segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

20151228 Futuro

Futuro


Vivemos uma fase de transição. E toda transição traz incertezas e certezas ortodoxas.


Na prateleira das concepções religiosas são milhares as possibilidades. Mas o tempo passa, e muitas delas morrerão pela 
insustentabilidade; outras por ferir demais a razão com seus dogmas; outras pelas lutas internas; algumas outras por estreitos vínculos com a política temporal e passageira.


O homem médio vai/vem ganhando consciência de si. Fortalecendo a sua individualidade.





Ao olhar a prateleira de ofertas. Temporais e mercantis, acaba se afastando, escolhendo a sua forma de se relacionar com a vida. Já não necessita de mestres; gurus; e não mais se sente ovelha de nenhum rebanho. 


Acha todo o ofertado velho demais. Não condizente com o tempo, com o seu tempo principalmente. Olha tudo com muito respeito e 
muito carinho, mas nada disso quer para si. As divisões representam o passado.


Sente dentro de si algo diferente nascer, um atar-se a toda a humanidade.  E para isso necessita apenas das fibras do seu 
coração, da sua sensibilidade. Já vê os outros homens e as outras espécies de maneira diversa. Percebe haver um vínculo 
entre todas as coisas, e esse vínculo tem o progresso como desaguadouro. Progresso material e progresso da espiritualidade dentro de si; e mais, passa a acreditar no progresso da espiritualidade nos seus semelhantes da mesma forma. 


Percebe todos em processo de algo novo.


Esse homem comum não terá mais medo. Pois o homem não mais será o lobo do homem, como propôs o pensador Thomas Hobbes. A certeza do outro como seu semelhante, em igual nível de horizontalidade permitirá confiar no outro.


Evidentemente isso será uma construção. Lenta, inventiva e progressiva, pois tudo ofertado no presente tempo tem lacunas, não capazes de satisfazer a necessidade intelectual, social e estética do homem de logo mais. Este estará farto da tecnologia e terá buscas interiores mais profundas. 


Haverá muitos homens assim? - você me pergunta.


Apenas os que restarem. A competitividade da nossa sociedade, dizimará pela doença, grande contingente da população. Outro tanto ficará pelo caminho devido a hábitos desregrados. Além dos que deixarão a Terra como já ocorre hoje, pela escassez de recursos.


A Terra não é fonte inesgotável de recursos. Sendo finitos os recursos grandes contingentes já vem sendo dizimados pelo 
processo de Seleção Natural, possível de ser chamado de Darwinismo Social.


Enquanto o homem não se sentir um animal da Terra, convivendo com outros animais da Terra, cuja necessidade de sobreviver é igual à sua, nada de esperança podemos ter.


O homem comum, renovado, terá para com tudo uma outra postura. Será essencialmente solidário. Inclusive haverá um crescimento na solidariedade entre espécíes. Temos hoje já algumas espécies propensas a isso. Afinal o planeta Terra precisa progredir. E se o homem não atrapalhar as coisas se darão pela "força natural das coisas" como gosta de dizer Allan Kardec.




De minha parte aposto num futuro sem religiões, mas pleno de espiritualidade e consciência. Onde "Liberdade, Fraternidade e Solidariedade" não sejam apenas palavras de um momento histórico. Muito mais, serão elementos integrados no dia a dia desse a quem ousei chamar de Homem Médio. Um comum dos mortais como eu e como você, minha amiga e meu amigo.


Melhor dizendo: minha irmã e meu irmão.


Assim vejo o mundo futuro nesta segunda-feira. Faço empenho para seguir nessa direção. 


E espero não estar num atalho, capaz de me levar ao NADA.


Adiante vamos todos, cada qual no seu ritmo. Efetivando suas escolhas.


Paulo Cesar Fernandes.


28/12/2015

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

20151218 Fluxo mental

Fluxo mental


E de repente. Num momento qualquer.Um texto ao qual discordo me vem à mente.


E como discordo eu passo.


Mas o texto insiste. A ideia mote se repete, se repete. O dia passa e lá está ela ainda.


Me dou por vencido. Inicio o registro. Escritas as primeiras palavras tudo se torna uma torrente imensa, a tal ponto rápida de 
não passar pelo consciente. Nada sei do escrito. E escrevo, escrevo, com mãos lerdas para o fluxo do pensamento. Escrevo mais e mais até o ponto final.


Sensação de alívio e bem estar.


Num outro momento, ao ler o texto, vejo nada representar do meu pensar, das ideias todas defendidas por mim. Mas preciso ser honesto, alguém é dono desse texto.


Para estabelecer clara separação dos textos verdadeiramente meus; a esses outros dou a chancela de PORTAL FERNANDES.


Assim chamo meu LAR. O local onde não apenas eu habito; mas todas as Forças da Natureza voltadas ao Bem; cultivadoras da Benevolência; cuja meta principal é o progresso e a evolução.


Sei nada dessas companhias. Peço sempre sejam vinculadas ao Conhecimento; à Luta pela Justiça; e à Solidariedade entre homens e povos.


De 2011 para cá meus mais nobres aliados. Feliz só posso estar em tais companhias.


Paulo Cesar Fernandes.

21/12/2015

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

20151215 Dezembro

Dezembro


Não. Não me alegra este mês.


Após a chegada da consciência do mundo, o fim de ano se apresenta como momento de dor.


Não por mim, é certo; mas eu não foco meu umbigo tão somente. A visão do Bem Maior é a minha orientação. Bem Maior sendo o Bem espraiado por toda a Humanidade.


Ao fim do ano todo mundo se faz solidário. Falsa solidariedade.


Fazem pratos sortidos aos moradores de rua do bairro. Melhor que nada, bem o sei. Mas, ao longo do ano nem um olhar, nem um sorriso, ou um "Bom Dia" sequer.


"Tudo falso"; "Tudo mentira" como costuma dizer Rio Reiser.


Mas quando chegarmos ao ponto da Virtude, o Bem brotará natural dos nossos corações, como as abelhas (hoje raras) correm atrás das flores em seu natural afã.


Assim, nossa luta é mais ampla: fazer corações ternos e almas sensíveis à dor, onde quer ela se encontre, em todos os momentos de cada dia.


Aplaudir a Virtude, pois afinal esta é perene; e mais das vezes silenciosa e sincera. 


"Não saiba tua mão direita o que faz a esquerda." Ou vice versa, como queira.


Ao que faz a caridade visando promoção pessoal, a este já está dada sua paga.


Jesus de Nazaré nos espera com questões diferentes a cada encontro:


_ Que fizestes do teu dia? - pergunta ele através da nossa consciência.


E todos sabemos: "A cada um será dado segundo suas obras."


Tendo por juiz apenas nossa consciência.


Cada dia um pouco, um pouco cada dia. Assim Caminhamos!


Paulo Cesar Fernandes

15/12/2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

20151208 Frenologia e fisionomia para Hegel

Frenologia e fisionomia para Hegel


Tidas por ciência nos distantes anos de 1807 a frenologia e a fisionomia das pessoas, por essa crença, podiam definir o caráter do espírito da pessoa. Alguns podem não saber, mas a frenologia era a ciência de estudo do crânio da pessoa. Segundo os seguidores dessa crença, a estrutura craniana definia as disposições criminosas ou beneméritas das pessoas. Em outras palavras o espírito estava refletido na estrutura craniana e na fisionomia do ser humano. 


Não é sem motivo o preconceito profundo para com todas as etnias não europeias. Tudo que não fosse Europa, estava assim sob suspeição.


No livro abaixo, Hegel tem um item reservado a essas duas "ciências" na qual ele vai, pouco a pouco, em cada trecho, desconstruindo a possibilidade de alguma delas ser tomada com seriedade.


Não é de fácil leitura. Efetivamente não é um "Pato Donald" ou um "Tio Patinhas", requisita dos que a esta se dediquem um parar e reler trechos; tendo, mesmo assim, dúvidas a respeito do seu entendimento.


Nesse sentido, para não cansar o leitor. e ser verdadeiramente incisivo trouxe apenas o último trecho do item na qual a frenologia e a fisionomia são tratadas.


Advirto ser esta, a minha leitura enquanto espírita, do pensamento desse gênio do "idealismo alemão".


Apresento parte do sumário negritando o item em pauta, o trecho ao qual me refiro com meus grifos; para em seguida, trazer numa frase, o significado sucinto do trecho. Uma frase curta e grossa, como se costuma dizer.

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Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Fenomenologia do Espírito





SUMÁRIO

Nota do Tradutor, 7

Apresentação - A significação da Fenomenologia do Espírito - por Henrique Vaz, 9

Prefácio, 21

Introdução, 63

I. A Certeza sensível - ou o Isto e o Visar, 74

II. A Percepção - ou a coisa e a ilusão, 83

III. Força e Entendimento; Fenômeno e mundo supra-sensível, 95

IV. A verdade da certeza de si mesmo, 119

   A - Independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão, 126
   B - Liberdade da consciência-de-si: Estoicismo - Cepticismo - Consciência infeliz, 134

V. Certeza e Verdade da Razão, 152

   A - Razão observadora, 158

     a - Observação da natureza, 160
     b - A observação da consciência-de-si em sua pureza e em referência à efetividade exterior: leis lógicas e leis psicológicas, 191
     c - Observação da consciência-de-si em sua efetividade imediata: fisiognomia e frenologia, 197

   B - A efetivação da consciência-de-si racional através de si mesma [a razão ativa], 221

     a - O prazer e a necessidade, 227
     b - A lei do coração e o delírio da presunção, 231
     c - A virtude e o curso do mundo, 237





c - Observação da consciência-de-si em sua efetividade imediata: fisiognomia e frenologia, 197



346- [Gehirnfibern und dergleichen] Fibras cerebrais e coisas semelhantes, consideradas como o ser do espírito, já são uma efetividade pensada, apenas hipotética; mas não a efetividade aí-essente, sentida e vista: não são a efetividade verdadeira. 


Quando as fibras aí estão, quando se vêem, são objetos mortos, e assim não valem mais como o ser do espírito. Mas a objetividade propriamente dita deve ser uma objetividade imediata, sensível, de modo que o espírito seja posto como efetivo nessa objetividade morta; pois o osso é o morto, enquanto está no próprio vivente.


O conceito dessa representação é que a razão mesma é para si toda a coisidade, inclusive a coisidade puramente objetiva. 


Mas a razão é isso no conceito, ou seja, somente o conceito é sua verdade. Quanto mais puro é o próprio conceito, mais se degrada em sua vã representação, se o seu conteúdo não for tomado como conceito mas como representação. 


Quando o juízo que a si mesmo suprassume não é tomado com a consciência dessa infinidade que é a sua - mas como uma proposição permanente, e como um juízo em que sujeito e predicado valem cada um para si - então o Si é fixado como Si, e a coisa como coisa. Na verdade, um deve ser o outro.


A razão - essencialmente conceito - é cindida imediatamente em si mesma e em seu contrário; uma oposição que, justamente por isso, também é imediatamente suprassumida. Mas ao oferecer-se desse modo como sendo ela mesma e o seu contrário, é mantida firmemente nesse momento totalmente singular desse desintegrar-se, e apreendida irracionalmente. Quanto mais puros os seus momentos, tanto mais chocante é a manifestação desse conteúdo, o qual ou é somente para a consciência ou então é anunciado ingenuamente por ela.


A profundeza que o espírito tira do interior para fora, mas que só leva até sua consciência representativa e ali a larga, como também a ignorância de tal consciência sobre o que diz são a mesma conexão do sublime e do ínfimo, que no organismo vivo a natureza exprime ingenuamente, na combinação do órgão de sua maior perfeição - o da geração - com o aparelho urinário


O juízo infinito, como infinito, seria a perfeição da vida compreendendo-se a si mesma.


Mas a consciência da vida comporta-se como o urinar, ao permanecer na representação.


===


O corpo sendo apenas e tão somente uma representação; e, por outro lado o espirito estando pleno em sua infinitude.


Por JUIZO INFINITO entenda-se espírito, e CONSCIÊNCIA DA VIDA o corpo.


Reitero ser esta a minha interpretação de Hegel. 


A interpretação de um espírita, com a certeza de ser Hegel um dos predecessores de Allan Kardec na exposição das ideias espíritas.


Uma exposição não simples, mas cujo bojo antecipa o espiritismo como tantos outros o anteciparam na história da humanidade.


O pedagogo Kardec apresentou tudo isso numa linguagem mais acessível; diria eu, ser uma linguagem jornalística, capaz de abarcar larga gama da população.


Leia, releia, reflita e tire as próprias conclusões.


Não ha VERDADE! Dessa forma não veja a minha leitura como a única capaz de ser feita. Mesmo os catedráticos hegelianos divergem em sua interpretação.


Paulo Cesar Fernandes

08/12/2015

20151208 Jung e suas palavras finais


OBRAS COMPLETAS DE C. G. JUNG VIl/1

Psicologia do Inconsciente



Um livro de especial interesse para os profissionais em 
Psi­cologia e para os leigos que apreciam estudos dessa natureza. 

No decorrer dos anos foram feitas diversas novas edições, submetidas a um contínuo processo de aperfeiçoamento e desenvolvimento, pelo próprio autor. 

Sua intenção é simplesmente dar alguma orientação sobre as mais recentes interpretações da essência da psicologia do inconsciente. 

Por considerar o problema do inconsciente de extrema importância e utilidade e por saber que diz respeito intimamente a todos e a cada um de nós, julgou oportuno colocá-lo ao alcance do público leigo e culto. 

Este estudo surgiu durante a guerra mundial e deve sua existência principalmente à repercussão psicológica dessa grande conflagração. 

A guerra terminou, mas os grandes problemas psíquicos levantados por ela continuam preocupando a sensibilidade dos que pensam e pesquisam. 

O autoconhecimento de cada indivíduo, a volta do ser hu­mano às suas origens, ao seu próprio ser e à sua verdade individual e social, eis o começo da cura da cegueira que domina o mundo de hoje. 

O interesse pelo problema da al­ma humana é um sintoma, segundo o autor do livro, dessa volta instintiva a si mesmo.


As informações contidas neste livro não pretendem abranger a totalidade da psicologia analítica. 

Muitos pontos são ape­nas esboçados e outros nem são mencionados. 

O autor re­comenda o estudo das principais obras sobre psicologia mé­dica e psicopatologia, além de uma revisão cuidadosa dos compêndios de psicologia existentes.




Palavras finais


Para finalizar, quero desculpar-me junto ao leitor, por ter ousado dizer, em tão poucas páginas, tantas coisas novas e de compreensão difícil. 

Estou pronto a receber sua crítica, porque considero que todo aquele que, afastando-se do caminho comum, se dispuser a abrir trilhas próprias, tem o dever de comunicar à sociedade tudo quanto encontrou em suas viagens de exploração: se foi água fresca para o alívio dos sedentos, ou apenas os desertos de areia do equívoco estéril. 

O primeiro serve para ajudar, o segundo, para prevenir. 

Mas não é a crítica particular de cada um dos contemporâneos, mas os tempos vindouros, que vão decidir se é verdade, ou não, tudo isso que acaba de ser descoberto. Existem coisas que ainda não são verdade, ou que hoje ainda não podem ser aceitas como verdade, mas amanhã talvez possam sê-lo. 

Quem for assim conduzido pelo destino, terá que trilhar esses caminhos próprios, apenas apoiado pela esperança e pelo olhar atento daquele que está consciente do seu isolamento e dos abismos que o ameaçam. 

O que singulariza o caminho aqui descrito é em grande parte a certeza de não podermos continuar recorrendo unicamente ao ponto de vista científico-intelectual, mas de que o nosso compromisso também compreende todo o lado do sentimento, isto é, a totalidade das realidades contidas na alma — já que lidamos com uma psicologia fundada na vida real e que age sobre a vida real. 

Nesta psicologia prática, não se trata da alma humana universal, mas de homens e mulheres individualizados, cada qual com uma variedade de problemas que os afligem diretamente. 

Uma psicologia que satisfaz unicamente ao intelecto, jamais é praticável; pois o intelecto por si só nunca será capaz de abranger a totalidade da alma. 

Quer queiramos, quer não, mais cedo ou mais tarde o fator cosmovisão terá que ser levado em conta, porque a alma está em busca da expressão de sua totalidade.


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Se a alma está em busca da expressão da sua totalidade, estudar Jung; Erich Fromm; Michel Onfray; Zygmunt Bauman ou quem quer se apresente só poderá nos trazer uma contribuição decisiva na caminhada dessa totalidade a qual todos aspiramos.

Se alguém não a aspira eu lamento, mas tenho por obrigação dar conta da tarefa a mim assinalada pelo advento da Vida: duvidar de tudo, aprendendo cada vez mais uma coisa; ocupar o tempo partilhando conhecimentos, sempre e onde me seja permitido; olhar meus semelhantes como iguais e lutar pela crescente JUSTIÇA em todas as instâncias de nosso desorientado planeta.

O espiritismo tem contribuições, mas os espíritas se engalfinham no materialismo, pondo a perder valiosas oportunidades.

Mas tudo virá a seu tempo como sempre disse Allan Kardec através de sua Revista Espírita. Não tão cedo como previa o professor, mas os conceitos espíritas reorientarão o mundo; ou pelo menos boa parte dele, aqueles cuja aposta maior seja a espiritualidade. Postando os espíritos mais focados nos elemento da abstração que na diária materialidade.

Espírito sempre vencerá a matéria, pois esta é apenas meio de sua manifestação, desde as mais remotas eras.

Paulo Cesar Fernandes

08/12/2015

terça-feira, 17 de novembro de 2015

20151117 Deuses arquetípicos e o homem

Deuses arquetípicos e o homem

Carl Gustav Jung

em

Psicologia do Inconsciente




Neste trecho Jung nos fala de imagens de nossa ancestralidade mais remota no tempo e no espaço (Inconsciente Coletivo).
Nos fala de Deus tal como o conhecemos e como o vemos; mas fala ainda dos deuses arquetípicos e de sua universalidade em todas as regiões do globo.
As mesmas imagens se apresentam, com variações regionais, mas na sua essência e a mesma imagem e possuidora das mesmas funções.

Vamos ao Mestre:


Após este comentário sobre a formação de novas idéias a partir do tesouro das imagens primordiais, voltemos ao processo da transferência.


Vimos que a libido captou seu novo objeto justamente nas fantasias extravagantes e aparentemente sem nexo, a saber: os conteúdos do inconsciente coletivo. 


Como já dizia, a projeção das imagens primordiais no médico é um perigo que não pode ser subestimado no prosseguimento do tratamento. Essas imagens contêm não só o que há de mais belo e grandioso no pensamento e sentimento humanos, mas também as piores infâmias e os atos mais diabólicos que a humanidade foi capaz de cometer. Graças à sua energia específica (pois comportam-se como centros autônomos carregados de energia), exercem um efeito fascinante e comovente sobre o consciente e, conseqüentemente, podem provocar grandes alterações no sujeito. 


Isso é constatado nas conversões religiosas, em influências por sugestão e, muito especialmente, na eclosão de certas formas de esquizofrenia. Se o paciente não conseguir distinguir a personalidade do médico dessas projeções, perdem-se todas as possibilidades de entendimento e a relação humana torna-se impossível. 


Se o paciente evitar este perigo mas cair na introjeção dessas imagens, isto é, se atribuir essas qualidades não mais ao médico mas a si mesmo, corre um perigo tão grave quanto o anterior. 


Na projeção ele oscila entre um endeusamento doentio e exagerado e um desprezo carregado de ódio em relação ao médico. 


Na introjeção passa de um autoendeusamento ridículo para uma autodilaceração moral. 


O erro cometido em ambos os casos consiste em atribuir os conteúdos do inconsciente coletivo a uma determinada pessoa. Assim, ele próprio, ou a outra pessoa, se transforma em deus ou no diabo. Esta é a manifestação característica do arquétipos uma espécie de força primordial se apodera da psique e a impele a transpor os limites do humano, dando origem aos excessos, à presunção (inflação!), à compulsão, à ilusão ou à comoção, tanto no bem como no mal.


Aí está a razão por que os homens sempre precisaram dos demônios e nunca puderam prescindir dos deuses. Todos os homens, exceto alguns espécimes recentes do "homo occidentalis", particularmente dotados de inteligência, super-homens cujo "Deus está morto" - razão por que eles mesmos se transformam em deuses, isto é deuses enlatados, com crânios de paredes espessas e coração frio. O conceito de Deus é simplesmente uma função psicológica necessária, de natureza irracional, que absolutamente nada tem de ver com a questão da existência de Deus. 


O intelecto humano jamais encontrará uma resposta para esta questão. Muito menos pode haver qualquer prova da existência de Deus, o que, aliás, é supérfluo. 


A idéia de um ser todo-poderoso, divino, existe em toda parte. Quando não é consciente, é inconsciente, porque seu fundamento é arquetípico. Há alguma coisa em nossa alma que tem um poder superior — não sendo um deus conscientemente, então é pelo menos "o estômago", no dizer de Paulo. 


Por isso, acho mais sábio reconhecer conscientemente a idéia de Deus; caso contrário, outra coisa fica em seu lugar, em geral uma coisa sem importância ou uma asneira qualquer — invenções de consciências "esclarecidas". 


Nosso intelecto sabe perfeitamente que não tem capacidade para pensar Deus e muito menos para imaginar que ele existe realmente e como ele é. A questão da existência de Deus não tem resposta possível. Mas o "consensus gentium" (o consenso dos povos) fala dos deuses há milênios e dentro de milênios ainda deles falará. 


O homem tem o direito de achar sua razão bela e perfeita, mas nunca, em hipótese alguma, ela deixará de ser apenas uma das funções espirituais possíveis, e só cobrirá o lado dos fenômenos do mundo que lhe diz respeito. A razão, porém, é rodeada de todos os lados pelo irracional, por aquilo que não concorda com ela. Essa irracionalidade também é uma função psíquica, o inconsciente coletivo, enquanto a razão é essencialmente ligada ao consciente. A consciência precisa da razão para descobrir uma ordem no caos do universo dos casos individuais para depois também criá-la, pelo menos na circunscrição humana. Fazemos o esforço louvável e útil de extirpar na medida do possível o caos da irracionalidade dentro e fora de nós.


Ao que tudo indica, já estamos bastante avançados neste processo. Um doente mental me disse outro dia: 

"Dr., hoje à noite desinfetei o céu inteiro com cloreto mercúrico, mas não descobri deus nenhum". 


Foi mais ou menos isto que nos aconteceu.


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Admito todas as crenças, todas as religiões e todas as formas culturais de manifestação da religiosidade do indivíduo.

Pois diversos são os caminhos para chegar ao patamar da sabedoria: ponto onde se une um conhecimento amplo das ciências da Natureza; um profundo conhecimento das dimensões todas do espírito; e finalmente um denso e consolidado senso ético. A Eticidade proposta por Hegel.

Esse é um ponto a que todos devemos almejar; mas nunca ter a ilusão de haver um ponto final, pois a evolução é um processo sem fim. Novos elementos sempre surgirão para desafiar as potencialidades já ampliadas do espírito.

Se alguém tem a ilusão de um ponto final esqueça; cada vez mais o pensamento se faz mais complexo e nesse complexidade sempre se ampliando a necessidade do trabalho também se amplia. Passamos a poder colaborar no processo de criação. Um processo cujas dimensões somos incapazes de conceber dados os limitantes do nosso estágio evolutivo.

Mas para nosso momento existencial basta um degrau a cada dia. Um pequeno passo que seja já nos ajuda.

E se esse passo for na direção da compreensão e afetividade para nossos semelhantes melhor ainda será.

Afinal a Vida é feita para aprendermos a amar.


Paulo Cesar Fernandes

17/11/2015  

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

20151116 A Energia segundo Jung

20151116 A Energia segundo Jung




A questão agora é a seguinte: de onde surgiu a ideia nova, essa ideia que se impôs à consciência com tão elementar violência? 

De onde tirou a sua força, essa força que se apoderou da consciência de modo a torná-la insensível às inúmeras atrações de uma primeira viagem aos trópicos? 

A resposta não é fácil. Mas, se a nossa teoria for aplicada ao presente caso, a explicação deve ser a seguinte: a ideia da energia e de sua conservação deve ser uma imagem primordial, adormecida no inconsciente coletivo.


Semelhante conclusão nos obriga evidentemente a provar que tais imagens primordiais existiram efetivamente na história do espírito humano e que foram ativas durante milhares e milhares de anos. Esta prova pode ser realmente fornecida sem maiores dificuldades. 


As religiões mais primitivas, nas regiões mais variadas do mundo, são fundadas nessa imagem. São as chamadas religiões 
dinamísticas. Seu pensamento único e decisivo é que há uma força universal mágica e que tudo gira em torno dessa força. Tanto Taylor, o conhecido cientista inglês, como Frazer interpretaram essa ideia como animismo, erroneamente. 


Na realidade, os povos primitivos não se referem a almas ou espíritos nesse seu conceito de energia, mas a algo que o cientista americano Lovejoy qualificou acertadamente como "primitive energetics". 


A este conceito corresponde a ideia de alma, espírito, deus, saúde, força corporal, fertilidade, poder mágico, influência, poder, respeito, remédio, bem como certos estados de ânimo caracterizados pela liberação de afetos. 

"Mulungu" (precisamente este conceito primitivo de energia) significa, para certos polinésios, espírito, alma, ser demoníaco, poder mágico, respeito; e quando acontece algo assombroso as pessoas exclamam "mulungu". 


Este conceito de energia também é a primeira versão do conceito de deus entre os primitivos. A imagem desenvolveu-se em variações sempre novas no decurso da história. No Antigo Testamento a força mágica resplandece na sarça que arde em chamas diante de Moisés. No Evangelho manifesta-se pela descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo vindas do céu. 


Em Heráclito aparece como energia universal, como "o fogo eternamente vivo". 

Entre os persas é a viva luz do fogo do "haoma", da graça divina; para os estoicos é o calor primordial, a força do destino. 

Na legenda medieval aparece como a aura, a auréola dos santos, desprendendo-se em forma de chamas do telhado da cabana onde o santo jaz em êxtase. 

Nas faces dos santos essa força é vista como sol e plenitude da luz. 

Segundo uma interpretação antiga, a própria alma é essa energia; a ideia de sua imortalidade é a de sua conservação; e na acepção budista e primitiva da metempsicose (transmigração da alma) reside a sua capacidade ilimitada de transformação e perene conservação.


Há milênios o cérebro humano está impregnado dessa idéia, por isso, jaz no inconsciente de todos, à disposição de qualquer um. Apenas requer certas condições para vir à tona. Pelo visto, essas condições foram preenchidas no caso de Robert Mayer. Os maiores e melhores pensamentos da humanidade são moldados sobre imagens primordiais, como sobre a planta de um projeto.


Muitas vezes já me perguntaram de onde provêm esses arquétipos ou imagens primordiais. Suponho que sejam sedimentos de experiências constantemente revividas pela humanidade. Parece que a explicação não pode ser outra. Uma das experiências mais comuns e ao mesmo tempo mais impressionantes é o trajeto que o sol parece percorrer todos os dias. Enquanto o encararmos como esse processo físico conhecido, o nosso inconsciente nada nos revela a respeito. No entanto, encontramos o mito heróico do sol nas suas mais variadas versões. É este mito e não o processo físico que configura o arquétipo solar. O mesmo podemos dizer das fases da lua. 


O arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir constantemente as mesmas idéias míticas; se não as mesmas, pelo menos parecidas. Parece, portanto, que aquilo que se impregna no inconsciente é exclusivamente a ideia da fantasia subjetiva provocada pelo processo físico. Logo, é possível supor que os arquétipos sejam as impressões gravadas pela repetição e reações subjetivas. 


É óbvio que tal suposição só posterga a solução do problema. Nada nos impede de supor que certos arquétipos já estejam presentes nos animais, pertençam ao sistema da própria vida e, por conseguinte, sejam pura expressão vida, cujo modo de ser dispensa qualquer outra explicação que parece, os arquétipos não são apenas impregnações experiências típicas, incessantemente repetidas, mas também comportam empiricamente como forças ou tendências à 
repetição das mesmas experiências. 


Cada vez que um arquétipo aparece em sonho, na fantasia ou na vida, ele traz consigo uma "influência" específica ou uma força que lhe confere um efeito numinoso e fascinante ou que impele à ação.


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Há milênios o cérebro humano está impregnado dessa ideia, por isso, jaz no inconsciente de todos, à disposição de qualquer um.


Todo o texto de Jung me parece válido para a reflexão dos espíritas. Por lidar com energia, algo de nosso dia a dia. Mas ancestralmente presente nas configurações mentais dos Povos Originários de diversas localidades da Terra.


A universalidade do conceito nos permite afirmar a realidade do fenômeno energético na vida. Enquanto pensamento agregamos energia, o que nos permite a manifestação, Na materialidade ou fora dela.


Trouxe o texto acima, tal qual JUNG o escreveu, pois acho importante descolar do cérebro todas essas imagens, o cérebro é instrumento de nossa manifestação, somos pensamentos dinâmicos e manipuladores e qualificadores das diversas energias ao nosso redor disponíveis.


Finalizando. O contato com o pensamento de homens como Jung apenas pode nos ampliar horizontes. Todos os elementos da Cultura Universal são enriquecedores da nossa apreensão, consolidação e ampliação da propositura dos pensamentos trazidos à luz pelo Senhor Allan Kardec.


Paulo Cesar Fernandes.

16/11/2015.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

20151109 A chama da vida

Um alerta para todos nós.






Carl Gustav Jung

Psicologia do Inconsciente




Estou mais do que convencido de que o caminho da vida só continua onde está o fluxo natural. 

Mas nenhuma energia é produzida onde não houver tensão entre contrários; por isso, é preciso encontrar o oposto da atitude consciente. 

É interessante verificar como essa compensação dos opostos também teve sua função na história da teoria da neurose: a teoria de Freud representa Eros; a de Adler, o poder. 

Pela lógica, o contrário do amor é o ódio; o contrário de Eros, Phobos (o medo). Mas, psicologicamente, é a vontade de poder. 

Onde impera o amor, não existe vontade de poder; e onde o poder tem precedência, aí falta o amor. 

Um é a sombra do outro. 

Quem se encontra do ponto de vista de Eros procura o contrário, que o compensa, na vontade de poder. 

Mas quem põe a tônica no poder, compensa-o com Eros. 

Visto do ponto de vista unilateral da atitude consciente, a sombra é uma parte inferior da personalidade. 

Por isso, é reprimida; e devido a uma intensa resistência. 

Mas o que é reprimido tem que se tornar consciente para que se produza a tensão entre os contrários, sem o que a continuação do movimento é impossível. 

A consciência está em cima, digamos assim, e a sombra embaixo, e como o que está em cima sempre tende para baixo, e o quente para o frio, assim todo consciente procura, talvez sem perceber, o seu oposto inconsciente, sem o qual está condenado à estagnação, à obstrução ou à petrificação. 

É no oposto que se acende a chama da vida.


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Intencionalmente, separei cada frase, para uma análise separada de cada uma, para uma leitura mais calma e mais atenta. Após a leitura pare para uma reflexão.

Só refletindo caminhamos.


Paulo Cesar Fernandes

09/11/2015

sábado, 7 de novembro de 2015

20151107 Olhando o vegetal.

Olhando o vegetal.


"Cuida-te, como cuidamos da mais tenra planta, até que fiques forte como um carvalho ou um cedro."


Todos nós podemos ser frágeis algumas vezes, por alguns momentos. Mas na paulatina busca nos fortalecemos e vencemos batalhas e mais batalhas dentro de nós mesmos.



A cada manhã percebemos algo de novo nascido em nós, uma certa percepção, uma menor irritabilidade, uma complacência maior.


Nada dá saltos na natureza, quer na natureza vegetal, quer na natureza humana. Nossa maturação nos pede tempo de diretriz firme.


O resto nos traz a Vida, sempre boa e fértil em benesses.


Paulo Cesar Fernandes.

07/11/2015

terça-feira, 20 de outubro de 2015

20151020 Jung, Hegel e Herculano

Jung, Hegel e Herculano



292 O desenrolar do processo de individuação começa em geral com uma tomada de consciência da "sombra", isto é, de uma componente da personalidade que, ordinariamente, apresenta sintomas negativos. Nesta personalidade inferior está contido aquilo que não se enquadra ou não se ajusta sempre às leis e regras da vida consciente. Ela é constituída pela "desobediência" e por isso é rejeitada não só por motivos de ordem moral, mas também por razões de conveniência. Uma cuidadosa investigação mostra-nos que aí se acha, entre outras coisas, pelo menos uma função que deve cooperar na orientação psicológica consciente. Ela coopera, não movida por objetivos conscientes, mas por tendências inconscientes, cuja finalidade é de natureza diversa. Refiro-me à quarta função, dita função de valor secundário, que é autônoma em relação à consciência e se acha a serviço de objetivos conscientes. É ela que está à base de todas as dissociações neuróticas e só pode ser integrada na consciência, quando os conteúdos inconscientes correspondentes se tornam simultaneamente conscientes. Mas esta integração só pode realizar-se e tornar-se proveitosa quando se reconhecem, de algum modo, e com o devido senso critico, as tendências ligadas ao processo, tornando-se possível sua realização. Isto leva à desobediência e à rebelião, mas leva também à autonomia, sem a qual a individuação não é possível. Infelizmente a capacidade de querer outra coisa terá de ser real, se é que a Ética tem um sentido. Quem se submete, a priori, à lei ou à expectativa geral, comporta-se como o homem da Parábola, que enterrou o seu talento. O processo de individuação constitui uma tarefa sumamente penosa, em que há sempre um conflito de obrigações, cuja solução supõe que se esteja em condições de entender a vontade contrária como vontade de Deus. Não é com meras palavras, nem com auto-ilusões cômodas que se enfrenta o problema, porque as possibilidades destrutivas existem em demasia. O perigo quase inevitável consiste em ficar mergulhado no conflito e, conseqüentemente, na dissociação neurótica. É aqui que intervém beneficamente o mito terapêutico, com sua ação libertadora, mesmo quando não encontremos qualquer vestígio de sua 
compreensão. É suficiente - como sempre foi - a presença vivamente sentida do arquétipo. Esta só falha quando a possibilidade de uma compreensão consciente parece exequível e não se concretiza. Em tais casos, é simplesmente deletério permanecer inconsciente, embora seja precisamente isto o que acontece hoje em dia, em ampla escala, na civilização cristã. Muito daquilo que a simbólica cristã ensinava está perdido para um imenso número de pessoas, sem que hajam percebido aquilo que perderam. A cultura, p. ex., não consiste no progresso como tal, nem na destruição insensata do passado, mas no desenvolvimento e no refinamento dos bens já adquiridos.


293 A religião é uma terapêutica "revelada por Deus". Suas idéias provêm de um conhecimento pré-consciente, que se expressa, sempre e por toda parte, através dos símbolos. Embora nossa inteligência não as apreenda, elas estão em ação porque nosso inconsciente as reconhece como expressão de fatos psíquicos de caráter universal. Por isso basta a fé, quando existe. Toda ampliação e fortalecimento da consciência racional, entretanto, leva-nos para longe da fonte dos símbolos. É a sua prepotência que impede a compreensão de tais símbolos. Tal é a situação que enfrentamos em nossos dias. Não se pode fazer a roda girar para trás, nem voltar a acreditar obstinadamente naquilo "que sabemos não existir". Mas bem poderíamos prestar atenção ao significado real dos símbolos. Isto nos permitiria não apenas conservar os tesouros incomparáveis da Cultura, como também abrir um novo 
caminho que nos devolveria às verdades antigas, as quais, por causa do caráter singular de sua simbólica, desapareceram de nossa "razão". Como pode um homem ser Filho de Deus e ter nascido de uma Virgem? Isto é como que uma bofetada em plena face. Entretanto, um Justino Mártir não mostrou a seus contemporâneos que eles atribuíam tais coisas a seus heróis, e com isto não encontrou audiência junto a eles? Isto aconteceu porque, para a consciência daquela época, tais símbolos não eram tão desconhecidos como para nós. Hoje em dia, esses dogmas encontram ouvidos moucos, pois já não existe mais nada que corresponda a tais afirmações. Mas se tomarmos essas coisas como 
são, isto é, como símbolos, teremos forçosamente de admirar sua verdade profunda e declarar-nos gratos àquela Instituição que não somente as conservou, mas as desenvolveu através dos dogmas. Ao homem de hoje falta a capacidade de compreensão, que poderia ajudá-lo a crer.


294 Se ousamos aqui submeter antigos dogmas, que se nos tornaram estranhos a uma reflexão psicológica, não o fizemos com a pretensão de saber tudo melhor que os outros, mas sim movidos pela convicção de que é impossível que o dogma, pelo qual se combateu durante tantos séculos, seja uma fantasia oca e sem sentido. Para isso situei-me na linha de consensus omnium [consenso universal], isto é, de arquétipo. Foi somente isto que me 
possibilitou uma relação direta com o dogma. Como "verdade" metafísica ele me era inteiramente inacessível, e julgo lícito supor que eu não tenha sido o único ao qual isto aconteceu. O
conhecimento dos fundamentos arquetípicos universais me animou a considerar o quod semper, quod ubique, quod ab omnibus creditum est como fato psicológico que ultrapassa o quadro da confissão de fé cristã, e tratá-lo simplesmente como objeto das 
Ciências físicas e naturais, como um fenômeno puro e simples, qualquer que seja o significado "metafísico" que lhe tenha sido atribuído. Sei por experiência própria que este último aspecto jamais contribuiu, por pouco que fosse, para a minha fé ou para a minha compreensão. Ele não me dizia absolutamente nada. Entretanto, tive de reconhecer que o Símbolo de fé possui uma verdade extraordinária pelo fato de ter sido considerado, durante dois milênios, por milhões e milhões de pessoas, como um enunciado válido daquelas coisas que não se podem ver com os olhos, nem tocar com as mãos. Este fato deve ser bem entendido, porque da "Metafísica" só conhecemos o produto humano, quando o carisma da fé, tão difícil de ser mantido, não afasta de nós toda dúvida e, conseqüentemente, nos liberta de toda angustiosa investigação. É perigoso que tais verdades sejam tratadas unicamente como objeto de fé, pois onde há fé, ali também está presente a dúvida, e quanto mais direta e mais ingênua é a fé, tanto mais devastadoras são as idéias quando a primeira começa a eclipsar-se. Em tais ocasiões é que nos mostramos mais hábeis do que as cabeças enevoadas da tenebrosa Idade Média; e então acontece que a criança é despejada juntamente com a bacia em que foi lavada.


295 Apoiado nestas e noutras considerações de natureza semelhante é que mantenho sempre uma atitude de extrema cautela, ao abordar outros significados possíveis, ditos metafísicos, da linguagem arquetípica. Nada as impede de que eles cheguem afinal de contas até a base do mundo. Nós é que seremos tolos se não o percebermos. Assim pois não posso presumir que uma investigação do aspecto psicológico tenha esclarecido e resolvido 
definitivamente o problema dos conteúdos arquetípicos. Na melhor das hipóteses, o que fiz talvez não passe de uma tentativa mais ou menos bem ou mal sucedida de abrir um caminho que permita compreender um dos lados acessíveis do problema. Esperar mais seria uma temeridade. Se, pelo menos, conseguir manter viva a discussão, meu objetivo já se acha mais do que cumprido. Ou por outra, se o mundo viesse a perder de vista estes enunciados, 
estaria ameaçado de um terrível empobrecimento espiritual e psíquico.

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O desenrolar do processo de individuação começa em geral com uma tomada de consciência da "sombra".

Quem de nós pode atirar a primeira pedra? Essa é a questão emergente no processo de Individuação, a Tomada de Consciência do espírito como um Ser livre, e sobretudo cônscio de sua capacidade de gerir o seu destino a seu bel prazer. 

Sabe dos aspectos luminosos da sua personalidade; mas sabe, por outro lado, de todos os aspectos obscuros. Consegue se olhar no espelho e ter a plena visão de quem é. E isto pode ou não o encaminhar pelas veredas do que Hegel chama de Eticidade.

Não vou comentar o texto. Trouxe apenas para o conhecimento das pessoas, talvez para a reflexão da necessidade ou não da religião.

Eu não sou religioso e não creio em nada, salvo a imortalidade, a evolução e algum aspecto adicional daí decorrente.

Quero apenas estabelecer uma ligação entre três autores a quem devoto respeito: Carl Gustav Jung; Georg G F Hegel e Professor Herculano Pires. Referentes para mim, intelectualmente e os dois últimos eticamente inclusive.

O "Ponto de Individuação" de Jung, pode ser comparado com a "Tomada de Consciência" do espírita, proposta por Herculano Pires; e com Hegel, na Fenomenologia do Espírito no capítulo V (Certeza e verdade da Razão) quando este espírito se vê liberto do seu Amo e se sabe Livre, Autônomo e dotado de uma consciência já não para os outros, ou o outro (o Amo); mas uma consciência-em-si-e-para-si. O Ser ou espírito em sua integralidade e consciente dessa integralidade. Dessa totalidade vivencial capaz de tudo.


Voltando a Jung, capaz do bem e capaz do mal, pois os aspectos claros e escuros da personalidade convivem dentro de si.

Sempre aí estiveram mas nunca foram reconhecidos. Mas dentro do processo terapêutico há um momento em que o paciente se confronta com sua verdade. E dessa verdade consta o lado obscuro de si mesmo. 

Esse ponto de aclaramento traz uma nova consciência de si e uma nova relação com o mundo ao seu redor. Nos três autores esse mesmo fenômeno é constatado.

Essas três figuras da História da Humanidade são elementos diferentes, em tempos e contextos diferentes a dizer a mesma coisa, em palavras muito semelhantes.

No que diz respeito à música um amigo disse que "as genialidades se tocam"; no sentido de forçosamente se encontrarem. 

Penso eu agora que, na percepção da trajetória do espírito o mesmo ocorre. Hegel, Jung e Professor Herculano Pires fizeram uma mesma leitura de um mesmo processo.

Sou grato a cada um deles, pelo tanto de clareza trazido ao meu caminho.


Paulo Cesar Fernandes.

20/10/2015.