quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

20150107 Energia de diversos povos segundo Jung




Qualquer semelhança com algum conceito que porventura trabalhemos nas casas espíritas não é mera coincidência.


Os fatos espíritas são da mais remota antiguidade. Em todas as épocas se deram. Ocorre que, como hoje, em todas as épocas o
materialismo busca se impor, visando ofuscar toda e qualquer metafísica.


Lembrar apenas que para Jung a palavra libido não tem a mesma carga sexual que para Freud. A Libido junguiana tem mais a ver
com energia, força, poder, capacidade de superação, essas coisas intensas da psique.


Ao texto:

Carl Gustav Jung
A energia psíquica
 
O CONCEITO PRIMITIVO DE LIBIDO

[114] As idéias mais primitivas referentes a uma potência mágica que pode ser considerada ao mesmo tempo como força objetiva
e estado subjetivo de intensidade mostram-nos como os inícios de formação dos símbolos se acham intimamente ligados a um
conceito de energia.

[115] Darei alguns exemplos, a título de ilustração. De acordo com McGEE, os índios Dacotas têm a seguinte concepção do que
seja esta "força: o sol é wakanda, não o wakanda nem um wakanda, mas simplesmente wakanda. A lua é wakanda, e assim também o
trovão, o raio, as estrelas, o vento, etc. Os homens também, especialmente os Xamãs, são wakanda. Assim como os demônios dos elementos, os fetiches e outros objetos rituais, além de numerosos animais e localidades de natureza particularmente
estranha. MCGEE afirma: “A expressão (wakanda) pode ser traduzida talvez antes pela palavra 'mistério' do que por outra
qualquer, mas mesmo este conceito é por demais estreito, porque wakanda pode significar igualmente força, santo, velho, grandeza, vivo, imortal”.


[116] Semelhante ao uso de wakanda pelos Dacotas é o de oki pelos Iroqueses e manitu pelos Algonquins, com o significado
abstrato de "força" ou "energia produtiva". Wakanda é a concepção de uma "energia vital ou força universal, difundida por toda parte, invisível, mas manipulável e transferível". Por isso a vida do primitivo gira, por assim dizer, em torno da preocupação de possuir esta força em quantidade suficiente.


[117] Especialmente valiosa é a observação de que um conceito como manitu ocorre também como exclamação, quando se percebe
alguma coisa espantosa.

HETHERWICK relata a mesma coisa a respeito do Yaos da África que gritam mulungu, quando vêem alguma coisa espantosa ou
incompreensível. Mulungu pode significar então:


1. a alma de uma pessoa que em vida se chama lisoka e quando morre se torna mulungu;
2. o mundo inteiro dos espíritos;
3. a qualidade ou força magicamente ativa inerente a um objeto de qualquer espécie, como, por ex., a vida e a saúde do corpo;
4. o princípio ativo em qualquer coisa mágica, misteriosa, incompreensível e inesperada;
5. a grande força espiritual que cria o mundo e toda vida nele presente.



[118] Semelhante a este é o conceito de wong da Costa do Ouro. Wong pode ser um rio, uma árvore, uma amuleto, ou um lago, uma
fonte, uma área de terra, um cupinzeiro, árvores, crocodilos, macacos, serpentes, pássaros, etc. TYLOR erroneamente
interpreta a força wong animisti-camente no sentido de "espírito" ou "alma". Mas, como nos mostra o uso da palavra wong, há
uma relação dinâmica entre o homem e seus objetos.


[119] O conceito de churinga dos australianos tem também um sentido energético.

Ele significa:

1. o objeto ritual;

2. o corpo de um antepassado individual (do qual provém a força vital);

3. a propriedade mística de qualquer objeto.



[120] Muito semelhante é o conceito de zogo dos habitantes de Estrada Torres, usado tanto como substantivo ou como adjetivo.
O australiano arunquiltha é um conceito paralelo de significado semelhante; só que é a palavra usada para designar uma
atividade mágica de natureza má e o espírito mau que gosta de devorar o sol durante um eclipse. Da mesma espécie é o conceito
malaio de badi, que inclui também as relações mágicas más.


[121] As pesquisas de Lumholtz mostraram que os Huichols mexicanos possuem também uma concepção fundamental de uma força que circula através dos homens, dos animais rituais e das plantas (veados, hikuli, trigo, penas, etc.).


[122] Das pesquisas de ALICE FLETCHER entre os índios da América do Norte se deduz que o conceito de wakan é também o de
relação energética, semelhante aos que acabamos de discutir. Uma pessoa pode tornar-se wakan pelo jejum, pela oração e por
visões. As armas de um jovem são wakan; não podem ser tocadas por uma mulher (do contrário, a libido regrediria). Por esta
razão reza-se às armas antes da batalha (para torná-las fortes, carregando-as com libido). Wakan estabelece a conexão entre o
visível e o invisível, entre os viventes e os mortos, entre a parte e o todo de um objeto.


[123] CODRINGTON diz a respeito do conceito melanésio de mana: "A mente melanésia é totalmente possuída pela crença em uma força ou influência sobrenatural, quase universalmente chamada mana. E esta força que produz tudo o que supera as forças
comuns do homem, tudo o que não entra nos processos comuns da natureza; liga-se às pessoas e coisas, e se manifesta através
de efeitos que só podem ser atribuídos à sua ação. É uma força ou uma influência não física, por assim dizer sobrenatural, mas se revela na força física em algum poder ou qualidade qualquer que uma pessoa possui. O mana não se acha fixado em lugar algum, e pode ser conduzido para qualquer parte. Só os espíritos, sejam almas desencarnadas ou seres sobrenaturais, é que o possuem e podem comunicá-los. É propriamente produzido por seres pessoais, embora possa agir por meio da água ou de uma pedra ou de um osso".



[124] Esta descrição nos mostra claramente que no caso do mana, assim como nos dos outros conceitos, trata-se de uma noção de
energia que é o único que nos permite explicar o fato estranho destas concepções primitivas. Evidentemente não queremos
dizer, com isto, que o primitivo tenha uma idéia abstrata de energia, mas não há dúvida de que sua concepção é o estágio concretista preliminar da idéia abstrata.



[125] Encontramos idéias parecidas no conceito de tondi dos Bataques, no atua dos Maoris, no ani ou han de Ponape, no kasinge
ou kalit de Pelew, no anut de Kusaie, no yaris de Tóbi, no ngai dos Masais, no andriamanitra dos Malgaxes, no njomm dos Ekois, etc. Uma visão de conjunto quase completa nos é oferecida por SÒDERBLOM, em seu livro Das Werden des Gottesglauben [A
Gênese da Crença em Deus].



[126] LOVEJOY é da opinião - com a qual estou plenamente de acordo -de que estes conceitos "não são nomes usados para
designar o supranormal ou o espantoso - e certamente não o que provoca medo, respeito ou amor - mas para designar o eficaz, o
poderoso e o criativo". O conceito em questão se refere propriamente à idéia de "uma substância ou energia difusa, de cuja

aquisição dependem toda a força ou habilidade ou fecundidade excepcionais. A energia seguramente é fecunda (sob certas
condições) e é misteriosa e incompreensível, mas o é, pelo fato de ser extremamente poderosa, e não porque as coisas que a
manifestam sejam incomuns, sobrenaturais ou de tal natureza a superar qualquer expectativa racional". O princípio pre animista é a "crença em uma força que é concebida como agindo de acordo com determinadas normas e leis inteiramente compreensíveis, uma força que pode ser estudada e controlada". Para estes conceitos LOVEJOY propõe a expressão primitive energeties [energia primitiva].



[127] Muito do que é tomado animisticamente pelos pesquisadores como espírito, demônio ou númen, pertence ao conceito primitivo de energia. Como já observamos, é incorreto, no sentido estrito do termo, falar de um "conceito". A concept of primitive philosophy [um conceito de filosofia primitiva], segundo a expressão de LOVEJOY, é uma idéia nascida naturalmente de nossa própria mentalidade. Isto é, para nós tratrar-se-ia de um conceito psicológico de energia, ao passo que para o primitivo é ura fenômeno psíquico, que é percebido em íntima ligação com o objeto. Não há uma idéia abstrata entre os primitivos, nem mesmo conceitos concretos simples, mas tão-somente representações.

Todas as línguas primitivas nos oferecem abundantes provas disto. Assim, mana não é um conceito, mas uma representação baseada na percepção da relação dos fenômenos.

É a essência da participation mystique, descrita por Lévy-Bruhl. Na linguagem primitiva só se indica o fato da relação e da
experiência que ela provoca, como o mostram claramente alguns dos exemplos dados acima, mas não a natureza ou a essência
desta relação ou do princípio que a determina. A descoberta de uma designação adequada para a natureza e a essência da força
unificadora estava reservada para um nível de cultura ulterior que substitui as denominações simbólicas.


[128] Em seu estudo clássico sobre o mana, LEHMANN define-o como o "extraordinariamente eficaz". A natureza psíquica do mana
é enfatizada de maneira particular por PREUSS e RÕHR. Realmente, é impossível escapar à impressão de que a idéia primitiva de mana é precursora do nosso conceito de energia psíquica e muito provavelmente também do conceito de energia em geral.


[129] A concepção fundamental do mana volta a aparecer no estágio animista, sob forma personificada. Aqui são almas,
espíritos, demônios, deuses que produzem os efeitos extraordinários. Como muito bem acentuou LEHMANN, nada de "divino" está ligado ao conceito de mana, de modo que não se pode ver no mana a forma original de uma idéia de Deus. Apesar disto,
dificilmente se pode negar que o mana é uma condição preliminar necessária ou pelo menos muito importante para o desenvolvimento da idéia de Deus, embora talvez não seja a mais primitiva de todas as condições preliminares. Uma outra condição preliminar essencial é a personificação, para cuja explicação seria preciso aduzir ainda outros fatores psicológicos.



[130] A difusão quase universal da idéia de energia é uma expressão clara do fato de que, mesmo ainda num estágio primitivo, a consciência sentia a necessidade de representar concretamente o dinamismo percebido dos acontecimentos psíquicos. Por isso, se em nossa psicologia colocamos ênfase no ponto de vista energético, fazemo-lo de acordo com os fatos psíquicos que se acham gravados no espírito humano desde épocas primordiais.



Fonte:
http://groups.google.com/group/Viciados_em_Livros, será um prazer recebê-lo

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Acho muito importante contrapor visões antropológicas dos temas naturalmente tratados nos meios espíritas.

Como vemos acima os diversos povos tratam com profunda naturalidade os fatos espíritas. denominando-os de formas diversas, mas mantendo o conceito em diversos desses povos.

Queiramos ou não, as Leis Naturais são um patrimônio do Humano. E assim sendo a intercomunicação entre os universos corpóreo e incorpóreo é sempre presente.

O tempo nos fará ver o quanto de valor têm os Povos Originários das diversas localidades do planeta.

Quando os chamamos de primitivos erramos feio. A América Espanhola perdeu 56 milhões de criaturas assassinadas nas invasões colonialistas.

Quem são os primitivos afinal?

Nossa civilização vive em guerras e invade os espaços desses povos cuja vida pacífica é, em geral, uma realidade.

Aposto muito na mudança de mirada quanto aos Povos Originários. Basta olhar o exemplo de alguns vizinhos de nossa América
Latina.

O próprio eixo cultural do mundo se desloca e foca nosso continente. O Eurocentrismo dá lugar ao SulCentrismo.


México, Chile, Argentina, Uruguay, Equador, Bolívia e Brasil formam um novo caldo de cultura. Na elaboração intelectual e nas
novas propostas estéticas para a música e diversas outras expressões artísticas.


Basta ter olhos de ver.



Paulo Cesar Fernandes

07/01/2015