terça-feira, 24 de julho de 2012

Incluir socialmente X pactuar com a morte

De que é feita essa vida que tens na mão?
Te provoco sim. Por ousadia?


Não. Puro companheirismo. Sincero como o “não” de uma criança.


Vivemos a vida sem pensar, sem construir dela um conceito; sequer um pequeno “plano de vôo”. Planamos acima da vida e dos viventes com a mais perfeita serenidade.


Fora da nossa vida existem milhares de outras vidas. Zygmunt Bauman estabelece uma classificação/distinção entre essas vidas todas, inclusive a que vivemos.


De um lado estão os “de dentro”, cujo acesso aos bens da cultura e do consumo lhes é natural desde o nascimento, jamais chegando a pensar na possibilidade da existência de outras formas de viver. Temem o assalto; o seqüestro; essas coisas que rondam nosso ir e vir através das cidades de nosso mundo globalizado.


Do outro lado encontramos os “de fora”. A contraposição/oposição total do padrão de vida dos “de dentro”. Nada de cultura. Nada de consumo. Nada de aconchego de um lar. Apenas a frieza do mundo lhes doendo na alma sensível muitas vezes.


Esse contingente de vidas dos que estão do lado “de fora” é o consumidor das armas ilegais que transitam nos “não lugares” da nossa sociedade. “Não lugares” que são seu território, a polícia não se atreve.


Esse mesmo contingente de criaturas, seres humanos, espíritos ocupando um corpo, tal qual você e eu; são esses mesmos que apavoram nossas vidas. Colocando o medo como nosso maior acompanhante de todas as horas.


Os “de dentro” consomem mais e mais equipamentos de segurança; carros blindados; empresas de segurança cujos homens ou cães funcionam 24 horas no resguardo patrimonial. Mais das vezes sem sucesso.


É um problema similar em todo o mundo. Aqui ou acolá mudam os equipamentos, as formas, mas a insegurança se faz presente também de forma globalizada, da mesma forma que a avalanche do consumo.


Nas esferas de poder não há vontade política e nem competência em tornar o mundo mais seguro, isto porque o medo geral é o novo grande aliado do mercado global de consumo. Sendo as empresas de equipamentos de segurança um dos segmentos de mercado de crescentes e consolidados lucros.


Nesse conjunto todo, os Meios de Comunicação de Massa (MCM) sãs um fator importante na manutenção desse clima de insegurança, noticiando cada vez mais grotescamente os fatos criminosos que ocorrem. São fatos na verdade, mas recebem todo um tratamento, todo um clima é formado para não permitir, principalmente aos telespectadores a possibilidade de raciocinar. Acabam se tornando presas fáceis do terror urbano.


Na Zona Sul de São Paulo, mais exatamente na Chácara Santo Antonio, num retorno do horário de almoço, uma rua chamou minha atenção, bem como de minha companheira de trabalho. Uma quadra inteira era feita de casas fortemente gradeadas. Isto suscitou uma pergunta:


_ Quem são os verdadeiros presidiários? Nós em nossas casas ou os que nos assaltam?


Os MCM noticiam. As empresas que vendem seguranças enriquecem. Aumentam patrimônio; ampliam carteira de clientes; se consolidam no mercado.


E nós diante disso?


Deixar de viver está fora dos planos.


Seguir fazendo nossa parte com ética e integridade. Educar os nossos filhos e sobrinhos alertando das armadilhas do mundo e da vida atual.


Mas deixar que vivam livremente o seu momento. Vivam alegremente sua juventude, fazendo bom uso de suas energias. O tempo é muito fugaz e se esvai de forma instantânea.


E mais que tudo não temos crenças. Temos certezas como a imortalidade do espírito; do inevitável processo de evolução desse mesmo espírito. Uma evolução que abarcará inevitavelmente os “de dentro” e os “de fora”; aqueles que planam sobre a vida aos quais me referi anteriormente, e aqueles outros capazes de refletir seriamente a cada etapa da sua jornada existencial.


Estamos num mundo conturbado e imenso.


Não dá para fugir dessa realidade. A nossa existência e nossa ação é aqui e agora, cabendo a nós, a cada um de nós, fazer vingar os valores perenes, dentre os quais destaco a Esperança em primeiro lugar; e, não menos importante a Solidariedade Humana.


Pelo amor e pela vida!


Paulo Cesar Fernandes


24/07/2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Corporeidade e Vida

Como pode caber o Bem, onde habitam soberanos: o orgulho e a vaidade?

Como pode o altruismo ter espaço numa sociedade que tem no egoismo, na soberania do individualismo seu ponto basilar?
Como pode florescer a Espiritualidade numa mente totalmente voltada para a corporeidade?
Como pode por os pés no chão um ser humano capaz de buscar os valores do espirito, a ponto de esquecer de bem cuidar do corpo que o acolhe, permitindo sua práxis neste mundo?

Em tudo o equilibrio é necessário.
As mais belas edificações não o seriam se o arquiteto não tivesse em si a preocupação do equilíbrio estético.
Estamos todos vivendo num mundo multifacetado, onde os conflitos de toda espécie são tidos como naturais na existência das pessoas e das nações. Onde a felicidade é objeto de desejo de todas as pessoas, mas essa felicidade sempre é vista pelas pessoas como algo fora de si mesmo, e nunca como um elemento a ser conquistado partindo de valores internos, a serem calmamente cultivados como a temporança, a simplicidade, o altruismo e tantos outros capazes de, se unidos, construir a paz interior, necessária à Felicidade, bem como a Liberdade, condição inicial de tudo.


Viver é muito mais que sobreviver!
Poucos vivem!
Poucos colocam seu coração a cada pequeno ato seu. Ao conversar com alguém, ao lidar com os animais e com as plantas; na hora do banho, o prestar atenção ao próprio corpo.
Poucos desejam "Bom dia" na profundidade de seus coração.
Impera o reino das aparências!
Não é de estranhar que impere a dor, filha dileta da falsidade! Da incompreensão.
Tudo que é verdadeiro e sincero nos eleva e nos alivia. Não agrega peso a nossa existência; sendo ao contrário é situação de tormenta certeira.
Que nosso corpo e nosso tempo nos sirvam de valiosos instrumentos.


E nossos pensamentos estejam impregnados dos valores imorredouros do coração.
Se um outro mundo é possível na Terra. E é sem duvidas!
Uma outra forma de conduzir nossa existência também o é.
Valores reais são os perenes no tempo: amor; sinceridade; fidelidade; racionalidade, e tantos outros que nos garantem o sono mais sereno e restaurador.

Assim teremos vida, e vida em abundância.

Paulo Cesar Fernandes
23/07/2012

domingo, 22 de julho de 2012

Voar (Crônicas dos tempos do Quanta

Crônicas dos tempos do Quanta


Voar *

Quando um homem comum morre, perde a família consangüínea.
Ao morrer um idealista, ou seu ideal; perde muito de força o crescimento da família humana.
O ideal é o lubrificante que viabiliza a engrenagem do novo, do criativo, da verdadeira máquina de progresso que impulsiona a humanidade.
Olhemos fundo no passado da humanidade. Nomes não faltarão nas mais diversas áreas.
Nesses nomes se basearam os saltos qualitativos na caminhada do conhecimento.
O saber acadêmico é estático.
O do idealista é dinâmico; segue a própria dinâmica do inconformismo com o velho, com a mesmice, com a falta de visão histórica espraiada na sociedade de todos os tempos.
Só ele, só o idealista sai do quotidiano perscrutando a vida, com seu binóculo de ver o futuro. Como a gaivota de Richard Bach, deixa os outros e segue solitário seu rumo.
Incompreendido, criticado, isolado até por seus pares, tem na luz do seu norte a segurança da jornada.


Caminha.
Empreende.
Realiza.


Do centro de sua solidão; pouco a pouco compreende seus pares, vê seus pés, atados ao chão do imediatismo, sem poder ajudá-los a voar.
Pássaro nenhum voou sem tentar; partindo sempre de uma própria dinâmica interior.
Tal qual a ave mãe, se alegra o coração do idealista. Pois sabe, de experiência própria: uma vez alçados grandes vôos; pouca chance terá o aprendiz, de desprezar o prazer de ver o mundo, sempre a partir de perspectivas mais altas.



Paulo Cesar Fernandes.

14/06/98



* Texto dedicado a Jací Régis.