segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

20131209 Filosofia, precursora do espiritismo

Filosofia, precursora do espiritismo
 
 
Evidentemente trago aqui o pensamento de alguém muito mais conhecedor e estudioso da matéria que eu: o Professor José
Herculano Pires.


Em seu livro "O espírito e o tempo", capítulo IV "Antecipações doutrinárias" o quarto item diz o seguinte:


Foto presente em PENSE - Pensamento Social Espírita


4 - Das Antecipações às Correlações


A revelação do mundo espiritual, em seu verdadeiro sentido, ou seja, como “o outro lado da vida” ou “a outra face da natureza”, só
poderia ser feita, como o demonstrou Kardec em A Gênese, depois do desenvolvimento científico. Antes que o homem assumisse o
que se pode chamar “uma atitude científica”, diante da natureza, o mundo espiritual só poderia ser encarado como algo misterioso, e
portanto sobrenatural. Ainda em Swedenborg a atitude mística é dominante, e mesmo em Davis ela impera, não obstante a maior
naturalidade com que o mundo espiritual lhe é apresentado. Entretanto, Swedenborg era um sábio, um homem dedicado a estudos científicos, o que mostra a dificuldade com que a mente humana se desapega de suas posições anteriores. Da ciência de
Swedenborg, ainda cercada de grandes zonas de mistério, o mundo teria de avançar mais de um século, para atingir o clima científico necessário ao advento do Espiritismo.



Assim como a aparição de Elias e Moisés a Jesus, no Tabor, tem um sentido alegórico, ligando o Messias ao “horizonte profético” e
à “lei”, ou revelação israelita, assim também a aparição de Galeno e Swedenborg a Jackson Davis, nas montanhas de Catskill, pode
ser interpretada como uma alegoria. Claudius Galeno, médico e filósofo do século segundo d. C., é um representante da ciência
antiga, e seu nome se tomou sinônimo da palavra “médico”. Swedenborg, como já vimos, apresenta-se como um profeta moderno, anunciando uma renascença profética através da prática mediúnica, já agora esclarecida. Ambos transmitem a Davis a ciência e a profecia, preparando-o como o precursor daquele que virá realizar a síntese das duas formas de conhecimento: a científica e a profética, ao codificar o Espiritismo. A alegoria moderna de Catskill assemelha-se, portanto, em sua significação espiritual e em suas conseqüências históricas, à alegoria evangélica do Tabor. Ambas anunciam, de maneira semelhante, mas cada qual em sua época e através de seus elementos próprios, o advento de dois novos mundos: o cristão e o espírita. E assim como o mundo cristão era um prolongamento do judaico, o mundo espírita é a continuidade natural e necessária do cristão, em cujos princípios se fundamenta.


Daí a seqüência das três revelações fundamentais, a que se refere Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo.



Ao nos referirmos a este livro de Kardec, devemos lembrar que ele também tratou de precursores do Espiritismo, indicando algumas
“antecipações doutrinárias”. Essas referências vão bem mais longe do que as nossas, pois Kardec aponta Sócrates e Platão como os
precursores longínquos do Cristianismo e do Espiritismo, chegando a formular um resumo da doutrina de ambos, para mostrar suas
ligações com as novas idéias. Veja-se, a propósito, a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Não há duvida que Kardec
tinha razão, ao estabelecer essa ligação dos princípios filosóficos do Espiritismo com os do Platonismo. Entretanto, quando tratamos das “antecipações doutrinárias” de Swedenborg e Davis, não ficamos apenas no plano filosófico, mas abrangemos toda a área propriamente “doutrinária” do Espiritismo, com seus aspectos científico, filosófico e religioso.



As antecipações religiosas e filosóficas do Espiritismo se estendem ao longo de todo o passado humano. Kardec referiu-se a Sócrates e Platão como a uma poderosa fonte histórica, de que podia servir-se para reforçar a sua afirmação de que o Espiritismo provém da mais remota antigüidade. De outras vezes, porém, como vemos n’O Livro dos Espíritos, em artigos publicados na Revista Espírita, e em vários trechos de outros livros da codificação. Kardec lembra as ligações do Espiritismo com os mistérios mitológicos dos gregos, as religiões do Egito e da Índia, e particularmente com o Druidismo celta, nas Gálias. Por toda parte, em todas as épocas, como acentua o codificador, “encontramos as marcas do Espiritismo”. Mas essas marcas, esses sinais ou esses traços, só começam a reunir-se, sob poderoso impulso mediúnico, com a finalidade clara de constituírem uma nova doutrina, com as características precisas de uma nova revelação, a partir de Swedenborg, para através de Davis se definirem melhor, até a sua completa e decisiva formulação na obra de Kardec.



As referências a Sócrates e Platão abrem um campo específico na investigação das antecipações doutrinárias do Espiritismo, que é
o campo dos precedentes filosóficos. Kardec nos coloca, com essas referências, diante de um vasto panorama a ser investigado, para descobrirmos aquilo a que poderemos chamar “as raízes filosóficas do Espiritismo”. Trabalho gigantesco terá de ser realizado, a começar das filosofias orientais, passando demoradamente pelos gregos, onde Sócrates, Platão e o próprio Aristóteles – este,
particularmente, com sua doutrina de forma e matéria – têm muito a oferecer, e seguindo pela era helenística, até a Idade Média e o
Mundo Moderno. O neoplatonismo, a partir de Plotino, parece-nos um ramo fecundo, e os filões medievais, apesar de todo o peso
asfixiante do seu dogmatismo fideísta, também apresentam valioso material para definição das raízes filosóficas do Espiritismo.



As antecipações filosóficas mais recentes estão sem dúvida no cartesianismo. O problema dos sonhos de Descartes, da sua inspiração pelo Espírito da Verdade, da sua tentativa de criar a Ciência Admirável – a que nos referiremos mais tarde – exige
pesquisas que ainda não puderam ser realizadas no meio espírita, dada a exigüidade de tempo, num movimento que tem apenas cem
anos. Depois de Descartes, é o seu discípulo e continuador Espinosa quem se apresenta como um verdadeiro precursor filosófico do Espiritismo, a começar da elaboração de seu livro fundamental, A Ética, onde são numerosas as correlações com O Livro dos Espíritos. Logo mais, a investigação do Hegelianismo e suas conseqüências não nos parece menos fecunda. Hegel se revela uma espécie de subsolo, em que as raízes filosóficas do Espiritismo penetram a grandes profundidades, e o próprio Kant, contemporâneo e testemunha de Swedenborg, oferece-nos amplas possibilidades de estudos, que se prolongam até os nossos dias,
nas correntes do neokantismo.



Saindo, assim, do terreno das antecipações, podemos entrar também no das correlações, encontrando nos filósofos
contemporâneos, entre os quais se destacam, ao que nos parece, Henri Bergson, Octave Hamelin, Louis Lavelle, Samuel Alexander,
Nicolai Hartmann, todo o campo do Existencialismo, inclusive o próprio Sartre, possibilidades imensas de comparação e mesmo de
ampliação das investigações espíritas, em diversas direções.


Somente esse trabalho, a ser realizado, poderá mostrar, de maneira
decisiva, as poderosas correlações que fazem do Espiritismo, como o assinalaram Kardec, Léon Denis e Oliver Lodge, uma síntese
histórica e conceitual do conhecimento, destinada a reformar o mundo.


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Isto me permite insistir que a verdadeira "Ciência da Alma" é a Filosofia. O espiritismo é tão somente uma vertente da filosofia, como o Kantismo, o hegelianismo, etc.


É isso!


Paulo Cesar Fernandes

09 12 2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

20131122 Kardecismo Catolico Religioso

Kardecismo Católico Religioso


Tenho visto grupos cujo foco é o espiritismo.


Tudo que se possa fazer um benefício do homem neste momento das incertezas é valido.


Porém creio ser mais útil se o pensamento for progressista, levar o homem a focar em sua razão como propunha Kardec. E mais que tudo, libertar o homem das seculares amarras que o ataram a pensamentos diminuidores da divindade dentro de si.



Não falo em Deus dentro do homem. Mas do Homem como um verdadeiro Deus, construído no processo de crescimento cultural aberto por nossa atualidade.



Nietzsche disse que Deus morreu. Mas tudo que morre renasce de alguma forma numa nova dimensão.



Aquela coisa antropomórfica e velha das religiões católicas e protestantes, e mesmo dos espiritas-católicos, aquilo não cabe mais.



O Homem transfeito em Deus é o que busca o aprimoramento, e o acúmulo de faculdades e potencialidades capazes de o tornar um ser sobre-humano, supra-homem, ou como queria Nietsche "Übermensch".



Como somos todos seres incompletos, em processo de completude, estamos todos, com maior ou menor esforço no caminho de ser algo acima do humano.



E precisamos estar acima do humano, pois a humanidade perdeu a sua dimensão interior: é humano matar seu semelhante; é humano engendrar guerras; é humano não se comover com a fome; não dar a mínima com o homem que dorme ao relento; é humano fazer morrer a sensibilidade dentro de si, para obter os efêmeros louros financeiros ou de poder.



O termo humano não cabe mais aos militantes da Justiça e do Amor Maior. Da Paz e da Igualdade sobre a Face da Terra.



Não. Não quero ser humano. Prefiro estar contra tudo isso e estar bem ao lado de Friedrich Nietzsche, sempre incompreendido e maltratado pelos incultos de todas as concepções religiosas. Gente que o odeia sem sequer se dar ao trabalho de lhe conhecer um pouco da vida e da obra.



E o ódio nunca foi, e nunca será bom conselheiro de nossa jornada evolutiva. Se situa entre as coisas a excluir, ou deletar do nosso coração, usando uma linguagem informática.


Algo possível e necessário.


Paulo Cesar Fernandes

22  11  2013

20131121 Revista Espirita 1858 Final

Revista Espirita 1858 Final


Em mais esta tarde de estudo, finalizando o ano de 1858 da Revista Espírita me veio uma alegria muito grande. Até mesmo por imaginar a emoção de Kardec ao ver uma etapa finda da grande tarefa a seu cuidado, sob sua responsabilidade. 

Desde a juventude fiz algumas tentativas de um estudo sistemático dessa publicação, sem sucesso. Na primeira reunião uma dúzia de
membros na segunda rareava, até que me via com mais um ou só.

Não compreendia eu, naquela ocasião, ser tal obra para um estudo solitário e constante. Em verdade é uma conversa, um diálogo com o pensamento de Allan Kardec, algo capaz de permitir uma absorção mais profunda de seu modo de pensar e sua maneira de tratar os fatos espíritas.

É com alegria que caminho amanhã para o ano de 1859, mas não sem antes dizer do valor da mensagem final de Kardec no ano de
1858. Uma mensagem mais profunda que uma despedida de um ano de atividade, mas um chamamento a todos nós ligados ao
pensar espírita, traçando-nos um rumo, um roteiro, bem ao jeito dele com firmeza e claramente.

Resta-nos apenas apreender e cumprir tal qual nos é sugerido.


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Aos leitores da Revista Espírita
Conclusão do ano de 1858
 
 
Revista Espírita, dezembro de 1858


A Revista Espírita acaba de completar seu primeiro ano, e estamos felizes em anunciar que, doravante, sua existência estando
assegurada pelo número de seus assinantes, que aumentam a cada dia, prosseguirá o curso de suas publicações. Os testemunhos de
simpatia que recebemos de todas as partes, o sufrágio dos homens mais eminentes, pelo seu saber e pela sua posição social, são para nós um poderoso encorajamento na tarefa laboriosa que empreendemos; que aqueles, pois, que nos sustentaram no
cumprimento de nossa obra, recebam aqui o testemunho de toda a nossa gratidão. Se não tivéssemos encontrado nem contradições,
nem críticas, isso seria um fato inaudito nos fastos da publicidade, sobretudo quando se trata da emissão de ideias novas; mas, se
devemos nos admirar de alguma coisa, é de havê-las encontrado tão poucas em comparação com as provas de aprovação que nos foram dadas, e isso devido, sem dúvida, bem menos ao mérito do escritor que ao atrativo do assunto que tratamos, ao crédito que toma, cada dia, até nas mais altas regiões da sociedade; nós o devemos também, disso estamos convencidos, à dignidade que sempre conservamos frente a frente com os nossos adversários, deixando o público julgar entre a moderação de uma parte, e a inconveniência da outra. O Espiritismo marcha a passos de gigante no mundo inteiro; todos os dias religa alguns dissidentes pela força das coisas, e se, de nossa parte, podemos lançar alguns grãos na balança desse grande movimento que se opera, e que marcará nossa época como uma era nova, não será contundindo, chocando de frente aqueles mesmos que se quer trazer de novo; é pelo raciocínio que se faz escutar, e não por injúrias. Os Espíritos superiores que nos assistem, nos dão, a esse respeito, o preceito e o exemplo; seria indigno de uma doutrina que não prega senão o amor e a benevolência, abaixar-se até a arena do personalismo; deixamos esse papel àqueles que não a compreendem. Nada nos fará, pois, desviar da linha que seguimos, da calma e do sangue frio, que não cessaremos de considerar no exame racional de todas as questões, sabendo que por aí fazemos mais partidários sérios do Espiritismo que pelo amargor e pela acrimônia.



Na instrução que publicamos, na cabeça do nosso primeiro número, traçamos o plano que nos propúnhamos seguir: citar os fatos, mas também escrutá-los e passá-los pela escalpelo da observação; apreciá-los e deduzir-lhes as consequências. No início, toda atenção estava concentrada sobre os fenômenos materiais, que alimentaram, então, a curiosidade pública, mas a curiosidade não tem senão um tempo; uma vez satisfeita, deixa-se o seu objeto como uma criança deixa o seu brinquedo. Os Espíritos nos disseram então: "Este é o primeiro período, que passará logo para dar lugar a ideias mais elevadas; fatos novos vão se revelar que marcarão um novo, o período filosófico, e a doutrina crescerá em pouco tempo, como a criança que deixa seu berço. Não vos inquieteis com o escárnio, os escarnecedores serão escarnecidos eles mesmos, e amanhã encontrareis zelosos defensores entre os vossos mais ardorosos adversários de hoje. Deus quer que assim seja, e estamos encarregados de executar a sua vontade; a má vontade de alguns homens não prevalecerá contra ela; o orgulho daqueles que querem saber mais que ele será rebaixado."



Estamos longe, com efeito, das mesas girantes, que não divertem mais quase nada, porque se deixa de tudo; não há senão o que fala
ao nosso julgamento, do qual não se cansa, e o Espiritismo voga a plenas velas, em seu segundo período; cada um compreendeu que é toda uma ciência que se funda, toda uma filosofia, toda uma nova ordem de ideias; e era preciso seguir esse movimento, contribuir mesmo para ele, sob pena de não mais bastar à tarefa; eis porque nos esforçamos por nos mantermos nessa altura, sem nos fecharmos nos estreitos limites de um boletim anedótico.


Elevando-se à categoria de doutrina filosófica, o Espiritismo conquistou inumeráveis adeptos, mesmo entre aqueles que não foram testemunhas de nenhum fato material; é que o homem ama o que fala à sua razão, o que pode apreciar, e que encontra, na filosofia espírita, outra coisa que um passatempo, alguma coisa que preenche, nele, o vazio pungente da incerteza.


Penetrando nesse mundo extracorpóreo pelos caminhos da observação, quisemos nele fazer nossos leitores penetrarem, e fazê-lo compreenderem; cabe a eles julgarem se alcançamos nosso objetivo. Prosseguiremos, pois, em nossa tarefa durante o ano que vai começar, e que tudo anuncia dever ser fecundo.



Novos fatos, de uma ordem estranha, surgem neste momento e nos revelam novos mistérios; nós os registraremos cuidadosamente, e neles procuraremos a luz com tanta perseverança quanto no passado, porque tudo pressagia que o Espiritismo vai entrar numa
nova fase, mais grandiosa e mais sublime ainda.




ALLAN KARDEC.
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Vivemos um novo tempo de incerteza, a Modernidade se foi, e ainda não chegamos ao outro patamar de estabilidade. Nada se consolidou ainda, desde a derrocada dos velhos valores vigentes até a década de 60.


Navegamos sim no mar dos "Tempos Líquidos" de Zygmunt Bauman. E mesmo o sociólogo, não tem prontas respostas para 
apontar o futuro da humanidade. Diz tão somente ser uma Era de Transição. E como sabemos toda transição desestabiliza os espíritos.


Aqui se estabelece o espiritismo como roteiro. Não verdade absoluta. Não como única possibilidade, mas como oferta acolhedora a todos os que buscam algo com sinceridade de propósito.


A Certeza na Imortalidade é a pedra de toque para todo um novo pensar, toda uma nova perspectiva para a existência, não somente para a encarnação. Pela lógica podemos depreender a comunicabilidade e a evolução infinita. Isto já basta para uma nova forma de ver e sentir a si, bem como a todos os semelhantes dos sete mares.


Há uma irmandade entre todos os espíritos. Todos merecem iguais oportunidades de desenvolvimento e de expressão de sua individualidade. Mas antes, o direito a uma vida digna, plena, onde a Liberdade fulgure como a grande luz em seu caminho.


Paulo Cesar Fernandes

21  11  2013

sábado, 16 de novembro de 2013

19960916 A admiração e o amor

A admiração e o amor.

 

Já de algum tempo venho me perguntando se o amor, a afeição não é determinada, em grande parte, ou na totalidade pela admiração que uma pessoa nutre pela outra.

 
Me reportando ao Aurélio, que nos clareia dúvidas, busquei a palavra admiração. Dentre outras definições encontrei : extasiar-se diante de, experimentar sentimento de admiração em relação a.

 
Vimos assim, que a admiração se insere na categoria dos sentimentos. E, a meu juízo, pela observação de diversos casamentos e uniões, quando este sentimento de admiração se rompe, a própria relação corre grande perigo, ou se esvai por completo.

 
Se o amor tem em si o elemento da posse, que determina a decisão de duas pessoas viverem juntas. É a admiração que mantém a união, pela  sua eterna possibilidade de trazer o novo.

 
Quando o encanto da admiração é quebrado, mesmo que o casal busque novas atividades no dia a dia, como passeios, viagens, tais atividades perdem seu sabor, pois o sentimento, e aí digo mais, os diversos sentimentos que compunham a relação, que sustentavam a união, mantendo o desejo de ter o outro e com ele conviver; todos estes sentimentos acabam se esvaziando. Se não forem todos, pelo menos uma parte significativa deles se esvai.

 
Daí a necessidade, de cada um dos componentes da condução do lar, buscar cada dia mais se fazer admirável, digno de admiração. E isto não deverá se dar por bravatas, ou com exotismos de qualquer espécie, tal como querer ser ginasta após certa idade, ou tantas outras atitudes ridículas adotadas como forma de se destacar no núcleo familiar.
 

Não. Quando digo fazer-se admirável, significa viver em consonância com os princípios positivos que sempre teve, agregando a esses princípios a força de projetos de crescimento, seja crescimento moral ou intelectual.
  

Quando os dois componentes responsáveis pela condução do lar adotam tal postura, cresce cada um deles, cresce e se fortalece a familia enquanto instituição, e por fim cresce a sociedade como um todo.

 

Paulo Cesar Fernandes
16/09/1996

19960608 Cultura universal


                            Cultura Universal

 

            Certa noite, Dalmo Dallari, um jurista de projeção nacional foi convidado a participar das comemorações dos 50 anos do Centro Espírita Allan Kardec. Coube a mim a tarefa de conduzi-lo de São Paulo a Santos.

            No transcurso da viagem percebi a amplitude de sua cultura, e previ o acerto da idéia de sua participação naquela atividade.

            Os pensamentos de respeito a um espírito que reúna cultura e vivência ganhavam força em mim quando um amigo emite a seguinte opinião acerca da cultura :

            “Estou certo que uma cultura humanista mais ampla é um dos aspectos do crescimento espiritual.”

            Foi a síntese do que vinha pensando até o momento.

            De imediato relacionei com outras tantas pessoas que tinhamos tido a possibilidade de convidar para participar de atividades no Allan Kardec, já nos tempos da Mocidade Espírita Estudantes da Verdade. Pessoas estas que puderam, com seu caldal cultural e seu humanismo, contribuir em muito para os componentes da casa. Entre tantos, eu citaria Waldir Cauvilla um professor de história, o deputado José Genoino falando em sua não crença na imortalidade.

            Um aspecto importante a considerar é a afinidade entre pessoas e grupos que buscam nas trilhas do conhecimento suas metas de crescimento. Tais metas transcendem, muitas vezes os limites de estreitas concepções e rotulagens como católicos, espíritas, para se espraiar no prazer da descoberta compartilhada e recíproca.

            Todas as afirmações acima se inserem na necessidade de cada um de nós, eu, bem como o leitor deste artigo, buscarmos uma forma de conhecimento mais amplo da cultura universal, conhecimento este que, sem sombra de dúvidas, trará grande impacto na nossa capacidade de compreender o Espiritismo. Seja entendendo seus princípios, seja contextualizando a obra de Kardec, percebendo a forte relação entre as idéias de Kardec e o ambiente cultural de seu tempo.

            Todas as formas de conhecimento são válidas, porém a filosofia se coloca como a área que mais contribue para ampliar nossas possibilidades de compreensão do Espiritismo. A filosofia espírita se insere em um momento histórico definido, fruto do desenvolvimento do pensamento filosófico ocorrido até aquela data.

            Cabe a cada um de nós, agora, conhecer mais, buscar aprender mais, tanto da cultura geral da humanidade, bem como do patrimônio cultural espírita, uma vez que tudo isso, contribue largamente em nosso processo evolutivo.

 

                                                                       Paulo Cesar Fernandes

08/06/1996

terça-feira, 12 de novembro de 2013

20131112 Abstração como Espiritualidade

Abstração como Espiritualidade


Esta é uma questão já de algum tempo clara para mim. A espiritualidade nada tem a ver com religiões, ou com espiritismo.


Toda atividade que nos permita abstrair da materialidade para a qual nossa sociedade nos empurra é do âmbito da
espiritualidade. Inclusive as ciências exatas. A arte e tantas outras.


Um trecho do livro de Herculano Pires vem ao encontro de minhas proposições, para minha alegria:




Temos primeiramente a capacidade de formulação de conceitos abstratos, que é o resultado de uma longa evolução da “rés cogitans”, da coisa pensante cartesiana. A História da Matemática nos ajuda a compreender esse processo, mostrando-nos o desenvolvimento da capacidade de contar, na vida primitiva.

O pensamento do homem selvagem revela a sua natureza concreta na incapacidade para contar além do número dos dedos das mãos ou dos pés, nas tribos mais atrasadas. Somente nas tribos mais evoluídas o homem se torna capaz de utilizar-se de números abstratos.


A abstração mental é, portanto, uma conquista da evolução. E a História da Filosofia nos mostra que, apesar do enorme desenvolvimento intelectual dos gregos, foi Sócrates quem descobriu o conceito e revelou a sua importância. Depois de haver conquistado o conceito, ou seja, a capacidade de conceituar, de formular a concepção dos objetos materiais, o homem se torna capaz de ajuizar, de comparar, medir e julgar as coisas.


Somente nesse momento ele se torna apto a formular juízos éticos e morais, a elaborar regras para a sua conduta moral e a esboçar um panorama ético das relações humanas e divinas. É evidente que uma função não decorre imediatamente da outra. A capacidade de abstração evolui lentamente para a de julgamento das coisas, e só numa fase adiantada da evolução intelectual atinge a de formulação de juízos éticos e morais. É o que nos mostra, por exemplo, a evolução do pensamento grego, ao passar dos antigos fisiólogos para os sofistas, e destes para os filósofos da linha socrática.

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Evidentemente, há necessidade de uma visão abrangente da obra do Professor, o que não invalida o uso desse pequeno trecho em apoio à tese por mim defendida.


Quando nosso tempo estiver, em sua grande parte, ocupado pela espiritualidade por mim proposta, não nos tornaremos
místicos, religiosos, nem algum tipo de ET. Apenas teremos escolhido, no universo de possibilidades, as atividades que
melhor se coadunem com o projeto de vida pretendido.


Leremos de todas as coisas; desenharemos; pintaremos (o sete, o oito e muito mais...); tomaremos disciplinas várias para nossa diversão; desbravaremos o universo de novas culturas, através do aprendizado de novas línguas, pelo simples prazer do conhecimento, sem uma utilidade financeira próxima ou remota; enfim, estaremos mais abertos a tudo de novo ofertado no âmbito do conhecimento.


Afinal o espirito foi criado para alçar grandes voos. Vislumbrar paisagens intrigantes e renovadoras.


Ciscar no chão da materialidade jamais nos trará a Felicidade tão sonhada por todo o que pensa existencialmente.


A nossa vida inicia no berço e termina no túmulo.


A nossa existência, por outro lado, iniciou em nossa criação e tem pela frente o infinito.


Paulo Cesar Fernandes

12  11  2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

20131111 FEESP Paulo Alves Godoy PENSE

FEESP Paulo Alves Godoy PENSE


Seguia eu pela Rua Maria Paula em 1975. Fazia eu meu caminho para o trabalho na IBM do Brasil, situada na Rua Araújo naquela época.


Na banca de jornais, bem em frente da FEESP (Federação Espírita do Estado de São Paulo) uma publicação me chama. Seu título "Mensagem". Haviam dois números na banca e os comprei de imediato. Tinham a grife do Professor Herculano Pires.


Através desse veículo ele desautorizava Paulo Alves Godoy de todas  as alterações feitas na Edição FEESP de "O Evangelho segundo o Espiritismo". Uma tradução melíflua e traidora dos textos de Kardec na realidade.


Contra esses termos "abrandados" se  indignou Herculano Pires.

Quando Kardec em seu texto escreve "espíritos maus" assim deve ser lido. "Espíritos menos bons" não tem o mesmo efeito e é verdadeiramente ridículo.


Isto fez o Senhor Paulo Alvez Godoy em sua tradução.


Descaracterizou o texto de Allan Kardec.


A tradução de Júlio de Abreu Filho, fiel que era, foi deixada de lado pela FEESP com que objetivo não me cabe analisar. Quero louvar a coragem do Professor em sair em defesa do correto, num tempo em que em nome de uma falsa fraternidade tudo podia e tudo passava.


Transcrevo do PENSE um dos textos desse Jornal "Mensagem" cujo nascimento e morte se deu apenas para não deixar passar em brancas núvens tal adulteração aos originais de Kardec.


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•  Somos os Construtores do Mundo
Escreve: José Herculano Pires
Em: Novembro de 2012


O final deste importante artigo, o intertítulo “Uma Tomada de Consciência”, tem sido divulgado erroneamente sob o título deste ensaio, que abrange diversas outras questões, não necessariamente as restritas ao movimento espírita. Inspirados neste artigo, vários eventos espíritas foram organizados, debates e confraternizações de
jovens espíritas.


Devido à sua profundidade e importância histórica, o PENSE publica na íntegra este que é um dos mais inflamados e apaixonados textos do mestre Herculano Pires (1914-1979), jornalista e escritor espírita, um dos maiores pensadores espíritas do século 20.


Publicado no periódico “Mensagem”, do qual era editor, em setembro de 1975, o texto foi redigido em meio a conflitos entre o ‘Guarda Noturno do Espiritismo’ e a Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp), devido a uma tradução adulterada de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, feita pela Feesp e que foi denunciada por Herculano, com apoio declarado do médium mineiro Chico Xavier.


♦ ♦ ♦


Os profetas da tragédia falam em cataclismos geológicos, guerra nuclear, guerra bacteriológica, pestes, epidemias arrasadoras para este último quartel do século 20. Aves agoureiras anunciam a fome mundial pelo aumento da população terrena, o desaparecimento da atmosfera planetária por efeito de explosões atômicas, da devastação das matas, da poluição ambiental. Estaríamos numa fase de contradições insanáveis. O progresso acelerado nos levaria fatalmente à desgraça total, ao cumprimento das profecias apocalíticas, ao fim do mundo.


Apesar deles e dos alarmistas que propagam as suas ideias mortíferas, dos terroristas do boato, há homens sensatos, cientistas ponderados, futurólogos que não se engajam no jogo dos trustes do medo. Estes procuram mostrar, através de dados concretos e raciocínios objetivos, que as crises atuais que enfrentamos são sintomas de desenvolvimento, comuns a todos os processos de crescimento. Outros, como Isaac Asimov, fazendo concessões às mentes delirantes, sugerem soluções curiosas de ficção científica: a colonização da Lua e de Marte, a construção de cidades submarinas e cidades espaciais, o controle maciço da natalidade, a aplicação de métodos químicos para a redução do tamanho do homem e assim por diante. Milhões de criaturas humanas poderiam viver em cidades metálicas, construídas em funis gigantescos localizados em zonas intermediárias da gravitação terrena e da gravitação lunar.


Não há dúvida que estamos numa era apocalítica, semelhante a que houve na Palestina na antevéspera do advento do Cristianismo, quando as profecias da destruição constituíam o alimento preferido do sadismo coletivo. Foi precisamente dessas profecias que resultou o Apocalipse evangélico atribuído ao apóstolo João, que o teria recebido do próprio Cristo na ilha de Patmos. Essa visão judaica do fim do mundo foi considerada por Renan, Harnak, Guignebert e outros investigadores conscienciosos como um livro apócrifo, referente à queda do Império Romano, e por mero equívoco anexado às páginas do Evangelho. Mas quem poderia convencer disso os piedosos adeptos das religiões do terror, cuja fé nas desgraças vindouras é hoje alentada e alimentada pelas novas previsões de catástrofes?



O HOMEM É O PERIGO


Essas visões remotas de um tempo há muito superado são hoje exploradas pelos grupos interessados em manter o mundo nas garras. Há perigo, sem dúvida, numa fase de transição como a em que nos encontramos. Mas o perigo não vem do céu, da ira de Deus, da instalação do Tribunal do Messias entre as nuvens, com anjos tocando trombetas assustadoras nos pontos cardiais da Terra e os mortos ressuscitando sob nevoeiros atômicos, com seus corpos mortais reconstituídos pela vingança divina.


Essas apreensões ilógicas e ridículas, muitas vezes pregadas do púlpito das igrejas cristãs, de tribunas espíritas e até mesmo de cátedras universitárias, devolvem-nos à era das civilizações primitivas, agrárias e pastoris, e aos terrores do mundo mitológico ou dos sermonários medievais. O perigo existe e esse perigo é o homem, somos nós mesmos. Uma guerra nuclear não seria desencadeada pelos astros ou pela ira de Deus, mas pelos homens responsáveis pelo equilíbrio do mundo social, do mundo humano.


O mundo natural, constituído pela Natureza, sofreria as consequências da loucura humana, mas poderia recuperar, através de suas leis de equilíbrio e conservação, as zonas devastadas.


A ideia de que o homem pode destruir o mundo provém de dois elementos de con-cepções antiquadas, hoje inaceitáveis:

1.) O orgulho humano, que pretende sobrepor a fragilidade da criatura à onipotência do Criador;

2.) A crença ingênua nos poderes mágicos, segundo a qual os mágicos podiam destruir as coisas, os seres e o próprio mundo com simples sinais cabalísticos.


O aumento do conhecimento científico provoca vertigens em cérebros pouco estáveis, pouco seguros, e a vaidade natural da espécie faz certos homens pensarem que descobriram a chave da Natureza e podem manipulá-la com seus novos instrumentos técnicos, que lhes dão um acréscimo enorme de poder. Por outro lado, o pensamento mágico, sempre necessariamente contraditório, aceita a existência do Gênio Maligno de Descartes (simples hipótese de pesquisa) e transforma Deus numa espécie de Frankenstein, um ser dotado de dupla personalidade, capaz de amar e odiar ao mesmo tempo.


Mas se compreendermos, para começar, que Deus não é uma personalidade humana, mas um centro cósmico de inteligência e poder, que mantém não apenas o equilíbrio da Natureza, da Terra e do Sistema Solar, mas de todo o Cosmos, com sua infinidade de galáxias, em que milhões e milhões de mundos existem, então será fácil entendermos a falácia e o delírio dessas profecias terroristas.


A Terra é um grão de areia no infinito, de maneira que o temporal desencadeado nela pelo homem seria bem menos do que uma tempestade num copo d’água.



UMA VISÃO REAL


Os estudiosos, os pesquisadores, os cientistas honestos advertem-nos contra os abusos do poder humano, que podem causar muitos males desequilibrando o meio ambiente. Mas reconhecem, como vimos ainda recentemente no Congresso Internacional de Belgrado sobre a questão populacional, que a situação desastrosa do planeta
refere-se a determinadas zonas superpovoadas, como os grandes centros urbanos, as nações altamente industrializadas, e não a toda a Terra. Enquanto, por exemplo, as megalópoles crescem envenenadas pelos seus próprios excessos industriais, as vastas zonas campestres se despovoam. A Terra tem capacidade para uma população muitas vezes maior do que a atual e do que a prevista pelos futurólogos para os próximos anos. A falta de alimentos não decorre da falta de produtividade, mas da falta de transportes e distribuição equitativa do alimento produzido. Além disso, há o problema evidente da falta de distribuição dos recursos financeiros, da falta de revisão da estrutura econômica mundial, sujeita cada vez mais a colapsos provenientes de suas deficiências, de seus clamorosos desequilíbrios.


Cabe ao homem reestruturar os seus esquemas sociais, reajustando-os à necessidade de harmonia e equilíbrio da vida planetária. Cabe ao homem encarar esses problemas por um prisma humanístico, em que prevaleça o princípio do respeito à criatura humana, acima da defesa de princípios sociais e econômicos que estabeleceram regimes de privilégios desumanos em todo o mundo, ainda vigentes, sustentados e estimulados tanto na chamada área socialista, quanto na área do capitalismo ou neocapitalismo, tanto nos países desenvolvidos, quanto nos subdesenvolvidos ou em processo de desenvolvimento.


Delegar a entidades divinas o que nos compete ou querer investir contra as divin-dades, como novos Prometeus que pretendam roubar o fogo do céu, é simples manobra de fuga ao cumprimento de nossas responsabilidades imediatas. Os princípios evangélicos, a evolução do Direito, a Carta dos Direitos Humanos, o avanço do pensamento filosófico, o desenvolvimento científico e tecnológico, o amadurecimento da razão, todos esses fatores e muitos outros abrem perspectivas novas para a solução dos nossos problemas sociais, culturais e econômicos. Mas, os interesses constituídos e a cegueira da maioria das criaturas (ou a miopia coletiva) impedem a ação eficaz para essa solução. Não precisamos de cidades em funis metálicos no espaço sideral. Aqui mesmo, na Terra, há lugares de sobra para a multiplicação inevitável de nossos centros urbanos. O neomaltusanismo dos nossos dias é ainda mais desarrazoado que o de Malthus. Nossas possibilidades de produção de alimentos cresceram em progressão geométrica, graças ao desenvolvimento científico e tecnológico. O que nos falta é o controle, a ordenação precisa e rigorosa dessas possibilidades, para que os perigos humanos que nos ameaçam sejam superados.



ADMINISTRAÇÃO TERRENA


Dos seus voos heroicos, hoje insignificantes ante o progresso espantoso dos voos aeronáuticos e astronáuticos, Saint-Exupéry chegou à conclusão que deu título ao seu livro famoso: “Terra dos Homens”. Tinha razão o poeta-voador. A Terra é nossa. Foi o ninho em que nascemos e nos desenvolvemos. Mas ainda não aprendemos a administrá-la. A reduzida população terrena dos milênios transcorridos, confinada em zonas determinadas do planeta, com suas civilizações ilhadas, legou-nos a experiência das administrações locais, reduzidas a técnicas dispersivas, desligadas da visão universal que o Cristianismo nos traria. Aprendemos a administrar pequenas nações, mesmo quando situadas em grandes territórios, e a lei da inércia, dominante na estática social e anquilosada nas tradições regionais, consagrou princípios
inadequados, impondo-os ao mundo mais vasto e rico do futuro (hoje convertido em presente) como se tivessem validade universal e eterna. Percebemos isso, sentimos o desajuste, mas os interesses criados e a ambição estimulada continuam a agir como meios de contenção do processo renovador.


A evolução cultural deu-nos a possibilidade de compreender Deus em plano superior, mas as nossas deficiências de formação impedem essa compreensão e ainda nos amarram a condicionamentos embaraçosos. Não somos capazes de entender a senha lírica de Saint-Exupéry e transformar o planeta na Terra dos Homens. Não compreendemos sequer a responsabilidade de organização e administração planetária, que decorre de nosso próprio livre-arbítrio, de nossa própria liberdade. Apelamos
para esquemas rígidos e desumanos, baseados em processos de violência e opressão, esquecidos do princípio fundamental da fraternidade humana. Falamos em igualdade de direitos, em distribuição da riqueza, em oportunidades para todos, e continuamos a agir como barões feudais, sem forças para rejeitar os sistemas de escravidão e servidão que nos vêm do passado remoto.


Diante do sentimento de impotência gerado por essa situação e pelas dolorosas experiências recentes de soluções arbitrárias, impostas pela força, com o esmagamento das liberdades humanas, com o desrespeito à dignidade da criatura humana, apelamos para a descrença nos valores do espírito e mergulhamos no caos das concepções materialistas e pragmatistas.


Não é Deus, nem quaisquer outras divindades, que nos ameaçam com flagelos destruidores. Somos nós mesmos, os homens, os produtores de flagelos, os criadores de cataclismos.



DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA


Desenvolvemos a inteligência de maneira assombrosa.


Reclamamos a falta de gênios, em comparação com as idades de ouro do passado, e não percebemos que temos mais ouro do que nunca e por isso mesmo os gênios não alcançam o destaque e a fama de outras eras. Aludimos ao inconsciente coletivo e não vemos o arejamento da consciência coletiva, o crescimento da inteligência no povo, nas massas.


Costuma-se atribuir à influência dos novos meios de comunicação a precocidade mental das crianças de hoje, esquecendo-se que a evolução natural da inteligência determinou o aprimoramento e a expansão dos meios de comunicação. As novas gerações manifestam-se inquietas, criando problemas, suscitando crises morais, políticas e sociais. Como afirma Ingenieros: “A juventude toca a rebate em toda renovação”. Dewey acentuou a importância da reelaboração das experiências pelas novas gerações. Cada jovem é um projeto de realizações renovadoras, em maior ou menor medida, e não temos o direito de frustrá-los com o nosso temor do futuro. Eles, os jovens, são o futuro e temos de ajudá-los na realização de suas aspirações, integrando-os nas experiências atuais e preparando-os para o amanhã.


A posição conservadora das velhas gerações decorre do instinto natural de conservação. Faz parte do processo evolutivo, como força moderadora dos impulsos de renovação. Mas os jovens representam a renovação em marcha e cabe-nos o dever de procurar compreendê-los, nunca o de exclui-los ou de querer reduzi-los a
conservadores forçados ou fingidos. As velhas gerações vão passando e as novas poderão impor-se através de processos violentos, como reação às opressões sofridas.


O grau atual de desenvolvimento da inteligência humana permite-nos compreender perfeitamente esse processo da dialética da evolução e contribuirmos para manter o equilíbrio necessário na fase de transição que atravessamos. Muitos pedagogos, como Dewey, Kilpatrick, Hubert, Kerschensteiner, lutaram e vêm lutando para estabelecer um tipo adequado de educação a uma civilização em mudança. Essa adequação não pode prescindir de uma compreensão mais ampla do problema espiritual, superando o equívoco do laicismo e da formação sectária de tipo igrejeiro. A Educação Espírita apresenta-se como mediadora para a solução desse problema, oferecendo contribuições decisivas, mas infelizmente o próprio meio espírita não se mostra capaz de compreender o que seja educação espírita.


A única revista especializada do mundo, nesse setor de importância vital para este momento, foi lançada em São Paulo pela editora Edicel, sem finalidade comercial e não está podendo sustentar-se, ante o desinteresse geral, que abrange até mesmo a rede escolar espírita. A inteligência espírita, apegada a um misticismo antidoutrinário, revela-se tão inepta quanto os rabinos do Templo de Jerusalém, no tempo de Jesus, para compreender o seu dever na hora atual. Essa é uma responsabilidade muito mais grave do que geralmente se pensa, nesta hora de transição. E não só os espíritas devem arcar com ela, mas todos os homens de inteligência e cultura que podem contribuir para o esclarecimento popular.



UMA TOMADA DE CONSCIÊNCIA


O apego ao contingente, ao imediato, apaga na consciência dos nossos dias o senso da responsabilidade espiritual. Nem mesmo a ronda constante da morte consegue arrancar o homem atual da embriaguez do presente. O problema do espírito e da imortalidade só se aviva quando ligado diretamente a questões de interesse pessoal. O católico, o protestante e o espírita se equivalem nesse sentido. Todos buscam os caminhos do espírito para a solução de questões imediatistas ou para garantirem a si mesmos uma situação melhor depois da morte.


A maioria absoluta dos espiritualistas está sempre disposta a investir (este é o termo exato) em obras assistenciais, mas revela o maior desinteresse pelas obras culturais.


Apegam-se os religiosos de todos os matizes à tábua de salvação da caridade material, aplicando grandes doações em hospitais, orfanatos e creches, mas esquecendo-se dos interesses básicos da cultura. Garantem os juros da caridade no pós-morte, mas contraem pesadas dívidas no tocante à divulgação, sustentação e defesa de princípios fundamentais da renovação da cultura planetária.


A imprensa, a literatura, o ensaio, o estudo, a fixação das linhas mestras da nova cultura terrena ficam ao deus-dará. Falta uma tomada de consciência, particularmente no meio espírita, da responsabilidade de todos na construção e na elaboração da Nova Era, que é trabalho dos homens na Terra.


Ninguém ou quase ninguém compreende que sem uma estruturação cultural elevada, sem estudos aprofundados no plano cultural, que revelem as novas dimensões do mundo e do homem na perspectiva espírita, o Espiritismo não passará de uma seita religiosa de fundo egoísta, buscando a salvação pessoal de seus adeptos, precisamente
aquilo que Kardec lutou para evitar.


A finalidade do Espiritismo, como Kardec acentuou, não é a salvação individual, mas a transformação total do mundo, num vasto processo de redenção coletiva.


Proporcionar aos jovens uma formação cultural apoiada na mais positiva e completa base espiritual, que mostre a insensatez das concepções materialistas e pragmatistas, dando-lhes a firmeza necessária na sustentação e defesa dos princípios doutrinários, não é só caridade, mas também realização efetiva dos objetivos superiores do Espiritismo nesta fase de transição. Sem esse trabalho não poderemos avançar com segurança e eficácia na direção da Era do Espírito. Temos de dar às novas gerações a possibilidade de afirmarem, diante do desenvolvimento das Ciências e do avanço geral da Cultura, como disse Denis Bradley: “Eu não creio, eu sei!”


Porque é pelo saber, e não pela crença, pela fé racional e não pela fé cega, pelo conhecimento e não pelas teorias indemonstráveis que o Espiritismo, como revelação espiritual, terá de modelar a nova realidade terrena, apoiado na confirmação científica, pela pesquisa, dos seus postulados fundamentais. A revelação humana confirma e comprova a revelação divina.


Esse é o problema que ninguém parece compreender. Todos sonham com o momento em que a Ciência deverá proclamar a realidade do espírito. Mas, essa proclamação jamais será feita se a Ciência Espírita não atingir a maioridade, não se confirmar por si mesma, podendo enfrentar virilmente, no plano da inteligência e da cultura, a visão materialista do mundo e a concepção materialista do homem. Por isso precisamos de Universidades Espíritas, de Institutos de Cultura Espírita dotados de recursos para uma produção cultural digna de respeito, de Laboratórios de Pesquisa Psíquica estruturados com aparelhagem eficiente e orientados por metodologia segura, planejada e testada por especialistas de verdade, capazes de dominar o seu campo de trabalho e de enfrentar com provas irrefutáveis os sofismas dos negadores sistemáticos. É uma batalha que se trava, o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, agora desenvolvido com todos os recursos da tecnologia.


Chega de pieguice religiosa, de palestras sem fim sobre a fraternidade impossível no meio de lobos vestidos de ovelhas.


Chega de caridade interesseira, de imprensa condicionada à crença simplória, de falações emotivas que não passam de formas de chantagem emocional. Precisamos da Religião viril que remodela o homem e o mundo na base da verdade comprovada. Da caridade real que não se traduz em esmolas, mas na efetivação da fraternidade humana oriunda do conhecimento de nossa
constituição orgânica e espiritual comuns, ou seja, da inelutável igualdade humana. De exposições sábias e profundas dos problemas do espírito, nascidas da reflexão madura e do estudo metódico e profundo. Temos de acordar os dorminhocos da preguiça mental e convocar a todos para as trincheiras da guerra incruenta da sabedoria contra a ignorância, da realidade contra a ilusão, da verdade contra a mentira. Sem essa revolução em nossos processos não chegaremos ao mundo melhor que já está
batendo, impaciente, às nossas portas.


Não façamos do Espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais. Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder do espírito
encerrado no corpo. Não encaremos a vida cobertos de cinzas medievais. Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesãos, artistas, operários, construtores do mundo e temos de construi-lo segundo o modelo dos mundos superiores que esplendem nas constelações. Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Essa é a nossa tarefa.



Fonte: Jornal “Mensagem”, órgão de divulgação do Grupo Espírita Cairbar Schutel, sob a direção de J. Herculano Pires - setembro de 1975 - ano I, nº 4 - São Paulo-SP.

José Herculano Pires (1914-1979), jornalista, poeta, filósofo, escritor e um dos maiores pensadores do espiritismo contemporâneo, é autor de mais de 80 obras sobre espiritismo, parapsicologia, educação, filosofia dentre outros temas.


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Paulo Cesar Fernandes

11 11 2013

20131111 José Herculano Pires_Pedagogia Espírita

José Herculano Pires

Pedagogia Espírita


O mistério do ser


A educação depende do conhecimento menor ou maior que o educador possua de si mesmo. Porque conhecer-se a si mesmo é o primeiro passo do conhecimento do ser humano. A Humanidade é uma só. O ser humano, em todas as épocas e em toda parte, foi sempre o mesmo.Sua constituição física, sua estrutura psicológica, sua consciência são iguais em todos os seres humanos.


Essa igualdade fundamental e essencial é o que caracteriza o homem. As diferenças temperamentais, culturais, de tipologia psicológica, de raça ou nacionalidade, de cor ou tamanho são apenas acidentais. Por isso mesmo a Educação é universal e seus objetivos são os mesmos em todas as épocas e em todas as latitudes da Terra.



Essa padronização, que devia simplificar a educação, na verdade a complica, porque por baixo do aspecto padronizador surgem as diferenciações individuais e grupais.


Cada indivíduo é único, diferente de todos os demais, mesmo nos grupos afins. O tipo psicológico de cada ser humano é único e irredutível à massa. O mistério do ser, que aturde os educadores, chama-se personalidade. Cada ser humano é uma pessoa. E o é desde o nascimento, pois já nasce formada com sua complicada estrutura que vai apenas desenvolver-se no crescimento e na relação social. É difícil para o educador dominar todas essas variações e orientá-las.



Educar, como se vê, é decifrar o enigma do ser em geral e de cada ser em particular, de cada educando. René Hubert, pedagogo francês contemporâneo, define a Educação como um ato de amor, pelo qual uma consciência formada procura elevar ao seu nível uma consciência em formação.



A Educação se apresenta, assim, como Ciência, Filosofia, Arte e Religião. É Ciência quando investiga as leis da complexa estrutura humana. E Filosofia quando, de posse dessas leis, procura interpretar o homem. E Arte quando o educador se debruça sobre o educando para tentar orientá-lo no desenvolvimento de seus poderes internos vitais e espirituais. E Religião porque busca a salvação do ser humano no torvelinho de todas as ameaças, tentações e perigos do mundo. O verdadeiro educador é o que
pratica a Religião verdadeira do amor ao próximo, naquilo que podemos chamar o Culto do Ser no templo do seu próprio ser.



Não se trata de uma imagem mística da Educação, mas de uma tentativa de vê-la, compreendê-la e aplicá-la em todas as suas dimensões. O ato de educar é essencialmente religioso. Não é apenas um ato de amor individual, do mestre para o discípulo, mas também um ato de integração e salvação. A Educação não procura
integrar o ser em desenvolvimento numa dada situação social ou cultural, mas na condição humana, salvando-o dos condicionamen-tos animais da espécie, elevando-o ao plano superior do espírito.



É fácil compreendermos como está longe de tudo isso o profissionalismo educacional do nosso tempo. Tinham razão os filósofos gregos quando condenaram o profissionalismo dos sofistas. Não se tratava apenas de uma diferenciação de classes sociais, mas da luta contra o abastardamento da Educação pelos que negavam a existência da verdade a troco de interesses imediatistas.



Como ajustar os fins superiores da Educação às exigências de uma civilização baseada no lucro? A falta de uma solução para esse ajustamento é a origem da crise universal da Educação em nosso tempo. Não obstante, a solução poderia ser encontrada na aplicação de processos vocacionais. Nenhum tipo de educação coletiva pode
ser eficiente se não estiver em condições de observar e orientar as tendências vocacionais.



O desenvolvimento da Era Cósmica, apenas iniciada com ,as conquistas atuais da Astronáutica, traz novos e graves problemas ao campo educacional. Toda a Terra está sendo afetada pela nova concepção do homem e da sua posição no Cosmos. O aceleramento do processo tecnológico está levando o homem a conhecer melhor a sua própria condição humana. O ceticismo dos últimos tempos vai cedendo lugar a um despertar de novas e grandiosas esperanças.


A Educação da Era Cósmica começa a nascer e os educadores começam a perceber que precisa renovar os processos educacionais.



Educar e amar

O mundo das crianças é diferente do mundo dos adultos.

É um mundo de sonhos e de aspirações nobres. Um mundo amoroso, cheio de ternura e ansiando por compreensão. Kardec escreveu que as crianças são espíritos que se apresentam no mundo com as vestes da inocência. Espíritos maduros que se fazem pequeninos e tenros para poderem entrar no Reino do Céu. Voltam à fonte da vida, renovam-se nas águas lustrais da esperança, recomeçam a existência com grandes planos de trabalho delineados no íntimo. São frágeis e parecem puros porque precisam atrair o amor da gente grande. Carecem de amor e imploram carinho.



As pesquisas pedagógicas entre as tribos selvagens revelam que as crianças tribais, ao contrário do que supunham alguns teóricos, não são tratadas com brutalidade mas com reserva e carinho. Para o selvagem a criança é como um estrangeiro que chega à tribo, mas um estrangeiro que pode ser amigo. Antes de integrá-la na vida social eles a mantêm em observação, procurando atraí-la com amor.


Depois dos rituais de integração, os adolescentes çontinuam a ser encarados com ternura e tratados com carinho.



A finalidade dessas pesquisas é favorecer a descoberta da verdadeira natureza da educação. Nos povos civilizados a educação aparece muito complexa, revestida de numerosos artificios técnicos e teóricos, perturbada por sofismas e sujeita a interesses múltiplos. Nos povos selvagens ela pode ser observada na fonte, está ainda pura e nua como a verdade. E o que as pesquisas revelam é que a educação, na sua verdadeira essência, é um ato de amor pelo qual as consciências maduras agem sobre as imaturas para elevá-las ao seu nível.



Educar é amar, porque a mecânica da educação é a ajuda, o amparo, o estímulo. A vara, o ponteiro, a palmatória, as descomposturas e os gritos pertencem à domesticação e não à educação. A violência contra a criança é um estímulo negativo que desperta as suas reações inferiores, acorda a fera do passado na criaturinha vestida de inocência que Deus nos enviou. Só o amor educa, só a ternura faz as almas crescerem no bem.


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Lembrete aos educadores de todo mundo. Educar é amar.


Sem o coração não há uma verdadeira Educação.
Preparar uma aula. Dar uma aula não é educar.


O Pedagogo transcende todo tarefismo. Homens como Professor Paulo Freire, Professor Altivo Ferreira e Professor José Herculano Pires são elementos modelares nas atividades a que se propunham.


Minha pequena homenagem a esses verdadeiros professores e pedagogos com os quais tive a alegria de partilhar momentos e assistir palestras.



Paulo Cesar Fernandes

11 11 2013