terça-feira, 22 de outubro de 2013

20131022 Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor II

Leon Denis Do Ser do Destino e da Dor II


Prosseguimento da Introdução do livro


A perturbação e a incerteza que verificamos no ensino repercutem e se encontram, como dissemos, em toda ordem social. Por toda parte, há um estado de crise inquietante. Sob a superfície brilhante de uma civilização refinada, esconde-se um mal-estar profundo. A irritação cresce nas classes sociais. O conflito de interesses, a
luta pela vida tornam-se, dia a dia, mais ásperos. O sentimento do dever tem-se enfraquecido na consciência popular a tal ponto que muitos homens nem mesmo sabem onde está o dever. A lei do número, ou seja, da força cega, domina mais do que nunca. Retóricos mentirosos dedicam-se a desencadear as paixões, os maus instintos da multidão, a espalhar teorias nocivas, às vezes criminosas. Depois, quando a maré sobe e o vento sopra em tempestade, eles se escondem e afastam de si toda responsabilidade.


Onde está, então, a explicação desse mistério, dessa contradição notável entre as aspirações generosas de nosso tempo e a realidade brutal dos fatos? Por que um regime que havia despertado tantas esperanças ameaça chegar à anarquia, à ruptura de todo o equilíbrio social? A implacável lógica vai nos responder: a democracia,
radical ou socialista, nas massas profundas e em seu espírito dirigente, inspirando-se nas doutrinas negativistas, podia chegar somente a um resultado negativo para a felicidade e a elevação da humanidade.


Tal o ideal, tal o homem; tal a nação, tal o país!


As doutrinas negativistas, em suas conseqüências extremas, levam fatalmente à anarquia, ou seja, ao vácuo, ao nada social. A história humana já teve, diversas vezes, essa dolorosa experiência. Enquanto se tratou de destruir os restos do passado, de dar o último golpe nos privilégios que restavam, a democracia serviu-se habilmente de seus meios de ação. Porém, hoje, o que importa é construir a cidade do futuro, o vasto edifício que deve abrigar o pensamento das gerações. E, diante dessas tarefas, as doutrinas mostram sua insuficiência e revelam sua fragilidade; vemos os melhores operários se debaterem em uma espécie de impotência material e moral.


Nenhuma obra humana pode ser grande e durável se não se inspirar, na teoria e na prática, em seus princípios e em suas aplicações, nas leis eternas do universo. Tudo o que é concebido e edificado fora das leis superiores se constrói na areia e afunda. Acontece que as doutrinas do socialismo atual têm um erro essencial. Elas querem impor uma regra em contradição com a natureza da verdadeira lei da humanidade: o nível igualitário. A evolução gradual e progressiva é a lei fundamental da natureza
e da vida. É a razão de ser do homem, a norma do universo. Posicionar-se contra ela, substituir-lhe por outro fim, seria tão insensato quanto querer parar o movimento da
Terra ou o fluxo e refluxo das marés.


O lado mais fraco da doutrina socialista é a ignorância absoluta do homem, de seu princípio essencial, das leis que dirigem o seu destino. E quando se ignora o homem individual, como se poderia governar o homem social? A origem de todos os nossos males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda sociedade permanecerá fraca e dividida enquanto a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja e o ódio a dominarem. Não se transforma uma sociedade por meio das leis. As leis e as instituições não seriam nada sem os costumes, sem as crenças elevadas. Quaisquer que sejam a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e convicções firmes, será sempre mais feliz e mais poderoso do que um outro povo de moralidade inferior.


Para melhorar a forma de uma sociedade, sendo ela o resultado das forças individuais, boas ou más, é preciso agir inicialmente sobre a inteligência e a consciência dos indivíduos. Porém, para a democracia socialista, o homem interior, o homem da consciência individual, não existe; a coletividade o absorve por completo. Os princípios que adota não passam de uma negação de toda filosofia elevada e de toda causa superior. Não se procura outra coisa a não ser conquistar direitos. Entretanto, o gozo dos direitos não pode ser obtido sem a prática dos deveres. O direito sem o dever, que o limita e o corrige, produz apenas novas aflições, novos sofrimentos.
Eis por que o impulso formidável do socialismo não faz nada mais do que deslocar os apetites, as ambições, as causas das doenças e substituir as opressões do passado
por um despotismo novo, ainda mais intolerável. Vemos isso no exemplo da Rússia. Já podemos medir a extensão dos desastres causados pelas doutrinas negativistas. O determinismo, o materialismo, ao negar a liberdade humana e a responsabilidade, minam as próprias bases da ética universal. O mundo moral não passa de um anexo da fisiologia, ou seja, o reinado, a manifestação da força cega e irresponsável. Os espíritos de elite professam o niilismo metafísico, e a massa humana, o povo, sem crenças, sem princípios determinados com exatidão, fica entregue a homens que exploram suas paixões e especulam com suas ambições.


O positivismo, apesar de ser menos absoluto, não é menos prejudicial em suas conseqüências. Por sua teoria do desconhecido, suprime as noções de objetivo e de larga evolução. Ele pega o homem na fase atual de sua vida, simples fragmento de seu destino, e o impede de ver para diante e para trás de si; método estéril e perigoso, feito, parece, para cegos de espírito e que se tem proclamado, muito falsamente, como a mais bela conquista do espírito moderno. Esse é o estado atual da sociedade. O perigo
é imenso e se alguma grande renovação espiritualista e científica não se produzisse, o mundo acabaria na incoerência e na confusão. Nossos homens de governo já sentem o que lhes custa viver numa sociedade em que as bases essenciais da moral estão abaladas, em que as leis são brandas, frágeis ou superficiais, em que tudo se confunde, até mesmo a noção elementar do bem e do mal.


É verdade que as Igrejas, apesar de suas fórmulas antiquadas e de seu espírito contrário ao progresso, ainda agrupam ao redor de si muitas almas sensíveis; porém, tornaram-se incapazes de afastar o perigo pela impossibilidade em que se colocaram de fornecer uma definição precisa do destino humano e do além, apoiada em fatos
comprovados. A humanidade, cansada de dogmas e de especulações sem provas, mergulhou no materialismo ou na indiferença. Não há salvação para o pensamento, senão por uma doutrina baseada na experiência e no testemunho dos fatos.


De onde virá essa doutrina? Que poder nos livrará do abismo em que nos arrastamos? Que ideal novo virá dar ao homem a confiança no futuro e o fervor pelo bem? Nas horas trágicas da História, quando todos pareciam desesperados, o socorro nunca faltou. A alma humana não pode afundar inteiramente e morrer. No momento em  que as crenças do passado se esgotam, uma concepção nova da vida e do destino, baseada na ciência dos fatos, reaparece. A grande tradição revive sob formas engrandecidas, mais jovens e mais belas. Ela mostra a todos um futuro cheio de esperança e de promessas. Saudemos o novo reino da idéia vitoriosa da matéria e trabalhemos para preparar seus caminhos!


A tarefa a cumprir é grande, e a educação do homem deve ser totalmente refeita. Essa educação, como vimos, nem a universidade nem a Igreja estão em condições de fornecer, uma vez que não possuem mais as sínteses necessárias para esclarecer a marcha das novas gerações. Apenas uma doutrina pode oferecer essa síntese: a do Espiritismo; ela já sobe no horizonte do mundo intelectual e parece iluminar o futuro. A essa filosofia, a essa ciência livre, independente, desprovida de toda pressão oficial, de todo compromisso político, as descobertas contemporâneas trazem a cada dia novas e preciosas contribuições. Os fenômenos do magnetismo, da radioatividade, da telepatia são aplicações de um mesmo princípio, manifestações de uma mesma lei que rege, ao mesmo tempo, o ser e o universo.


Mais alguns anos de trabalho paciente, de experimentação conscienciosa, de pesquisas contínuas, e a nova educação terá encontrado sua fórmula científica, sua base essencial. Esse acontecimento será o maior fato da História desde o aparecimento do Cristianismo. A educação, sabemos, é o fator mais poderoso do progresso; ela contém a origem do futuro. Mas, para ser completa, deve se inspirar no estudo da vida sob suas duas formas alternantes, visível e invisível, em sua plenitude, em sua evolução crescente em direção aos cimos da natureza e do pensamento. Os mestres dirigentes da humanidade têm um dever imediato a cumprir. É o de recolocar o espiritualismo na base da educação, de trabalhar para refazer o homem interior e a saúde moral. É preciso despertar a alma humana, adormecida por uma teoria destrutiva, mostrar-lhe seus poderes ocultos, fazê-la ter consciência de si mesma, para realizar seu glorioso destino. A ciência moderna analisou o mundo exterior; suas descobertas no universo objetivo são profundas: isso será sua honra e sua glória; mas ainda não sabe nada sobre o universo invisível e o mundo interior. É esse o império ilimitado que lhe resta conquistar. Saber por quais laços o homem se liga ao conjunto, descer às sinuosidades misteriosas do ser, onde a sombra e a luz se misturam como na caverna de Platão, percorrer seus labirintos, os redutos secretos, procurar conhecer o “eu” moral e o “eu” profundo, a consciência e a subconsciência: não há estudo
mais necessário que esse. Enquanto as escolas e as academias não o tiverem introduzido em seus programas, nada terão feito pela educação definitiva da humanidade.

Porém, já vemos surgir e constituir-se uma psicologia totalmente maravilhosa e imprevista da qual vão derivar uma nova concepção do ser e a noção de uma lei superior, que engloba e resolve todos os problemas da evolução e do futuro.


***


Interessante perceber que apesar da vertente conservadora do pensamento Denis toca em elementos ainda presentes em nosso tempo. Metas ainda não atingidas apesar de todos os avanços do conhecimento que temos. Avanços técnicos apenas.


O que nos permite pensar na técnica como um elemento importante, mas na educação integral do homem como o ponto focal de uma nova civilização, a Era do Espírito ao qual estamos vivendo. Resta implementar no planeta uma educação capaz de negar os valores da materialidade dominante na vida de grande parte das pessoas.


Paulo Cesar Fernandes

22 10 2013

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