domingo, 29 de julho de 2012

Fome e sua satisfação

Tenho conversado com uma amiga através de e-mail, sobre diversos aspectos da nossa existência terrestre, aspectos físicos e aspectos espirituais, com a Lei de Afinidade vinculando espiritos, dentro e fora da vida corporal.

A caminho da Pamela, na Carvalho de Mendonça, local onde habitualmente almoço, me veio à mente a questão da fome. E a saciedade dessa fome.
Não falo aqui da fome que assola o mundo, essa vergonha, esse flagelo, que tem culpados sim, cujos lucros são astronomicos. Nada disso.

Pensava na fome e sua saciedade.
Por que motivo um almoço nos satisfaz e outro não?
Ambos nos alimentam o corpo, cumprem a função a que nos propusemos diante do prato.
Mas alguns dias saimos gratificados pela saciedade, e pelo prazer imenso, trazido por essa coisa simples e bela do ato de nos alimentar.
Há, por outro lado, dias em que saimos como se nada ocorrera. Falta algo. Uma sensação de incompletude.
E não sabemos dizer o que nos está faltando. Onde está o erro.
O mesmo pode se dar, tanto quando comemos fora de casa, como quando preparamos a comida em nosso Lar.


Pensava.
O mesmo ocorre com uma relação sexual, algo mais amplo que o ato sexual apenas, mas o mesmo fenômeno ocorre.
Até mesmo quando temos uma companheira por anos a fio. Com "estabilidade" marital.
Dias há com atividade sexual plena, satisfatória a ambos, um clima de delicadeza e emoção perpassa o Lar.
Outras vezes, no entanto, fica faltando algo. E não há quem culpar uma vez ser uma relação de espiritos que se conhecem bem.
Esse tipo de coisa é mais comum de ocorrer quando a troca de parceira é um elemento constante.
Afinal cada parceira é um psiquismo diferente, vivendo um momento diferente, com seus problemas e suas alegrias, tal como nós.
Podemos estar numa fase de maior intensidade energética e nossa performance na atividade sexual é mais forte. Satisfaz a parceira e a nós mesmos mais plenamente.

Embora esse tipo de coisa sempre tenha a característica de uma "trepadinha", nada comparável a uma relação estável, madura onde o casal se conhece, e se for inteligente conhece cada ponto do corpo do outro, sabendo onde o prazer é mais intenso. Lidando com isso com certa arte.

E não tem a ver ainda, em ambos casos, com os momentos anteriores, as chamadas preliminares, que ajudam porém não definem a satisfação. Não constroem a plenitude de uma relação sexual.

Agora. Refletindo sobre a plenitude de uma relação sexual, ou sua ausência, me vem a idéia disso se pautar na relação entre os espiritos.
Na similitude do momento, e do padrão energético do casal. Semelhança ideológica inclusive.

Homens e mulheres somos seres mutantes, e isso é uma qualidade em nossa existência.
E dentro dessa mutabilidade, seja o casal perene, seja eventual, pode estar dentro de um mesmo diapasão, ou em profundo desacordo.
Isso pode, em teoria apenas, explicar o motivo de determinadas relações serem tão insatisfatórias.
E outras, por benevolência da vida, serem tudo aquilo desejado e muito mais. Tocando as fibras mais profundas de nossa sensibilidade. E nos dando a sensação da beleza estar presente em todas as coisas ao nosso redor.

De Zygmunt  Bauman "Amor Líquido" trago um trecho onde este busca  meu  outro referencial, Erich Fromm:

Como que antecipando o padrão que iria prevalecer em nossa época, Erich Fromm tentou explicar a atração do "sexo em si" (do sexo "pelo sexo", praticado separadamente de suas funções ortodoxas), referindo-se à sua qualidade como uma (enganosa) resposta ao desejo, demasiadamente humano, de "fusão total" por meio de uma "ilusão de união".


União — porque é exatamente o que homens e mulheres procuram ardentemente em seu desespero para escapar da solidão que já sofrem ou temem estar por vir. Ilusão — porque a união alcançada no breve instante do clímax orgástico "deixa os estranhos tão distantes um do outro como estavam antes", de modo que "eles sentem seu estranhamento de maneira ainda mais acentuada". Nesse papel, o orgasmo sexual "assume uma função que o torna não muito diferente do alcoolismo e do vício em drogas". Tal como estes, ele é intenso — mas "transitório e periódico".


A união é ilusória e, no final, a experiência tende a ser frustrante, diz Fromm, por ser separada do amor (ou seja, permitam-me explicar, do tipo de relacionamento Fürsein; de um compromisso intencionalmente duradouro e indefinido com o bem-estar do parceiro). Na visão de Fromm, o sexo só pode ser um instrumento de fusão genuína — em vez de uma efêmera, dúbia e, em última instância, autodestrutiva impressão de fusão — graças a sua conjunção com o amor. Qualquer que seja a capacidade geradora de fusão que o sexo possa ter, ela vem de sua "camaradagem" com o amor.



Finalizo.
A sexualidade é uma área corpórea-espiritual, negar uma das partes desse binômio, ou valorizar mais a uma que a outra é um equivoco.

Afinal:
"Não existe pecado do lado de baixo do equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor..."

Chico Buarque de Hollanda "Não existe pecado ao sul do equador"


Paulo Cesar Fernandes

29/07/2012

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