sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Reflexão 14 12 2012 - Perdemos

Allan Kardec - O Livro dos Médiuns

III - Do método

30. Convirá se procure convencer a um incrédulo obstinado? Já dissemos que isso depende das causas e da natureza da sua incredulidade. Muitas vezes, a insistência em querer persuadi-lo o leva a crer em sua importância pessoal, o que, a seu ver, constitui razão para ainda mais se obstinar.


Com relação ao que se não convenceu pelo raciocínio, nem pelos fatos, a conclusão a tirar-se é que ainda lhe cumpre sofrer a prova da incredulidade. Deve-se deixar à Providência o encargo de lhe preparar circunstâncias mais favoráveis. Não faltam os que anseiam pelo recebimento da luz, para que se esteja a perder tempo com os que a repelem.


Dirigi-vos, portanto, aos de boa-vontade, cujo número é maior do que se pensa, e o exemplo de suas conversões, multiplicando-se, mais do que simples palavras, vencerá as resistências. O verdadeiro espírita jamais deixará de fazer o bem. Lenir corações aflitos; consolar, acalmar desesperos, operar reformas morais, essa a sua missão. E nisso também que encontrará satisfação real.


O Espiritismo anda no ar; difunde-se pela força mesma das coisas, porque toma felizes os que o professam.


Quando o ouvirem repercutir em tomo de si mesmos, entre seus próprios amigos, os que o combatem por sistema compreenderão o insulamento em que se acham e serão forçados a calar-se, ou a render-se.


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O idealismo de Kardec me toca fundo.


Ao tomar contato com suas idéias, bem como ao lermos Herculano Pires temos a nítida impressão da chegada iminente do novo mundo. O mundo mais humano e justo está logo ali. Bem depois da próxima esquina. Sentimos poder tocá-lo com as mãos. Essa é a sensação da leitura desses dois idealistas. Como todos os idealistas lhes parece que, por si só a força das idéias propagadas farão nascer o Homem Novo, tão sonhado por todos eles.


Todos eles sem uma única exceção.


Me trouxe lágrimas pensar nesta guerra perdida. E perdida para a materialidade tão presente em pessoas e instituições. Justamente o materialismo tido por Kardec como o maior inimigo do Espiritismo.


Já não se fala no Bem. No Homem de Bem. No Homem Novo. Já se perdeu a sensibilidade humana.


Kardec, é duro te dizer, mas a guerra está perdida. Não mais existe o terreno propício, onde caia a boa semente da ética, frutificando um porvir luminoso de Liberdade, Fraternidade e Igualdade como a Revolução Francesa bem definiu.


Nada disso. Os entes tomaram conta dos homens, como tristemente propalou Heidegger. Feroz crítico da técnica e do deslocamento das
preocupações humanas do Ser para as coisas (para ele os Entes).


Assim como tu Kardec. Cujo foco é o Ser, o Espiirito, a alma enquanto espírito encarnado. Sofreu Heidegger com isto também.


As Coisas, os Entes, na "Sociedade de Consumidores" nas quais vivemos são soberanas. Por elas (dentre elas o dinheiro) se mata e se rouba.

Roubando inclusive o pertencente a todo um povo:
roubam o direito à moradia digna;
roubam os recursos destinados à Educação e à Saúde.


Está claro, quando um ladrão desvia recursos públicos para sua conta pessoal:
mata crianças pois desviou recursos da saúde;
expulsa familias da possibilidade de um teto digno, pois tirou dinheiro da habitação;
inferniza a vida dos trabalhadores pois lhes retira recursos a serem aplicados na mobilidade urbana; etc.


Kardec amigo. Nunca pensastes, da estrutura filosófica tão bem estruturada por ti, esbarrar no materialismo tão impregnado na sociedade, onde mesmo os teus; mesmo teus leitores e adeptos, cair na esparrela dessas mazelas morais tão degradantes da humanidade.


Mas não estás só na desilusão.


Contigo está Marx, com seu socialismo, tão bonito em sua formulação teórica e tão deturpado em sua utilização prática. Louis Althusser. Rosa de Luxemburgo. Os homens da Escola de Frankfurt. Teus contemporâneos do idealismo alemão: Hegel; Kant; Hölderlin, este último, por ser poeta, deve estar sofrendo ainda mais profundamente.


Perdemos sim, mestre e professor de tantos anos. Venceu a truculência e a falta de vergonha de todas as instituições internacionais criadas para o bem da humanidade como um todo. Estas, criam guerras para dizimar populações e se apoderarem de suas terras. Vergonha.


E o materialismo se embrenhou profundamente na estrutura social. Como a erva daninha mais poderosa, e destruidora de todas as regras e valores tradicionais. Presentes no teu tempo, e sobreviventes até os anos de 1940 e 1950.


Daí em diante temos o inicio do questionamento de todos esses
valores e novos valores lhes tomaram o lugar.


Predominantemente o individualismo, como proposta de liberdade, sendo isto o grande engodo atual, pois uma liberdade cujo único desaguadouro é o consumo de mercadorias não é verdadeiramente liberdade, mas uma forma nova e travestida de escravidão.


Hoje Kardec, os homens não mais buscam o pensamento, a razão, a evolução. Pensam, tão somente, em se tornar uma mercadoria mais atraente para o mercado, sempre ávido de novidades. E cada novidade é fugazmente descartada e substituida.


É um triste painel. Mas real.


_ O que há de promissor? - me perguntarias.

_ A imortalidade da alma, e o processo incessante de desencarnações e encarnações renovando verdadeiramente a população do planeta. Não precisaremos todos ser espiritistas. Mas todos pautados na busca do Bem; não apenas para si, mas para um número mais amplo possível de viventes, tal qual propunha o filósofo Kant. E a Filosofia pautando nossa existência. Dentro e fora do universo material.


Paulo Cesar Fernandes

14  12  2012

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