Lanterna
de Diógenes
O problema do ser
é a única preocupação real do espírito. Por isso domina toda a História da
Filosofia, e quando se acreditava estar superado, - após o surto materialista,
positivista e pragmatista da Filosofia Moderna, - ressurgiu ainda com mais
vigor. A própria Filosofia da Existência, que caracteriza o pensamento
contemporâneo, e que parecia destinada a reduzir o homem a uma espécie de
fogo-fátuo, transformou-se numa simples forma de abordagem do problema do Ser.
Basta lançarmos o olhar para estes títulos de obras fundamentais: “O Ser e o
Tempo”, de Heidegger; “O Ser e o Nada” de Sartre; “Ser e Ter”, de Marcel.
Apesar disso, todo o conjunto das filosofias da Existência, como acentua
Bochenski, só trata da periferia do Ser, ou seja, dessa ecstase do Ser que é “o
homem no mundo”
·
Nada é mais tocante a todos os
habitantes deste planeta desde a sua formação que as questões de seu destino.
Queiramos ou não, a morte é o grande fantasma de toda a História da Humanidade.
Alguns se esquivam do tema, como o avestruz escondendo a cabeça no trabalho
estafante; nas preocupações tantas capazes de nos absorver o tempo. Mas alguns
outros, os filósofos de todas as eras, sobre ele se debruçaram, tendo dele
distintas miradas.
·
Autores como Ferrater Mora,
Nicola Abagnano podem nos posicionar quanto à veracidade deste fato. Foge ao
meu atual escopo.
·
Dentre as obras citadas por Herculano
“Ser e Ter” e seu autor Marcel[1] me são
inteiramente desconhecidos. Na década de 50 tenha tido talvez sua importância.
Importância perdida no transcorrer do tempo. A nota objetiva apenas situar-nos.
·
Segundo José Pablo Feinmann,
produtor de cine e professor da UBA (Universidade de Buenos Aires), em seu
curso “Filosofia Aqui y Ahora” afirma ele que Martin Heidegger é o maior
filósofo da Modernidade. A tal ponto lhe dá importância, dedica 5 aulas num
módulo de 13. Quanto a Jean-Paul Sartre, devem todos saber de sua
importância, bem como de sua companheira Simone de Beauvoir em todos os processos convulsionários da Paris do ano de 1968. As
chamadas Barricadas do Desejo.
Mas, de qualquer
maneira, encarando o Ser na sua ecstase humana ou na sua arcstase divina, na
hipótese do relativo ou na hipótese do absoluto, a Filosofia Contemporânea
voltou-se inteiramente, sem exceção das correntes neo positivistas, e
materialistas, para o problema do Ser.
O que há de mais
significativo na contribuição das Filosofias da Existência, nesse campo de
conflitos e debates que é o atual Existencialismo, segundo me parece, é a
recolocação do problema do Ser numa perspectiva humana e realista.
Enquanto
Kierkegaard partia do desespero teológico, enfrentando a situação do homem
diante do pecado, no mundo, Denizard Rivail partia da observação científica,
procurando descobrir a natureza íntima do homem, a sua realidade fundamental,
como um ser no mundo. Não obstante, as meditações do teólogo Kierkegaard
encontraram maior ressonância, no mundo filosófico, do que as observações de
Denizard Rivail, que sob o pseudônimo de Allan Kardec estruturou o Espiritismo.
|
·
Quer neste livro, quer em
“Parapsicologia e suas perspectivas” o Professor Herculano aposta todas as suas
fichas na Parapsicologia como ramo do conhecimento atestador da realidade dos
fatos espíritas. O passar do tempo tem trazido outras preocupações ao homem da
atualidade, e a Parapsicologia e tudo referente a algo próximo da metafísica
perdeu seu valor.
·
Venceu o materialismo em todos
os meios: religiosos e não religiosos. As coisas do Estar aí no mundo ao nosso
redor, e a preocupação com os bens ofertados por esse mundo dominam a todos os
segmentos sociais e em todos os continentes.
·
Não é sem motivos que amplos
contingentes populacionais se deslocam para países capazes de lhes ofertar
melhores condições de vida; traduzidas essas condições em maior acesso aos bens
de consumo ofertados pelas “Sociedades dos Consumidores”, conforme designa
Zygmunt Bauman em “Tempos Líquidos”.
·
Os Estados Unidos é a nova
Meca dos latinos. Seja para comprar simplesmente; seja para se estabelecer como
seu novo pais. Nada de errado há nisso, pois é da natureza do espírito a busca
do melhor para si e sua família em todas as épocas da humanidade.
·
As preocupações existenciais
figuram entre as menores, dentre aquelas
ocupando a mente do homem contemporâneo. Gostemos ou não, venceu a materialidade.
Ficando aos filósofos, teólogos e artistas, músicos principalmente as
preocupações com a existência e com as relações humanas.
O problema do Ser,
no Espiritismo, foi colocado na perspectiva existencial, mas não foi absorvido
nem perturbado pela problemática da existência. Por isso mesmo, o Espiritismo
tem muitas contribuições a fazer, para o esclarecimento dos impasses a que
chegaram as Filosofias da Existência. Da mesma maneira, suas contribuições para
a orientação dos tateios científicos da Parapsicologia, em favor de uma
colocação mais clara do problema ontológico, são da mais relevante importância.
Se os homens de saber quisessem ouvir o conselho de Descartes, pondo de lado a
precipitação e o preconceito, encontrariam no Espiritismo um poderoso auxiliar
para o prosseguimento de seus trabalhos, tanto no campo da ciência, quanto nos
da Filosofia e da Religião.
·
Hoje a Parapsicologia é uma
ciência desgarrada da Academia, ao que me parece. A academia a colocou no
âmbito dos conhecimentos místicos da humanidade, por maior valor possam ter os
experimentos feitos por Joseph Banks Rhine na Universidade de Duke, nos EEUU.
·
Por outro lado, outra
fronteira se abriu através da Neurologia, em seus experimentos com macacos
movimentando, pela vontade, alguns mecanismos. O universo do cérebro, a
nominada Câmara Escura por Guy Claxton, vem recebendo os primeiros sinais de
luz sobre sua estrutura, seu funcionamento e suas possibilidades.
·
Mas isto jamais fará, ao meu
modo de ver, um aperto de mãos entre a academia e o espiritismo. Principalmente
no Brasil onde viceja o CatoEspiritismo. São caminhos paralelos, infelizmente.
A investigação
ontológica aqui desenvolvida é precária e frágil, como a própria vida humana. E
não pretende ser mais do que isso. Porque basta ao homem acender uma pequena
luz nas trevas, para que a escuridão se dissipe e o contorno das coisas se
mostre por si mesmo. Acendemos apenas a Lanterna de Diógenes, para procurar o
Homem nas ruas do mundo, em plena luz solar. É quase certo que a pequena lanterna
passará despercebida, sob os clarões atômicos que ameaçam o século. Mas, mesmo
em pleno dia, precisamos às vezes a luz humilde de uma lanterna, como
demonstrou o filósofo, para enxergarmos pequenas coisas ocultas. Se a luz
tateante desta lanterna revelar os contornos, mesmo superficiais, do objeto
ontológico, escondido no homem, terá prestado algum serviço aos que buscam.
Na inquietação da
vida, o homem sempre se refaz, quando se defronta com a serenidade.
·
A busca de nosso
autoconhecimento é sempre algo tênue, fugidio, que nos escapa das mãos, por
mais tentemos reter. Fruto de nosso atual estágio. Somos seres incompletos.
·
A lanterna proposta pelo
professor para sua obra não visa o encontro com um homem honesto, mas por certo
o encontro com homens cuja preocupação ontológica supere todas as preocupações
materiais e passageiras de nosso tempo. Ocupando sua alma com elementos
metafísicos.
·
Destaco neste trecho a
humildade de Herculano Pires diante de um trabalho de tal monta, de tal
profundidade. Além da emoção da primeira leitura fica comigo a lição: nunca
somos grandes, se nos imaginamos grandes. Pelo contrário.
|
Não serão os
materialistas, os ateus, os Tomés do positivismo científico, e nem também os
teólogos, os crentes desta ou daquela seita, os idealistas e sonhadores
inconsequentes, que nos darão resposta certa a essas perguntas. Só a pesquisa
do Ser, no plano científico e no plano filosófico, a descoberta do sentido da
nossa existência, implícito na natureza do nosso Ser, poderá realmente
responde-las. Que estas páginas possam oferecer algumas sugestões para essa
busca é o máximo que devemos desejar.
·
Mesmo porque não há um único
caminho para atingir a meta da Serenidade. Cada espírito, ao traçar o seu
roteiro pode, de uma maneira ou de outra, encontrar hiatos de serenidade. Como
se fossem oásis no total deserto do Ser.
·
A posse das reflexões trazidas
por Herculano Pires amplia possibilidades de trazermos para antes, muito antes,
esse encontro. Tão desejado por todos: nosso encontro com a serenidade.
[1] O
Pensamento de Gabriel Marcel
Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Marcel
consultado em 23/05/2014
Partindo
de sua própria existência, acentua ter vivido problemas filosóficos que o
oprimiram e afirma: “a filosofia concreta nasce somente de uma tensão criadora,
continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e
rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua
intensidade”. Gabriel procura dar à existência aquela prioridade metafísica que
lhe havia tirado o idealismo.
A
pesquisa do homem encarnado de Marcel orienta-se para a descoberta de um
sentido para a vida, o qual é sempre o sentido da minha vida. Recusar-se a
esclarecer o sentido da vida é renunciar a própria identidade profunda, é
dissolver-se no Ter.
O Ter e o Ser
Esta
distinção é fundamental na ontologia de Marcel. Ter diz respeito a coisas que
me são externas e que de mim não dependem, embora eu seja proprietário e delas
me disponho. Ser é fonte de alheamento: os objetos que possuímos possuem
significados que ameaçam tragar-nos. Os que estão apegados ao Ter estão prestes
a sofrer de deficiência ontológica com a perda do Ser. Para quem vive na
dimensão do Ter todas as coisas são problemas. Exemplo: Dom Juan vive na zona
do Ter: vê a mulher do ponto de vista da posse e por sequência, um mero
problema, por isso passa de uma para outra, sem poder saciar-se com nenhuma.
O
corpo e o Ter-típico: é a exterioridade em comunicação com o “eu” interior.
Entre a realidade e mim, o corpo é mediador absoluto. O corpo é a primeira
coisa possuída.
O
Ser tem a primazia na pesquisa metafísica em relação ao pensamento e ao Ter.
Não há e não pode haver passagem do pensamento ao ser; esta passagem é
impensável; o pensamento já está no ser e não pode sair dele, não pode fazer
abstracção dele. É necessário dizer que o pensamento é interno ao ser, que ele
é certa modalidade do ser. O pensamento está para o ser assim como os olhos
para a luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário