sábado, 31 de maio de 2014

20140531 Fichamento CC HPires O Ser e a Serenidade (Questões de terminologia

Fichamento
José Herculano Pires

O Ser e a Serenidade
 
 
 

Questões de terminologia


 
A linguagem filosófica, à semelhança da científica e da poética, exige a utilização, e às vezes a criação de termos especiais, para a tradução exata do pensamento. Assim, parece às vezes difícil, pedante ou rebarbativa.

 

Penso que aqui o professor amaciou a questão atribuindo à linguagem as dificuldades no enfrentamento do texto. Sem dúvida a terminologia é importante, mas o conteúdo me parece mais distante do nosso dia a dia; das nossas naturais reflexões.

Com um pouco de persistência trilhamos os raciocínios de Herculano Pires.

 

Os conceitos científicos e filosóficos não tem a carga psíquica da tradição oral comum. São formulações novas do pensamento, que exigem formas novas de tradução oral e escrita, para a clareza de sua compreensão, pelo menos a clareza possível. Não é por esnobismo ou por querer fingir profundidade que o cientista e o filósofo empregam aquilo que, pejorativamente, costuma-se chamar o seu jargão. É por necessidade.

 

A terminologia é parte integrante do método, quando não se arvora, como muitas vezes acontece na filosofia, no próprio método. Neste livro, isto não aconteceu. Mas o leitor verá que a terminologia se apresenta como instrumento metodológico fundamental. Sem ela, seria difícil ao autor colocar numerosos problemas mentalmente percebidos. Por isso, pareceu-nos importante a colocação prévia destas questões terminológicas. Para bem penetrar nas reflexões que se seguem, percebendo-lhe as conotações essenciais, o leitor deve ter primeiramente assimilado o sentido específico dos termos utilizados ou criados no processo de reflexão. É evidente que ninguém pode querer, numa reflexão filosófica, a facilidade de uma conversa banal. Se o leitor deseja comungar com a problemática filosófica do nosso tempo, não pode querer furtar-se às questões da terminologia, implicadas inevitavelmente no processo geral do pensamento atual. Da mesma maneira, o autor não poderia pretender enfrentar aquela problemática, sem a utilização do instrumental de expressão adequado.
 

É por necessidade. Diz o professor, justificando-se dos termos a ser por ele criados para a melhor expressão do seu pensamento. E veremos todos, os caminhantes desta estrada de autodescoberta, o acerto das colocações prévias e avisos dados.

Termos fora de nosso vocabulário deverão ser incorporados de forma gradual e constante, pois estarão presentes até os últimos capítulos do livro.

 

Se os termos tradicionais estão carregados da vivência milenar ou secular, os termos específicos da técnica filosófica, e os criados pelas exigências do assunto (ou pelo menos adaptados) não estão vazios. A sua carga é de natureza dupla: a da percepção de uma realidade nova e a da emoção da busca para expressá-la. Essa carga deflagra naturalmente no espírito do leitor que estiver de fato sintonizado com o desenrolar da reflexão. Mas esse deflagrar pode ser auxiliado, particularmente no leitor pouco afeito às leituras filosóficas, por uma apreciação antecipada do esquema terminológico.
 

Aqui temos um chamar a atenção do leitor para a importância do seu envolvimento com o texto. Pois a emoção dele autor ao encontrar o termo certo, seguramente chegará ao leitor através da alegria de uma nova descoberta.

Diz aos leitores não habituados à filosofia: “Ei! Este texto é para ti também. Basta que atentes com cuidado às questões da terminologia”.

 

Primeiramente temos a ipseidade, expressão técnica amplamente conhecida, que se torna o eixo da nossa reflexão ontológica[1]. Criada por Duns Scot, que se apoia em Aristóteles, essa expressão significa a individualização ou a condição da individualidade como tal. Não pode ser substituída por individualidade, porque exprime antes a condição abstrata da individualidade, o quid desta e não ela própria. Em nossa reflexão, a ipseidade aparece como uma espiral que se abre no ectipo e sobe em direção ao arctipo. Temos assim mais dois termos, que completam o esquema essencial do Ser.  Todo o processo ontológico se resume nesse esquema. O ectipo tem aqui o sentido berkeleyano: é a natureza primária da individualidade, essa espécie de casulo psíquico em que o indivíduo se fecha no processo de relação, pela necessidade mesma de ser o que é, de permanecer em si, isolado do contexto social e do próprio contexto natural. O arctipo, pelo contrário, é a forma individual da comunhão, o momento em que a espiral da ipseidade atinge literalmente o seu apogeu, afastando-se das exigências egocêntricas da existência terrena, para abrir-se no cosmo, ou seja, na vida universal.

 
O termo ipseidade pode ser amplamente conhecido no universo cultural da psicologia, ou mesmo da filosofia do sujeito, mas é descoberta para nós, simples mortais vinculados a outras tantas áreas do saber.

Neste trabalho a ontologia, o ontológico evidentemente trata do Ser, alma, espírito. Mas a ontologia pode também tratar das coisas do mundo material: mesa, cadeira, etc. A fenomenologia de Edmund Husserl trata da relação dos seres com as coisas.

Mas coube a Martin Heidegger  fazer a crítica, na modernidade; da entificação do mundo, ou coisificação do mundo. Através da técnica o Ser estava sendo esquecido, o foco maior estava nos Entes.  Uma verdade incontestável no momento em que, poucos anos fazem, deixei de ser o Paulo, Analista de Sistemas, para ser um “recurso” encaminhado a uma entrevista numa nova empresa de terceirização. Da modernidade para nosso momento de Pós-Modernidade ou Modernidade Tardia esse fenômeno atingiu marcas impressionantes, quando o próprio ser se prefere como uma mercadoria, de maior ou menor valor no mercado de trabalho. Mas esse é um outro debate. Guardemos apenas esta divisão Ser versus Ente.

Nessa espiral da ipseidade o ser ectípico parte de um guardar-se, fechar-se em si para processualmente ir se abrindo na direção do ser arctípico na relação humana do estar aí terreno inicialmente, transitando para o universal. Para uma relação mais ampla com as coisas e os seres de todo(s) o(s) universo(s). Podemos chamar a isto de plenitude. Creio eu.


Arctipo não deve, pois, ser confundido, de maneira alguma, como arquétipo. Trata-se de um sistema de polaridade. A ipseidade é bipolar, tendo na base do seu desenvolvimento o processo ectípico e no ápice o processo arctípico. O ectipo não é o indivíduo humano, mas o torvelinho da precipitação, que caracteriza esse indivíduo, em sua posição na ipseidade.

 
À polaridade do ectipo e do arctipo corresponde outra, que é a da ecstase e da arcstase. São situações correspondentes à dinâmica da ipseidade, às variações de posição do Ser, sendo a ecstase a permanência numa posição ectípica e a arcstase a permanência numa posição arctípica. Essas duas posições, entretanto, não representam separação ou desligamento do Ser de sua situação vivencial. O ectipo tem a sua arcstase, como o arctipo sua ecstase. Ambos estão sujeitos à polaridade situacional, que é sempre relativa, não implicando a passagem do Ser de um processo ipseidal para outro. Com esses dois termos, completa-se o esquema terminológico da ipseidade, que graficamente podemos representar da seguinte maneira:

 

 


Resta-nos ainda considerar a proposição do termo interexistencial, para a colocação da problemática existencial numa perspectiva filosófica mais adequada à situação epistemológica atual. O desenvolvimento das ciências, como já acentuamos, não nos permite mais a aceitação pacífica da conceituação da existência como uma simples projeção do Ser entre o nascimento e a morte, determinada pela facticidade e a afetividade, essas duas pontas da tenaz existencial que esmagam a concepção atual do homem. Considerando, por exemplo, o problema das regiões ontológicas, na moderna ontologia do objeto, poderíamos adotar um termo diferente, como pluriexistencial, que correspondesse à ideia da multiplicidade das existências. (...) Em qualquer plano que as examinemos, porém, o que importa é o processo das relações interexistenciais.
 

Fazemos uma trajetória do ectipo para o arctipo. Não é casual o fato de o ectipo estar colocado na parte inferior do gráfico. Há um processo ascensional; ou, melhor dizendo, de superioridade do arctípico sobre o ectípico.

Sendo o ectipo, o torvelinho a qual todos estamos sujeitos, apenas estaremos em condições da serenidade na medida em que nos apartemos desse torvelinho. Significando isto, o ajuste do homem à sua postura vivencial. Podemos viver mergulhados nesse torvelinho, sem querer dele nos afastar, por motivações individuais. E a ninguém é dado o direito de julgamento. Se o espírito é Livre. É Livre e ponto final. Não havendo julgamento possível.

No CatoEspíritismo pode vicejar o julgamento. Mas sendo o espiritismo libertador e libertário, no sentido mais amplo do termo, fica eliminado de vez qualquer juízo de valor sobre o procedimento do outro. Qualquer procedimento. Afinal. Como disse o filósofo Gilberto Gil em sua música “Aquele abraço”: “Meus caminhos pelo mundo eu mesmo faço”.

 A polaridade referida pelo professor é a polaridade natural de toda nossa existência, também presente em cada uma das nossas vivências (encarnações); inclusive tendo alternâncias dentro de uma mesma encarnação.

 

Be era uma companheira de trabalho muito querida por mime com a qual tínhamos algumas conversas muito interessantes. Um dia Be me vem com esta pergunta:

_ PC por que motivo nós não somos assim? – desenhando no ar uma linha reta no ar.

Ao meu sorriso ela complementou:

_ Eu sou sempre assim! – desenhando uma curva ondulatória, plena de altos e baixos.

_ Porque ser assim – desenho a mesma curva ondulatória – é ser humano. Ou achas que alguém é uma linha reta todo o tempo?
 

A arcstase proposta no texto não é a linha reta que tanto a Be gostaria de ter em sua vida, mas trará uma maior estabilidade ao homem em sua jornada.

E esta não se fará fora do mundo, mas dentro da mundanidade ao qual somos arrojados desde nossa criação. “O Ser é arrojado no mundo.” disse Heidegger. E não consigo negar essa afirmativa, pois mesmo quando temos o aporte tão valioso de amigos espirituais, os quais nos amparam, ajudam, e até intuem; ao fim e ao cabo somos solitários em cada uma das nossas decisões.

IPSEIDADE é o pensar abstrato da nossa individualidade. Por ser uma abstração somos capazes de pensar uma espiral para essa ipseidade com a qual o ser tem vínculos. Enquanto a individualidade vive na concretude, a ipseidade é como um holograma dessa mesma individualidade. Certo ou errado assim a senti.

Uma coisa importante: temos uma única ipseidade. O fato de termos uma individualidade nos obriga a única ipseidade. Lógica pura.

Por que razão interexistencialidade?

Neste ponto eu ouso divergir do Professor Herculano Pires. Pois para Herculano, Heidegger, Sarte, Marcel e outros filósofos uma encarnação é uma existência. Para mim uma encarnação é apenas uma vivência, ou vida. Como expus na introdução, tem duas limitantes: o berço e o túmulo.

Assim sendo, o que ocorre?

O Ser, ou espírito é uma entidade viajora, se vai completando, complementando no próprio transcurso da viagem, e nunca deixa bagagem alguma acumulada para traz. As aquisições de uma vivência, vida, encarnação são patrimônios consolidados do Ser. Um Ser que busca não apenas a serenidade, mas a sabedoria tratada na introdução deste trabalho.

 



Ontologia significa “estudo do ser”. A palavra é formada através dos termos gregos “ontos” (ser) e “logos” (estudo, discurso). Consiste em uma parte da filosofia que estuda a natureza do ser, a existência e a realidade, procurando determinar as categorias fundamentais e as relações do “ser enquanto ser”.
Engloba algumas questões abstratas como a existência de determinadas entidades, o que se pode dizer que existe, qual o significado do ser, etc.
Os filósofos da Grécia Antiga Platão e Aristóteles estudaram o conceito que muitas vezes se confunde com metafísica. Na verdade, a ontologia é um aspecto da metafísica que procura categorizar o que é essencial e fundamental em determinada entidade.
Este termo foi popularizado graças ao filósofo alemão Christian Wolff, que definiu a ontologia como philosophia prima (filosofia primeira) ou ciência do ser enquanto ser. Assim, esta ciência tinha um caráter racional e dedutivo, que tinha como objetivo estudar os traços mais gerais do ser.
No século XIX, a ontologia foi transformada por neoescolásticos na primeira ciência racional que abordava os gêneros supremos do ser. A corrente filosófica conhecida como idealismo alemão, de Hegel, partiu da ideia de autoconsciência para recuperar a ontologia como "lógica do ser".
 
 
 
 
Paulo Cesar Fernandes
 
31 05 2014

sexta-feira, 30 de maio de 2014

20140530 Fichamento BB HPires O Ser e a Serenidade

 Fichamento

José Herculano Pires

O Ser e a Serenidade



 
Lanterna de Diógenes

 

O problema do ser é a única preocupação real do espírito. Por isso domina toda a História da Filosofia, e quando se acreditava estar superado, - após o surto materialista, positivista e pragmatista da Filosofia Moderna, - ressurgiu ainda com mais vigor. A própria Filosofia da Existência, que caracteriza o pensamento contemporâneo, e que parecia destinada a reduzir o homem a uma espécie de fogo-fátuo, transformou-se numa simples forma de abordagem do problema do Ser. Basta lançarmos o olhar para estes títulos de obras fundamentais: “O Ser e o Tempo”, de Heidegger; “O Ser e o Nada” de Sartre; “Ser e Ter”, de Marcel. Apesar disso, todo o conjunto das filosofias da Existência, como acentua Bochenski, só trata da periferia do Ser, ou seja, dessa ecstase do Ser que é “o homem no mundo”

 

·         Nada é mais tocante a todos os habitantes deste planeta desde a sua formação que as questões de seu destino. Queiramos ou não, a morte é o grande fantasma de toda a História da Humanidade. Alguns se esquivam do tema, como o avestruz escondendo a cabeça no trabalho estafante; nas preocupações tantas capazes de nos absorver o tempo. Mas alguns outros, os filósofos de todas as eras, sobre ele se debruçaram, tendo dele distintas miradas.

·         Autores como Ferrater Mora, Nicola Abagnano podem nos posicionar quanto à veracidade deste fato. Foge ao meu atual escopo.

·         Dentre as obras citadas por Herculano “Ser e Ter” e seu autor Marcel[1] me são inteiramente desconhecidos. Na década de 50 tenha tido talvez sua importância. Importância perdida no transcorrer do tempo. A nota objetiva apenas situar-nos.

·         Segundo José Pablo Feinmann, produtor de cine e professor da UBA (Universidade de Buenos Aires), em seu curso “Filosofia Aqui y Ahora” afirma ele que Martin Heidegger é o maior filósofo da Modernidade. A tal ponto lhe dá importância, dedica 5 aulas num módulo de 13.  Quanto a Jean-Paul Sartre, devem todos saber de sua importância, bem como de sua companheira Simone de Beauvoir em todos os processos convulsionários da Paris do ano de 1968. As chamadas Barricadas do Desejo.

 

Mas, de qualquer maneira, encarando o Ser na sua ecstase humana ou na sua arcstase divina, na hipótese do relativo ou na hipótese do absoluto, a Filosofia Contemporânea voltou-se inteiramente, sem exceção das correntes neo positivistas, e materialistas, para o problema do Ser.

O que há de mais significativo na contribuição das Filosofias da Existência, nesse campo de conflitos e debates que é o atual Existencialismo, segundo me parece, é a recolocação do problema do Ser numa perspectiva humana e realista.

Enquanto Kierkegaard partia do desespero teológico, enfrentando a situação do homem diante do pecado, no mundo, Denizard Rivail partia da observação científica, procurando descobrir a natureza íntima do homem, a sua realidade fundamental, como um ser no mundo. Não obstante, as meditações do teólogo Kierkegaard encontraram maior ressonância, no mundo filosófico, do que as observações de Denizard Rivail, que sob o pseudônimo de Allan Kardec estruturou o Espiritismo.

 




Ecstase = Prefixo grego EC significa movimento para fora. Êxtase, literalmente quer dizer arrebatar-se, desprender-se subitamente, sair de si, elevar-se (do grego ékstasis, pelo latim tardio ecstase, exstase), corresponde ao sentimento de prazer, expressão tanto utilizada para descrever o orgasmo como o transe, resultado da meditação, sendo que algumas religiões, a exemplo do yoga tântrico há relação do orgasmo com o êxtase religioso a ser aprendida. Referindo-se ao "transe" religioso pode ser também descrito como " consciência cósmica" (ampliada), "comunhão com a natureza"; "iluminação" e ainda vocábulos de religiões específicas como nirvana que, no budismo, significa paz, estado de ausência total de sofrimento.
 
Arcstase = Prefixo grego ARC significa superioridade, principal. Como em arcanjo; arquimilionário.
 
NeoPositivismo = Positivismo lógico é uma posição filosófica geral, também denominada empirismo lógico ou neopositivismo, desenvolvida por membros do Círculo de Viena com base no pensamento empírico tradicional e no desenvolvimento da lógica moderna.
O positivismo lógico restringiu o conhecimento à ciência e utilizou o verificacionismo para rejeitar a Metafísica não como falsa, mas como destituída de significado. A importância da ciência levou positivistas lógicos proeminentes a estudar o método científico e explorar a lógica da teoria da confirmação.
O positivismo lógico hoje em dia é desconsiderado pela maioria dos filósofos. Mas, as correntes filosóficas desdobradas de Kuhn (que estabelece o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend (demonstrando que na prática científica a ciência não evolui segundo normas pré-estabelecidas) geraram graves problematizações de suas ideias.
Ludwig Wittgenstein e seu "Tractatus Logico-Philosophicus" contribuíram para a construção da doutrina do Círculo de Viena.
Após a II Guerra Mundial, as doutrinas do positivismo lógico eram cada vez mais atacadas por pensadores como Willard Van Orman Quine, Karl Popper, Thomas Kuhn, Peter Strawson e Hilary Putnam, chegando a sua total decadência por volta dos anos 60.
 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Foi necessário correr todo um século, sob o impacto desumano de duas conflagrações mundiais, para que a proposição espírita sobre o Ser voltasse a preocupar os homens de saber, através da pesquisa científica. Hoje, a pergunta sobre o Ser, que Heidegger recolocou em termos de pesquisa, está sendo respondida segundo o método kardeciano: pela observação e a experiência de laboratório, nos quadros da Parapsicologia. Mas, enquanto o existencialismo kierkegaardiano se fragmenta em correntes contraditórias, o Espiritismo kardeciano sustenta a sua unidade primitiva e tem os seus princípios confirmados pela investigação científica. Isto não desvaloriza a posição e a contribuição do Existencialismo, mas demonstra que o Espiritismo, desprezado e escarnecido, retoma o seu lugar epistemológico na cultura atual, como a pedra rejeitada da parábola.

 

·         Quer neste livro, quer em “Parapsicologia e suas perspectivas” o Professor Herculano aposta todas as suas fichas na Parapsicologia como ramo do conhecimento atestador da realidade dos fatos espíritas. O passar do tempo tem trazido outras preocupações ao homem da atualidade, e a Parapsicologia e tudo referente a algo próximo da metafísica perdeu seu valor.

·         Venceu o materialismo em todos os meios: religiosos e não religiosos. As coisas do Estar aí no mundo ao nosso redor, e a preocupação com os bens ofertados por esse mundo dominam a todos os segmentos sociais e em todos os continentes.

·         Não é sem motivos que amplos contingentes populacionais se deslocam para países capazes de lhes ofertar melhores condições de vida; traduzidas essas condições em maior acesso aos bens de consumo ofertados pelas “Sociedades dos Consumidores”, conforme designa Zygmunt Bauman em “Tempos Líquidos”.

·         Os Estados Unidos é a nova Meca dos latinos. Seja para comprar simplesmente; seja para se estabelecer como seu novo pais. Nada de errado há nisso, pois é da natureza do espírito a busca do melhor para si e sua família em todas as épocas da humanidade.

·         As preocupações existenciais figuram entre  as menores, dentre aquelas ocupando a mente do homem contemporâneo. Gostemos ou não, venceu a materialidade. Ficando aos filósofos, teólogos e artistas, músicos principalmente as preocupações com a existência e com as relações humanas.

  

O problema do Ser, no Espiritismo, foi colocado na perspectiva existencial, mas não foi absorvido nem perturbado pela problemática da existência. Por isso mesmo, o Espiritismo tem muitas contribuições a fazer, para o esclarecimento dos impasses a que chegaram as Filosofias da Existência. Da mesma maneira, suas contribuições para a orientação dos tateios científicos da Parapsicologia, em favor de uma colocação mais clara do problema ontológico, são da mais relevante importância. Se os homens de saber quisessem ouvir o conselho de Descartes, pondo de lado a precipitação e o preconceito, encontrariam no Espiritismo um poderoso auxiliar para o prosseguimento de seus trabalhos, tanto no campo da ciência, quanto nos da Filosofia e da Religião.

 

·         Hoje a Parapsicologia é uma ciência desgarrada da Academia, ao que me parece. A academia a colocou no âmbito dos conhecimentos místicos da humanidade, por maior valor possam ter os experimentos feitos por Joseph Banks Rhine na Universidade de Duke, nos EEUU.

·         Por outro lado, outra fronteira se abriu através da Neurologia, em seus experimentos com macacos movimentando, pela vontade, alguns mecanismos. O universo do cérebro, a nominada Câmara Escura por Guy Claxton, vem recebendo os primeiros sinais de luz sobre sua estrutura, seu funcionamento e suas possibilidades.

·         Mas isto jamais fará, ao meu modo de ver, um aperto de mãos entre a academia e o espiritismo. Principalmente no Brasil onde viceja o CatoEspiritismo. São caminhos paralelos, infelizmente.

 


A investigação ontológica aqui desenvolvida é precária e frágil, como a própria vida humana. E não pretende ser mais do que isso. Porque basta ao homem acender uma pequena luz nas trevas, para que a escuridão se dissipe e o contorno das coisas se mostre por si mesmo. Acendemos apenas a Lanterna de Diógenes, para procurar o Homem nas ruas do mundo, em plena luz solar. É quase certo que a pequena lanterna passará despercebida, sob os clarões atômicos que ameaçam o século. Mas, mesmo em pleno dia, precisamos às vezes a luz humilde de uma lanterna, como demonstrou o filósofo, para enxergarmos pequenas coisas ocultas. Se a luz tateante desta lanterna revelar os contornos, mesmo superficiais, do objeto ontológico, escondido no homem, terá prestado algum serviço aos que buscam.

Na inquietação da vida, o homem sempre se refaz, quando se defronta com a serenidade.

 

·         A busca de nosso autoconhecimento é sempre algo tênue, fugidio, que nos escapa das mãos, por mais tentemos reter. Fruto de nosso atual estágio. Somos seres incompletos.

·         A lanterna proposta pelo professor para sua obra não visa o encontro com um homem honesto, mas por certo o encontro com homens cuja preocupação ontológica supere todas as preocupações materiais e passageiras de nosso tempo. Ocupando sua alma com elementos metafísicos.

·         Destaco neste trecho a humildade de Herculano Pires diante de um trabalho de tal monta, de tal profundidade. Além da emoção da primeira leitura fica comigo a lição: nunca somos grandes, se nos imaginamos grandes. Pelo contrário.




Diógenes de Sinope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sinope, 404 ou 412 a.C.[1] – Corinto, c. 323 a.C.[2] ), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.
Diógenes de Sinope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Não serão os materialistas, os ateus, os Tomés do positivismo científico, e nem também os teólogos, os crentes desta ou daquela seita, os idealistas e sonhadores inconsequentes, que nos darão resposta certa a essas perguntas. Só a pesquisa do Ser, no plano científico e no plano filosófico, a descoberta do sentido da nossa existência, implícito na natureza do nosso Ser, poderá realmente responde-las. Que estas páginas possam oferecer algumas sugestões para essa busca é o máximo que devemos desejar.

 

·         Mesmo porque não há um único caminho para atingir a meta da Serenidade. Cada espírito, ao traçar o seu roteiro pode, de uma maneira ou de outra, encontrar hiatos de serenidade. Como se fossem oásis no total deserto do Ser.

·         A posse das reflexões trazidas por Herculano Pires amplia possibilidades de trazermos para antes, muito antes, esse encontro. Tão desejado por todos: nosso encontro com a serenidade.




[1] O Pensamento de Gabriel Marcel
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Marcel  consultado em 23/05/2014
 
Partindo de sua própria existência, acentua ter vivido problemas filosóficos que o oprimiram e afirma: “a filosofia concreta nasce somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Gabriel procura dar à existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo.
A pesquisa do homem encarnado de Marcel orienta-se para a descoberta de um sentido para a vida, o qual é sempre o sentido da minha vida. Recusar-se a esclarecer o sentido da vida é renunciar a própria identidade profunda, é dissolver-se no Ter.
 
O Ter e o Ser
Esta distinção é fundamental na ontologia de Marcel. Ter diz respeito a coisas que me são externas e que de mim não dependem, embora eu seja proprietário e delas me disponho. Ser é fonte de alheamento: os objetos que possuímos possuem significados que ameaçam tragar-nos. Os que estão apegados ao Ter estão prestes a sofrer de deficiência ontológica com a perda do Ser. Para quem vive na dimensão do Ter todas as coisas são problemas. Exemplo: Dom Juan vive na zona do Ter: vê a mulher do ponto de vista da posse e por sequência, um mero problema, por isso passa de uma para outra, sem poder saciar-se com nenhuma.
O corpo e o Ter-típico: é a exterioridade em comunicação com o “eu” interior. Entre a realidade e mim, o corpo é mediador absoluto. O corpo é a primeira coisa possuída.
O Ser tem a primazia na pesquisa metafísica em relação ao pensamento e ao Ter. Não há e não pode haver passagem do pensamento ao ser; esta passagem é impensável; o pensamento já está no ser e não pode sair dele, não pode fazer abstracção dele. É necessário dizer que o pensamento é interno ao ser, que ele é certa modalidade do ser. O pensamento está para o ser assim como os olhos para a luz.
 

quarta-feira, 28 de maio de 2014

20140525 Fichamento AA HPires O Ser e a Serenidade


Fichamento
José Herculano Pires
O Ser e a Serenidade

 

Introdução ao Fichamento.
 
Antes de iniciar este trabalho devo esclarecer ao leitor dois conceitos trabalhados por mim de forma diversa da maioria das pessoas. São eles: vida ou encarnação e existência.
 
 
  • Vida ou encarnação. É o espaço que tem início no berço e finda no túmulo;

  • Existência. É muito mais abrangente. Abarca toda a trajetória do Ser. Do momento de sua criação, como  Simples e Ignorante, até o ponto daquilo possível de chamar de sabedoria: momento de união do conhecimento das ciências da natureza ao senso ético em seu alto grau. Sendo ambas as áreas passíveis de acréscimos dado a evolução ser infinita.


 
o   Simplicidade significando: fisicamente simples, e mais, destituído de toda maldade; malícia. Simples no corpóreo e no incorpóreo.

 
o   Ignorância sendo o desprovimento de todo e qualquer conhecimento.
 

Desta forma inicia o Ser sua trajetória. Sendo a verdadeira Tabula Rasa proposta por John Locke (1632-1704) em seu “Ensaio sobre o Entendimento Humano”.

Neste momento e nesta situação é verdadeiramente o Ser uma Tabula Rasa. E na passagem pelos diversos reinos, diversas espécies até chegar ao Reino Hominal, o Ser vai aumentando sua complexidade, e desenvolvendo sua inteligência.

A todo esse período anterior ao pensamento contínuo chamo esse Ser de protoespírito. Explico: assim como temos a proto-história, período anterior ao surgimento da escrita, eu creio passível e possível termos o protoespírito.

Assim, quando falar em vida, encarnação, necessariamente eu usarei o termo vivencial para o momento dentro da vida. Evidentemente quando tratar do escopo mais amplo da trajetória do ser o termo mais adequado é existencial.

Tenho apenas a intenção de nominar adequadamente cada coisa, pois em muitos momentos de leitura de textos espíritas, inclusive este texto de Herculano, vida e existência acabam por ter a mesma significação.

Estando as coisas devidamente colocadas a possibilidade de compreensão errônea de algo diminui muito. Tudo em favor da exatidão dos conceitos.

Quanto ao meu trabalho, será o de desvendar, nos limites de minhas possibilidades, a obra do Professor Herculano. Um texto de difícil leitura para mim, e por isso mesmo instigador. Espero dar conta em traduzir em miúdos cada trecho do texto. 

Não posso deixar de registrar minha gratidão pelos amigos espirituais que a cada dia me trazem novas transformações, e novas motivações existenciais. Pois, ao fim e ao cabo, a vida é curta demais para nos determos em coisas de menor importância. Devo a eles e à proximidade da morte o valor deste ensino.
 
O Autor
 

 
Paulo Cesar Fernandes

 
25 05 2014