segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

20131209 Filosofia, precursora do espiritismo

Filosofia, precursora do espiritismo
 
 
Evidentemente trago aqui o pensamento de alguém muito mais conhecedor e estudioso da matéria que eu: o Professor José
Herculano Pires.


Em seu livro "O espírito e o tempo", capítulo IV "Antecipações doutrinárias" o quarto item diz o seguinte:


Foto presente em PENSE - Pensamento Social Espírita


4 - Das Antecipações às Correlações


A revelação do mundo espiritual, em seu verdadeiro sentido, ou seja, como “o outro lado da vida” ou “a outra face da natureza”, só
poderia ser feita, como o demonstrou Kardec em A Gênese, depois do desenvolvimento científico. Antes que o homem assumisse o
que se pode chamar “uma atitude científica”, diante da natureza, o mundo espiritual só poderia ser encarado como algo misterioso, e
portanto sobrenatural. Ainda em Swedenborg a atitude mística é dominante, e mesmo em Davis ela impera, não obstante a maior
naturalidade com que o mundo espiritual lhe é apresentado. Entretanto, Swedenborg era um sábio, um homem dedicado a estudos científicos, o que mostra a dificuldade com que a mente humana se desapega de suas posições anteriores. Da ciência de
Swedenborg, ainda cercada de grandes zonas de mistério, o mundo teria de avançar mais de um século, para atingir o clima científico necessário ao advento do Espiritismo.



Assim como a aparição de Elias e Moisés a Jesus, no Tabor, tem um sentido alegórico, ligando o Messias ao “horizonte profético” e
à “lei”, ou revelação israelita, assim também a aparição de Galeno e Swedenborg a Jackson Davis, nas montanhas de Catskill, pode
ser interpretada como uma alegoria. Claudius Galeno, médico e filósofo do século segundo d. C., é um representante da ciência
antiga, e seu nome se tomou sinônimo da palavra “médico”. Swedenborg, como já vimos, apresenta-se como um profeta moderno, anunciando uma renascença profética através da prática mediúnica, já agora esclarecida. Ambos transmitem a Davis a ciência e a profecia, preparando-o como o precursor daquele que virá realizar a síntese das duas formas de conhecimento: a científica e a profética, ao codificar o Espiritismo. A alegoria moderna de Catskill assemelha-se, portanto, em sua significação espiritual e em suas conseqüências históricas, à alegoria evangélica do Tabor. Ambas anunciam, de maneira semelhante, mas cada qual em sua época e através de seus elementos próprios, o advento de dois novos mundos: o cristão e o espírita. E assim como o mundo cristão era um prolongamento do judaico, o mundo espírita é a continuidade natural e necessária do cristão, em cujos princípios se fundamenta.


Daí a seqüência das três revelações fundamentais, a que se refere Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo.



Ao nos referirmos a este livro de Kardec, devemos lembrar que ele também tratou de precursores do Espiritismo, indicando algumas
“antecipações doutrinárias”. Essas referências vão bem mais longe do que as nossas, pois Kardec aponta Sócrates e Platão como os
precursores longínquos do Cristianismo e do Espiritismo, chegando a formular um resumo da doutrina de ambos, para mostrar suas
ligações com as novas idéias. Veja-se, a propósito, a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Não há duvida que Kardec
tinha razão, ao estabelecer essa ligação dos princípios filosóficos do Espiritismo com os do Platonismo. Entretanto, quando tratamos das “antecipações doutrinárias” de Swedenborg e Davis, não ficamos apenas no plano filosófico, mas abrangemos toda a área propriamente “doutrinária” do Espiritismo, com seus aspectos científico, filosófico e religioso.



As antecipações religiosas e filosóficas do Espiritismo se estendem ao longo de todo o passado humano. Kardec referiu-se a Sócrates e Platão como a uma poderosa fonte histórica, de que podia servir-se para reforçar a sua afirmação de que o Espiritismo provém da mais remota antigüidade. De outras vezes, porém, como vemos n’O Livro dos Espíritos, em artigos publicados na Revista Espírita, e em vários trechos de outros livros da codificação. Kardec lembra as ligações do Espiritismo com os mistérios mitológicos dos gregos, as religiões do Egito e da Índia, e particularmente com o Druidismo celta, nas Gálias. Por toda parte, em todas as épocas, como acentua o codificador, “encontramos as marcas do Espiritismo”. Mas essas marcas, esses sinais ou esses traços, só começam a reunir-se, sob poderoso impulso mediúnico, com a finalidade clara de constituírem uma nova doutrina, com as características precisas de uma nova revelação, a partir de Swedenborg, para através de Davis se definirem melhor, até a sua completa e decisiva formulação na obra de Kardec.



As referências a Sócrates e Platão abrem um campo específico na investigação das antecipações doutrinárias do Espiritismo, que é
o campo dos precedentes filosóficos. Kardec nos coloca, com essas referências, diante de um vasto panorama a ser investigado, para descobrirmos aquilo a que poderemos chamar “as raízes filosóficas do Espiritismo”. Trabalho gigantesco terá de ser realizado, a começar das filosofias orientais, passando demoradamente pelos gregos, onde Sócrates, Platão e o próprio Aristóteles – este,
particularmente, com sua doutrina de forma e matéria – têm muito a oferecer, e seguindo pela era helenística, até a Idade Média e o
Mundo Moderno. O neoplatonismo, a partir de Plotino, parece-nos um ramo fecundo, e os filões medievais, apesar de todo o peso
asfixiante do seu dogmatismo fideísta, também apresentam valioso material para definição das raízes filosóficas do Espiritismo.



As antecipações filosóficas mais recentes estão sem dúvida no cartesianismo. O problema dos sonhos de Descartes, da sua inspiração pelo Espírito da Verdade, da sua tentativa de criar a Ciência Admirável – a que nos referiremos mais tarde – exige
pesquisas que ainda não puderam ser realizadas no meio espírita, dada a exigüidade de tempo, num movimento que tem apenas cem
anos. Depois de Descartes, é o seu discípulo e continuador Espinosa quem se apresenta como um verdadeiro precursor filosófico do Espiritismo, a começar da elaboração de seu livro fundamental, A Ética, onde são numerosas as correlações com O Livro dos Espíritos. Logo mais, a investigação do Hegelianismo e suas conseqüências não nos parece menos fecunda. Hegel se revela uma espécie de subsolo, em que as raízes filosóficas do Espiritismo penetram a grandes profundidades, e o próprio Kant, contemporâneo e testemunha de Swedenborg, oferece-nos amplas possibilidades de estudos, que se prolongam até os nossos dias,
nas correntes do neokantismo.



Saindo, assim, do terreno das antecipações, podemos entrar também no das correlações, encontrando nos filósofos
contemporâneos, entre os quais se destacam, ao que nos parece, Henri Bergson, Octave Hamelin, Louis Lavelle, Samuel Alexander,
Nicolai Hartmann, todo o campo do Existencialismo, inclusive o próprio Sartre, possibilidades imensas de comparação e mesmo de
ampliação das investigações espíritas, em diversas direções.


Somente esse trabalho, a ser realizado, poderá mostrar, de maneira
decisiva, as poderosas correlações que fazem do Espiritismo, como o assinalaram Kardec, Léon Denis e Oliver Lodge, uma síntese
histórica e conceitual do conhecimento, destinada a reformar o mundo.


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Isto me permite insistir que a verdadeira "Ciência da Alma" é a Filosofia. O espiritismo é tão somente uma vertente da filosofia, como o Kantismo, o hegelianismo, etc.


É isso!


Paulo Cesar Fernandes

09 12 2013