sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma foto e um diálogo

Pois assim que ampliei a foto com minha prima tocando piano tomei um susto com o tempo.

Parado ao meu lado ria.


Não sei se ria para mim, ou se ria de mim e de meu susto, do meu reparar o quanto dele tinha passado.
_ Caramba. - disse eu
_ Onde estavas durante essa foto? - me perguntou
_ Por certo na rua que é o lugar de todo moleque. Pelo menos antes era assim. - disse eu.
_ Na rua jogando taco? Ou na casa do Jorginho na batalha de carambolas? Ou viajando com a Isabel e com o Rubão no trem de cadeiras enfileiradas indo para Marilia, Agudos, São José do Rio Preto, nomes para ti desconhecidos? Ou estarias na casa do Urbaninho jogando futebol no campinho gramado da casa dele. Grande campinho aquele, lembras?


_ É mesmo, era legal o campinho. Mas... - me interrompeu o tempo.
_ Cala-te. Eu sei. O "progresso" passou por lá e levou as tres casas, a do Urbaninho e mais duas. Grande empreendimento imobiliário se afigura.
_ E minha memória?
_ Quantas fotos tirastes na vida?
_ Poucas que recorde. - respondi.
_ Pois teu passado está nas imagens dos teus neurônios e nas fotos que não tirastes.
_ Não me venhas cobrando nada. Que é isso? E qual tua função afinal?


_ Tic Tac Tic Tac Eu passo na tua vida. - disse o tempo secamente.
_ Tu passas? - atônito eu.
_ Eu passo e te vou levando a vitalidade. Quer queiras quer não, saibas que eu levo a tua vitalidade. - falava sério e taciturno, mas era ferino. Tinha prazer naquilo.


_ Nessa nossa relação que eu nem quero e nunca quis... - respondi
_ Mas é inevitável meu caro, inevitável. Pensa em quantos passaram por ti. Eu os levei todos, todos.
_ Que ganho eu em me relacionar contigo afinal? Essa conversa está insuportável.

Eu não aguentava mais. Sereno o tempo respondeu.
_ O que ganhas comigo? Nada tem a ver comigo, o tempo.
_ Como assim? Numa relação a dois ambas as partes tem sua responsabilidade. - eu disse meio rude, ao meu estilo.


_ A relação com o tempo meu amigo, é tua para contigo. Eu sou totalmente teu. Fazes de mim gato e sapato, e nunca reclamo. Se te apetecer nada fazer na vida inteira nada farás. Tua vida vai pela janela. Mas, por outro lado, e sempre tem um outro lado, por outro lado se me utilizares de forma útil, condignamente, com projetos positivos de existência, eu serei pouco para ti. Terei que me desmembrar pois estarás sempre mais de mim requisitando.


_ E então? - perguntei.
_ A verdade é que se fores inteligente e me utilizares de forma sempre mais úitl, tu sairás enriquecido da vida.
_ Rico? - perguntei sarcástico.
_ Não animal. Quando falo em enriquecimento que eu te traga, até pode ser também o financeiro; mas o que tu vais carregar quando chegar aquela hora que te assusta, nada tem de material. Serás tu nu de todo, inclusive incapaz de esconder teus defeitos e tuas qualidades.


Fez breve pausa e seguiu:
_ Se bem me usastes serás um Ser consistente e respeitado. Engrandecido.


_ Caso contrário? - perguntei.
_Caso contrário sai a procura de um casal que esteja se preparando para formar uma família e já vai te acostumando com eles. Pois nessa familia tu voltarás, para ter uma nova oportunidade de recomeço.


_ Assim...  não és meu inimigo?
_ Nem uma coisa nem outra. Estou ao dispor de todos. Cada qual me usa segundo suas possibilidades intelectuais e suas tendências éticas. Pensa nisso que ...

Sem completar a frase se foi.
É algo a se pensar. Fez por deixar a reflexão no ar mesmo.
_ O tempo é danado mesmo!


Paulo Cesar Fernandes

25/02/2012

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