terça-feira, 27 de maio de 2014

20140527 Fora de mim

Fora de mim


Pode ocorrer isto?


Finalizava eu meus estudos, dessa disciplina trazida ao mundo em 1857 chamada espiritismo. Lera um caso na Revista Espirita de 1860 e mais um capítulo de "O ser e a serenidade" de Herculano Pires.


De um golpe, a palavra ontológico, e o conceito de ontologia se abriram para mim como fosse uma visão panorâmica de trajetória.
Me percebi como um ser criado simples e ignorante, mas já um Ser; e assim fui fazendo passagens, passagens por diversos momentos até o instante do pensamento contínuo, mas como mais importante o nascimento do senso ético.


Foi o nascimento do senso ético quem trouxe a determinação da vontade, tendo a consequencia da Liberdade. Como liberdade de escolha, algo ainda muito rudimentar, pois desconectada ainda da consciência do ascencional como necessidade. Como elemento intrínseco do Ser, um Ser que é. Pois desde o início da sua
existência o Ser já é.


Essa afirmação do Ser, e sua consciente projeção a um futuro vislumbrado, de maior sabedoria e afetividade é a condição de distinção entre o ponto de tomada de consciência e todos os momentos anteriores desse mesmo Ser.


Não creio ter passado esse ponto da "Tomada de Consciência". Me chegou ao saber, simplesmente, a percepção de sua existência, sua presença no percurso vivencial do humano da terra.


Falar em Tomada de Consciência a alguns pode parecer algo místico, alienante, apartando-nos da realidade circundante.


Nada disso!


Estar consciente de si é condição natural do processo de crescimento do espírito. É um ponto sim. É um momento sim.


Descortina o espírito toda sua trajetória, e dentro dela se ve, se percebe, vislumbra o "a caminhar" diante de si. E pela livre vontade decide, define, reprojeta sua jornada.


Esse reprojetar a jornada é exatamente a "Tomada de Consciência".


Dentro do intervalo entre o berço e o túmulo é o momento mais solitário. Não há como, com quem e porque partilhar isso. Tal solidão é comparável à de uma praia deserta em pré-temporal. Angústia. Muita dúvida.


Mas, quando a vontade se estabelece soberana brilha o sol no horizonte e nada mais é igual. Brotam novos conceitos, concepções. O Ser se abre ao mundo.


No processo vivencial, diversos momentos decisórios são angustiantes. Mas, uma vez tomada a decisão, há um vento a varrer todas as anteriores inquietações e nos vemos em serenidade.


Não mais importa a inquietação ao nosso redor, o rumor dos tempos, da política ou do mundo como um todo. A serenidade instalada nos insta a outro posto na relação com tudo. Estamos na vida como qualquer outro, para o que der e vier. Mas estamos em estabilidade.


Se amplia como nunca nossa Liberdade, e tem inicio um processo de afloramento da afetividade. Tolhida antes pelas inquietações tantas, a nos importunar a marcha, a nos fazer escravos de temporalidades ou puerilidades.


É um novo momento. O Ser, o espírito, o sujeito, a alma, como quer o chamemos está em um novo patamar na relação consigo mesmo; e isto tem um necessário desdobramento na sua relação com tudo à sua volta: seres e entes.


Cada ato, cada pensamento, tem uma ligação forte com o amplo projeto já não vivencial e restrito, mas com um projeto existencial mais amplo, abarcando diversas experiências vivenciais (encarnações) e a somatória de saberes agregados em cada uma dessas experiências.


Afinal o aporte de novas potencialidades é um processo infinito, como a própria Evolução o é.


Paulo Cesar Fernandes

27  05  2014

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