Espiritismo
Ateu.
A fé em Deus está em declínio. Pesquisa divulgada há cerca de um ano,
encomendada pela agência de notícias Reuters, dá conta de que, no mundo todo,
cresce o número de pessoas que confessam não crer em Deus. Elas já são 18% em
todo o Planeta. A França lidera o ranking dos descrentes da divindade, somando
39% dos entrevistados. No Japão, 34% das pessoas ouvidas disseram às vezes
acreditar, outras não, configurando um certo agnosticismo. (Opinião – Ano XIX
nº 207)
Parabéns! Tema profundamente atual e necessário.
O declínio de Deus é um processo natural, bem concorde com o
tempo na qual vivemos. Onde o individualismo se assenhoreou do mundo. Se o
Iluminismo trouxe o homem para o centro do mundo, nele centrando suas certezas.
Esse processo se radicalizou a partir da década de 80 aproximadamente, com o
nascimento dos Tempos Líquidos, segundo definição do sociólogo polonês Zygmunt
Bauman.
Segundo penso, de todos os pensadores pesquisados por mim, para melhor me posicionar sobre a atualidade, foi Bauman quem trouxe a melhor conceituação. Virou moda agora na Academia. Todo mundo o cita sem ter lido suas obras.
Os “Tempos líquidos” em oposição aos “Tempos sólidos”, em vigor até a década de 60. A década que mudou o mundo. A chegada da tecnologia em massa e a construção da “Sociedade dos Consumidores” mudaram a forma do homem se portar/postar no mundo. Essa nova lógica não admite crenças religiosas, criando em seu lugar outras tantas crenças, e todas elas vinculadas à multiplicação do capital, e à manutenção perene do “homem desejante”. Seres humanos cuja preocupação única é estar em dia com a moda. A qualquer custo e a qualquer preço. A crença em Deus foi alijada do mundo.
E Deus é crença mesmo. Tal qual o Boi Tatá, Saci Pererê, o boto e outras construções históricas da humanidade.
Advogo de algum tempo, no Blog, o surgimento do Espiritismo Ateu.
Deus não se coaduna com a realidade atual, pois ele não existe. Uma respeitável criação histórica cujo objetivo inicial era conter um povo contra a adoração de ídolos pagãos. Isto no tempo de Jesus.
A Igreja nascente se apercebeu do poder desse ente sobre as pessoas e o utilizou por milênios como elemento de dominação.
Quantas vidas não me foram tiradas pela Igreja Católica por
não crer em Deus? Por lutar junto a outros companheiros contra a ideia de Deus?
A Inquisição e Torquemada[1] foram apenas elementos episódicos. As diversas religiões se valem de Deus como elemento de contenção e mando. De domínio sobre os homens.
Em “Dialética do Amo e do Escravo” Hegel nos mostra a sede de poder entre os homens, sede de dominar o outro. Dois homens se encontram, se confrontam cada um tendo por objetivo dominar e submeter o outro. O que teve medo de morrer se fez escravo. Esta é a história da humanidade. E Deus matou e ainda mata muita gente no transcurso dos tempos. Guerras brotam em nome de Deus, ambos os lados se acreditando dele protegido.
Deus serviu a Jesus para estabelecer uma ordem ao povo de Israel, contra o possível paganismo. Serviu à Igreja Católica ao longo de toda Idade Média e até o Renascimento de forma violenta. A partir daí sua forma de domínio se fez mais sutil.
As Igrejas nascidas da Reforma Protestante seguiram postulando a existência de Deus e o valor da fé. Sempre comandando o homem, submetendo-o. Não foi pouco o sofrimento de Sir Charles Darwin diante de suas constatações científicas.
Os filósofos mesmo, salvo os gregos, sempre se pautaram pela crença em Deus. Mesmo o Idealismo Alemão sofreu desse mal. Apenas com Nietsche foi dado o grito de liberdade com relação a isso. Foi o primeiro a perceber que Deus estava morto.
Depois dele muitos outros se somaram. Estava aberta a porta da lucidez.
Mesmo nosso Kardec tinha uma estrutura espiritual religiosa. Como poderia ele se desvincular da preocupação com Deus, trazida de suas anteriores convicções? Há que compreender isto, e seguir lendo-o com o mesmo respeito e carinho, pois sua superioridade é inegável. Seus três diálogos em “O que é o espiritismo” são peças de uma beleza impar, e de uma clareza sem par.
Se libertar da crença em Deus é complicado. Peço apenas não tomem meu posicionamento como uma agressão. E muito menos como uma verdade ortodoxa. Mais de duas décadas me livrei de ortodoxias e das verdades todas. Tudo deve ser transitório, para permitir a renovação trazida pelas novas ideias encontradas em nossa perene busca.
Como nasceu meu ateísmo?
Trata-se apenas de uma constatação lógica, pautada na análise dos homens e das instituições do mundo em que vivemos. Dos atos dos homens, próximos ou distantes.
É uma posição solitária, porém nem por isso equivocada. Lógica, puramente lógica. Fruto de um processo observacional, sociologicamente correto. Creio eu.
Imaginemos nós quantos milênios fomos obrigados a ter Deus como uma realidade, um fato. É sempre muito dolorido nos libertarmos de tudo aquilo arraigado em nós. Sejam hábitos infelizes, sejam conceitos errôneos.
Não. Não foi fácil, e não será fácil daqui para frente. Incompreensões poderão surgir. A inevitabilidade do contraditório. Enfim, quem tem opinião e as esconde não merece respeito por sua torpeza. Meu respeito por Giordano Bruno; pelo roteirista argentino Hector Gérman Oesterheld, e por tantos outros homens capazes de viver, e morrer se preciso, em defesa de suas ideias.
Carrego comigo uma certeza pétrea: estou perfeitamente concorde com o tempo presente, e com o futuro vindouro. Sem Deus, mas com Justiça; Solidariedade entre todos os povos; sem guerras e sem a fome que envergonha nosso planeta.
Paulo Cesar Fernandes - 21 05 2013
Santos – São Paulo
[1]
Tomás de Torquemada
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Tomás de Torquemada (Valladolid, 1420 — Ávila, 16 de setembro de 1498) ou o O Grande Inquisidor foi o inquisidor-geral dos reinos de Castela e Aragão no século XV e confessor da rainha Isabel a Católica. Ele foi famosamente descrito pelo cronista espanhol Sebastián de Olmedo como "O martelo dos hereges, a luz de Espanha, o salvador do seu país, a honra do seu fim".
Torquemada é conhecido por sua campanha contra os judeus e muçulmanos convertidos da Espanha.
O número de autos-de-fé durante o mandato de Torquemada como inquisidor é muito controverso, mas o número mais aceito é normalmente 2 200.
Um comentário:
Paulo
Gostei muito de suas reflexões. A referência a Bauman é interessantíssima. Sim, também cito o 'líquido' sem ter lido uma obra, apenas pelo que 'ouvi falar'.
A sociedade consumista se tornou um imperativo e esfumaçou a 'antiga' (!?) luta de classes, mais visível em outros momentos. A moda é, não importa como.
O ateísmo acompanha a tendência, seja entre os consumistas como entre os críticos à prática. Mas há uma reação bastante conservadora a isso.
Veja o crescimento das igrejas midiáticas. Um fenômeno estranho à nossa tradição cultural se desenvolve hoje no Brasil.
Aguardo suas reflexões outras.
Obrigado por me comunicar delas!
Abraços, Rivaldo
17/07/2013
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