domingo, 11 de maio de 2014

20140512 Mario Sergio Cortella Qual tua obra Fichamento


Mario Sergio Cortella_Qual tua obra_Fichamento

Nota PC: Mario Sergio Cortella é simplesmente discípulo do Professor Paulo Freire, e o Substituiu na Secretaria de Educação do Município de São Paulo. O fato de ser católico e teólogo da PUC não pode fazer que deixemos de acolher suas justas reflexões. Fortemente vinculadas a alteridade (Aceitação do outro e de seus pensamentos e valores). 
À guisa de nota apenas, me sinto o primeiro alvo dessas observações. Visto a carapuça mesmo.
 
 
 
Cortella, Mario Sergio
Qual é a tua obra? : inquietações
propositivas sobre gestão, liderança e ética.
Petrópolis (RJ) : Vozes, 2010
 
 

 

 

Pag 13-14

O que é a espiritualidade?
É a sua capacidade de olhar que as coisas não são um fim em si mesmas, que existem razões mais importantes que o imediato. Que aquilo que você faz, por exemplo, tem um sentido, um significado. Que a noção de humanidade é uma coisa mais coletiva, na qual se tem a idéia de pertencimento e que, portanto, o líder espiritualizado – mais do que aquele que fica fazendo meditações e orações – é aquele capaz de olhar o outro como o outro, de inspirar, de elevar a obra, em vez de simplesmente rebaixar as pessoas. Então, essa espiritualidade é a capacidade de respeitar o outro como o outro e não como um estranho  e edificar, em conjunto, um sentido (como significado e direção) que honre nossa vida.

 

Pag 16

Temos carência profunda e necessidade urgente de a vida ser muito mais a realização de uma obra do que de um fardo que se carrega no dia a dia.

 

Sobre o trabalho

 

O mundo protestante luterano e calvinista no século XVI vai trazer outra inflexão. Vai colocar o trabalho, o que nasce junto com o capitalismo, como a continuidade da obra divina. Nesse sentido, o trabalho para acumular e guardar será extremamente valorizado. Não é casual que essa ética, tão bem estudada por Max Weber, em "Ética protestante e o espírito do capitalismo" (uma obra do século XIX, mas de uma atualidade brutal no século XXI) vai diferenciar inclusive os modos de organização da sociedade no Ocidente: aquelas com uma ética católica, apoiada na lógica que só a pobreza salva.

O trabalho como castigo persiste. Tanto que a maior parte das pessoas diz: “Quando eu parar de trabalhar, eu vou fazer isso, isso e isso”. Sendo que isso é uma ilusão, porque você pode dizer: “Quando eu não tiver dependência em relação ao trabalho, eu vou fazer isso”. Mas parar de trabalhar você não vai parar nunca. Nem pode. Porque você nunca deixara de fazer a sua obra. Seja a sua obra aquela que você faz para continuar existindo, seja para ter o seu reconhecimento. Eu me vejo naquilo que faço, não naquilo que penso. Eu me vejo aqui, no livro que escrevo, na comida que preparo, na roupa que eu teço.

 

POIESIS   =  obra
Universo  < == > multiverso  -  a nova concepção, partindo do pressuposto da existência de vários universos.

Pag 29

Cuidado com gente cheia de certeza. Num mundo de velocidade e mudança, imagine se você ou eu somos cheios de certeza a dificuldade que isto nos carrega. Claro, você não pode ser alguém que só tem dúvida, mas não tê-las é sinal de tolice. “Será que estou fazendo do melhor modo? Da maneira mais correta? Será que estou fazendo aquilo que deve e pode ser feito?

Só seres que arriscam erram. Não confunda erro com negligência, desatenção, descuido. Ser capaz de arriscar é uma das coisas mais inteligentes para mudar. Voce não tem de temer o erro. Tem de temer a negligência a desatenção e o descuido. Erro é para ser corrigido, não para ser punido. O que se pune é negligência, desatenção e descuido. Quem inventou a lâmpada elétrica de corrente contínua foi Thomas Edison, sabemos. O que nem sempre se tem idéia é que ele fez 1.430 experiências antes de chegar à lâmpada que deram errado. Ele inclusive registrou: inventei 1.430 modos de não fazer a lâmpada. Porque é muito importante também saber o que não fazer. Ele aprendeu que o fracasso não acontece quando se erra, mas quando se desiste face ao erro.

 

Pag. 30-31

Para ser capaz de uma mudança cada vez mais significativa e positiva é necessário ter humildade. Só quem acha que já sabe acaba caindo na armadilha perigosa que é não dar passos adiante.

De onde vem a palavra “humildade”? De humus, que é terra fértil e, na origem, significa o “solo sob nós”. Em outras palavras humus é o nível em que nós estamos. A palavra humildade é a mesma da origem húmus, da qual deriva a palavra “humano”. Cada homem e cada mulher têm o mesmo nível de dignidade, de possibilidade de ação. No livro Genesis, os hebreus registraram frase atribuída a Javé quando expulsou o casal primordial e repreendeu Adão: “No suor do teu rosto comerás o pão, até voltares ao solo, pois dele fostes tirado. Sim, és pó e ao pó voltarás” (Gn 3,19): “Do pó viemos, ao pó voltaremos”. Isso significa que estamos todos no mesmo nível. Humildade, humano, húmus – estamos no mesmo nível em relação à nossa dignidade. Existem pessoas que não tem essa percepção, elas não conseguem aproveitar as oportunidades porque não tem humildade.

Qual o contrário de humildade? Arrogância. Gente arrogante é gente que3 acha que já sabe, que acha que nada precisa aprender, que costuma dizer:

Há dois modos de fazer as coisas, o meu ou o errado. Escolha você”.

 

Gente arrogante não ouve discordância e não consegue crescer.

Nós somos um animal arrogante. Há pessoas que se recusam à mudança porque acham que já estão prontas. “Pode deixar, eu sei o que eu faço”, dizem com relativa freqüência. Uma das fases mais perigosas da vida de nossos filhos é quando eles têm 15 anos, 16 anos, porque se acham invulneráveis, que nada vai acontecer com eles. Ficam arrogantes em excesso. “Cuidado, filho.” Ele responde: ”Pai, pode deixar, eu sei o que eu faço”. Ou: “Filha, olha lá”. A resposta: “Pode deixar, isso nunca aconteceu”. E aquele que se considera invulnerável, ele pode se arriscar e se machucar, pois essa arrogância é típica da idade. É perigosíssima.

Arrogância é um perigo porque ela altera inclusive a nossa capacidade de aprender um com o outro, de entrar em sintonia. Bons músicos não fazem uma boa orquestra a menos que eles tenham sintonia. E essa sintonia vem quando as pessoas respeitam a atividade que o outro faz e querem atuar de forma integrada. Se há uma coisa que liquida uma orquestra é arrogância.

 

Pag 33

Essa educação continuada pressupõe a capacidade de dar vitalidade à ação, às conseqüências, às habilidades, ao perfil das pessoas. E isso, entre outras coisas, traz uma multiplicidade de elementos, desde treinamentos até cursos de formação e especializações.  E também a formação da sensibilidade, que é uma coisa central atualmente no mundo do trabalho, isto é, a facilitação de atividades que envolvem a sensibilidade estética no campo da música, da poesia, das artes plásticas, de maneira que aquele ou aquela que atue em uma empresa tenha inclusive um prazer grande pela estrutura de conhecimento em seus múltiplos níveis. Eu faria isso como presidente. Aliás, as empresas que estão indo céleres em direção ao futuro são aquelas em que o presidente faz isso. Se a liderança não estiver voltada para dar uma prioridade a essa temática da formação continua, o máximo que  ela terá é sucesso extemporâneo.

 

Pag 35

Uma empresa que não pense na formação de um multiespecialista fratura a condição de ir adiante com maior perenidade. Afinal de contas, a velocidade da alteração dos processos produtivos, dos conhecimentos, dos nichos de mercado é tamanha que a questão não é estar o tempo todo partindo, mas preparado para partir. Voce não tem de formar uma pessoa para estar continuamente de partida para outro lugar. Ela tem de estar de prontidão, em estado de aptidão para partir para uma outra direção, se assim for necessário. E formar pessoas para a autonomia exige que elas desenvolvam a sensibilidade, a capacidade de acumulação de conhecimento e informação, a capacidade de apropriar-se desse conhecimento e dar a ele aplicabilidade. Não basta que isto saia apenas do mundo da erudição, não é para formar eruditos, é formar pessoas que tenham condições de ter um conhecimento que tenha eficiência.

Aristóteles chamaria isso de causa eficiente. Não basta  uma causa formal, é preciso ter uma causa eficiente, diria ele, que de resultado. E empresas vivem de resultados, que são obtidos a partir da condição de competência que ela carrega.

 

Pag 42

Vamos retomar: não confunda cansaço com estresse. Voce tem cansaço quando uma atividade lhe exige bastante mas é prazerosa. O estresse se instala quando aquilo que você faz lhe exige bastante e você não vê razão de fazê-lo. Jogar uma hora de futebol cansa, mas não pode estressar. Resolver um problema de geometria cansa, mas não pode estressar. Trabalhar num projeto cansa, mas não pode estressar. E você se estressa quando aquilo que  faz não tem sentido. Estudar segue a mesma lógica. Por que muitos de nós nos estressamos na escola básica? Porque, vez ou outra você perguntava: “Professor, por que eu tenho que estudar isso?” e ele dizia: “Um dia você vai saber”. E voce, aos 14 anos de idade, ficava estudando as leis de Newton, tendo de decorar que  “os corpos se atraem na razão direta das suas massas e na razão inversa do quadrado da distância entre elas”., sem que tivesse conhecimento da finalidade daquilo. Ao fazê-lo aquilo o estressava.

O mesmo vale para um curso. Se  faço, mas não compreendo a razão, eu não consigo fruí-lo, aproveitá-lo, só vou obter estresse.

 

Pag 47

Uma característica central de quem não perde oportunidade é a capacidade de ter audácia. Não confunda audácia com aventura. A mudança se faz com os audaciosos, não com os aventureiros. O grande pensador alemão Immanuel Kant, no século XVIII dizia: “Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar”. Suportar não significa sucumbir, mas resistir às incertezas e continuar. Para resistir às incertezas é preciso ter audácia. Repita-se: não confunda audácia com aventura. Audacioso ou audaciosa é aquele ou aquela que planeja, organiza, estrutura e vai. Aventureiro ou Aventureira é quem diz: “ Vamos que vamos e veremos no que dá”.

 

Pag 55-56

No trajeto até o novo patamar é preciso lidar com a tensão. Qual a tensão? A tensão da mudança. Toda pessoa que precisa mudar corre um risco: o do desequilíbrio momentâneo. Quando aprendemos a andar de bicicleta, aprendemos a nos equilibrar lidando com a possibilidade da queda. Nenhum e nenhuma de nós nasceu sabendo andar. Quando alguém sofre um acidente e precisa fazer fisioterapia, há o preparo não apenas do músculo para voltar a anda, mas também do espírito, para que a pessoa saiba que corre oo risco de desequilibrar-se.

Coragem para enfrentar o desequilíbrio momentâneo é garantia de estabilidade mais adiante.

 

Pag 59

A maior parte das pessoas no mundo do trabalho executivo está cuidando do urgente e não do importante. É necessário tomar uma decisão em relação a isso. Lamento, o mundo não mudará essa lógica do Ocidente tão rapidamente. Acho que esse nosso modelo de existência nas grandes metrópoles, com um trabalho acelerado, com uma competitividade exacerbada ainda tem um fôlego, no meu entender de pelo menos dez anos. Todavia, não mais que uma década porque está próximo de um esgotamento. Uma parte do mundo executivo está próxima do colapso. O que temos de reorientar? Questionar o que precisamos ter, de fato, em termos de bens materiais. Temos de pensar sobre aquele que tudo tem, mas a ele parece que é muito pouco em relação ao que deveria ter.

Até onde nós vamos? Até onde eu, executivo, vou levar minha vida de esgotamento, à custa de que? De ter mais relógios, canetas, carros, de poder consumir mais? Se eu estou  perdendo vida, estou vendendo a minha alma. Aliás os cristãos tem uma frase que muitos executivos deveriam pensar sempre.

Diz: “De nada adianta a um homem ganhar o mundo se ele perder sua alma” (Mt 16,26)

 

Pag 63-64

As pessoas estão começando a fazer uma distinção necessária entre o que é essencial e o que é fundamental.

Essencial é tudo aquilo que você não pode deixar de ter: felicidade, amorosidade, lealdade, amizade, sexualidade, religiosidade. Fundamental é tudo aquilo que o ajuda a chegar ao essencial. Fundamental é o que lhe permite conquistar algo. Por exemplo, trabalhho não é essencial, é fundamental. Voce não trabalha para trabalhar, você trabalha porque o trabalho lhe permite atingir a amizade, a felicidade, a solidariedade. Dinheiro não é essencial, é fundamental. Sem ele, você passa dificuldade, mas ele, em si, não é essencial. No mundo da empresa salário não é essencial, é fundamental. O que eu quero no meu trabalho é ter minha obra reconhecida, me sentir importante no conjunto daquela obra. Essa visão do conjunto da obra vem levando muitas pessoas a questionar o que, de fato estão fazendo ali.

 

Pag 72-73

Aliás, gente arrogante tem uma característica muito peculiar: é cheia de certezas. Cuidado com gente cheia de certezas. São pessoas incapazes de crescer. Porque o crescimento na história da humanidade se dá quando a gente tem  dúvida. Quando a gente só tem certezas, o máximo que faz é ficar o tempo todo dentro do mesmo ( a mesma Praça, o mesmo banco, as mesmas flores...)

 
Pag 75

E aqui cabe a importante distinção ser humilde é diferente de ser subserviente. Uma pessoa subserviente é aquela que se dobra a qualquer coisa. Uma pessoa humilde sabe que o dela não é o único modo de ser, com um único modo de pensar. Aliás, a pessoa que tem humildade usa o outro como fonte de renovação. De maneira geral o arrogante acha que ele se basta. Escrevi isto mais densamente no livro Não nascemos prontos! (Vozes). Cai numa armadilha perigosa: em vez de deixar o outro satisfeito, ele fica satisfeito consigo mesmo. Cuidado com a autosatisfação. A satisfação paralisa, a satisfação entorpece, a satisfação adormece. Um filme bom é um filme insatisfatório. Um livro bom é um livro insatisfatório. Na hora em que você termina de ler, fica olhando aquelas páginas, querendo que continuassem.

Ora, por que marcamos jantares em casa às 9h da noite e servimos a comida às 11h? Porque se as pessoas chegarem e comerem, elas ficarão satisfeitas, se entorpecerão e a festa acabará. E é gostosa a convivência animada e prolongada pela espera, enquanto servimos o aperitivo, em meio às conversas e risadas.  

Cautela de novo: há gente muito satisfeita consigo mesma, porque julga deter o modo bom de ser. E acha que isso é liderar. Ele não consegue olhara outra pessoa como fonte de renovação. Cuidado com gente cheia de certeza. Gente cheia de certeza fica muito satisfeita consigo mesma e só fica fazendo mais do mesmo o tempo todo.

Guimarães Rosa, o grande escritor mineiro, dizia: “O animal satisfeito dorme”. As mulheres sabem o que é isso...

 
Pag 78

Tomemos pois muito cuidado com a satisfação. A satisfação paralisa, a satisfação adormece. A satisfação entorpece. A satisfação pode nos deixar num estado de tranqüilidade. Sabe qual é o oposto? O que nos renova? É a outra pessoa. A que nos desafia a ser diferente, a que nos obriga a pensar de outro modo. Cuidado com gente que concorda com tudo que você faz. Gente assim:

a)      Não gosta de você;

b)      Começou a se preparar para lhe derrubar;

c)      Lhe  despreza;

d)     Não se importa como você;

e)      Todas as alternativas acima.

 

Porque quando você tem verdadeira consideração com a outra pessoa você a corrige, discorda dela. Afinal de contas, nenhum de nós é imune a erro. Só se constrói futuro quando a gente é capaz, inclusive, de arriscar. O pior risco para construir futuro, para quem tem sucesso, é se achar invulnerável. Já vi dezenas de empresas quebrarem por se acharem invulneráveis. Acharam que já a haviam atingido um nível tal que, dali em diante, era só sossegar.

O sucesso precisa ser sucedido! O sucesso precisa ter sucessão. Um sucesso que se satisfaz é um sucesso que paralisa. Excelência não é um lugar aonde você chega. Excelência é um horizonte. No dia em que você achar que chegou
à excelência você sossega. E aí você dança. Num mundo que muda velozmente, você passa  do primeiro lugar a desclassificado do jogo em menos de um ano. Isso não é para nos deixar em estado de tensão, mas em estado de atenção. Ou seja, não descuidar e não achar que se é invulnerável.

Só será possível construir futuro e buscar excelência se formos capazes de conviver, dentro da igualdade, com a diferença nas atividades que cada um faz. Num mundo que muda velozmente, uma empresa só se estabelece se estabelecer condições de sinergia.

Sinergia significa “força junto”. E, nesse sentido, fazer “força junto” obriga a olhar oi outro como outro, e não como estranho. Num mundo que muda com  velocidade, se eu não olhar o outro como fonte de conhecimento para mim, independentemente de onde ele veio, de como ele faz, do modo como ele atua, eu perco uma grande chance de renovação.

O outro me renova e nós nos renovamos.

 

Falando da velocidade da vida

 

Pag 81

Até a maneira de disputar uma partida  de futebol mudou. Nos anos 1970, um  jogador de futebol corria por partida, seis quilômetros em média. Hoje, estatística refeita, um jogador percorre em média, o equivalente a 13 quilômetros por jogo. Não mudou o otamanho do campo, nem a duração da partida e tampouco o número de jogadores. O que mudou? A velocidade do jogo, o ritmo e a estratégia.

 

Pag  85

Paulo Freire era um líder estupendo. Ele conseguia inspirar. Ele era meu chefe na hierarquia, mas era também um líder. Tanto que, quando ele me chamava na sala dele para me dar uma bronca, eu ia animado. Porque eu sabia que ia sair de lá melhor.Eu sabia que, mesmo que fosse para tomar uma repreensão ou para corrigir uma rota, eu criava uma boa expectativa ao entrar na sala dele: “O senhor me chamou?” E às vezes tomava uma chamada daquelas de cima abaixo. Não tinha problema. Eu saia de lá animado com a possibilidade de corrigir algo, por intermédio de alguém que eu respeitava e que estava fazendo aquilo para que a obra fosse maior. Isso é líder.

 

Pag 93

Lideres são homens e mulheres que ajudam indivíduos e equipes a fazer a travessia rumo ao futuro. Atualmente a necessidade não é estar partindo o tempo todo, mas sim estar preparado para partir.

 

Cinco competências do líder

1)    Abrir a mente

Deve estar atento àquilo que muda e estar sempre disposto a aprender.

2)    Elevar a equipe

O liderado percebe claramente quando você é capaz de, ao crescer, levá-lo junto.

3)    Recrear o espírito

As pessoas devem se sentir bem e ter alegria onde estão. Seriedade não é sinônimo de tristeza. Tristeza é sinônimo de problema.

4)    Inovar a obra

Liderar pressupõe a capacidade de se reinventar, de buscar novos métodos e soluções.

5)    Empreender o futuro

Não nascemos prontos, também não somos inéditos, mas tampouco somos ilhas.

 

Pag 106

Ética. E de onde vem a palavra ética? Do grego ethos, que até o século VI AC significava “morada dos humanos”. A expressão domus, em latim, é uma tradução dôo grego ethos. Ethos é o lugar onde habitamos, é a nossa casa. “Nesta casa não se faz isso”; “nesta casa não se admite tal coisa”. Ethos também significa “marca” ou “caracter”. Eu vou usar “caracter” com “c”, como o jeito lusitano de escrever, de propósito. Porque você fala em “caracter”, “característica” é aquilo que te marca. Ethos é a morada do humano, ethos é a fronteira entre o humano e a natureza. Quem manda nos outros animais? Tem um cachorro autonomia? Tem um cavalo autonomia? Em nenhum momento. Eles obedecem a regras que são anteriores e superiores a eles. Qual o nome que a gente dá a essas regras da natureza? Instinto.

Nós, humanos, vivemos em condomínio. Nós temos autonomia, porém não temos soberania. Não agimos por instinto. Agimos por reflexão, por decisão, por juízo. A ética é o conjunto de princípios e valores da nossa conduta na vida junta. Portanto, ética é o que faz a fronteira entre o que a natureza manda e o que nós decidimos. A ética é aquilo que orienta a sua capacidade de decidir, julgar, avaliar. Só é possível falar em ética quando falamos em seres humanos, porque ética pressupõe a capacidade de decidir, julgar, avaliar com autonomia. Portanto, pressupõe liberdade.

 

Pag 109

Existe alguém sem ética, posso falar que não tem ética? Ou devo dizer que aquilo é antiético? Aquele que frauda o imposto, aquele que pratica corrupção, aquele que para o carro em fila dupla praticou um ato não ético ou antiético? Posso eu dizer que alguém não tem ética? Não. Por que? Porque, se você tem princípios e valores para decidir, avaliar e julgar, então você está submetido ao campo da ética.

Não existe "falta de ética". Essa expressão é equivocada, talvez o que se queira dizer é: “Isto é antiético”, algo contrário a uma ética que esse grupo compartilha e aceita. Posso dizer que o bandido tem ética? Posso. Ele tem princípios e valores para decidir, avaliar, julgar. O que eu posso dizer é que a ética que ele tem é contrária à minha e à sua. Então, é antiético. Não confunda aético – isto é, aquele a quem não se aplica a questão da ética – com antiético.

 

Benjamin Disraeli, grande primeiro-ministro do Reino Unido durante o reinado da Rainha Vitória, proferiu uma frase de que gosto muito: "A vida é muito curta para ser pequena".

Integridade é o princípio ético para não apequenar a vida, que já é curta. Integridade é a capacidade de saber que "eu morro louco, mas ninguém arranca a minha inteireza". Integridade é honestidade, é sinceridade. Há pessoas que falam: "Mas isso no nosso país? Só um otário é honesto, integro e sincero", Essa é uma escolha.

 

Você obtém um pouco de sossego mental quando aquilo que você quer é também o que você deve e é aquilo que você pode. Quanto mais claros os princípios, mais fácil fica lidar com os dilemas. Voce não deixa de ter dilemas, mas é preciso ter como razão central a integridade. O que é uma pessoa integra? É uma pessoa correta, justa, honesta, que não se desvia do caminho. É uma pessoa que não tem duas caras. Qual a grande virtude que uma pessoa integra tem? Ela é sincera.

 
Pag 117

A ética é, antes de  mais nada a capacidade de protegermos a dignidade da vida coletiva.

Afinal de contas, nós, homens e mulheres, vivemos juntos. Aliás, para seres humanos, não existe vivência, existe apenas convivência. Nós só somos humanos com outros humanos. A nossa humanidade é compartilhada. Ser humano é ser junto. Isso significa que é preciso que saibamos que a nossa convivência exige uma noção especial da nossa igualdade de existência, o que nos obriga a afastar do ponto de partida qualquer forma de arrogância.

Gente arrogante é gente que acha que já sabe, repitamos. Gente arrogante é gente que acha que já conhece. Gente arrogante é gente que acha que ela é o único tipo de ser humano válido que existe. Gente arrogante se relaciona com o outro - por conta do dinheiro que carrega, por conta do nível de escolaridade, per conta do sotaque que usa - como se o outro não fosse outro. Fosse menos.

Isso apequena a vida e apequena a alma, se se entender a alma como a sua identidade.

 

Alteridade = capacidade de ver o outro como outro e não como estranho.

 

Questões que ajudam a tomar as decisões:
Quero?                Devo?                  Posso?

 

 
Paulo Cesar Fernandes

12 05 2014
 

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