, uniforme, compreensível, como porções do terreno profundo que se apanhassem com todo o cuidado por não se desfazerem; de outras feitas, os assuntos se confundem, se embaralham, corno se a pá do cavador lançasse ao solo, de mistura, materiais diversos, fragmentos, camadas heterogêneas da vasta sedimentação milenária. Daí os sonhos confusos, extravagantes, inextricáveis.
Freud abandonou tudo isto. Ou catalogou, sem com¬preender, e assim nos diz - "Há sonhos coerentes, de uma beleza fantástica, outros embrulhados, estúpidos, absurdos, extravagantes. Há sonhos tão nítidos como os acontecimentos da vida real, outros desesperadamente fracos, apagados, vaporosos. Num mesmo sonho encontramos partes nítidas e outras inapreciáveis, vagas."
Muito bem, enquanto apresentou o fato. Depois entrou a fabular.
Há os casos de exteriorização anímica, que são os do desprendimento do espírito; estes acontecem em vá-rios estados na vigília e principalmente no sono. O es¬pírito, um tanto liberto dos liames físicos, entra em outros planos a que Osty dava o nome de crípticos. São planos espirituais, mais ou menos elevados, onde o ser vai colher avisos, prenúncios, conhecimentos, idéias. Onde vê paisagens . . . Onde se encontra com outros Espíritos, encarnados ou desencarnados.
Há as chamadas viagens do Espírito, por efeito do sono hipnótico ou do sono comum. Ele dirige-se a lugares diversos, visita amigos, vê cidades, vilas, campos ,cenários variados. Tudo isto Freud desconhecia.
Há ainda as fantasias e lucubrações espirituais, es¬pécie de castelos que costumamos fazer quando acor-dados. Dormindo, o Espírito também pensa. É de crer que tenha idéias, formule planos, arquitete projetos, desenvolva as suas manifestações de arte, de literatura, esclareça-se em pontos científicos, tudo em melhores condições, visto que, com mais amplitude e mais liberdade, podendo ver, ouvir, sentir, meditar melhor do que sujeito às restrições somáticas. ,

E isto Freud não podia nem queria perceber. A Psicanálise ficou, em matéria de sonho, completamente afastada dessas noções já averiguadas devidamente. Diante disso, diante dessa imensa lacuna, que ~ confiança pode merecer o ensino que o Mestre transmitiu às gerações futuras? . . . Vejamos agora como ele explana a sua teoria:

- Os sonhos devem ter um sentido. São efeitos sempre de desejos, da satisfação de desejos. - E são esses desejos e sentidos que o psicanalista descobre, não por artes mágicas, mas por um talento especial de que vão dotados os psicanalistas. Continuemos apresentando a doutrina :
Grandes cousas se podem manifestar por pequenos sinais; conhecem-se casos que começam por um sonho e terminam em idéia fixa. Houve personagens históricos que, graças aos sonhos, puderam operar prodígios. Alexandre tinha intérpretes de sonhos em sua comitiva. A cidade de Tiro opusera-lhe uma tal resistência, que ele resolveu retirar-se. Mas em sonho apareceu-lhe um sátiro que dançava triunfalmente; mais que depressa foi ao adivinho e este lhe disse que o sonho lhe prenunciava a vitória. Eis que Alexandre ordena o assalto e Tiro foi tomada. Freud passou por aí sem perceber nada. A premonição lhe era desconhecida. Conclui que o sonho é uma reação a uma excitação perturbadora. As excitações experimentadas durante o sono aparecem no sonho. E até aqui ainda não sabemos do papel dos desejos. Provavelmente o desejo de tomar a cidade apareceu em sonho transformado num sátiro a dançar. Narra-nos alguns casos :
Maury fez verificações em si próprio. Mandou que lhe dessem a cheirar água de Colônia e sonhou que se achava no Cairo, na loja Farina. Beliscam-lhe a nuca e ele sonha com um emplastro médico que lhe haviam aplicado na infância. Ou enfim lhe verteram uma gota de água na fronte e ele sonhou achar-se na Itália, transpirando muito e bebendo vinho.
Não percebeu o analista que tais fatos não passavam da evocação de cenas passadas, provocadas pelos estímulos. Uma delas é patente, como a do emplastro aplicado na infância. Nada de misterioso, de desejado, de psicanalítico. A beliscadela no pescoço foi o sinal provocador. Nem desejo, nem satisfação de desejo.

REVER FREUD PARA ANALISAR ISTO


Pág. 148

"que o sonho deixa após si um pesar, uma tristeza, um desejo insatisfeito". Não vemos no sonho esta constante de pesares e tristezas.

TERIA FREUD DITO ISTO ? ONDE ???


Pág. 150 a 156

Mas é ainda Freud quem escreve :
"Aquele que tendo comido coisas picantes experimenta à noite uma sensação de sede, sonha facilmente que bebe. É naturalmente impossível suprimir, pelo sonho, uma sensação de fome ou sede mais ou menos intensas, a pessoa acorda desse sonho sedenta e é preciso beber água real."
Mas então como se dará a satisfação do desejo? . Como afirmar que há no sonho essa satisfação?
Tivemos um amigo que em sonho tinha urgentes necessidades fisiológicas. E sonhava que andava à procura do local apropriado. Encontrava-o, por vezes, mas um não tinha portas, outro estava ocupado, outro era devassado, outro tinha desaparecido. E ficava assim até que acordava. Onde o desejo satisfeito?
'E mais ainda: Há inúmeros sonhos, a maioria deles, a quase totalidade, onde não se manifesta desejo ne-nhum, onde não há o menor vislumbre de qualquer desejo. Isto se vê mesmo na avultada messe que Freud apresenta.
Veremos mais adiante,e como ele procura sair-se da rascada.

A censura no sonho

Freud insiste. O sonho é um meio de supressão de excitações que vêm perturbar o sono, e essa supressão se efetua com o auxílio da satisfação alucinatória. Quando o sonho é incompreensível é porque está deformado.
Se recusamos admitir a interpretação, estamos sob as mesmas razões de censura que deformam o sonho.
Como se vê, não há fugir. Agora acompanhemos literalmente as lições, e o leitor não sugestionado por elas veja se é possível encontrar em seus sonhos o que ele nos descreve :

"O eu, desembaraçado de todo o estorvo moral, cede a todas as exigências do instinto sexual, as que nossa educação estética há muito condenou, e as que estão em oposição a todas as regras de restrição moral. A procura do prazer, que chamamos libido, escolhe seus objetos sem encontrar qualquer resistência e de preferência os proibidos; procura não somente a mulher de outrem como também aquilo a que o acordo unânime da humanidade conferiu um caráter sagrado: o homem leva a sua escolha à mãe, à mulher, ao pai ou irmão; ambições que consideramos estranhas à natureza humana mostram-se suficientemente fortes para provocar sonhos. O ódio alcança livre curso. Os desejos de vingança, de morte em relação às pessoas que mais amamos na vida, pais, irmãos, irmãs, esposo, esposa, filhos, estão longe de ser manifestações excepcionais nos sonhos. Esses desejos censuráveis pare¬cem remontar de um verdadeiro inferno. A in-terpretação feita em vigília mostra que os indivíduos não se detém diante de qualquer censura para a repressão."

Freud, sem compreender que a gênese desses sonhos, aliás raríssimos, pode provir de uma fonte longínqua, continua explicando que eles preenchem uma função inofensiva, que consiste em defender o sono contra as causas de perturbação. Não atinge, entretanto, as tendências morais e estéticas do eu. Valha-nos isto. Resta compreender como tão nefandos atos oníricos poderão ser um amparo à perturbação.
A sugestão leva até os mais eruditos mestres a aceitarem incondicionalmente os postulados freudianos. Assim não será de admirar que se veja no sonho ,um .processo de evitar perturbações e para evitá-las entram a desenvolver-se as mais hediondas lucubrações, inteiramente ao arrepio do caráter do sonhador.
Os sonhadores repelem as sugestões analíticas e dizem a Freud: - Quer demonstrar-me, pelo meu sonho, que eu lamento as somas que expendi para dotar as irmãs e irmãos, quando trabalho para a família e não tenho outro interesse senão o cumprimento de deveres?
Diz outro: - Como V. pretende que eu deseje a morte de meu marido? Nós formamos um lar feliz. Sua morte me privaria de tudo que possuo no mundo. E outro ainda : - V. me atribui desejos sensuais para com minha irmã. Até nem nos damos, e há mais de um ano não trocamos palavra.
Freud porém não se desconserta e explica : Trata-se de coisas que eles ignoram. Tais argumentos não resistem à nessa crítica. Supondo que exis¬tem na vida psíquica tendências inconscientes, que prova se poderá tirar contra elas do ato da existência de tendências diametralmente opostas na vida consciente? . . . E por fim declara:
"Os resultados da interpretação aparecem desagradáveis, vergonhosos, repugnantes?
Não importa. Isto não impede que eles existam."

Por maneira que a mulher virtuosa ama o seu marido., Isto está no consciente. No inconsciente, porém, virtudes e paixões desaparecem; o que ela quer é o adultério. Irmão e irmã se estimam; isto é no consciente;
inconscientemente desejam o incesto. Veja-se o pai ou mãe, inconsoláveis, à beira do túmulo do filhinho. Pranteando conscientemente; no inconsciente desejavam aquela morte.
Inconcebível. Freud, porém, nos garante que nada impede que tais sentimentos existam. É o dogma, como se sabe; aceita-se, porém não se discute.
Freud faz ressaltar que os desejos perturbadores do sonho nos são desconhecidos e só a interpretação lhes dá a chave. Diz ele que o sonhador a nega, mesmo depois que a patenteiam, e cita o caso do lapso Aufstossen, em que o orador afirmava que jamais tiver a qualquer sentimento desrespeitoso para com o seu chefe.
Teria razão? Nenhuma - afirma Freud - que não havia no orador a consciência de semelhante sentimento. Como se vê, não é o próprio que sabe o que lhe vai no íntimo, é o analista que tudo conhece por processos pessoais. E quando o indivíduo supõe que está com o espírito limpo, aí está o dedo psicanalítico para mostrar-Ihe a sujeira interna. Aí está o exemplo do orador, descrito no capítulo anterior. Ele parecia e era o funcionário grato, respeitoso, amigo, e assim continuaria se a, sonda psicanalista não fosse surpreender-lhe a lama subterrânea.
Quem pode estar seguro de si? A análise é a mais perigosa e a mais fúnebre das cavadeiras.


O simbolismo no sonho

Já vimos - conforme o ensino - que a deformação que nos impede de compreender o sonho é efeita da censura, a qual exerce a sua atividade contra os desejos inconscientes inaceitáveis.
É esta uma descoberta feita por dedução e cálculos como a descoberta de Netuno. Diz-nos que a censura, entretanto, não é o único fator; há o simbolismo. Freud confessa que esse fenômeno não é ainda tão compreensível como desejariam. Mas traduziu alguns: Desliza alguém em sonhos ao longo das fachadas das casas, experimentando ora prazer, ora angústia; quando os muros são lisos, trata-se de homens, se apresentam saliências, trata-se de mulheres. E apresenta vários outros, que devem ser símbolos alemães, visto que os. não conhecemos por aqui. Além disso, os nossos símbolos são, em regra, individuais e premonitórios, o que F'reud desconhece.
Nós, por exemplo, sempre que sonhamos com uma viagem não terminada, ou em que acordamos antes do desembarque, é certo recebermos uma notícia má ou sermos vítima de maus acontecimentos. É um sonho pressagio.
O símbolo existe, mas Freud não o compreendeu; não há deformações, nem sentimentos a esconder; há coisas por acontecer. Diz-nos, entretanto : A morte iminente é substituída no sonho pela partida, por uma viagem estrada de ferro, por certos presságios sinistros. . .
Nem sempre a partida é em estrada de ferro; mas, como se vê, não há ali substituição, nem deformação, nem satisfação de prazer, há premonição.
Fala-nos em sonhos, como os do vôo, que devem ser interpretados à base de uma excitação sexual; é o fenômeno da ereção. Mas a mulher também voa em sonho. Freud nunca se atrapalha: neste caso ela quer ser homem.
Tanto quanto nos foi possível entrar nos segredos ou nas confidências das damas que conhecemos, não soubemos de nenhuma que desejasse possuir o sexo masculino.
O simbolismo para o Mestre vem de diversas fontes: contos, mitos, farsas, facécias, folclore, costumes, habitação, rosto inclinado para a água, procurando perceber criancinhas.
É de admirar a argúcia da pesquisa. No meio daquela confusa e variada miscelânea, vai-se buscar o símbolo e dizer-se precisamente o que ele significa. O da partida em estrada de ferro onde estaria classificado?

Entre várias explicações, onde predomina o lado genital. há esta:

"Diz-se no Novo Testamento que a mulher é um vaso fraco. Os livros sagrados judeus são cheios de expressões tomadas ao simbolismo , e que não têm sido compreendidas, mas cuja interpretação, como no Cântico dos Cânticos, deu lugar a mal-entendidos."

Ora, o vaso bíblico tanto pode ser homem como mulher. Há os vasos escolhidos, os vasos de , perdição. O vaso é, o objetivo, pessoa ou cousa: nenhum simbolismo sexual.

Elaboração do sonho

Expliquemos que para Freud existe o sonho manifesto e o latente; este é oculto, inacessível à mente. O trabalho que transforma o sonho latente no manifesto chama-se elaboração: quando se quer chegar do sonho manifesto ao latente, temos a interpretação.
Do capítulo extraímos apenas estas ligeiras definições para perfeita compreensão do estudo

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O desconhecimento da vida pregressa faz que se lance ao caráter atual toda a lia do passado que, muitas vezes, aflora no sonho, como a salsugem que as vagas atiram à, praia. E não podendo compreender ou jus-tificar o fenômeno, metem-nos ao rosto o inconsciente freudiano, cujos absurdos espantariam, se a nossa mente já não estivesse acomodada a toda a sorte de desconchavos.

CONOCIMIENTO DEL EDUCADOR

CONOCIMIENTO DEL EDUCADOR



EL CONOCIMIENTO ESPIRITA DEL EDUCADOR


VI JORNADA DEL PENSAMIENTO ESPIRITA ARGENTINO

Buenos Aires – Mayo de 2009

Un texto que es valido a todos nos, seamos espirita o no. Su conformidad con lo real es total. Lo publico sin preconceptos y en honor a Paulo Freire gran pedagogo de izquierda de mi pais.
Esta explicação precede o texto também publicado em Portal Fernandes.


Para hablar del conocimiento espírita del educador, me parece útil comenzar poniendo a vuestra consideración algunos tópicos que procuran aclarar que persigue, para mi humilde entender, la educación espírita

Para definir la concepción que tengo de la educación espírita voy a utilizar el título de un libro de un pedagogo que nació en Brasil: Paulo Freire. Este hombre fue creador del llamado “Método Paulo Freire” de alfabetización que le significó entre otras cosas, ser objeto de persecución ideológica, de presión y de un largo exilio. Dentro de sus obras que ofrecen ideas claras y rotundas, sencillas y abiertas a todo público, hay una cuyo título, los espíritas podemos tomar como resumen del objetivo de la educación espírita: LA EDUCACION COMO PRÁCTICA DE LA LIBERTAD.

En efecto, uno de los grandes aportes que el espiritismo le hace al hombre tiene relación con su visión del Ser como espíritu inmortal en evolución, dotado de libre albedrío, es decir posibilidad de elección, constructor de su destino, libre para conocer todo lo que existe, sin miedos, sin ataduras dogmáticas, sin temor a descubrir algo que signifique cambiar de postura respecto a algún tema, por el contrario incentivando al cambio que siempre significa progreso.

Mas allá aún: la visión del hombre como necesitado de elevar permanentemente su nivel de concientización sobre si mismo y el mundo.

Entonces, estos aspectos necesariamente deben primar en la educación espírita que es, ante todo y parafraseando a Freire una EDUCACIÓN PARA LA LIBERTAD, educar para ser libre, educar para aprender a pensar y a actuar por si mismo, educar para hacer uso de esta libertad con responsabilidad.

Toda práctica educacional proviene de una postura teórica por parte del educador. Y esta postura teórica implica – explicita o implícitamente - una interpretación del mundo y del hombre.

No pude ser de otra manera, el proceso de orientación del hombre en el mundo comprende, ante todo, el acto de conocer a través de la praxis, por medio de la cual el hombre es capaz de transformar la realidad.

Por lo tanto, estamos colocando la cuestión de los propósitos, de los objetivos, en el nivel de percepción crítica de la realidad y como un factor indispensable del proceso educativo.

Así, la postura teórica del educador espírita, debe poseer, como no puede ser de otra manera, la interpretación del mundo y del hombre que brinda el espiritismo. Y esta interpretación tiene directa relación con la capacidad que tenemos de transformar la realidad, empezando por la nuestra propia, pero abarcando también la de la sociedad toda.

Por todo esto, además del conocimiento del educador, hablaremos también de la ACTITUD del educador

El conocimiento espirita nos lleva a la comprensión critica del hombre como un ser consciente que existe no solo EN sino fundamentalmente CON el mundo, es decir como un Ser abierto que es capaz de lograr la compleja operación de transformarse y transformar a través de su acción y de entenderse y entender la realidad en un contexto evolutivo que trasciende el aquí y el ahora.

Al contrario del hombre, los animales simplemente están en el mundo, viven una vida sin posibilidades de emerger de ella, ajustados a la realidad. El hombre por el contrario, puede romper esta adherencia a la realidad, trascendiendo del mero ser EN el mundo y agregando a la vida que posee, la existencia que desea tener, el objetivo que quiera plantearse. Por ello, el existir del hombre es un modo de vida propio del ser que es capaz de transformar, de producir, de decidir, de crear y de comunicarse.

Es vital para el educador, entender esta diferencia entre ser EN el mundo y CON el mundo. Mientras que la primera posición trae aparejada la pasividad, la segunda motiva a la acción y a poder ser lo suficientemente objetivos para conocernos y conocer. Y hacia estos objetivos transita la educación espírita en todos sus niveles: a la concientización del educando con la finalidad de obtener de él una actitud crítica ante su propia realidad y la del mundo que lo rodea.

Para ejemplificar esto citaremos algunos conceptos vertidos por Ervin Lazlo (prestigioso humanista y científico húngaro) en su obra “Tu puedes cambiar el mundo”:





“ Una adecuada ética planetaria puede parecer una imposición arbitraria si no está arraigada en tu forma de ver el mundo y en tu lugar y papel dentro del mismo. Esto requiere que examines también tus creencias:

Considerarnos a nosotros mismos individuos separados y distintos del mundo social y natural en el que vivimos convierte nuestro impulso natural de buscar lo mejor para nosotros, en una lucha sin futuro entre los más desiguales competidores. En nuestro mundo no equitativo pero interdependiente, comprometerse en este tipo de lucha no sólo es injusto sino que amenaza tanto a ganadores como a perdedores.

La creencia de que nada cambia constriñe básicamente la creatividad y nos hace incapaces de aprender a vivir en un mundo que se transforma rápidamente, tanto si lo sabemos como si no”.

Ervin Lazlo

Esta invitación al cambio, a la revisión de conceptos y actitudes que recomienda Lazlo, está explícita en los fundamentos del espiritismo, en la concepción que éste tiene del hombre, de la Sociedad y del mundo

Frente a un mundo en dinámica transición, atendiendo al sentido evolucionista del espiritismo, la educación espírita, lejos de contribuir a la formación de un ser conformista y quieto, debe propugnar por un educando que procure la verdad allí donde ella esté. Solo concebimos a la educación espírita si puede contribuir a hacer del educando, un ser cada vez mas consciente, con una actitud proactiva frente a los problemas de su tiempo y de su espacio.

La educación espírita es, a mi juicio, un proceso que sobrepasa los límites estrictamente pedagógicos ya que es una educación para la decisión, para el ejercicio de la responsabilidad individual y también social. Una educación que habilite al educando a una discusión valiente de su problemática, que lo incentive a desarrollar sus potencias, que lo coloque en diálogo constante con el semejante, que lo predisponga a constantes revisiones, al análisis crítico de lo que va descubriendo de si mismo y del mundo, que lo dote de una cierta “rebeldía” (si se me permite el término) que lo invite a buscar siempre más y a trabajar en forma consciente por su mejoramiento y el de la sociedad que lo contiene.

Debe también tener en claro el educador que la realidad muchas veces parece que condiciona las posibilidades de los seres, por ello una tarea de concientización que, como dijimos, vemos como uno de los objetivos fundamentales de la educación espírita, es ante todo, el esfuerzo por esclarecer al educando sobre los obstáculos que, en ocasiones, le impiden tener una clara percepción de la realidad. Y estos condicionamientos pueden tener su raíz dentro o fuera del Ser y suelen manifestarse como presiones que sufre, muchas veces de manera inconsciente.

Las presiones externas, que tienen su fundamento en el entorno son varias, a manera de ejemplo citaremos:

La competencia, fuertemente instalada en todos los ámbitos

La sociedad de consumo creando permanentemente necesidades que no son reales.

La globalización, que hasta aquí no ha tendido a la universalización sino a fomentar el consumo y la insatisfacción.

Entre los “enemigos” internos, muy arraigado por la cultura, sobre todo la occidental, citaremos fundamentalmente a los miedos.

Porque hubo épocas en que todo debía soportarse estoicamente; infundir el miedo era, inclusive, una forma de educar: “si no hacés tal cosa te va a suceder esto y lo otro...”.

El castigo, la desvalorización, inculcar los prejuicios y los resentimientos se constituían en herramientas utilizadas a falta de otras mejores.

El concepto generalizado, aún dentro de muchos espiritistas, sobre lo que la vida aparentemente significa: lucha, sacrificio, castigo, aconsejaba que esa era la mejor manera.

Y también existe el miedo al cambio… pues de alguna manera cambiar significa una pérdida…

Procurar cambiar nuestra manera de pensar significa “perder” la seguridad que nos daba la manera anterior.

(ejemplo del árbol)

Citando nuevamente a Freire en “Pedagogía del Oprimido” nos dice que en un proceso educativo es común observar el “miedo a la libertad”, el temor a la concienciación, el miedo al desarrollo de la conciencia crítica.

continua Freire diciendo: “El miedo a la libertad, del que, necesariamente no tiene conciencia quien la padece, lo lleva a ver lo que no existe. En el fondo quien teme a la libertad se refugia en la seguridad vital, prefiriéndola de la libertad arriesgada”

Por muchos de estos aspectos citamos hoy la necesidad de revisar la ACTITUD del educador espírita, o sea NUESTRA ACTITUD.

¿Somos conscientes que la educación espírita es educación para la libertad, con todo lo que ello significa?

Así concebida, la educación que se brinda en los centros espíritas en todos los niveles, está muy lejos de ser una mera transferencia de conceptos doctrinarios.

No se trata de que alguien (el educador) “deposite” en un “recipiente” (el educando), el contenido de las obras de Kardec y de otros insignes espíritas.

Se trata de enseñar a pensar, a sentir y a actuar según la forma que el espiritismo tiene de ver al hombre, a la sociedad, al mundo y al universo todo.

En una obra maravillosa “Tener o Ser”, Erich Fromm presenta dos actitudes de vida y, refiriéndose al aprendizaje dice:

“En el modo de existencia de TENER los estudiantes asisten a las clases, escuchan al maestro, comprenden el significado de sus palabras, escriben en sus cuadernos la mayor cantidad posible de palabras que escuchan, mas tarde estudian estas notas muchas veces de memoria, pero generalmente el contenido no pasa a ser parte integrante de su sistema individual de pensamiento, ni lo enriquece ni lo amplía, sino que se transforman las palabras en conjuntos fijos de teorías que se almacenan. Los estudiantes y el contenido de las clases continúan siendo extraños entre sí, pero cada uno se siente propietario de un conjunto de afirmaciones hechas por alguien que las creó o las tomó de otra fuente.

En este sistema la meta es “retener lo aprendido” sin producir ni crear nada nuevo, de hecho los individuos del tipo de TENER se sienten perturbados por las ideas o los pensamientos nuevos sobre una materia, porque lo nuevo hace tambalear la suma fija de información que poseen y que les ha costado tanto conseguir.

En el modo de SER, el proceso de aprendizaje es de una calidad enteramente distinta pues pone al estudiante en relación con el mundo. En vez de ser recipientes pasivos de las palabras y de las ideas, escuchan, oyen, captan y responden de manera productiva y activa. Lo que escucha estimula la actividad de su pensamiento y en él surgen nuevas preguntas, nuevas ideas y perspectivas. La enseñanza en el modo de SER acude a que cada estudiante VIVA una experiencia personal sobre el tema en estudio, sin miedos y sin ataduras de ninguna clase.”

Pues bien, el aprendizaje desde el punto de vista espírita debe transitar por el “modo de Ser” usando palabras de Fromm o “con el mundo” utilizando términos de Freire.

Debemos tener en cuenta que todo proceso educativo es una forma sistemática y deliberada de acción que incide sobre la estructura individual y social y lo puede hacer para dejarla como está, para producir pequeñas dosis de cambio o para transformarla realmente.

En este sentido el proceso educativo que el espiritismo plantea procura promover el desarrollo de un sentido crítico que libere al hombre, de modo que ya no se limite a reaccionar a estímulos o a normas establecidas, sino que se sienta impulsado a desplegar, con espíritu abierto, sus fuerzas potenciales y a activarse y enriquecerse a si mismo y a los demás elevando el nivel de logros y realizaciones.

“Cuando fui por primera vez testigo del fenómeno de las mesas que giraban, saltaban y corrían, lo fui en condiciones tales, que la duda no me era posible. No por esto mis ideas se modificaron, pero entre aquellas futilidades aparentes y la especie de juego a que se había reducido el fenómeno, hube de reconocer un hecho y, por consecuencia, una causa que lo determinara, como la revelación de una nueva Ley que me propuse profundizar”.

“Apliqué a esa nueva Ciencia como lo había hecho siempre con toda otra, el método de la experimentación: no me he fiado nunca de teorías preconcebidas. Observé atentamente, comparé, deduje las consecuencias, de los efectos quise remontarme a las causas por deducción y por el lógico encadenamiento de los hechos, y no admití como verdadera ninguna explicación que no resolviera todo género de dificultades”

Estas palabras de Kardec extraídas de Obras Póstumas y referidas a su iniciación en el nuevo conocimiento, reflejan, sin mas ayuda que una observación detallada, la ACTITUD que tuvo y que mantuvo en toda su vida, la misma que debemos mantener quienes pretendemos “educar” en al ámbito espírita.

El fundador del espiritismo no se quedó en el ámbito de lo conocido sino que, venciendo el temor propio de su condición humana, rompiendo con sus propios preconceptos, intentó realmente CONOCER, buscar donde nadie había buscado, satisfacer su razón, avanzar sobre sus propios descubrimientos.

¿Por donde debe transitar entonces el conocimiento del educador espírita?

Por supuesto comenzar por conocer Kardec, la vida y la obra de quien dio permanente muestra de humildad, de renunciamiento personal, interpretando los mensajes de los espíritus, formulando preguntas que respondían no solo a sus inquietudes personales de conocimiento, sino también a las que la humanidad se formulara en todas las épocas, con una postura renovadora acorde a la marcha de la ciencia y de una moral sin dogmas.

Decimos estudiar a Kardec procurando ver más allá de las formas, leer entre líneas, escudriñar entre sus objetivos, visualizar su pensamiento. Estudiar la obra kardeciana sin apegarnos a la letra, sino intentando captar la idea, que es lo verdaderamente trascendente.

Estudiar a Kardec con el conocimiento del marco histórico y cultural en el que desarrolló su trabajo, pero también considerando su historia y su posición en la sociedad de ese momento.

Comprender al educando a quien se pretende llegar, como un espíritu inmerso en un proceso evolutivo, conociendo y reconociendo que la realidad de todos, incluida la nuestra, encierra aspectos positivos y negativos, mas aún, vivenciando estas potencialidades aparentemente contradictorias, como una parte inherente e inevitable a nuestra condición humana.

Conocer espiritismo a partir de Kardec, pero también, abrirse al conocimiento en general, porque el Espiritismo aspira a ser un conocimiento universal, no sectario, que se proyecte como un cono de luz sobre la realidad de cada momento permitiendo su análisis

Porque el Espiritismo nunca ha procurado ser el poseedor de la verdad y es perfectamente compatible por otras corrientes filosóficas, psicológicas, científicas y sociales de las cuales se puede nutrir o con las cuales se puede y se debe complementar.

Utilizando el concepto de Fromm, el educador espírita debe procurar CONOCER y no TENER CONOCIMIENTO, pues…

TENER conocimiento es tomar y conservar la posesión de la información disponible, brindándola como un paquete cerrado, sin posibilidad de cambio.

CONOCER, en cambio, es funcional y solo sirve como medio en el proceso de pensar productivamente.

CONOCER significa ver la realidad y no poseer la verdad, sino penetrar bajo la superficie y esforzarse crítica y activamente por acercarse a esa verdad.

El proceso de CONOCER es directamente proporcional a la necesidad de revisar y mudar de conceptos.

Para el que procura CONOCER el objetivo es tener la suficiente valentía para ser un librepensador.

Para el que procura CONOCER y no TENER conocimiento, la meta no es la posesión de la verdad sino el proceso de afirmar la razón humana.

Para el que procura CONOCER, la ignorancia es tan buena como el conocimiento pues ambos forman parte del proceso del saber.

Por todo esto es tan importante el proceso de actualización de conceptos, de prácticas, de vivencias, al que el espiritismo nos invita a la manera de Kardec.

Ya no es factible transferir una Doctrina cerrada, un cúmulo de ideas que otros acuñaron. Las nuevas generaciones no aceptan estructuras rígidas y nos equivocamos si pensamos que son ellos los que deben cambiar, son las Instituciones Espíritas las que deben transformarse para “abarcar”, para contener a esta manera de entender el mundo que, por imperio de la evolución, es totalmente diferente a la de nuestra generación.

El Conocimiento Espírita, de ninguna manera pude quedar como un conocimiento teórico, como una forma particular de culto, sino que adquiere validez cuando es concebido como herramienta de la vida diaria.

En este sentido, los espíritas posiblemente deberíamos instalar sinceramente en nuestros corazones el hecho de que tenemos mucho para aprender, que nuestro conocimiento tiene la posibilidad de mantenerse actualizado a partir de asumir enérgicamente el dinamismo que él mismo propone desde sus orígenes y que las circunstancias actuales invitan a adoptar con particular interés y entusiasmo.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Espiritualidade

Numa mente/coração onde habita a espiritualidade apenas existe lugar para o amor. O ódio é coisa que não encontra espaço nesse território.



Quando falo de espiritualidade, quero deixar claro que não me refiro às religiões ou o espiritismo. Espiritualidade é uma postura diante da vida, muito mais ampla e revolucionária que os itens anteriormente citados. É um humanismo universalista que, focado no espírito imortal, propugna por sua capacidade/possibilidade evolutiva nos mais diversos aspectos que a vida apresenta; e que tem na aceitação e no afeto aos semelhantes a diretriz emotiva dessa postura existencial.


São propriedades dessa postura: a ética; a capacidade de empatia (se colocar no lugar do outro, inversão de papéis); a sinceridade; o desinteresse; a prática do BEM aos semelhantes, aos animais e às plantas, compreendendo o todo harmonico existente entre essas entidades; uma materialidade harmônica e equilibrada, afinal o corpo é prazer também; e podemos agregar todas as qualidades que admiramos em diversos homens que passaram pelo nosso planeta deixando um rastro de bons exemplos.


Espiritualidade não é santificação, busca da pureza, desconexão com o mundo; muito ao contrário. É estar imerso neste mundo que nos acolhe, conhece-lo mais e mais para transformá-lo como nos aconselhava Karl Marx. Que embora fosse materialista teve uma vida, toda ela de espiritualidade.