sábado, 27 de dezembro de 2014

20141227 Bem maior

Pena
O Teatro Mágico (Recombinando atos
Compositor: Fernando Anitelli E Maíra Viana


O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Um sorriso por ingresso
Falta assunto, falta acesso
Talento traduzido em cédula
E a cédula tronco é cédula mãe solteira



O poeta pena
Quando cai o pano e o pano cai
Acordes em oferta
Cordel em promoção
A prosa presa em papel de bala
Música rara em liquidação



E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Lá se dorme um sol em mi menor



Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior



O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
A porcentagem e o verso
Rifa, tarifa e refrão
Talento provado em papel moeda
Poesia metamorfoseada em cifrão



O palhaço pena
Quando cai o pano e o pano cai
Meu museu em obras
Obras em leilão
Atalhos retalhos e sobras
A matemática da arte em papel de pão



E quando o nó cegar
Deixa desatar em nós
Solta a prosa presa
Luz acesa
Já se abre um sol em mi maior



Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior
Eu sinto que sei que sou um tanto bem maior



Fonte: http://www.vagalume.com.br/o-teatro-magico/pena.html#ixzz3N824ZziA

===

Historicamente somos formados e formatados para a obediência. E esta é a nadificação do Ser.


Religiões todas no tempo e o CatoEspiritismo atual cumprem a tarefa de fazer o homem sempre submisso. Atendem aos interesses
do Estado, dos patrões e dos tiranos.


Submissão faz do homem coisa, ente. Preso não há possibilidade de ser um elemento autônomo e livre; capaz de pensar e agir.


A quem servem os seres objetificados?


Estados autoritários, entidades autoritárias, pessoas autoritárias.


Em todos os lugares nos defrontamos com Seres Objetos. Um absurdo.


Precisamos nós. Espíritas pensantes ajudar na autonomia e libertação de outros espíritos. Assim não for, estaremos
contribuindo com todos os Estados Autoritários da Latinoamerica e do mundo; com as Entidades Autoritárias e com as relações
humanas onde um homem subjuga outro homem.


No mundo de hoje temos uma única voz. Nos vem da Europa sofrida. Condutor da Segunda Força Política da Itália. Seu nome é
Beppe Grillo e leva adiante o projeto do Movimento 5 estrelas. Um projeto acima de tudo libertador. Mas libertário ainda
mais.


Grillo liberta sua voz em benefício de uma Nova Itália e de uma Nova Europa. Sem a opressão da Alemanha.


E o espiritismo? Liberta?


Não o CatoEspiritismo presente em todas as vertentes e correntes. Mas um espiritismo capaz de dar ao Ser as rédeas do seu
pensar e do seu agir; pautando de forma autônoma o seu destino. Sem líderes de espécie alguma, nem na política, nem na
religião e nem no Centro Espírita.


Se bem pensarmos, o espírita não necessita das instituições, sua prática diuturna o faz bom ou mau segundo seus pensamentos e
atos.


Não proponho santos. Mas pessoas dignas e éticas. Espíritas capazes de levar alto as ideias de Kardec, transpondo-as ao nosso
conturbado tempo. Sem transigir das propostas éticas de um Erasto, por exemplo.


Queiramos ou não, se o Ser não for liberto pelo espiritismo, este último não passará de mais uma seitazinha cheia de rezas e
águas bentas; mantendo as almas na mais profunda e deletérea ignorância.


Ou libertamos através da Cultura ou sucumbiremos como proposta revigorante do mundo.



Paulo Cesar Fernandes

27/12/2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

20141205_Acerca do Inconsciente



OBRAS COMPLETAS DE C. G. JUNG
 
Volume VII/1
 
Psicologia do Inconsciente
 
 
 


FICHA CATALOGRÁFICA
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Jung, Carl Gustav, 1875-1961.
J92p     Psicologia do inconsciente
C G Jung; tradução de Maria Luiza Appy. Petrópolis, Vozes, 1980.
(Obras completas de C. G. Jung, v.7, t.l).
Tradução de: Zwei Schriften Über Analytische Psychologie: Über die Psychologie des Unbewusten.


Bibliografia.
1. Psicanálise — Estudo de casos.
2. Subconsciente.

I. Título.
II. Série.

CDD — 154.2   616.8917   78-0241
CDU — 159.964.2

=

Abstração feita dos riscos do tratamento, o inconsciente em si já pode representar um perigo. Uma das formas mais comuns desse perigo é provocar acidentes. Acidentes de todo tipo — em número bem maior do que o público possa imaginar — são causados por fatores de ordem psíquica. A começar por pequenos acidentes, como tropeçar, esbarrar, queimar os dedos, etc. até os acidentes automobilísticos e catástrofes alpinistas: tudo pode ter origem psíquica e, às vezes, já está programado semanas ou até meses antes.


Examinei grande número de casos dessa ordem, e pude comprovar que muitas vezes, semanas antes, os sonhos já revelaram uma
tendência autodestrutiva. Todos os acidentes provocados por descuido, como se diz, deveriam ser investigados, sob este enfoque.


Sabemos muito bem que não só tolices de maior ou menor importância podem suceder-nos quando, por qualquer motivo, não estamos bem, mas também estamos expostos a perigos que, em dados momentos psicológicos, podem até comprometer a vida. O ditado popular: "Fulano ou sicrano morreu na hora certa", exprime uma certeza intuitiva quanto à causalidade psicológica secreta do
caso.


Da mesma forma, podem ser provocadas ou prolongadas as doenças físicas. Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, inversamente, um sofrimento corporal consegue afetar a alma, pois alma e corpo não são separados, mas animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença do corpo, ainda que não seja de origem Psíquica, que não tenha implicações na alma.


Mas não seria justo salientar unicamente o lado negativo do inconsciente. É comum o inconsciente ser desfavorável, ou perigoso, por não concordarmos e, portanto, nos opormos a ele.


A atitude negativa em relação ao inconsciente, isto é, a ruptura com o mesmo, é prejudicial, na medida em que a sua dinâmica é idêntica à energia dos instintos. (Ver Instinkt und Unbewusstes, em Über psychische Energetik und das Wesen der Träume, 1948, p. 261ss. Obras Completas, Vol. 8, § 263ss) A falta de solidariedade com o inconsciente significa ausência de instinto,
ausência de raízes.


Quando conseguimos estabelecer a função denominada função transcendente, suprime-se a desunião com o inconsciente e então o
seu lado favorável nos sorri. A partir desse momento, o inconsciente nos dá todo o apoio e estímulo que uma natureza bondosa pode dar ao homem em generosa abundância.


O inconsciente encerra possibilidades inacessíveis ao consciente, pois dispõe de todos os conteúdos subliminais (que estão no
limiar da consciência), de tudo quanto foi esquecido, tudo o que passou despercebido, além de contar com a sabedoria da experiência de incontáveis milênios, depositada em suas estruturas arquetípicas.


===


Não consigo ver o Inconsciente como uma instância separada do espírito.


A somatória das experiências vivenciais do espírito formam o que Jung chama de Inconsciente. É provável, o próprio conceito
de Inconsciente Coletivo (Arquétipo Coletivo), união da somatória de todos os signos e símbolos da História da Humanidade, não passe ele do repositório das lembranças das encarnações passadas.


Desconectado de tudo aquilo que posso chamar de não-eu.


Embora Jung estabeleça diferença entre Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo, eu creio tudo ser propriedade do Ser ou
do espírito.


A leitura deste livro me trouxe esta outra visão.


Minha visão anterior era de um Inconsciente apartado do Ser, numa leitura mais freudiana, isso permitia ao homem o processo de
recalque das coisas desagradáveis. Reprimia tudo, abafando ou "entulhando" no inconsciente. Cuja função seria a de um sótão
ou um local de despejo das coisas que não queremos no nosso dia a dia (o consciente).


Mas como hoje penso no espírito como pensamento, uma unidade indivisível, mesmo teoricamente ou didaticamente, não consigo
mais ver as coisas de modo estanque, compartimentadas. O espírito é uno, e ponto final.


Muito embora o processo de recalque, de fuga de si mesmo continue ocorrendo da mesma maneira, mas dentro do processo de
elaboração constante do espírito diante das suas dificuldades.


É parte do viver lidar com nossos problemas, é parte do viver enfrentar ou fugir deles, é parte do viver vencer e encarar de
frente ou agir como o avestruz. E não cabe julgamento de forma nenhuma.


Cada qual joga o jogo da vida da forma que mais lhe compraz. No tablado desse palco somos todos artistas em eterno improviso, pois a vida é uma grande peça teatral sem texto prévio.


"Caminhante, não há caminho.
O caminho o fazemos ao caminhar."

     Antonio Machado, Poeta Espanhol.


Nada mais verdadeiro. A cada dia fazemos uma nova estreia.

E assim, de estreia em estreia vamos percorrendo os dias, meses, anos e encarnações.

Possamos todos fazer bom uso do espaço de palco a nós ofertado pela Vida.


Paulo Cesar Fernandes

05/12/2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

20141204 O estilo é o homem


REVISTA ESPIRITA – SETEMBRO - 1861

 

Alguns textos são de valor atemporal. Estas conclusões de Erasto são sempre uma advertência das mais úteis a todos os estudiosos do espiritismo. Segundo dizem era discípulo de Paulo de Tarso.

Após uma polêmica entre literatos desencarnados ocorrida na Sociedade Espírita de Paris esse espírito traz as ilações a serem tiradas de tal embate.

 

 

Conclusão de Erasto.

 
 

Depois do torneio literário e filosófico que ocorreu nas últimas sessões de vossa Sociedade, e ao qual assistimos com uma verdadeira satisfação, creio necessário, do ponto de vista puramente espírita, vos participar algumas reflexões que foram suscitadas por esse interessante debate no qual, de resto, não quero intervir de nenhum modo. Mas, antes de tudo, deixai-me dizer-vos que se a vossa reunião foi animada, essa animação não foi nada perto daquela que reinava entre os grupos numerosos de Espíritos eminentes que essas sessões, quase acadêmicas, tinham atraído.

 
Ah! certamente se pudésseis vos tornar videntes instantaneamente, estaríeis surpresos e confusos diante desse areópago superior. Mas não tenho intenção de vos revelar hoje o que se passa entre nós; meu objetivo é unicamente vos fazer ouvir algumas palavras a respeito do proveito que deveis retirar dessa discussão, do ponto de vista de vossa instrução espírita.

 
Conheceis de longa data Lamennais, e certamente apreciastes quanto esse filósofo ficou apaixonado de ideia abstrata; sem dúvida, notastes quanto ele persegue com persistência e, devo dize-lo, com talento, suas teorias filosóficas e religiosas; deveis disso deduzir logicamente que o ser pessoal pensante prossegue, mesmo além do túmulo, seus estudos e seus trabalhos, e que por meio dessa lucidez, que é o apanágio particular dos Espíritos, comparando seu pensamento espiritual com seu pensamento humano, deve dele eliminar tudo o que o obscurece materialmente.
 

Pois bem! o que é verdadeiro para Lamennais é igualmente verdadeiro para os outros, e cada um, no vasto país da erraticidade, conserva suas aptidões e sua originalidade.
 

Buffon, Gérard de Nerval, o visconde Delaunay, Bernardin de Saint-Pierre conservam, como Lamennais, os gostos e a forma literária que notáveis neles quando vivos. Creio que é útil chamar a vossa atenção sobre esta condição de ser de nosso mundo de além-túmulo, para que não vos deixeis ir a crer que se abandonam instantaneamente seus pendores, seus costumes e suas paixões, despojando-se da veste humana. Sobre a Terra, os Espíritos são como prisioneiros que a morte deve libertar; mas do mesmo modo que aquele que está sob os ferrolhos tem as mesmas propensões, conserva a mesma individualidade quando está em liberdade, do mesmo modo os Espíritos conservam suas tendências, sua originalidade, suas aptidões, quando chegam entre nós; todavia, salvo aqueles que passaram, não por uma vida de trabalho e de provas, mas por uma vida de castigo, como os idiotas, os cretinos e os loucos. Para estes, as faculdades inteligentes, tendo permanecido no estado latente, não despertam senão em sua saída da prisão terrestre. Isto, como o pensais, deve-se entender do mundo espírita inferior ou médio, e não dos Espíritos elevados, isentos da influência corporal.
 

Ides tomar vossas férias, senhores Sócios; permiti-me vos dirigir algumas palavras amigas antes de nos separar por algum tempo. Creio que a doutrina consoladora que viemos vos ensinar não conta senão com adeptos fervorosos entre vós; por isso, como é essencial que cada um se submeta à lei do progresso, creio dever vos aconselhar examinar, perante vós, que proveito retirastes pessoalmente de nossos trabalhos espíritas, e que melhoria moral disso resultou em vossos meios recíprocos. Porque, vós o sabeis, não basta dizer: Sou Espírita, e encerrar no fundo de si mesmo esta crença; mas o que vos é indispensável saber é se os vossos atos estão conformes às prescrições de vossa fé nova que é, não se poderia por demais vo-lo repetir:

 

Amor e caridade. Que Deus seja convosco!

 

ERASTO.

 

 

Erasto de Paneas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 

Erasto de Paneas (em grego: Ἔραστος; em latim: Erastus) é um dos Setenta Discípulos. Ele é citado no Novo Testamento em «Saúda-vos Gaio, meu hospedeiro e o da igreja toda. Saúda-vos Erasto, tesoureiro da cidade, e Quarto, nosso irmão.» (Romanos 16:22) como tendo sido o tesoureiro da igreja de Jerusalém. Ele foi consagrado bispo de Paneas, na Palestina.

===

Que possamos compreender a fragilidade de nossa vida, e agir de forma a ser mais útil dentro dos limites de cada um.

Paulo Cesar Fernandes


04/12/2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

20141125 Inútil, tem algo que é inútil

"Inútil, a gente somos inútil..."


O Espiritismo é inútil como transformador do homem.

Poderia dizer, parafraseando a música "inúteis, conceitos são sempre inúteis".


O homem se transforma, se vale de todas as concepções filosóficas para tal transformação. Não necessariamente do espiritismo.


Vi mais espíritas materialistas, que espíritas voltados ao bem estar da humanidade, altruístas, abertos ao semelhante. E aqui falo de gente pensante, elaboradora de conceitos e teses.


Quem não pensa e repete ideias alheias como papagaio não me interessa. Os tementes ao umbral, tementes a Deus, também não são foco das minhas reflexões. terão "sua hora e sua vez" tal qual Augusto Matraga, da imortal obra de Guimarães Rosa. Os respeito evidentemente, mas não os tenho por foco.


Jung me fala do embate dos contrários a ocorrer nos estágios avançados da vida. Velhos valores tendem a perder importância e emerge a contraposição nessa etapa vivencial.


Discordo dele. Valores como a ética, a imortalidade, a evolução nunca deixarão de me compor a estratégia de vida.  Bem como o socialismo. Estou impregnado dessas coisas. Algumas ancestralmente minhas como o senso de Justiça e o socialismo; outras me chegaram na atual existência. As incorporei ao contato com o espiritismo. Algumas poucas apenas.


Tal como agora me chega o Teatro, que sempre desprezei. Este vem e se incorpora em mim. Passa a compor meu vocabulário, embora seja ignorante na disciplina. Inicio seu estudo.
Para me transformar num conhecedor de Teatro devo estudar.

Assim como para me transformar, me valendo dos preceitos espíritas, devo dedicar um bom tempo em seu estudo e na reflexão dos conceitos. Analisar em que eles podem interferir positivamente nas minhas buscar maiores: as buscas de espiritualidade (disciplinas abstratas do conhecimento, nada a ver com religiões ou espiritismo).


Solto no tempo e no espaço o espiritismo é apenas uma disciplina.


Ela só ganha valor quando nós, os seus estudiosos, a internalizamos e vivenciamos. Mas sem qualquer farisaísmo. Sem a falsidade asquerosa tão fácil de encontrar se passarmos em revista as casas espíritas.


A meta do espiritismo é ser uma disciplina feita por espíritos para espíritos. Independentemente da sua condição corpórea ou incorpórea.


É como a mais bela faca que tenho para o corte dos temperos na preparação dos alimentos. Posso ou não usar. Tudo uma questão de decisão interior. Decisão liberta de tudo e de todos.


O espiritismo é inútil na transformação do homem.

O homem é quem se transforma a partir do amplo instrumental ofertado pela Teoria Espírita.


Paulo Cesar Fernandes

25/11/2014

domingo, 16 de novembro de 2014

20141116 Não

Não


Não sabemos o valor
De colocar numa mão a Razão
Na outra o coração...

Ora suspendendo uma
Ora suspendendo outra
Mas sempre ambas
Na mais atenta visão




Pois somos mais que carne
Somos alma
Carinho e afeição
Ira e destruição
Somos sempre os opostos
E estamos sempre dispostos
A ser mais e melhor




Sem passado ou futuro
Apostamos no presente
Nesta linha que escrevo
No pensar imediato
Somos agentes do Ato
Da Potencia superado




Somos sempre o depois
A síntese da dialética
De todas as dialéticas
Possíveis e imagináveis
Somos apenas viajores
Das sobrepostas realidades
Caminhantes do espaço
No trajeto da Evolução.




Tudo o mais é fantasia
Engodo ou ilusão.



Portal Fernandes

16/11/2014

sábado, 15 de novembro de 2014

20141115 Papel dos médiuns


Revista Espírita   (Julho de 1861


Papel dos médiuns nas comunicações.

(Obtidas pelo Sr. d'Ambel, médium da Sociedade.)



Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, quer sejam mecânicos, semimecânicos, ou simplesmente intuitivos, nossos 
procedimentos de comunicação com eles não variam essencialmente. Com efeito, nos comunicamos com os próprios Espíritos encarnados, como com os Espíritos propriamente ditos, unicamente pela irradiação do nosso pensamento.


Os nossos pensamentos não têm necessidade da vestimenta da palavra para serem compreendidos pelos Espíritos, e todos os 
Espíritos percebem o pensamento que desejamos lhes comunicar, unicamente pelo fato de dirigirmos esse pensamento a eles, e isso em razão de suas faculdades intelectuais; quer dizer, que tal pensamento pode ser compreendido por tais e tais, segundo o seu adiantamento, ao passo que em tais outros, esse pensamento não desperta nenhuma lembrança, nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro, não é perceptível para eles. 


Neste caso, o Espírito encarnado que nos serve de médium é mais próprio para dar nosso pensamento para outros encarnados, se bem que não o compreenda, que um Espírito desencarnado, e pouco avançado, não poderia fazê-lo, se fôssemos forçados a recorrer à sua intermediação; porque o ser terrestre coloca o seu corpo, como instrumento, à nossa disposição, o que o Espírito errante não pode fazer. 


Assim, quando encontramos num médium o cérebro equipado de conhecimentos adquiridos em sua vida atual, e o Espírito rico de 
conhecimentos anteriores latentes, próprios para facilitarem as nossas comunicações, dele nos servimos com preferência, porque com ele o fenômeno da comunicação nos é muito mais fácil, do que com um médium cuja inteligência seria limitada, e cujos conhecimentos anteriores teriam ficado insuficientes. 


Vamos nos fazer compreender por algumas explicações claras e precisas.


Comum médium cuja inteligência atual, ou anterior, se encontre desenvolvida, o nosso pensamento se comunica instantaneamente 
de Espírito a Espírito, por uma faculdade própria da essência do próprio Espírito. Nesse caso encontramos no cérebro do médium os elementos próprios para revestir o nosso pensamento da roupa da palavra que corresponde a esse pensamento, e isso, mesmo que o médium seja intuitivo, semi-mecânico ou mecânico puro. 


E porque, qualquer seja a diversidade dos Espíritos que se comunicam a um médium, os ditados obtidos por ele, mesmo procedendo de Espíritos diversos, trazem uma marca de forma e de cor pessoal a esse médium. Sim, se bem que o pensamento lhe seja inteiramente estranho, se bem que o assunto saia do quadro no qual ele mesmo se move habitualmente, se bem o que queremos dizer não provenha de nenhum modo dele, por isso não influencia menos a forma, pelas qualidades, as propriedades que são adequadas à sua individualidade.


É absolutamente como quando olhais diferentes pontos de vista com lunetas coloridas, verdes, brancas ou azuis; se bem que os pontos de vista, ou objetos olhados, sejam inteiramente opostos, e inteiramente independentes uns dos outros, isso não afeta menos, sempre, um colorido que provém da cor das lunetas. Ou melhor, comparemos os médiuns a esses vidros de boca larga, cheios de líquidos coloridos e transparentes, que se vêem na vitrina dos laboratórios farmacêuticos; pois bem! somos como luzes que clareamos certos pontos de vista morais, filosóficos e internos, através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de tal sorte que os nossos raios luminosos, forçados a passarem através dos vidros, mais ou menos bem talhados, mais ou menos transparentes, quer dizer por médiuns mais ou menos inteligentes, não chegam sobre os objetos, que queremos clarear, senão carregando o colorido, ou melhor, a forma própria e particular a esses médiuns. Enfim, para terminar por uma última comparação, nós, Espíritos, somos como compositores de música que compusemos ou queremos improvisar uma música e não temos sob a mão senão um piano, senão um violino, senão uma flauta, senão um fagote ou senão um apito de dois sons.


É incontestável que, com o piano, a flauta ou o violino executaremos nosso trecho de maneira mais compreensível aos ouvintes; se bem que os sons provindos do piano, do fagote ou da clarineta, sejam essencialmente diferentes uns dos outros, nossa 
composição não será por isso menos identicamente a mesma, salvo as nuanças do som. Mas se não temos à nossa disposição senão um apito de dois sons, um funil de encanador, aí para nós jaz a dificuldade.


Com efeito, quando somos obrigados a nos servir de médiuns pouco avançados, o nosso trabalho se torna bem mais longo, bem 
mais penoso, porque somos obrigados a ter recursos de formas incompletas, o que é uma complicação para nós; porque então 
somos forçados a decompor o nosso pensamento e a proceder, palavras por palavras, letras por letras, o que é um aborrecimento e uma fatiga para nós, e um entrave real à prontidão e ao desenvolvimento das nossas manifestações.


É porque estamos felizes por encontrar médiuns bem apropriados, bem aparelhados, munidos de materiais prontos para funcionarem, bons instrumentos, em uma palavra, porque então o nosso perispírito, agindo sobre o perispírito daquele que mediunizamos, não há mais do que dar o impulso à mão que nos serve de porta-lápis; ao passo que com os médiuns insuficientes, somos obrigados a fazer um trabalho análogo àquele que fazemos quando nos comunicamos por pancadas, quer dizer, designando letra por letra, palavra por palavra, cada uma das frases que formam a tradução dos pensamentos que queremos comunicar.


É por estas razões que nos dirigimos de preferências às classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento das faculdades mediúnicas da escrita, se bem que seja entre essas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, os mais rebeldes e os mais imorais. É que, do mesmo modo que deixamos hoje aos Espíritos brincalhões e pouco avançados, o exercício das comunicações tangíveis de golpes e de transportes, do mesmo modo os homens pouco sérios entre vós preferem a visão dos fenômenos que ferem seus olhos e seus ouvidos, aos fenômenos puramente espirituais, puramente psicológicos.


Quando queremos proceder por ditados espontâneos, nós agimos sobre o cérebro, sobre os compartimentos do médium, e reunimos 
os nossos materiais com os elementos que ele nos fornece, e isso com o seu inteiro desconhecimento; é como se tomássemos em sua bolsa as somas que ali pode ter, e organizássemos as diferentes moedas segundo a ordem que nos parece mais útil.


Mas quando o próprio médium quer nos interrogar de tal ou tal modo, seria bom se nisso refletisse seriamente, a fim de nos perguntar de maneira metódica, facilitando assim nosso trabalho de resposta. Porque, como disse Erasto, em uma precedente instrução, freqüentemente, o vosso cérebro está numa desordem inextricável, e nos é bastante penoso, senão difícil, nos 
movermos na complicação dos vossos pensamentos. Quando as perguntas devem ser postas por terceiros, é bom, é útil que a série 
das perguntas seja comunicada, adiantadamente, ao médium, para que este se identifique com o Espírito do evocador, e dele se impregne por assim dizer; porque nós mesmos, então, teremos maior facilidade para responder, pela afinidade que existe entre o nosso Espírito e do médium que nos serve de intérprete.


Certamente, podemos falar de matemáticas por meio de um médium que a ele pareça inteiramente estranho; mas, freqüentemente, o Espírito desse médium possui esse conhecimento em estado latente, quer dizer, pessoal ao ser fluídico e não ao ser encarnado, porque o seu corpo atual é um instrumento rebelde, ao contrário, a esse conhecimento. Ocorre o mesmo na astronomia, na 
poesia, na medicina e nas línguas diversas, assim como em todos os outros conhecimentos particulares à espécie humana. 


Enfim, temos ainda o meio da elaboração penosa em uso com os médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, reunindo as 
letras e as palavras como em tipografia.


Como dissemos, os Espíritos não têm necessidade de revestir o seu pensamento; percebem e comunicam o pensamento pelo único fato de que ele existe neles. Os seres corpóreos, ao contrário, não podem perceber o pensamento senão revestido. Ao passo que a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, em uma palavra, vos são necessárias para perceber mesmo mentalmente, nenhuma forma visível ou tangível é necessária para nós.


ERASTO E TIMÓTEO,

Espíritos protetores dos médiuns.


===

A que reflexões somos levados por este texto?

A mim, veio à mente a figura de Deolindo Amorim, incitando os espíritas a um estudo constante e profundo de todas as áreas do 
conhecimento. Não bastasse o prazer do conhecimento em si mesmo, vimos que, em espíritos mais preparados não apenas 
moralmente, como intelectualmente, as comunicações mediúnicas ocorrem com muito maior facilidade para o espírito comunicante.

Sendo o espírito pensamento a comunicação acaba ocorrendo pela simples interpenetração dos dois espíritos. De tal forma se 
identificam, as imagens do pensar do comunicante se deslocam de forma natural para o médium, cabendo a este a transcrição das
ideias, em sua linguagem e formas de expressão.

Achei muito rica a contribuição desses dois companheiros espirituais no tocante ao processo mediúnico.

Devemos ser gratos a eles e a Kardec por sua inclusão na Revista Espírita.



Paulo Cesar Fernandes

15/11/2014

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

20141024 Vida

Vida


Como fazer da vida um suave cantar?


Essa questão atinge uma parcela ínfima da população mundial.

Levando em conta o fato da maioria estar mergulhada na busca da
sobrevivência por um lado; e na luta contra seus concorrentes por outro lado.


Quem se permite uma questão como esta?


Aquele destituído de ilusões, ou quem optou por uma vida nos trilhos de Pepe Mujica. Uma vida despojada de esquisitices de
toda ordem. De alguma forma franciscana.


No rádio ouvi outro dia. Sócrates passava todos os dias no "Shopping" de sua cidade, e ficava admirando as coisas. Dia após
dia o mesmo estafermo presente na localidade. Até que um dia um dos vendedores se encheu de coragem perguntando:

_ Filósofo, me desculpe perguntar. Mas por que motivo vem todos os dias e se vai sem nada comprar?

_ Pelo simples prazer de saber quantas coisas são totalmente desnecessárias ao meu viver.

E se foi no seu sereno andar.


Lembro dos tempos de juventude quando discutíamos os limites do necessário e do supérfluo pautados no Livro dos Espíritos de
Allan Kardec. Quanto debate, quanta discussão, quanto tempo inútil.


Hoje me parece clara a inexistência de parâmetros exteriores a nós no tocante a essa questão.


Não me venham estabelecer regras, da mesma forma a ninguém estabeleço.


Se aposto e advogo pela Liberdade Total do espírito, não posso estabelecer limitantes. E em área alguma.


Me reservo sim o direito a algumas coisas: estar junto ou distante de determinadas pessoas; determinados lugares; determinadas comemorações; determinadas leituras; etc.


Sou o grande cocheiro de minha humilde carruagem, e a levo pelos caminhos e desvios propostos por meus mais puros instintos e
pela racionalidade diretriz.


Não há bom ou mau caminho. O que estamos no momento é sempre o melhor. E só devemos mudar caso nos advenha a dor, ou outra sorte de sofrimento. Se os ventos estão favoráveis, nada deve mudar nossos rumos.


As religiões e as instituições foram a maior desgraça para a humanidade. Todas tolhendo a liberdade do homem. Fazendo o homem pensar segundo padrões muito distantes da sua mais profunda forma de sentir.


Romper com tudo isso é o imperativo do atual momento pela qual atravessa a humanidade.


Por abaixo os padrões exteriores, o Ser fazer de seu pensar e de seu sentir o único parâmetro válido para sua vida (encarnação) e para sua existência.


Qual a implicação disto?


Os bem formados seguirão os rumos de sempre, tomando seus antepassados por parâmetros; assim como fazem os Povos Originários de nosso continente.


Os demais seguirão se agarrando em tábuas e mais tábuas de salvação sem nunca se firmar em alguma doutrina ou filosofia.
Errarão no tempo e no espaço por encarnações diversas até se encontrarem diante de si mesmo, já em processo de autoafirmação.


Sabendo-se viajor de muitas jornadas, capaz de estabelecer uma rota inicial, consciente da possibilidade de modificações. Mas uma rota autonomamente definida. Sem pastor, padre, espírito guia, e nada dessas coisas. Tomando sua estruturada racionalidade por roteiro e norma. E nada mais.


Essa é a Liberdade do espírito. E ninguém dele a tira. É conquista. É vitória. É avanço sem retrocesso possível.


Mas tem uma coisa: maturidade e independência tem um preço alto, muito alto. É bom saber disso.



Paulo Cesar Fernandes

24/10/2014 

sábado, 18 de outubro de 2014

20141018 Aprendendo com a matéria

Aprendendo com a matéria


Venho lendo o livro de Hernani Guimarães Andrade chamado "Morte renascimento evolução" onde ele defende a tese do Organizador Biológico.


Pensa ele no espírito como o organizador biológico do corpo, se valendo para isso do perispírito.


Quando trata da questão da origem da vida não lida, a meu ver, de modo consistente com as fases iniciais, quando o protoespírito tem seus primeiros contatos com a matéria.


Como um ser sem consciência de si poderia comandar algo? Improvável, senão impossível.


Mas afinal em que momento o protoespírito inicia a ter consciência de si mesmo?


A partir do momento em que passa a fugir dos seus predadores. O momento da autodefesa é um momento crucial para esse protoespírito. Inicia ele uma trajetória sensorial e de maior percepção do mundo ao seu redor. Interagindo com esse mundo. Espécies "inocentes" desconhecedoras dos seus predadores estão no estágio présensorial.


Desde o momento da criação, como um Ser simples e ignorante até essa etapa do surgimento da sensorialidade, da consciência de si o protoespírito aprende tudo com a matéria. As Leis da Matéria são soberanas nessas iniciais etapas.


É impossível ao materialista pensar em um elemento metafísico em virus, bactéria e nos protozoa. E tem toda razão, nada há que lhes forneça evidências diferentes das estruturas fisico-químicas para tais seres.


Enquanto espírita sei da presença de de uma Ser junto a todas as coisas. Protoespíritos em fases iniciais de formação e aprendizado. No metal aprende a dilatação e a contração através da temperatura.


Nestas fases iniciais, segundo penso, a matéria é a grande professora do protoespírito a ela vinculado. E mesmo não temos
certeza da forma que tal vínculo se dá. Se temporário, se definitivo. Tudo o que pensarmos não passará de conjecturas tão somente.


A etapa protoespiritual sempre foi deixada de lado nos estudos espíritas. O foco sempre foi a fenomenologia, na perspectiva de provar a realidade da imortalidade e a possibilidade de sua comunicação após o desencarne. Mas esta etapa sempre esteve em minhas cogitações desde a juventude e hoje, pelo número de fatos angariados ao longo da vida me vejo diante da possibilidade de formular hipóteses, não passam de hipóteses sobre essa fase
remota de nossa existência.


Como ficam as plantas nesse processo?


Dois pesquisadores norte americanos escreveram um livro entitulado "A vida secreta das plantas", onde narram diversos fatos de sensibilidade nas plantas. Mas ponho suspeita nessa pesquisa pois plantas não tem consciência de si. As Leis Materiais seguem agindo para que os vegetais busquem nutrientes no solo, se voltem para o lugar onde a luz incide com maior abundância, etc.


Já no Reino Animal temos em diversas espécies o pavor se apresentando tão somente pelo vento trazer o cheiro do leão ou do tigre. Esse instinto de conservação, apesar de ser um instinto, denota a presença da consciência de ser um excistente nesse animal, e buscar se defender, defender essa sua existência. Esse "EU" protoespiritual em processo de se tornar alguma coisa, até atingir o patamar do pensamento contínuo. Momento de outro salto de categoria.


Já deixou de ser um protoespírito para tornar-se um espírito.


São reflexões pequenas, incapazes de serem tomadas como verdade, mas como hipóteses de trabalho.


Nas fases iniciais a matéria ensina o protoespírito; esse protoespírito, num determinado momento toma consciência de si; vai caminhando de espécie em espécie, agregando percepções e sentimentos. Parte do simples para o complexo como tudo nas Leis Naturais. E chega a um ponto onde além de ter a consciência de si, recorda das coisas todas e é capaz de fazer ilações maiores. O pensamento já é algo mais amplo. suas observações da natureza ganham outros aspectos. Se faz presente o Espírito.



Paulo Cesar Fernandes

18/10/2014
 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

20140929 Relembrando Rafael

 
"Todos temos nosso Ponto de Equilibrio que uma vez encontrado não deve ser abandonado"


Quando, na minha tenra juventude, ouvi de Rafael, através do Jací Régis essa advertência, pensei que este se referisse à Casa
Espírita que estava vinculado como esse ponto de equilibrio.


Hoje, distante no tempo, percebo Rafael como um pensador mais profundo. Um pensar, cuja profundidade me era inpossível captar
na ocasião. Me dava ele uma advertência para toda a vida, quem sabe para as próximas vidas ou encarnações.


Nosso Ponto de Equilíbrio (como todas as outras coisas) está dentro de nós. Nas nossas buscas, nos nossos pensamentos e nos nossos atos. É todo um universo de coisas nos circundando a nos ofertar escolhas.


O Equilíbrio só é encontrado quando buscamos fazer sempre as escolhas mais corretas, não apenas para nós, mas para todos. 


Partindo da família, vamos ampliando nosso leque de compreensão e afeto num processo sem fim.


Todos buscamos o Equilíbrio. A Paz. A Afetividade. Mas, para isso tudo vir ao nosso encontro é necessário doemos à Vida e aos
nossos semelhantes tudo o desejado para nós.


Viver é um processo de troca constante. E o afeto/amor é a única coisa capaz de mudar o mundo.


Todo o resto é coisa. E as coisas estão sempre ao res do chão.


Tome o exemplo de um casal que se ama. Ambos voam no amor que os une.


O Amor nos tira do chão.


Seja ele por nossa companheira; seja pelos nossos familiares; seja pela nossa etnia, cidade ou pais.


E muitos há, capazes de amar a Humanidade, a isso chamo Amor Maior.


Paulo Cesar Fernandes

29/09/2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

20140923 Não são perdas na verdade


Conversas familiares de além túmulo
 
Revista Espírita, março de 1861


Senhora Bertrand (Haute-Saône.)

Falecida a 7 de fevereiro de 1861, evocada na Sociedade Espírita de Paris, no dia 15 do mesmo mês.


Nota. A senhora Bertrand fizera um estudo sério do Espiritismo, cuja doutrina ela professava, e da qual compreendia toda a
importância filosófica.


1. Evocação.
- R. Estou aqui.



2. A vossa correspondência nos ensinou a vos apreciar, e conhecendo a vossa simpatia pela Sociedade, pensamos que não
saberíeis ter má vontade de vos ver chamada tão cedo.
- R. Vedes que estou aqui.



3. Um outro motivo me determina pessoalmente fazê-lo: conto escrever à senhorita vossa filha a respeito do acontecimento que
'vem de atingi-la, estou seguro que ela ficará feliz em conhecer o resultado de nossa palestra.
- R. Certamente; ela o espera, porque eu lhe prometera de me revelar tão logo uma evocação me fosse dirigida.



4. Esclarecida como estáveis sobre o Espiritismo, e penetrada dos princípios desta doutrina, as vossas respostas serão para nós duplamente instrutivas. Quereis, primeiro, nos dizer se tardastes muito a vos reconhecer, e se já recobrastes o pleno gozo das vossas faculdades?
- R. O pleno gozo das minhas antigas faculdades, sim; o pleno gozo das minhas novas faculdades, não.



5. O uso é perguntar aos vivos como eles estão; mas aos Espíritos se lhes pergunta se são felizes; é com um profundo sentimento de simpatia que vos dirigimos esta última pergunta.
- R. Obrigada, meus amigos. Eu não sou ainda feliz no sentido espiritualista da palavra; mas sou feliz pela renovação do meu

ser arrebatado em êxtase; pela visão das coisas que nos são reveladas, mas que compreendemos ainda imperfeitamente, por bom médium ou Espírita que sejamos.


6. Quando viva fizestes uma idéia do mundo Espírita pelo estudo da doutrina; quereis nos dizer se encontrastes as coisas tais
como vos representastes?
- R. Mais ou menos, como vemos os objetos na incerteza da semi-escuridão; mas como são diferentes quando a luz brilhante as

revela!


7. Assim, o quadro que nos é dado da vida Espírita, nada tem de exagerado, nada tem de ilusório!
- R. Ele é reduzido pelo vosso Espírito que não pode compreender as coisas divinas senão atenuadas e veladas; agimos convosco

como o fazeis com as crianças, às quais não mostrais senão uma parte das coisas dispostas para o seu entendimento.


8. Postes testemunha do instante da morte do vosso corpo?
- R. Meu corpo, esgotado por longo sofrimento, não teve que suportar uma grande luta; minha alma se destacou dele como o

fruto maduro cai da árvore. O aniquilamento completo de meu ser impediu-me de sentir a última angústia da agonia.


9. Poderíeis nos descrever as vossas sensações no momento do despertar?
- R. Não há despertar, ou antes me pareceu que havia continuação; como depois de uma curta ausência se re-entra em si, me

pareceu que apenas alguns minutos me separavam daquilo que acabava de deixar. Errante ao redor de meu leito, me vi desdobrada, transfigurada, e não podia afastar-me, retida que estava ao menos ao que me parecia, por um último laço a esse envoltório corpóreo que tanto me fizera sofrer.


10. Vistes imediatamente outros Espíritos vos cercarem?
- R. Logo vieram me receber. Então, afastei o meu pensamento do meu eu terrestre, e o eu espiritual transportado submergiu no
delicioso gozo das coisas novas e conhecidas que eu reencontrava.



11. Estáveis entre os membros de vossa família durante a cerimônia fúnebre?
- R. Vi carregar o meu corpo, mas me afastei logo; o Espiritismo desmaterializa, por antecipação, e torna mais súbita a
passagem do mundo terrestre para o mundo espiritual. Eu não trouxe, de minha migração sobre a Terra, nem vãos lamentos e nem curiosidades pueris.


12. Tendes alguma coisa de particular a dizer à senhorita vossa filha que partilha vossas crenças, e me escreveu várias vezes
em vosso nome?
- R. Eu lhe recomendo dar aos seus estudos um caráter mais sério; eu lhe recomendo transformar a dor estéril em lembrança piedosa e fecunda; que ela não esqueça que a vida prossegue sem interrupção, e que os frívolos interesses do mundo se
enfraquecem diante da grande palavra: Eternidade! Aliás, a minha lembrança pessoal, terna e íntima, logo lhe será transmitida.


13. No mês de janeiro, eu vos dirigi um cartão de visita com retrato; como jamais me vistes, quereis nos dizer se me
reconheceis.
- R. Mas eu não vos conhecia; eu vos vejo.


Não recebestes o meu cartão?
- R. Eu não me lembro dele.



14. Eu teria várias perguntas importantes a vos dirigir sobre os fatos extraordinários que se passaram em vossa residência, e
que nos fornecestes, penso que poderíeis nos dar, a esse respeito, interessantes explicações; mas a hora avançada e a fatiga do médium me convidam a adiá-las; limito-me a algumas perguntas para terminar. Embora a vossa morte seja recente, já deixastes a Terra? Percorrestes os espaços e visitastes outros mundos?
- R. A palavra visitar não corresponde ao movimento tão rápido que é a palavra que nos faz, tão rápida quanto o pensamento,

descobrir panoramas novos. A distância não é senão uma palavra, como o tempo não é senão uma mesma hora para nós.


15. Preparando as perguntas que se propõe dirigir a um Espírito, é geralmente uma evocação antecipada; quereis nos dizer se, por isso, estáveis prevenida quanto às nossas intenções, e estáveis perto de mim, ontem, quando preparava as perguntas?
- R. Sim, eu sabia tudo o que me dirias hoje, e respondo com desenvolvimento às perguntas que reservastes.



16. Quando viva teríamos sido muito felizes em vos ver entre nós, mas uma vez que isso não ocorreu, somos igualmente felizes em vos ver em Espírito, e vos agradecemos pela vossa solicitude em responder ao nosso chamado.
- R. Meus amigos, eu seguia os vossos estudos com interesse, e agora que posso habitar entre vós em Espírito, vos dou o

conselho de vos prender ao Espírito mais do que à letra.

Adeus.



A carta seguinte nos foi dirigida com respeito a esta evocação:

Senhor,

É com um sentimento de profundo reconhecimento que venho vos agradecer, em nome de meu pai e no meu, de ter precedido o nosso
desejo de receber, por vós, as novidades daquela que choramos.


As numerosas provas morais e físicas que minha cara e boa mãe teve para suportar durante a sua existência, sua paciência em
suportá-las, seu devotamento, sua completa abnegação de si mesma, me faziam esperar que ela estava feliz; mas a segurança que vindes disso nos dar, Senhor, é uma grande consolação para nós que a amávamos tanto, e queremos a sua felicidade antes da
nossa.


Minha mãe era a alma da casa, Senhor; não tenho necessidade de vos dizer que vazio a sua ausência aí deixou; sofremos por não
mais vê-la, mais do que não saberíeis exprimi-lo, e todavia, sentimos uma certa inquietude de não mais senti-la nas dores
atrozes que ela experimentou. Minha pobre mãe era uma mártir; deve ter uma bela recompensa pela paciência e a doçura com as
quais ela suportou todas as suas angústias; a sua vida não foi senão uma longa tortura de espírito e de corpo. Seus sentimentos elevados, a sua fé em uma outra existência a sustentaram; tinha como um pressentimento, e uma lembrança velada, do mundo dos Espíritos; freqüentemente a via, olhando com piedade as coisas do nosso planeta, me dizer: Nada neste mundo pode me bastar; tenho a SAUDADE de um outro mundo.


Nas respostas que a minha querida e adorada mãe vos deu, Senhor, reconhecemos perfeitamente a sua maneira de pensar e de se
exprimir; ela gostava de se servir de figuras. Somente estou admirada de que ela não tenha se lembrado do vosso envio do
cartão de visita com retrato que lhe fizestes com um tão grande e tão vivo prazer; devo vos agradecer por isso de sua parte;
minhas numerosas ocupações, durante os últimos tempos da enfermidade de minha venerada mãe, não me permitiram fazê-lo; creio que, mais tarde, ela se lembrará melhor; no momento ela está embriagada com os esplendores de sua nova vida; a existência que
ela acaba de terminar não lhe aparece senão como um sonho penoso já bem longe dela. Esperamos, também, meu pai e eu, que ela virá nos dizer algumas palavras de afeto das quais temos muita necessidade. Seria uma indiscrição, Senhor, vos pedir, quando
minha boa mãe vos falar de nós, de disso nos dar ciência? Fizestes-nos tanto bem vindo nos falar dela, vindo nos dizer de sua
parte que ela não sofre mais! Ah! Obrigada ainda, Senhor!


Peço a Deus, de coração e de alma, que vos recompense por isso. Em me deixando, minha mãe querida priva-me da melhor das
mães, da mais terna das amigas; me é necessária a certeza de sabê-la feliz, e a minha crença no Espiritismo para me dar um pouco de força.


Deus me sustentou; a minha coragem foi maior do que não o esperava.


Recebei, etc.


Nota de Allan Kardec.

Que os incrédulos riam tanto quanto queiram do Espiritismo; que seus adversários, mais ou menos interessados, o tornem em
ridículo, que o anatematizem mesmo, isso não lhe tirará essa força consoladora que faz a alegria do infeliz, e que o faz triunfar da má vontade dos indiferentes, a despeito dos seus esforços para abatê-lo.


Os homens têm sede de felicidade; quando não a encontrarem sobre a Terra não será um grande alívio ter a certeza de encontrá-la numa outra vida, tendo-se feito o necessário para merecê-la. Quem, pois, lhe oferece mais alívio para os males da Terra? É o materialismo, com a horrível expectativa do nada? É a expectativa das chamas eternas, das quais não escapa um sobre milhões? Não vos enganeis com isso, essa perspectiva é ainda mais horrível do que a do nada, e eis porque aqueles cuja razão se recusa admiti-la são levados ao
materialismo; quando se apresentar aos homens o futuro de maneira racional, não haverá mais materialistas. Que não se admire, pois, em ver as idéias espíritas acolhidas com tanta solicitude pelas massas, porque elas levantam a coragem em lugar de abatê-la. O exemplo da felicidade é contagioso; quando todos os homens verem ao seu redor pessoas felizes pelo Espiritismo, se lançarão nos braços do Espiritismo como sobre uma tábua de salvação, porque preferirão sempre uma doutrina que sorri e fala à razão àquelas que apavoram. O exemplo que acabamos de citar não é o único desse gênero, é por milhares que se nos oferecem, e a maior alegria que Deus nos reservou neste mundo é a de sermos testemunhas dos benefícios e dos progressos de uma crença que os nossos esforços tendem a difundir. As pessoas de boa vontade, aquelas que vêm nele haurir consolações são tão numerosas, que não saberíamos furtar o nosso tempo, em nos ocupando com indiferentes que não têm nenhum desejo de se convencerem.


Aqueles que vêm a nós bastam para absorvê-lo, é por isso que não vamos ao encontro de ninguém; por isso também não o perdemos respigando nos campos estéreis; a vez dos outros virá, mais cedo do que pensam, para a glória de uns, e para a vergonha de outros.

===


Tenho apenas duas certezas na vida:

1) A imortalidade do espírito;

2) O amor como força propulsora do progresso.

Delas deriva meu agir na face da terra. Tendo sempre em conta que o homem se conhece por seus atos e nunca por suas palavras.


Paulo Cesar Fernandes

23/09/2014