segunda-feira, 16 de novembro de 2015

20151116 A Energia segundo Jung

20151116 A Energia segundo Jung




A questão agora é a seguinte: de onde surgiu a ideia nova, essa ideia que se impôs à consciência com tão elementar violência? 

De onde tirou a sua força, essa força que se apoderou da consciência de modo a torná-la insensível às inúmeras atrações de uma primeira viagem aos trópicos? 

A resposta não é fácil. Mas, se a nossa teoria for aplicada ao presente caso, a explicação deve ser a seguinte: a ideia da energia e de sua conservação deve ser uma imagem primordial, adormecida no inconsciente coletivo.


Semelhante conclusão nos obriga evidentemente a provar que tais imagens primordiais existiram efetivamente na história do espírito humano e que foram ativas durante milhares e milhares de anos. Esta prova pode ser realmente fornecida sem maiores dificuldades. 


As religiões mais primitivas, nas regiões mais variadas do mundo, são fundadas nessa imagem. São as chamadas religiões 
dinamísticas. Seu pensamento único e decisivo é que há uma força universal mágica e que tudo gira em torno dessa força. Tanto Taylor, o conhecido cientista inglês, como Frazer interpretaram essa ideia como animismo, erroneamente. 


Na realidade, os povos primitivos não se referem a almas ou espíritos nesse seu conceito de energia, mas a algo que o cientista americano Lovejoy qualificou acertadamente como "primitive energetics". 


A este conceito corresponde a ideia de alma, espírito, deus, saúde, força corporal, fertilidade, poder mágico, influência, poder, respeito, remédio, bem como certos estados de ânimo caracterizados pela liberação de afetos. 

"Mulungu" (precisamente este conceito primitivo de energia) significa, para certos polinésios, espírito, alma, ser demoníaco, poder mágico, respeito; e quando acontece algo assombroso as pessoas exclamam "mulungu". 


Este conceito de energia também é a primeira versão do conceito de deus entre os primitivos. A imagem desenvolveu-se em variações sempre novas no decurso da história. No Antigo Testamento a força mágica resplandece na sarça que arde em chamas diante de Moisés. No Evangelho manifesta-se pela descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo vindas do céu. 


Em Heráclito aparece como energia universal, como "o fogo eternamente vivo". 

Entre os persas é a viva luz do fogo do "haoma", da graça divina; para os estoicos é o calor primordial, a força do destino. 

Na legenda medieval aparece como a aura, a auréola dos santos, desprendendo-se em forma de chamas do telhado da cabana onde o santo jaz em êxtase. 

Nas faces dos santos essa força é vista como sol e plenitude da luz. 

Segundo uma interpretação antiga, a própria alma é essa energia; a ideia de sua imortalidade é a de sua conservação; e na acepção budista e primitiva da metempsicose (transmigração da alma) reside a sua capacidade ilimitada de transformação e perene conservação.


Há milênios o cérebro humano está impregnado dessa idéia, por isso, jaz no inconsciente de todos, à disposição de qualquer um. Apenas requer certas condições para vir à tona. Pelo visto, essas condições foram preenchidas no caso de Robert Mayer. Os maiores e melhores pensamentos da humanidade são moldados sobre imagens primordiais, como sobre a planta de um projeto.


Muitas vezes já me perguntaram de onde provêm esses arquétipos ou imagens primordiais. Suponho que sejam sedimentos de experiências constantemente revividas pela humanidade. Parece que a explicação não pode ser outra. Uma das experiências mais comuns e ao mesmo tempo mais impressionantes é o trajeto que o sol parece percorrer todos os dias. Enquanto o encararmos como esse processo físico conhecido, o nosso inconsciente nada nos revela a respeito. No entanto, encontramos o mito heróico do sol nas suas mais variadas versões. É este mito e não o processo físico que configura o arquétipo solar. O mesmo podemos dizer das fases da lua. 


O arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir constantemente as mesmas idéias míticas; se não as mesmas, pelo menos parecidas. Parece, portanto, que aquilo que se impregna no inconsciente é exclusivamente a ideia da fantasia subjetiva provocada pelo processo físico. Logo, é possível supor que os arquétipos sejam as impressões gravadas pela repetição e reações subjetivas. 


É óbvio que tal suposição só posterga a solução do problema. Nada nos impede de supor que certos arquétipos já estejam presentes nos animais, pertençam ao sistema da própria vida e, por conseguinte, sejam pura expressão vida, cujo modo de ser dispensa qualquer outra explicação que parece, os arquétipos não são apenas impregnações experiências típicas, incessantemente repetidas, mas também comportam empiricamente como forças ou tendências à 
repetição das mesmas experiências. 


Cada vez que um arquétipo aparece em sonho, na fantasia ou na vida, ele traz consigo uma "influência" específica ou uma força que lhe confere um efeito numinoso e fascinante ou que impele à ação.


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Há milênios o cérebro humano está impregnado dessa ideia, por isso, jaz no inconsciente de todos, à disposição de qualquer um.


Todo o texto de Jung me parece válido para a reflexão dos espíritas. Por lidar com energia, algo de nosso dia a dia. Mas ancestralmente presente nas configurações mentais dos Povos Originários de diversas localidades da Terra.


A universalidade do conceito nos permite afirmar a realidade do fenômeno energético na vida. Enquanto pensamento agregamos energia, o que nos permite a manifestação, Na materialidade ou fora dela.


Trouxe o texto acima, tal qual JUNG o escreveu, pois acho importante descolar do cérebro todas essas imagens, o cérebro é instrumento de nossa manifestação, somos pensamentos dinâmicos e manipuladores e qualificadores das diversas energias ao nosso redor disponíveis.


Finalizando. O contato com o pensamento de homens como Jung apenas pode nos ampliar horizontes. Todos os elementos da Cultura Universal são enriquecedores da nossa apreensão, consolidação e ampliação da propositura dos pensamentos trazidos à luz pelo Senhor Allan Kardec.


Paulo Cesar Fernandes.

16/11/2015.

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