domingo, 19 de fevereiro de 2012

Espíritos - Forças da natureza

Forças da natureza.


Por dois meses, estas idéias habitam o meu tempo. Delas não queria me ocupar. as punha de lado e, tal qual bumerangue, lá retornavam elas, numa intermitência cujo retorno sempre havia. Sabia que podia alijá-las, mas tinha a certeza de ser algo apenas momentâneo, seu retorno era questão de tempo, inevitável.

Enfim me rendo, são mais fortes que eu.

O item a seguir, de "O principiante Espírita" de Kardec, traz elementos para reflexão que, acredito eu, o próprio Kardec não se deu conta. Tanto é que o deixou nesta obra, em lugar de alavancá-lo para "O Livro dos Espíritos", obra que mais deu valor, ao lado da "Revista Espírita" seu laboratório diário.

18. Os Espíritos se acham em toda parte, ao nosso lado, acotovelando-nos e nos observando incessantemente. Por sua constante presença em nosso meio são agentes de vários fenômenos, representam papel importante no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico. Constituem, se assim podemos dizer, uma das forças da Natureza. (negritos meus)

Quando Kardec afirmou serem os espíritos "uma das forças da natureza" me parece que ele não se incluiu entre essas forças; não incluindo, por conseguinte, a todos nós. Tanto é que usou o pronome oculto eles, no verbo constituir. Fez um apartamento entre nós e os espíritos, como se nós não o fossemos. Talvez por uma questão até didática. Mas assim o fez, o que nos permite o desvendamento do texto.

É importante refletirmos nós, agora; que somos uma das forças da natureza. Isto deita por terra as concepções de desvalorização do homem, dos encarnados. Somos sim espíritos. Somos sim encarnados. E acima de tudo, somos uma das forças da natureza, co-participes no processo global das Leis Naturais.

Esta noção deverá ter, e terá por certo, forte impacto no psiquismo, e na estrutura vivencial de todos nós, se formos suficientemente capazes de aquilatar sua amplitude e profundidade.

Se Erich Fromm está certo, ao afirmar a existência no homem, de uma nostalgia quanto ao seu "estado de natureza"; mais certo ainda está Kardec devolvendo a este o seu verdadeiro estado natural, enquanto integrante de um processo. Um processo harmônico, onde sua importância se evidencia na medida em que mais participante seja.

Nesse aspecto, e talvez em muitos outros Kardec foi mais lúcido que Fromm. Mais lógico ainda, pois ninguém se pode apartar de algo integrante de sua essência. Somos natureza.

Sendo da natureza uma das forças, e parte dela como a árvore, as nuvens, os pássaros.

Gosto muito de uma seqüência do filme "Giordano Bruno" de 1973:

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GB_ Estava falando da magia das crianças.

I_ Nossa Senhora de Veneza. Podemos falar?


GB_ Mesmo sendo estúpidos e não entendendo nada.
I_ ...temos o direito de falar? Mas eu só queria saber...


GB_ Posso perguntar de que cor é o leite?
I_ Branco.


GB_ Então. Quando ele pensa em leite.
I_ ...pensa na cor branca.


GB_ E quem faz o leite?
I_ A vaca.


GB_ E o que come a vaca? Mato.

(Silêncio)


GB_ Prado... chuva... nuvens... céu... astros... universo... Deus... se assim quiserem.
GB_ Universo... astros... céu... nuvens... chuva... prado... grama... muuuuh... vaca... leite.
GB_ Uma imagem... viva... de Deus. Se assim quiserem.

(Silêncio)

GB_ Pensa-se por associações. Há correspondências entre o mundo animal. vegetal e humano.

«««

Somos natureza, guardadas as devidas proporções do patamar de racionalidade conquistado por nós em nossa trajetória. Somos carbono, e somos água, somos todos portadores de funções fisiológicas, sistemas digestivos e excretores, como os animais.

Fisicamente semelhantes, mas com uma brutal distinção: somos dotados de senso ético; somos dotados de senso de justiça; nossa razão serve de diretriz de conduta, nas tomadas de decisão; além disso, nossa sensibilidade é capaz de nos permitir alçar vôos que nenhum Fernão Capelo Gaivota jamais alcançará.

Fomos feitos para a mais plena felicidade, e toda a produtividade que essa felicidade engendrará.

Paulo Cesar Fernandes
Filósofo

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