segunda-feira, 11 de novembro de 2013

20131111 Primórdios da individualidade


José Herculano Pires

O espírito e o tempo

 

Capítulo 3

 

Horizonte civilizado: mediunismo oracular

 

Nos Estados Teológicos, a estrutura política assemelha-se à estrutura metafísica ou divina. A Religião e o Estado se modelam reciprocamente, uma sobre o outro, e vice-versa. A classe sacerdotal, racionalmente organizada, elabora os mitos no plano intelectual, criando a teologia, estruturando o ritualismo, estabelecendo a genealogia dos deuses e as formas de relações entre estes e os homens.

 

A teogamia egípcia, de que já tratamos, é um dos mais perfeitos exemplos dessas formas de relações: a genealogia divina se prolonga na genealogia humana dos faraós, graças à fecundação da rainha por um deus. Amalgamados assim os dois poderes, o temporal e o divino, na própria carne dos monarcas, os Estados Teológicos tornam-se monolíticos.

 

Ainda na Grécia vemos isso: a figura humana de Zeus, na sua corte olímpica, refletindo no espaço a estrutura política da nação.

 

Murphy acentua esse aspecto do horizonte civilizado, da seguinte maneira:

 

“No horizonte que chamamos civilizado, a religião reflete o sistema político e social: é em geral politeísta, com um grupo de deuses semelhante ao Senado de uma República ou, mais frequentemente, à corte de um monarca supremo e mais ou menos autocrata. Os deuses são principalmente as forças da natureza, como anteriormente, sob o horizonte agrícola, mas, agora, mais profundamente personalizadas e dotadas de uma realidade dramática, que resulta do progresso da reflexão mental, entre as classes que dispuseram de lazer nessas antigas nações civilizadas.”

 

Os Espíritos presentes nesse horizonte — devemos acentuar, por nossa vez — são ainda os da tribo e os do horizonte agrícola, mas enriquecidos pela experiência e pelo desenvolvimento do pensamento abstrato.

 

Um novo Espírito, entretanto, marcará esse horizonte. Murphy considera o seu aparecimento, e com razão, como “acontecimento de imensa importância”.

 

Trata-se do “Espírito Civilizado”, como o chama Murphy, ou o que poderíamos chamar Espírito de Civilização. Esse Espírito se caracteriza por três funções especiais:

a capacidade de formulação de conceitos abstratos, de formulação de juízos éticos e morais, e de formulação de princípios jurídicos. Dessas funções surgirá o indivíduo, como a mais bela afirmação do horizonte civilizado.

 

ATENTAR PARA O TEXTO A SEGUIR:

 

Como vemos, o homem se liberta de si mesmo, da sua condição humana, construída penosamente através das estruturas sociais do horizonte tribal e do horizonte agrícola, procurando uma forma mais precisa de definição de sua natureza. Na organização tribal, ele se libertou da condição animal e do jugo absoluto das forças da natureza, para elaborar a sua condição própria. Na organização agrícola, ele aprendeu a dominar a natureza e submetê-la ao seu serviço, mas caiu prisioneiro da estrutura social. No horizonte civilizado, ele começa a romper os liames da organização social, para descobrir-se a si mesmo, o que só fará quando se tornar um indivíduo.

 

A evolução do Espírito está bem clara nesse imenso processo de desenvolvimento histórico da humanidade. O homem se eleva progressivamente da selva à civilização, através de períodos históricos que podem ser definidos como “horizontes”, ou seja, como universos próprios, nos quais os diferentes poderes da espécie vão sendo treinados em conjunto, até que o desenvolvimento da razão favoreça o processo de individualização.

 

Primeiramente, o homem se destaca da natureza através do conjunto tribal; depois, reafirma a sua independência através dos conjuntos mais amplos das civilizações agrárias; e, depois, ainda, constrói os conjuntos mais complexos das grandes civilizações orientais. Nestes conjuntos, porém, o homem descobre a possibilidade de destacar-se individualmente da estrutura social. O espírito humano se afirma como individualidade, como entidade autônoma, capaz de superar não somente a natureza, mas a própria humanidade.


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Temos aqui, nas palavras do Professor uma explicação e um traveling histórico da formação da individualidade, tão forte e tão valorizada nos nossos tempos.

Nunca, como nestes tempos líquidos a individualidade, a subjetividade foi tão falada e tão valorizada.

Uma subjetividade que, nascida com Descartes, adquire hoje o status e o valor a ela inerentes. Recebendo, inclusive uma ressignificação histórica, na medida em que a liberdade no seu mais profundo sentido se atou, aderiu, colou à essa mesma subjetividade.

Não se pode hoje, pelo menos no Ocidente, falar em subjetividade, sujeito, indivíduo, sem que, ao mesmo tempo nos venha a noção de Liberdade.

A derrocada de todas as instituições e de todas as institucionalidades vem exatamente da não compreensão desse novo momento histórico.

Não adianta. A Igreja, os Templos, os Centros Espíritas, Templos Budistas, etc. tudo isso tende a minguar no número de pessoas presentes.

Toda tentativa dessas instituições em ampliar o número de adeptos acabará caindo no ridículo. Será a demonstração cabal da não compreensão do mundo na qual estão inseridas tais instituições.

Qual nossa tarefa enquanto espíritas? - Você deve estar se perguntando.

Divulgar a "Imortalidade do Espírito" para o conceito mais e mais fazer parte do senso comum. Possa impregnar o sentimento das massas. E quando digo massas me refiro a massas mesmo. No sentido sociológico ou marxista do termo.

Uma vez atingido esse estágio. Por lógica dedução as pessoas chegarão à Reencarnação, e ao inevitável processo da Evolução.

É o que basta. Isto posto, as decorrências éticas serão um desdobramento natural de tudo isso.

Será assim?

Não tenho como predizer ou definir que assim o seja.

Mas essa é minha atual perspectiva, a partir de todas as leituras espíritas e não espíritas feitas nos últimos cinco anos principalmente.

Não quero que concordem comigo, até prefiro a discordância sincera. Que esta me chegue através do espaço de Observações presente neste Blog.

Seu tempo na leitura deste texto é uma honra para mim. Obrigado.


Paulo Cesar Fernandes

11 11 2013

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