sábado, 25 de fevereiro de 2012

E se fosse agora?

Pois o tempo passa e passando a qualquer momento a vida pode nos ser tirada. Semana que vem, amanhã, mes que vem ou aos 98 anos como minha avó materna foi.



(Se isso ocorre na semana que vem, tenho que sair correndo para El Salvador, pois estou achando um barato o processo eleitoral que lá se desenvolve. Novos conhecidos brotam a cada dia naquele querido país.)

Como pretendo ser incinerado, pode ser que tenha todo aquele cerimonial e tal. E alguém queira dizer algumas palavras. Acho justo que o façam aqueles que foram amigos verdadeiros. Pessoas cuja sinceridade comigo jamais coloquei em dúvida. Um minuto sequer.


Não há ordem. Propositadamente desordenado. Todos estes nomes foram meus grandes amigos. Todos absolutamente. Cada qual de distinta maneira me ajudou. E sou e serei sempre grato a cada nome desses.

Jonas Gonçalves Coelho;
Carlos Roberto de Messias;
Pedro Beneti;
José Rodrigues;
Jací Regis.


Algumas pessoas estranharão ver o nome do Jaci Régis entre meus grandes amigos. Se aí está é porque foi e continua sendo. Sem sombra de dúvidas. Nunca pus em dúvida sua sinceridade para comigo. Como jamais teria para com ele uma atituda que ferisse a ética, ele não o merecia. Ele sempre soube disso e ouviu de mim algumas vezes.


Pensamos diferentemente? Radicalmente diferente.
Isto em momento nenhum foi impedimento que houvesse mútua admiração.


Jací pensava.
Eu penso, e diferente dele. Pensamento único é para gente atrasada intelecto-moralmente.


Não quero aqui discutir o valor de cada um, pois sei bem o meu lugar e minhas restrições.


Certa manhã na Itororó disse a ele:
_ Te respeito porque tu tens ideologia. Melhor, ambos temos ideologias.
Jaci sorriu apenas. Foi a forma de concordância que encontrou, tímido que era.

A saudade que tenho do José Rodrigues e do Jaci Régis é a mesma.
São grandes companheiros de ideais em quem sempre confiei e seguirei confiando.

Gostaria que tanto os encarnados, bem como os desencarnados recebessem esse texto como uma pequena homenagem e uma demonstração de minha gratidão.

Paulo Cesar Fernandes

25/02/2012

Uma foto e um diálogo

Pois assim que ampliei a foto com minha prima tocando piano tomei um susto com o tempo.

Parado ao meu lado ria.


Não sei se ria para mim, ou se ria de mim e de meu susto, do meu reparar o quanto dele tinha passado.
_ Caramba. - disse eu
_ Onde estavas durante essa foto? - me perguntou
_ Por certo na rua que é o lugar de todo moleque. Pelo menos antes era assim. - disse eu.
_ Na rua jogando taco? Ou na casa do Jorginho na batalha de carambolas? Ou viajando com a Isabel e com o Rubão no trem de cadeiras enfileiradas indo para Marilia, Agudos, São José do Rio Preto, nomes para ti desconhecidos? Ou estarias na casa do Urbaninho jogando futebol no campinho gramado da casa dele. Grande campinho aquele, lembras?


_ É mesmo, era legal o campinho. Mas... - me interrompeu o tempo.
_ Cala-te. Eu sei. O "progresso" passou por lá e levou as tres casas, a do Urbaninho e mais duas. Grande empreendimento imobiliário se afigura.
_ E minha memória?
_ Quantas fotos tirastes na vida?
_ Poucas que recorde. - respondi.
_ Pois teu passado está nas imagens dos teus neurônios e nas fotos que não tirastes.
_ Não me venhas cobrando nada. Que é isso? E qual tua função afinal?


_ Tic Tac Tic Tac Eu passo na tua vida. - disse o tempo secamente.
_ Tu passas? - atônito eu.
_ Eu passo e te vou levando a vitalidade. Quer queiras quer não, saibas que eu levo a tua vitalidade. - falava sério e taciturno, mas era ferino. Tinha prazer naquilo.


_ Nessa nossa relação que eu nem quero e nunca quis... - respondi
_ Mas é inevitável meu caro, inevitável. Pensa em quantos passaram por ti. Eu os levei todos, todos.
_ Que ganho eu em me relacionar contigo afinal? Essa conversa está insuportável.

Eu não aguentava mais. Sereno o tempo respondeu.
_ O que ganhas comigo? Nada tem a ver comigo, o tempo.
_ Como assim? Numa relação a dois ambas as partes tem sua responsabilidade. - eu disse meio rude, ao meu estilo.


_ A relação com o tempo meu amigo, é tua para contigo. Eu sou totalmente teu. Fazes de mim gato e sapato, e nunca reclamo. Se te apetecer nada fazer na vida inteira nada farás. Tua vida vai pela janela. Mas, por outro lado, e sempre tem um outro lado, por outro lado se me utilizares de forma útil, condignamente, com projetos positivos de existência, eu serei pouco para ti. Terei que me desmembrar pois estarás sempre mais de mim requisitando.


_ E então? - perguntei.
_ A verdade é que se fores inteligente e me utilizares de forma sempre mais úitl, tu sairás enriquecido da vida.
_ Rico? - perguntei sarcástico.
_ Não animal. Quando falo em enriquecimento que eu te traga, até pode ser também o financeiro; mas o que tu vais carregar quando chegar aquela hora que te assusta, nada tem de material. Serás tu nu de todo, inclusive incapaz de esconder teus defeitos e tuas qualidades.


Fez breve pausa e seguiu:
_ Se bem me usastes serás um Ser consistente e respeitado. Engrandecido.


_ Caso contrário? - perguntei.
_Caso contrário sai a procura de um casal que esteja se preparando para formar uma família e já vai te acostumando com eles. Pois nessa familia tu voltarás, para ter uma nova oportunidade de recomeço.


_ Assim...  não és meu inimigo?
_ Nem uma coisa nem outra. Estou ao dispor de todos. Cada qual me usa segundo suas possibilidades intelectuais e suas tendências éticas. Pensa nisso que ...

Sem completar a frase se foi.
É algo a se pensar. Fez por deixar a reflexão no ar mesmo.
_ O tempo é danado mesmo!


Paulo Cesar Fernandes

25/02/2012

Carta de aniversário a Pedro Beneti

Fazer aniversário Pedrão é muito legal. Mas não tenhas a menor pressa em chegar aos 60 anos.

A primeira má noticia que recebi, dias antes de meu aniversário é que o Plano de Saúde UNIMED teria sua mensalidade majorada em mais de 100%. Queria arrumar uma maneira de ficar com 59 anos eternamente. rsrsrs


Mas o tempo passa e cada TIC e cada TAC do relógio vai me dizendo que tenho por obrigação ocupar cada vez melhor o meu tempo. Cuidando do corpo sim, mas sem neuroses de querer mil academias e coisas mirabolantes/ridículas a um homem de minha idade.


Na juventude as atividades relativas à juventude e a cada momento da vida a adequação necessária em todos os aspectos.

Alguém consegue me imaginar de cabelos tingidos?
Nada mais ridículo.


Saber viver é também saber envelhecer com dignidade. Acolhendo o tempo e aconchegando-o na existência.


Algumas vezes caminho na praia de forma acelerada, para exercitar mesmo. Nesses momentos cruzo com pessoas mais idosas que eu, cheias de paramentos juvenis, como se a roupa lhes pudesse restituir o tempo que passou. Eu rio mesmo/muito.


Cuidar do corpo para seu equilíbrio, e cuidar da espiritualidade.

E espiritualidade nada tem a ver com religião e essas coisas pequenas. Espiritualidade é investir em si como Ser. Espírito imortal com necessidade de agregar valores e conhecimentos que lhe possam ampliar a forma de ver, pensar e sentir a vida Pedro.


Talvez seja esse o "pensamento ampliado" a que o filósofo Kant se referia. Abarcar todas as formas de conhecimento, das mais diversas fontes e delas se valer para uma existência mais rica, e mais pertinente com o grande projeto de evolução rumo à felicidade.


Posso estar equivocado, errado. Uma vez que a verdade não existe estou apenas oferecendo reflexões.
Use-as ou descarte-as.
Não me sentirei ferido se vc descartar. É parte integrante do mercado de idéias nestes Tempos Liquidos que nos falam os homens inteligentes que bem pensam a PósModernidade.


São estes homens os verdadeiros combatentes do materialismo que tantas vezes Kardec colocou como o verdadeiro inimigo do espiritismo.


Mas tem gente que é cega! Essa gente que se acha Livre-Pensadora é totalmente cega. Estão a caminho de um grande vazio.

Namastê!


Paulo Cesar - Brasil -


25/02/2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Espíritos - Forças da natureza

Forças da natureza.


Por dois meses, estas idéias habitam o meu tempo. Delas não queria me ocupar. as punha de lado e, tal qual bumerangue, lá retornavam elas, numa intermitência cujo retorno sempre havia. Sabia que podia alijá-las, mas tinha a certeza de ser algo apenas momentâneo, seu retorno era questão de tempo, inevitável.

Enfim me rendo, são mais fortes que eu.

O item a seguir, de "O principiante Espírita" de Kardec, traz elementos para reflexão que, acredito eu, o próprio Kardec não se deu conta. Tanto é que o deixou nesta obra, em lugar de alavancá-lo para "O Livro dos Espíritos", obra que mais deu valor, ao lado da "Revista Espírita" seu laboratório diário.

18. Os Espíritos se acham em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e nos observando incessantemente. Por sua constante presença em nosso meio são agentes de vários fenômenos, representam papel importante no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico. Constituem, se assim podemos dizer, uma das forças da Natureza. (negritos meus)

Quando Kardec afirmou serem os espíritos "uma das forças da natureza" me parece que ele não se incluiu entre essas forças; não incluindo, por conseguinte, a todos nós. Tanto é que usou o pronome oculto eles, no verbo constituir. Fez um apartamento entre nós e os espíritos, como se nós não o fossemos. Talvez por uma questão até didática. Mas assim o fez, o que nos permite o desvendamento do texto.

É importante refletirmos nós, agora; que somos uma das forças da natureza. Isto deita por terra as concepções de desvalorização do homem, dos encarnados. Somos sim espíritos. Somos sim encarnados. E acima de tudo, somos uma das forças da natureza, co-participes no processo global das Leis Naturais.

Esta noção deverá ter, e terá por certo, forte impacto no psiquismo, e na estrutura vivencial de todos nós, se formos suficientemente capazes de aquilatar sua amplitude e profundidade.

Se Erich Fromm está certo, ao afirmar a existência no homem, de uma nostalgia quanto ao seu "estado de natureza"; mais certo ainda está Kardec devolvendo a este o seu verdadeiro estado natural, enquanto integrante de um processo. Um processo harmônico, onde sua importância se evidencia na medida em que mais participante seja.

Nesse aspecto, e talvez em muitos outros Kardec foi mais lúcido que Fromm. Mais lógico ainda, pois ninguém se pode apartar de algo integrante de sua essência. Somos natureza.

Sendo da natureza uma das forças, e parte dela como a árvore, as nuvens, os pássaros.

Gosto muito de uma seqüência do filme "Giordano Bruno" de 1973:

«««
GB_ Estava falando da magia das crianças.

I_ Nossa Senhora de Veneza. Podemos falar?


GB_ Mesmo sendo estúpidos e não entendendo nada.
I_ ...temos o direito de falar? Mas eu só queria saber...


GB_ Posso perguntar de que cor é o leite?
I_ Branco.


GB_ Então. Quando ele pensa em leite.
I_ ...pensa na cor branca.


GB_ E quem faz o leite?
I_ A vaca.


GB_ E o que come a vaca? Mato.

(Silêncio)


GB_ Prado... chuva... nuvens... céu... astros... universo... Deus... se assim quiserem.
GB_ Universo... astros... céu... nuvens... chuva... prado... grama... muuuuh... vaca... leite.
GB_ Uma imagem... viva... de Deus. Se assim quiserem.

(Silêncio)

GB_ Pensa-se por associações. Há correspondências entre o mundo animal. vegetal e humano.

«««

Somos natureza, guardadas as devidas proporções do patamar de racionalidade conquistado por nós em nossa trajetória. Somos carbono, e somos água, somos todos portadores de funções fisiológicas, sistemas digestivos e excretores, como os animais.

Fisicamente semelhantes, mas com uma brutal distinção: somos dotados de senso ético; somos dotados de senso de justiça; nossa razão serve de diretriz de conduta, nas tomadas de decisão; além disso, nossa sensibilidade é capaz de nos permitir alçar vôos que nenhum Fernão Capelo Gaivota jamais alcançará.

Fomos feitos para a mais plena felicidade, e toda a produtividade que essa felicidade engendrará.

Paulo Cesar Fernandes
Filósofo