terça-feira, 14 de julho de 2015

20150705 Forma Operacional do Pensar

Forma Operacional do Pensar




Me perdoem, mas não me posso furtar a algumas reflexões ativas nos tempos últimos. Sobre a nossa essência e o modus operandi de cada um de nós. 


Nós, nos comunicamos por uma linguagem ordinária (no seu sentido de simples, de comum, sem desvaloração da mesma): português; inglês; espanhol; francês; etc.


Esta é uma forma já traduzida dos nossos pensamentos. Estes, segundo venho pensando, se desenvolvem em pacotes (packages), onde se mesclam uma série de itens: elementos racionais; sentimentos; sonhos; aspirações; ânsias diversas. Todos aspectos conscientes ou inconscientes. Dentre os inconscientes figurando os do Inconsciente Pessoal e os do Inconsciente Coletivo, ambos formulações de Carl Gustav Jung, discípulo de Freud.


Queiramos ou não, a cada momento de elaboração mental, forjamos novos pacotes de informações; traduzidos ou não, segundo as circunstâncias e as conveniências, para a linguagem ordinária visando a exteriorização de uma ideia ou um conceito por nós elaborado.


O espírito é pensamento. Dessa forma não tem uma linguagem ordinária para pensar. Ele simplesmente pensa, se valendo daquela série de elementos acima citados. Quando da necessidade de exteriorizar suas elaborações mentais, aí sim busca uma linguagem de seu interesse para tanto. Assim sendo, um intelectual no domínio de diversos idiomas faz suas conferências segundo o público para o qual vai se dirigir. Se vale da língua mais próxima ao público alvo.


Dizem sempre operarmos matematicamente em nossa língua 
natural, aquela na qual fomos criados. Que dizer de crianças nascidas numa família onde dois ou mais idiomas são naturalmente usados? Cai por terra tal mito.


O Pensamento é, com seus pacotes, um processo de pré-elaboração racional. Ao raciocinarmos, trabalhamos os pacotes do pensar sem uma determinada codificação; efetivamente não é uma linguagem. Podemos muito bem transmitir toda uma ordem lógica através de elementos icônicos. Que é uma animação afinal?


A linguagem é, em geral, a forma final de todo um processo do nosso "criar o pensar". Tudo se organiza, dentro de nós; espíritos, para desaguar numa linguagem. Seja uma linguagem falada; escrita; ou mesmo semiótica, onde os signos nos determinam caminhos ao raciocínio, chegando a resultados muitas vezes admiráveis.


Sempre fomos levados a pensar a linguagem tão somente a fala e a escrita; e ponto final! Mas não é exatamente assim. O universo do saber, e da Arte, nos abre outras tantas possibilidades de expressão desses pacotes de elementos elaborados a cada novo momento; a cada novo desafio a nós apresentado. E usamos ou não essas outras tantas formas de apresentar o que vai em nós segundo nossas possibilidades.


Vamos pensar na telepatia? Que transita nesse processo? Palavras ou pacotes de ideias, sensações e sentimentos?


E numa relação mediúnica? Na qual o médium é falante nativo de uma determinada língua, o espírito de outra completamente diferente; e apesar de algumas dificuldades naturais a comunicação se dá a contento. Pode ter ocorrido um ditado letra a letra. Mas é comum o médium se ver até com dificuldade em registrar as coisas, tal o fluxo de ideias do espirito. Nesse tipo de comunicação o espírito faz a transmissão no estágio pré-Razão, sem ter transposto para nenhum idioma, sendo captado pelo médium em seu estado bruto, por este elaborado segundo sua cultura e sua integração com o espírito comunicante. Nisso a confiança mútua é fator determinante.


Me parece necessário pensar nos pacotes de elaboração e reelaboração dos nossos pensamentos. Esse diálogo interno capaz de nos iluminar diversas ideias. Esse confronto de uma ideia e sua contraproposta, gerando como resultado um novo elemento. Isso nem sempre ocorre através do uso de uma linguagem nativa de qualquer ordem. Os pensamentos contraditórios se sucedem e criam pacotes inusitadamente novos. A ser ou não propostos a um público segundo as necessidades e interesses do autor.


Proponho essa Forma Operacional do Pensar como uma teoria tão somente. E como toda Teoria sujeita a seus contraditores e seus adeptos. 


Eu nunca tinha pensado como pensamos. 


A maneira como se comporta nossa forma de pensar. Estou com isso apostando na possibilidade de nosso pensamento agregar ainda elementos semióticos e/ou semiológicos (alguns autores sustentam a igualdade dos dois conceitos e outros os diferenciam, eu não tenho posição firmada no momento).


Penso ser possível trabalharmos com um conjunto de imagens capazes de se contrapor umas às outras, ou mesmo se reforçarem mutuamente; tendo como resultante uma ideia, um conceito. Estes sim, mais próximos da corrente da linguagem.


Que me levou a trazer essa ideia de metapensamento?


O fato das muitas criações da humanidade: na Ciência; na Arte; na própria renovação das concepções religiosas, terem nascido em momentos de Consciência Não Ativa. Nos momentos de devaneios; de apartamento total da Racionalidade Ocidental. A Razão Científica. A Razão Filosófica, caso não concebamos a Filosofia como uma ciência. A Ratio Religiosa aí se enquadra, e aqui penso em Lutero e Calvino, precursores da Escola Protestante do 
pensamento. Conclamo a todos se permitam momentos de devaneios, não se arrependerão.


O devaneio é o prenúncio de toda a Criação.


Paulo Cesar Fernandes

05/07/2015

20150714 Devaneios em nossa vida




A quem não ocorreu a solução de problemas, exatamente naqueles momentos de maior devaneio, ou em meio da noite?


Qual de nós, ao deixar um problema no mais puro repouso, não teve um insight "solucionático" para tal problema?


Verdade, o espírito não descansa. Mas, por outro lado, o aplacar da Racionalidade abre espaço ao surgimento das soluções.


Mas de onde emergem tais soluções? Essa é a questão.


Por que motivo ela nos acorda no meio da noite se entregando assim, de forma tão simples?


Ou invadindo, como uma torrente, os momentos do nada se apoderando de nós, os momentos meditativos mais serenos, momentos de um quase não existir.


Esses momentos são, de forma geral, os momentos de acesso a estruturas ancestrais de conhecimento. Trazemos ao presente, isto é, "presentamos" progressos e vivências pessoais de momentos ancestrais; ou, ainda mais forte, trazemos a carga de ancestrais 
civilizações nas quais tenhamos tido experiências.


Onde fica isso? No inconsciente.


Para Carl Gustav Jung há distinção entre o Inconsciente Pessoal e o Inconsciente Coletivo.


Sendo o espírito uma unidade, capaz de vivenciar oportunidades em diversos momentos históricos; bem como nas mais diferentes regiões geográficas da Terra. Nele tudo se concentra. É o ponto focal de todo o conhecimento acumulado.


Esse conhecimento não está vivo em tempo de consciência ativa. Mas não deixa de estar registrado em algum lugar. O lugar que Freud e seus seguidores resolveram chamar de inconsciente. Aquilo que não aflora à consciência em nossa vida de relação. É isso.


A Arte inclusive tem muito disso. O músico por exemplo, se projeta fora de si em momentos em que nada existe, a não ser a obra na qual está trabalhando. A dimensão temporal perde o sentido. É um mecanismo de acesso a coisas muito profundas e aparentemente sem lógica explicação.


Estou abstraindo de minha análise a possibilidade mediúnica, uma realidade a meu ver. Não é disso que trato aqui.


Meu foco é a criação do artista. Um ator, ao interpretar um personagem como Giordano Bruno, por exemplo. Não pode ele trazer algo de uma experiência tida nessa mesma época de 1600?


Um interprete de J. S. Bach, em sua fidelidade à obra, não pode nesse momento de execução trazer algo do mais profundo de si para o palco?


Heitor Villa-Lobos, ao escrever as Bachianas Brasileiras, não estaria imbuído do sentir de uma época remota de suas pessoais 
experiências. Não seja ele mesmo a reencarnação de Bach. Mas tenha vivido na Áustria de remotos tempos?


Somos todos velhos espíritos, e nunca sabemos quais caminhos marcaram nossas experiências mais importantes. Que espaço geográfico habitamos. Quais áreas do saber nos foram mais próximas. O rio do esquecimento nos apaga tudo.


E a Racionalidade Ocidental reforça esse apagar.


Mas será capaz disso? 


A intuição está sempre ao nosso lado, para nos permitir um acesso mais amplo a coisas não imaginadas por nós, em tempos recentes 
até.


Por mais "formatados" tenhamos sido para a mentalidade científica e racional, um momento de relaxamento nos virá ao encontro, nesse momento será a voz da intuição a ecoar em nós, trazendo indicativas do caminho a seguir. E acredite. O inconsciente tem sua sabedoria, e vale a pena confiar nele.


Não apenas Jung, mas Gustave Geley nos apontam elementos importantes vindos das profundezas da alma. Nas primeiras décadas do século passado esta foi a proposta de Jung. E ainda hoje, o homem moderno e pós-moderno se defronta com a mesma dificuldade de aplacar sua mentalidade científica, sua racionalidade. Motivo de parte dos seus sofrimentos.


O restante dos sofrimentos são provenientes de anseios infantis não realizados.


Ouvir o mundo interior, se livrar das ilusões; me parece ser um bom inicio para uma relação harmoniosa consigo mesmo.


Paulo Cesar Fernandes

14/07/2015