sexta-feira, 26 de abril de 2013

20130426 Questão de fé


"Fé raciocinada só é aquela que encara a Razão em todas as épocas da humanidade."
Allan Kardec



Fé e Razão são dois elementos antagônicos. Pisou na bola.
Onde um se apresenta o outro se ausenta.

Basta que tu olhes no dicionário e te esclarecerás. Tarefa tua.


Capítulo XVII - Formação dos médiuns

O que vemos a seguir é a relativização da fé por parte de Kardec.

Seu foco é a pureza de intenção nas atividades mediúnicas. E eu vou mais além, tenho como preponderante a pureza de intenções em todas as atividades da existência humana.


Se estamos forjados no sentido do Bem, e da sinceridade, estamos na rota de Kardec, Jesus de Nazaré e de todos os filósofos marcantes da nossa história, ocidental ou oriental.


E vamos nos libertar de uma vez por todas desse negócio de "Fé".


Nada tem a ver com o espiritismo se olharmos o conjunto da obra.


Quem se prende à "letra que mata" estará sempre em erro. Será sempre incapaz de adentrar no sentido mais profundo das coisas, estará sempre na superficialidade, na periferia das questões.


Mas para sair da periferia é necessário estudar, não falar em estudar, mas meter a cara nos livros. Livros espíritas e livros não espiritas para não ficar bitoladão. Eu respeito Herculano Pires pois era culto, como poucos espíritas o são.


Mas, voltando à fé, respeito quem toma esse atalho, pois o espiritismo deve servir a todas as vertentes de sua compreensão.


Não havendo assim uns que sabem e outros que não o sabem.


Apenas se apresentam formas diferenciadas de olhar o mesmo objeto de estudo. Quero isto bem claro neste meu texto. Tenho eu uma visão, diferente da tua talvez, mas nem por isso é melhor que tua visão. Diferentes apenas são.


Veja Kardec relativizando a fé:


209. No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boavontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.


Capítulo XXV

Das evocações


12ª Serão necessárias algumas disposições especiais para as evocações?

"A mais essencial de todas as disposições é o recolhimento, quando se deseja entrar em comunicação com Espíritos sérios. Com fé e com o desejo do bem, tem-se mais força para evocar os Espíritos superiores. Elevando sua alma, por alguns instantes de recolhimento, quando da evocação, o evocador se identifica com os bons Espíritos e os dispõe a virem."


13ª Para as evocações, é preciso fé?

"A fé em Deus, sim; para o mais, a fé virá, se desejardes o bem e tiverdes o propósito de instruir-vos."


14ª Reunidos em comunhão de pensamentos e de intenções, dispõem os homens de mais poder para evocar os Espíritos?

"Quando todos estão reunidos pela caridade e para o bem, grandes coisas alcançam. Nada mais prejudicial ao resultado das evocações do que a divergência de ideias."




Para darmos passos progressistas no tocante à compreensão do espiritismo, é fundamental nos desvincularmos de todo ranço religioso de Kardec e dos espíritos que o ajudaram. No Livro dos Médiuns, minha atual leitura, essa religiosidade é terrível.

Desestimulante, mas vou em frente.


Preferência minha é o Kardec racional.

Mesmo em "O que é o espiritismo", nos diálogos com o Crítico, o Cético e o Padre, Kardec demonstra toda sua religiosidade.


Pense comigo!


Religião não tem espaço em nossos tempos. Vivemos os tempos da materialidade. Do materialismo como forma de viver. As pessoas são católicas, espíritas, protestantes, zenbudistas ou  sei lá que mais. Mas sua essência é materialista nos valores.


Competem. Buscam o sucesso sem trabalho, sem esforço. Querem tudo para si, nada ofertando ao mundo que os acolhe. São umbigocêntricas.


Esse é o mundo que te cerca. Isso não implica necessariamente sejas desse modelito por mim descrito. Esse é o modelo desprezível das pessoas, vivendo na imperante materialidade.


Isso significa que o espiritismo não presta para nosso tempo?


Nada disso. Ele é, segundo Kardec, o grande inimigo do materialismo.


Como mudar o mundo através do espiritismo? Deves estar me perguntando.


Através da tuas idéias, se elas forem coladas na verdade dos teus atos.


São nossos atos nosso mais real cartão de visita, e por espelhamento do espiritismo.


Todas as outras formas podem existir. Mas esta é a única verdadeiramente eficaz.


Paulo Cesar Fernandes

27  04  2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

20130423 Eurocentrismo é preconceito

Me aborreceu a leitura desse trecho de "O que é o espiritismo" de Allan Kardec.
Leia com senso crítico e depois conversamos:


TERCEIRO DIÁLOGO  -  O PADRE

Padre. — Concordo que, nas questões gerais, o Espiritismo é conforme às grandes verdades do Cristianismo; dar-se-á, porém, o mesmo em relação aos dogmas?

Não contradiz ele alguns princípios que a Igreja nos ensina?


A. K. — O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência, não cogita de questões dogmáticas. Esta ciência tem conseqüências morais como todas as ciências filosóficas; essas conseqüências são boas ou más?

Ele repousa, por conseguinte, em princípios independentes das questões dogmáticas. Suas conseqüências morais são todas no sentido do Cristianismo, porque de todas as doutrinas é esta a mais esclarecida e pura; razão pela qual, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos são os mais aptos para compreendê-lo em
sua verdadeira essência. (Grifo meu)
===

Quem disse pro Kardec que o Cristianismo é a forma mais esclarecida e pura de todas as doutrinas?

Apenas o seu preconceito e seu Eurocentrismo.


Ninguém nega que a Europa deu sua contribuição ao mundo. Mas achar que apenas dela sai a Civilização e o Progresso é de uma pequenez de alma só condizente com os tempos de pretenso Iluminismo em que viviam Kardec, Rousseau, Descartes, Kant, Hegel e toda a geração de espíritos construtores da obra de Kardec.


O que prova o acerto desses espíritos, quando dizem que a morte não alija o espírito de seus defeitos. Inclusive os desvios de pensamento, as visões preconceituosas de toda uma época.


Com base na ideologia da Europa como a Civilização, e as Américas como a Barbárie, os europeus dizimaram os Povos Originários do nosso continente, e saquearam sem medo todas as riquezas possíveis.


Onde estava a Barbárie?


Basta estudar o processo de dominação da Argélia pela França. A mortandade que isso representou. A dor, tanto para os árabes ali presentes, como para os próprios franceses como Jean Paul Sartre que se engajaram nas lutas de Libertação da Argélia.


Ainda hoje, a Europa e os Estados Unidos se postam no mundo como a Civilização. Iludidos, isso sim. Quem promove e patrocina guerras não pode se ter por civilizado. É primitivo e brutal.


Que eles pensem o que pensem não nos importa.


Mas é imperioso que não venhamos nós a pensar pela cabeça deles. Se fazer Colonia. Se subjugar intelectualmente.


Muito menos nós, espiritas minimamente cultos, capazes de compreender o valor de cada cultura no progresso geral das civilizações.


Para ter uma idéia, as civilizações situadas no atual México e América Central, eram milenarmente mais antigas, e muito mais avançadas que o existente na Europa na época dos "descobrimentos", me pauto nos informes do Prof. Dr. Enrique Dussel da UNAM (Universidade Nacional Autonoma do México).


Espíritas. Precisamos nos livrar da letra que mata, e nos abrir a esse florescente mundo onde outras correlações de forças se iniciam.


Não precisamos carregar bandeiras, bem como não devemos nos ater às portas (e mentes) fechadas das atividades das instituições.


O movimento espírita sempre foi politicamente reacionário. Vivi isto na pele dentro do Centro Espirita Allan Kardec quando me filiei ao Partido dos Trabalhadores. Vários companheiros que eu respeitava, cujos nomes não cabem neste momento, me cobraram a decisão. Eu apenas sorria, tinha certeza do Socialismo que o PT e
eu defendiamos. Mal sabia eu que o PT se tornaria esse nada ideológico. Esse antro de oportunistas e desonestos. Sei o que falo pois vi e vivi a mudança ocorrida entre 1981 (ano em que entrei) e 1991 (ano em que saí). E muito mais eu vi, como funcionário da Prefeitura de Santo André.


Voltando a Kardec, que esse sempre foi digno.


Devemos fazer sua leitura dentro de uma perspectiva atual. Culturalmente renovada pelas contribuições vindas dos mais distintos recantos do nosso planeta. A literatura africana, a centroamericana, a renovada música dos nossos povos originários, etc.


Fazer o contraponto do essencial em Kardec com as contribuições das civilizações milenares restantes nos Andes, e em diversos pontos de Nossa América Espanhola.


Sem esse encontro de culturas, o espiritismo será apenas uma forma de pensar pregada num tempo (o tempo de Kardec), incapaz de renovar-se através de uma mirada histórica mais ampla, perdendo a possibilidade de tornar-se alternativa libertadora das mentalidades.


A essência do espiritismo é libertadora, mas apenas para seus estudantes habituais, estudantes com a mente aberta ao mundo que os cerca.


O medo de inserção social, fará do espiritismo uma espécie de seita, com ramificações mundiais, mas uma seita como tantas outras que por aí andam. Terá belos congressos mundiais, cheios de afetividade. O que é ótimo. Mas nunca terá o respeito social sonhado por Allan Kardec ao escrever as suas obras.


Pensemos nisso!



Paulo Cesar Fernandes

23  04  2013


Nota: Temos aqui apenas uma opinião. Não a tomem por verdade. Apenas um mote de discussão. Um elemento, uma contribuição de alguém que olha de fora. Um não afetivamente ligado ao movimento espirita de qualquer coloração. Um pensador livre de tudo e de todos. Mas visando sempre contribuir positivamente para o fortalecimento de uma ideia que compartilho.

20130423 Ser simples


"Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes”."
Paulo. (1 TIMOTEO, 6:8.)



O que significa isso?

Que devamos nos despojar de tudo e ter nada, ou quase nada de posses?


Nada disso. Apenas que regulemos nossas necessidades para não nos fazermos escravos das coisas. Disto uma questão de grande essência se nos impoe à reflexão:


_ Eu sou o possuidor das coisas, ou as coisas é que me possuem?
Isso significa, as coisas possuem a minha alma.


O que me importa? Acumular tesouros materiais, ou investir em minha liberdade espiritual?


Ser escravo dos Entes, ou faze-los escravos a meu serviço?


Uma vida franciscana não nos exige andar em andrajos. Mas entre um extremo e outro temos o meio, o equilíbrio.


Entre os farrapos e a pompa temos uma imensidão de possibilidades.


A simplicidade de cada um de nós nascerá do império de nossas necessidades. Quem necessitar de mais, o busque em ampla liberdade. Os capazes de viver com menos da mesma forma.


Importa a presença da alegria, do contentamento na existência de cada um de nós.


Não! Não tem essa de juiz, nem encarnado, nem desencarnado.


Somos Livres! Profundamente Livres!


E só por portar essa Liberdade somos felizes, e vivemos em contentamento, tal qual propoe o Apóstolo Paulo.


É isso por hoje! Paz em teu coração!


Paulo Cesar Fernandes

23  04  2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

20130422 Se não tiver amor

“"Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, esse tal será bem-aventurado em seus feitos."
TIAGO, 1:25.





Todos nós somos obreiros, operários. Mas trabalhadores do Bem Maior. O Bem de todos, de toda a coletividade.

Se a Terra ainda é um ambiente, em que a injustiça e os equívocos de ação dos homens imperam, e nos dão a impressão de estar tudo perdido, de que nada mais vale a pena.


Apelo eu à tua Razão no sentido contrário. Somos todos pequenas aves, a carregar água no bico, para apagar o grande incêndio da floresta.


Que disse a ave?

_ Eu faço a minha parte.


E nós, nos limites das nossas possibilidades, vamos fazer nossa parte na grande sinfonia da Vida Maior. Como fazem os Médicos sem Fronteiras por exemplo.


Estes, nada perguntam ao semelhante, quando lhes chega aos préstimos: servem com dedicação e carinho. E passam.


_ Mas eu não sou médico! afirmará alguém para que o "incluíssemos fora" desse grupo. O grupo dos servidores gerais.


Mas todos temos habilidades, todos somos capazes de ser úteis na Sinfonia da vida. Um coração sincero, capaz de um sorriso cativante. Uma palavra fácil, tão importante nos momentos em que a dor embaça os olhos de nosso semelhante. Um aporte energético, capaz de, num abraço, recompor as energias combalidas de alguém.


Basta olhar para si sabendo-se Forte e Livre. Livre para usar os talentos recebidos da vida, ou Livre para desperdiçá-los no transcurso das horas.


Talentos todos temos. Facilidade para desenhar ou pintar. Uma voz capaz de alegrar os corações reordenando emoções.


Basta olhar para seu interior, e dele tirar uma pitada de amor ao semelhante. Essa busca do Bem residente em nós, com a mirada no semelhante, é o primeiro passo para quem quer, com sinceridade, se colocar a Serviço da Vida.


A Morte já tem servidores demais, nas fábricas de armas e de guerras, colocadas estas de pé, pela irresponsabilidade e beligerância de almas ainda nos processos primitivos da brutalidade.


Eles também serão arrastados pelo Carro da História.


Lampejos da Era de Justiça já são vistos nos céus da Terra.


Ouviremos ranger de dentes e contrariedades, de todos os beneficiários das guerras e da desumanidade. Mas o Humanismo nascente terá força. Qual um tsunami varrerá da face da Terra esse tipo de mentalidade, essa gente toda.


Novas gerações já são forjadas tendo a pauta de outros princípios norteadores.


Nós, que lutamos por um mundo de Justiça, seremos os primeiros a abrir mãos de nossos eventuais privilégios, em favor da grande massa dos deserdados do mundo. Essa gota de água guardada em nosso bico fará a diferença.


Trará o mundo solidário e livre, para todos os povos, de todos os quadrantes desta nossa Terra, bela nave a se deslocar por esse espaço sem fim; dando a cada um de nós a oportunidade de servi-la e amá-la.


Amar servindo, e servir amando mais e mais nossos semelhantes. Lembrando:

"Poderei falar a linguagem dos homens e dos anjos, se não tiver amor, nada sou."
Paulo de Tarso
(ou São Paulo como querem alguns)


Paulo Cesar Fernandes

22  04  2013

domingo, 21 de abril de 2013

20130421 Façam suas apostas!

“Por seus frutos os conhecereis”. - Jesus. MATEUS, 7:16

Tenho outra expressão como o mesmo sentido. "Conhecemos o homem por seus atos."


Sim. Pois muitos homens podemos ser grandes oradores, juristas cuja retórica é inatacável, lógica brilhante.

Mas, ao penetrar a intimidade de nossos corações, nos embates da vida de relação, muitos perdemos o pé, e agimos como nenhum conhecimento superior nos tivesse sido ofertado pela Vida.


Nada de Filosofia, a escola da alma.

Nada de Ética ou de senso de Justiça.


Nossos atos, estão no mesmo lodaçal de todos aqueles aos quais 
por anos combatemos.


Vivemos um teatro; não do teatro, veja bem; mas somos farsantes. Atuamos em farsas diárias, muitas vezes protagonizando tragédias.


Doutras tantas uma comédia onde somos os bufões.


Muito embora não nos faltem referenciais, desde a mais remota antiguidade, e ainda tropeçamos eventualmente.


Mas a Vida, generosa tal qual é, não nos requisita nada, não nos apressa, aguarda sensivelmente o nosso tempo.


"Todo mundo tem a sua hora e a sua vez." diz Augusto Matraga personagem do belo conto de João Guimarães Rosa.


Matraga, de vida desregrada, viril e violenta, pelas pancadas recebidas se recolhe e busca viver como Joãozinho Bem-
Bem. Sob o amparo e carinho de um bom casal de amigos, vinha se recuperando. Mas a chegada de um bando de cangaceiros reacende o fogo aperentemente morto. E acaba tendo sua hora e sua vez.


Se a hora e vez de Augusto Matraga se referia ao momento da morte, podemos pensar em nossa hora e nossa vez exatamente no sentido inverso.


Não apenas da vida, mas do tipo de vida, da destinação de nossa existência no sentido mais ampliado sejamos capazes de imaginar.


Nossa destinação. Nosso projeto.


Ciscar na materialidade ou alçar voo como Fernão Capelo Gaivota?


Tá tudo aí. As cartas estão na mesa. E o jogo é todo nosso.


No cassino de nossa vida as cartas não são marcadas por
ninguém, não existem roletas viciadas ou preparadas. É um amplo espaço onde só estamos nós para decidir como jogaremos.


A Vida joga sempre limpo com a gente. E dela receberemos sempre o retorno do jogo feito com ela.


Um cassino sem dono, sem crupier, sem nada.


E não duelamos com a vida, jogamos com ela segundo nosso mais sincero projeto: nos projetamos na materialidade dada em nossa sociedade, e somos um na massa; ou alçamos voo, numa perspectiva atemporal de espiritualidade.


Nosso destino é projeto nosso, tão somente nosso. Dessa forma.


Façam suas apostas, senhoras e senhores!


Paulo Cesar Fernandes

21  04  2013