“Quem le, atenda.”
Jesus (Mateus,
24:15
Ler é um prazer.
O tempo se esvai como fumaça. O relógio dispara em paralelo ao texto. Nos
vemos comprometidos com os personagens, a tal ponto que estes são parte de
nossas vidas. Vivem ao nosso redor, nos influenciam; a muitas pessoas,
determinam suas atitudes, seus hábitos e seus costumes.
As novelas da TV fazem exatamente isso. Mandam. Influem.. Definem habitos de consumo e de costumes.
Mas o livro é diferente.
Tem uma mítica, um cheiro. É sensível ao tato, ao olfato, à visão. Eu diria
mais, diria que existem livros palatáveis; livros elevados e livros
insuportáveis, pois deletérios ao leitor. Elaboram conceitos negativos e de
negatividade, capazes muitas vezes de trazer a infelicidade ao leitor.
Quando eu participava nas reuniões de terça-feira no Centro Espírita Allan
Kardec, com a Myriam e o José Rodrigues, mais de uma vez narrei o fato ocorrido
comigo num ônibus de São Paulo.
Condução apinhada de gente. Mala na mão, o cuidado a cada freada do coletivo para não cair, nem machucar ninguém. Nos 40 minutos de percurso, nossa atenção se desloca por todas as partes. E bem abaixo de mim, uma moça lia uma revista. Quando me detive na observação da revista eram crimes, com fotos das mais horríveis. Desviei o olhar no ato, era muito baixo astral.
E uma questão se instalou em mim:
_ Com que energias esta mulher chega em casa para elaborar o jantar? E
conversar com os filhos e o marido? Que assuntos?
_ Como será o clima da casa dessa mulher? - Já pondo em dúvida se seria um Lar. Que
escolha mais infeliz tal revista!
Mas a vida é exatamente isso: uma somatória de escolhas. Um labirinto de
portas como diz a música Sitting de Cat Stevens. E são as nossas escolhas que
nos abrirão ou não as portas. Nos darão passagem para um momento de maior
completude e felicidade; ou nos fecharão num emaranhado de pensamentos e
sentimentos desordenados e fora do eixo.
Quem le, atenda. Disse Jesus.
Significando a escolha de uma leitura algo muito além dum simples livro,
escolhemos companhias. Os personagens são companhias. Os pensamentos e idéias
trazidas pela leitura, formarão um todo mental capaz de nos ampliar horizontes.
Norteando nosso destino.
Evidente me refiro a um bom livro. E bom livro é todo aquele capaz de nos retirar a mente dos aspectos materiais da existência, focando-os em elementos abstratos, focando na espiritualidade (que nada tem a ver com religiões ou correntes espiritualistas).
Em espiritualidade eu coloco todos os valores imateriais de nossa
existência: arte; filosofia; busca
epistemológica (conhecimento); religiosidade; música; etc.
Tendendo ao infinito as áreas do conhecimento, tende por sua vez ao
infinito a gama de possibilidades de nossa espiritualidade.
Aprender a desenhar se enquadra? Sim, claro. Desenvolve um potencial no
espirito que a este mister se dedica.
E Astronomia? Sim. E Geologia? Sim. E Semiótica? Sim.
Pode abrir todo o leque de possibilidades das áreas de conhecimento conhecidas pelo homem; e ainda, imaginar as áreas a serem definidas no futuro. Novas áreas nascem a cada período. Todas comporão o que chamo de espiritualidade.
Espiritualidade. Liberdade. Criatividade. São eixos equilibrantes do
espirito.
Elementos que o fazem se sentir mais inteiro, mais completo porque mais
produtivo.
Essa é a produtividade precionizada por Erich Fromm. Completamente diferente da produtividade propalada pelos consultores de empresas, cujo único objetivo é acirrar nas pessoas o aspecto da competição, tornando-as menos pessoas e mais máquinas. Mais das vezes menos éticas.
O que Fromm preconiza nasce de espiritos em equilíbrio. Em harmonia consigo
mesmo, e com o mundo ao seu redor. E somos todos capazes de atender a esse
chamado. Pela leitura, ou por outra atividade nobre ocupando nosso tempo.
Paulo Cesar Fernandes
05/09/2012