Que gênio qual nada: trabalho
Fredrich W. H. Myers
A Personalidade Humana : Sobrevivência e manifestações paranormais
Título do original em inglês: Fredrich W. H. Myers - Human Personality and Its Survival of Bodily Death (1903
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A inspiração genial e o pensamento lógico-consciente formam duas quantidades talvez incomensuráveis. Da mesma forma que o
jovem calculador resolve problemas com o auxílio de métodos que diferem dos usados pelos matemáticos, nas produções artísticas
esse algo estranho, que comporta “toda a beleza deslumbrante”, pode ser a expressão de uma diferença real entre o mundo da
percepção subliminar e o da atividade supraliminar. Parece-me que esta diferença é particularmente sensível no que diz respeito às relações do eu subliminar com a função da linguagem. Ao tratar a linguagem como um ramo da arte ou da poesia, o eu subliminar ultrapassa com freqüência o esforço consciente, e algumas vezes permanece nesse esforço, quando se vê obrigado a usar as palavras como uma forma necessária para exprimir idéias para as quais a linguagem comum não foi criada.
Desse modo, na presença de uma das obras-primas verbais da Humanidade, o Agamenon de Ésquilo, por exemplo, temos a vaga
impressão de que uma inteligência diversa da razão supraliminar ou da seleção consciente contribuiu para a elaboração desta
tragédia. O resultado, mais do que a perfeição de uma escolha racional entre dados conhecidos, assemelha-se a uma apresentação imperfeita de algum esquema baseado em percepções por nós desconhecidas.
Mas, por outro lado, ainda que o gênio possa servir-se das palavras de uma forma que lembre um pouco a nostalgia misteriosa da música, parece-me que a nossa educação subliminar está menos ligada à faculdade da linguagem do que a supraliminar. Existe na linguagem corrente uma frase cujo alcance psicológico é maior do que se pensa. Daquilo que chamamos gênio e de tudo que com o gênio relacionamos, arte, amor, emoção religiosa, dizemos que vai além do alcance da linguagem.
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A cada tarde vou lendo um pouco desta obra. Nem sempre de fácil compreensão para mim uma vez que não sou da área de
psiquiatria. De pouco em pouco vou caminhando e avançando através dessa floresta encantada de alguma forma.
Afinal é ela a floresta de nossa própria personalidade, daí o seu encantamento.
Me intriga o trecho a seguir:
"Ao tratar a linguagem como um ramo da arte ou da poesia, o eu subliminar ultrapassa com freqüência o esforço consciente, e
algumas vezes permanece nesse esforço, quando se vê obrigado a usar as palavras como uma forma necessária para exprimir idéias
para as quais a linguagem comum não foi criada."
Segundo entendi, para o autor, todo texto melhor elaborado viria do inconsciente de alguém possuido de genialidade.
Enquanto escritor eu me rebelo completamente com essa assertiva.
Onde fica todo meu esforço na leitura de diversas obras para melhor escrever?
Por que me esforço na busca do conhecimento de outros idiomas e outras culturas?
Nada de inconsciente ou genialidade. Escrevemos textos, alguns medíocres mesmo, outros de maior felicidade na elaboração. Mas
todos, absolutamente todos, são frutos de esforço e trabalho.
"1% de inspiração e 99% de transpiração." dizem alguns escritores e músicos de qualidade superior.
A propositura de Myers desqualifica o esforço do músico ou do escritor no aprimoramento de sua cultura, para que tal
aprimoramento venha melhor qualificar o seu trabalho.
Afinal somos todos frutos de nós mesmos, de nossa energia e nosso empenho nas coisas de nosso interesse.
Investir tempo em nosso aprimoramento é a chave de um bom texto, ou de uma bela canção.
O inconsciente e a genialidade ficam bem distantes da curva da normalidade na qual todos nos encontramos.
Paulo Cesar Fernandes
24 01 2014