domingo, 4 de maio de 2014

20140504 ProtoEspirito Em fase vegetal

ProtoEspirito   Em fase vegetal


REVISTA ESPÍRITA   -   Março de 1860


PERGUNTAS SOBRE O GÊNIO DAS FLORES.

(Sociedade, 30 de dezembro de 1859. Médium, Sr. Roze.)


1. (A São Luís.) Tivemos outro dia uma comunicação espontânea de um Espírito que disse presidir às flores e aos seus perfumes; há realmente Espíritos que podem ser considerados os gênios das flores?


R. Esta expressão é poética e bem aplicada ao assunto; mas, propriamente falando, ela seria defeituosa. Não deveis duvidar que o Espírito não preside, para toda a criação, ao trabalho que Deus lhe confia; assim é que é necessário entender esta comunicação.



2. Este Espírito é chamado Hettano; como ocorre que ele não tenha um nome e que jamais encarnou?


R. É uma ficção. O Espírito não preside, de um modo particular, à formação das flores; o Espírito elementar, antes de passar para a série animal, dirige a ação fluídica na criação do vegetal; este não está ainda encarnado; mas não age senão sob a direção de inteligências mais elevadas, tendo já vivido bastante para adquirir
a ciência necessária à sua missão. Foi um destes que se comunicou; ele vos fez uma mistura poética da ação das duas classes de Espíritos que agem na criação vegetal.



3. Este Espírito não tendo vivido ainda, mesmo na vida animal, como ocorre que seja tão poético?

R. Relede.

Nota. - Vede a nota feita mais acima junto da questão 24, página 90.



4. Assim o Espírito que se comunicou não é o que habita e anima a flor?

R. Não, não; eu vos disse bem claramente: ele guia.



5. Este Espírito que nos falou foi encarnado?

R. Foi.



6. O Espírito que dá a vida às plantas e às flores, tem um pensamento, a inteligência de seu eu?

R. Nenhum pensamento, nenhum instinto.

Flores de Maracujá
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Há algo de errado no reino da Dinamarca? A luta contra a metafísica.


A fase anterior ao pensamento contínuo sempre me foi ponto de preocupação. E o CPDoc acolheu com carinho meu trabalho apesar de todas as suas falhas. "Princípio Espiritual" foi apresentado naqueles distantes anos. Gratidão ao grupo.


Algo não fecha nessa comunicação? Ou podemos raciocinar?

Um livro instigante sobre o tema.
Lido por mim em 1989,
quando voltei de Cuiabá para Santos.



Na primeira questão é dito que "o espírito não preside para toda a criação". Isto me leva a crer que, em determinado momento, esse ProtoEspírito (fase anterior ao pensamento contínuo) teve um vínculo com o vegetal. Interagindo com o vegetal sem ter consciência disso.


Precisa, para tanto, da ajuda de outros espíritos capazes de o auxiliar nesse processo:  "o Espírito elementar, antes de passar para a série animal, dirige a ação fluídica na criação do vegetal; este não está ainda encarnado; mas não age senão sob a direção de inteligências mais elevadas".


Estaria o ProtoEspírito se valendo do elemento material para algo aprender no reino das sensações?


Aprender por exemplo a buscar nutrientes no ambiente em que está situado; buscar a luz do sol através do heliotropismo. E outras tantas coisas desconhecidas por mim dado meus parcos conhecimentos de Botânica.


Quando São Luis afirma: "tendo já vivido bastante para adquirir a ciência necessária à sua missão", não quer significar que nesse contato com a matéria, ainda sob amparo de espíritos, já estaria apreendendo e incorporando elementos úteis à sua trajetória futura?


Uma vez que nesse exato momento ainda não é espírito, pois não
tem pensamento; como vemos na questão final: "Nenhum pensamento, nenhum instinto". Inclusive o instinto do heliotropismo, por exemplo, ele está aprendendo ao contato da matéria.



Ao que pude perceber, na comunicação inicial tratava-se mesmo de um espírito, já na fase do pensamento contínuo; já tendo tido inclusive a oportunidade da encarnação, que se projetou ao tempo muito anterior, em seu momento ProtoEspiritual, para nessa reunião de estudos, dar a conhecer como se processa o
aprendizado nessa fase tão distante de nossa história.


Vejamos: "ele vos fez uma mistura poética da ação das duas classes de Espíritos que agem na criação vegetal".


E quais seriam essas fases?


1. A fase ProtoEspiritual, de ausência total de inteligência e de instintos. Quando tudo é apreendido da matéria pelo ProtoEspírito em fase de estruturação;


2. A fase em que o espírito, já conscio de sua existência e de suas possibilidades, seus potenciais, decide ser um co-criador, ajudando a outros seres em seu desenvolvimento. Atua então ajudando aos ProtoEspíritos em suas diversas fases de desenvolvimento.


Afinal tudo se encadeia no(s) universo(s), e tudo segue um processo ascencional: partindo sempre do simples para o complexo. Havendo em cada etapa a presença da solidariedade, enriquecedora das partes envolvidas.


Pode parecer fantasioso. Mas foi a forma de, raciocinando, tentar compreender mais um aspecto das Leis Naturais. Leis gerenciais dos aspectos morais do espírito; mas também importantes nos momentos iniciais de sua trajetória, meramente materiais, dependente da matéria.


Momentos esquecidos, à medida em que atingimos o patamar do pensamento contínuo; da memória; da racionalidade em última instância. São coisas do passado, mas coisas importantes e úteis em nossa atual conformação.


Esta foi a única resposta encontrada por mim, para ter mais claro esse ensino trazido por Luis (ou São Luis) na reunião de 30 de dezembro de 1859. Texto presente, como dissemos acima, na RE de Março de 1860.


Sugiro, para maior clareza, a leitura de "O gênio das flores". Diálogo ocorrido a 23 de dezembro de 1859, presente imediatamente anterior às explicações de São Luis no mesmo número de Março de 1860.


Se a Revista Espírita, foi para Kardec o grande laboratório de onde gestou outras obras. Hoje, para nós, é uma forma de melhor conhecer a personalidade de Allan Kardec, colocando-o em sua humana dimensão, desmitificando-o.


Porém, mais que tudo, a Revista Espírita é um manancial de descobertas, de novos elementos de raciocínio, nessa disciplina componente de nossas vidas: o espiritismo.

Maracujá


Paulo Cesar Fernandes

04 05 2014

Nota: Assim como temos a fase ProtoHominal - fase anterior ao surgimento do Homem. Assim como temos a ProtoHistória - representada pela fase anterior ao aparecimento da escrita. Podemos ter também o ProtoEspírito - toda a gama de fases precedentes ao aparecimento do pensamento contínuo.

A meu juizo o termo Princípio Espiritual, usado por Kardec e, se bem me lembro, por Gabrial Dellane em "Evolução Anímica", tem menor precisão, pois princípio é sempre algo vago na compreensão das criaturas. A palavra ProtoEspírito já carrega em si a necessária precisão e objetividade.

Quando uso o prefixo proto já sei se tratar de algo que vem antes.

O termo me surgiu quando na Biblioteca da UNESP em São Vicente, onde trabalhava, alunos discutiam para um trabalho de Antropologia a fase protohominal. Fui ao dicionário e a conexão se deu de maneira imediata. Tenho usado nestes tres últimos anos e ainda não tive opositores. Muito provavelmente devido ao pequeno número de visitas a este meu "Pour Kardec".

O título Pour Kardec é uma alusão ao livro de Louis Althusser "Pour Marx" na qual ele se propoe a defender Marx. Como coisa que Marx precisasse de uma pessoa como Althusser para o defender.

Sarcásticamente nominei assim. Como coisa que Allan Kardec necessite de alguém como eu para defender suas ideias. Mas não mesmo. Foi tão somente uma crítica à pretensão de Louis Althusser. Quem conhece a história da teoria marxista sabe o valor das ideias de Althusser. Em momento nenhum quis eu diminuir tal valor.

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