sábado, 9 de abril de 2016

20160409 Destruição dos seres vivos

REVISTA ESPIRITA


JORNAL DE ESTUDOS PSICOLÓGICOS


8o ANO NO. 4 ABRIL 1865




DESTRUIÇÃO DOS SERES VIVOS UNS PELOS OUTROS.









A destruição recíproca dos seres vivos é uma das leis da Natureza que, à primeira vista, parece o menos se conciliar com a bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes fez uma necessidade de se entre-destruírem para se nutrirem às expensas uns dos outros.


Para aquele que não vê senão a matéria, que limita sua visão à vida presente, isto parece, com efeito, uma imperfeição na obra divina; de onde esta conclusão que disso tiram os incrédulos, de que Deus não sendo perfeito, não há Deus. É que julgam a perfeição de Deus do seu ponto de vista; seu próprio julgamento é a medida de sua
sabedoria, e pensam que Deus não poderia fazer melhor do que eles mesmos o fariam.


Sua curta visão não lhes permitindo julgar o conjunto, não compreendem que um bem real pode sair de um mal aparente. Somente o conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua essência verdadeira, e da grande lei de unidade que constitui a
harmonia da criação, podem dar ao homem a chave desse mistério, e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a harmonia precisamente aí onde não via senão uma anomalia e uma contradição. Ocorre com esta verdade, como em uma multidão de outras; o homem
não estará apto a sondar certas profundezas senão quando seu Espírito tiver chegado a um grau suficiente de maturidade.


A verdadeira vida, tanto do animal quanto a do homem, não está mais no envoltório corpóreo que dela não é senão o vestuário; ela está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. 


Este princípio tem necessidade do corpo para se desenvolver pelo
trabalho que deve realizar sobre a matéria bruta; o corpo se desgasta nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta, ao contrário: sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais capaz. Que importa, pois, que o Espírito mude mais ou menos vezes de envoltório; com isso não é menos Espírito; é absolutamente como se um homem renovasse cem vezes seu vestuário no ano, com isso não seria menos o mesmo homem. Pelo espetáculo incessante da destruição, Deus ensina aos homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material, e suscita entre eles a idéia da vida espiritual em lhes fazendo desejá-la como uma compensação.


Deus, dir-se-á, poderia chegar ao mesmo resultado por outros meios, e sem constranger os seres vivos a se entre-destruírem? Bem audacioso aquele que pretendesse penetrar os desígnios de Deus! 


Se tudo é sabedoria em sua obra, devemos supor que essa sabedoria não deva mais fazer falta sobre esse ponto do que sobre os outros; se não o compreendemos, é preciso atribuí-lo ao nosso pouco adiantamento. No entanto, podemos tentar procurar-lhe a razão, tomando por bússola este princípio: Deus deve ser infinitamente justo e sábio] procuremos, pois, em tudo sua justiça e sua
sabedoria.


Uma primeira utilidade que se apresenta dessa destruição, utilidade puramente física, é verdade, é esta: os corpos orgânicos não se mantêm senão com ajuda das matérias orgânicas, só essas matérias contendo os elementos nutritivos necessários à sua transformação. 


Os corpos, instrumentos de ação do princípio inteligente, tendo
necessidade de serem incessantemente renovados, a Providência os faz servir à sua manutenção mútua; é por isso que os seres se nutrem uns dos outros; quer dizer que o corpo se nutre do corpo, mas o Espírito não é nem destruído, nem alterado; ele não é
senão despojado de seu envoltório.


Além disso há considerações morais de uma ordem mais elevada.


A luta é necessária ao desenvolvimento do Espírito; é na luta que ele exerce suas faculdades. Aquele que ataca para ter seu alimento, e aquele que se defende para conservar sua vida, se rivalizam em astúcia e em inteligência, e aumentam, por isso mesmo, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe; mas o que é que o mais forte ou
o mais hábil tirou ao mais fraco em realidade? Sua veste de carne, não outra coisa; o Espírito, que não está morto, retomará um outro corpo mais tarde.


Nos seres inferiores da criação, naqueles em que o senso moral não existe, em que a inteligência não está ainda senão no estado de instinto, a luta não poderia ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material; ora, uma das necessidades materiais mais imperiosas é a da nutrição; eles lutam, pois, unicamente para viver, quer dizer, para tomar ou defender uma presa, porque não poderiam estar estimulados por um móvel mais elevado. É neste primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida. Quando ela alcança o grau de maturidade necessária para sua transformação, recebe de Deus novas faculdades: o livre arbítrio e o senso moral, centelha divina em uma palavra, que dão um novo curso às suas idéias, dotam-na de novas aptidões e de novas percepções.


Mas as novas faculdades morais das quais está dotada não se desenvolvem senão gradualmente, porque nada é brusco na Natureza; há um período de transição em que o homem se distingue com dificuldade do animal; nessas primeiras idades, o instinto animal domina, e a luta tem ainda por móvel a satisfação das necessidades materiais; mais tarde, o instinto animal e o sentimento moral se contrabalançam; o homem então luta, não mais para se nutrir, mas para satisfazer sua ambição, seu orgulho, a necessidade de dominar: por isto, lhe é necessário ainda destruir. Mas, à medida que o senso moral domina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui; acaba mesmo por se apagar e por se tornar odiosa: o homem tem horror ao sangue. No entanto,
a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, porque mesmo chegado a este ponto, que nos parece culminante, está longe de ser perfeito; não é senão ao preço de sua atividade que ele adquire conhecimentos, experiência, e que se despoja dos
últimos vestígios da animalidade; mas então a luta, de sangrenta e brutal que era, se torna puramente intelectual; o homem luta contra as dificuldades e não mais contra os seus semelhantes.

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Visão espírita da necessidade de destruição dos seres vivos.

Pode até ser assim, mas que eu sofro muito ao ver as imbecilidades das guerras é uma verdade sem contradita.

É horrível, é insano um homem matar um outro homem.

Pense nisso com mais profundidade. Se pense com uma arma na mão na sua janela, ou na sua sacada. Ou mesmo com uma arma no porta-luvas do seu carro.

Não lhe arrepia a ideia?

Acho que alguns passos já demos.


Paulo Cesar Fernandes.

09/04/2016.