sexta-feira, 30 de maio de 2014

20140530 Fichamento BB HPires O Ser e a Serenidade

 Fichamento

José Herculano Pires

O Ser e a Serenidade



 
Lanterna de Diógenes

 

O problema do ser é a única preocupação real do espírito. Por isso domina toda a História da Filosofia, e quando se acreditava estar superado, - após o surto materialista, positivista e pragmatista da Filosofia Moderna, - ressurgiu ainda com mais vigor. A própria Filosofia da Existência, que caracteriza o pensamento contemporâneo, e que parecia destinada a reduzir o homem a uma espécie de fogo-fátuo, transformou-se numa simples forma de abordagem do problema do Ser. Basta lançarmos o olhar para estes títulos de obras fundamentais: “O Ser e o Tempo”, de Heidegger; “O Ser e o Nada” de Sartre; “Ser e Ter”, de Marcel. Apesar disso, todo o conjunto das filosofias da Existência, como acentua Bochenski, só trata da periferia do Ser, ou seja, dessa ecstase do Ser que é “o homem no mundo”

 

·         Nada é mais tocante a todos os habitantes deste planeta desde a sua formação que as questões de seu destino. Queiramos ou não, a morte é o grande fantasma de toda a História da Humanidade. Alguns se esquivam do tema, como o avestruz escondendo a cabeça no trabalho estafante; nas preocupações tantas capazes de nos absorver o tempo. Mas alguns outros, os filósofos de todas as eras, sobre ele se debruçaram, tendo dele distintas miradas.

·         Autores como Ferrater Mora, Nicola Abagnano podem nos posicionar quanto à veracidade deste fato. Foge ao meu atual escopo.

·         Dentre as obras citadas por Herculano “Ser e Ter” e seu autor Marcel[1] me são inteiramente desconhecidos. Na década de 50 tenha tido talvez sua importância. Importância perdida no transcorrer do tempo. A nota objetiva apenas situar-nos.

·         Segundo José Pablo Feinmann, produtor de cine e professor da UBA (Universidade de Buenos Aires), em seu curso “Filosofia Aqui y Ahora” afirma ele que Martin Heidegger é o maior filósofo da Modernidade. A tal ponto lhe dá importância, dedica 5 aulas num módulo de 13.  Quanto a Jean-Paul Sartre, devem todos saber de sua importância, bem como de sua companheira Simone de Beauvoir em todos os processos convulsionários da Paris do ano de 1968. As chamadas Barricadas do Desejo.

 

Mas, de qualquer maneira, encarando o Ser na sua ecstase humana ou na sua arcstase divina, na hipótese do relativo ou na hipótese do absoluto, a Filosofia Contemporânea voltou-se inteiramente, sem exceção das correntes neo positivistas, e materialistas, para o problema do Ser.

O que há de mais significativo na contribuição das Filosofias da Existência, nesse campo de conflitos e debates que é o atual Existencialismo, segundo me parece, é a recolocação do problema do Ser numa perspectiva humana e realista.

Enquanto Kierkegaard partia do desespero teológico, enfrentando a situação do homem diante do pecado, no mundo, Denizard Rivail partia da observação científica, procurando descobrir a natureza íntima do homem, a sua realidade fundamental, como um ser no mundo. Não obstante, as meditações do teólogo Kierkegaard encontraram maior ressonância, no mundo filosófico, do que as observações de Denizard Rivail, que sob o pseudônimo de Allan Kardec estruturou o Espiritismo.

 




Ecstase = Prefixo grego EC significa movimento para fora. Êxtase, literalmente quer dizer arrebatar-se, desprender-se subitamente, sair de si, elevar-se (do grego ékstasis, pelo latim tardio ecstase, exstase), corresponde ao sentimento de prazer, expressão tanto utilizada para descrever o orgasmo como o transe, resultado da meditação, sendo que algumas religiões, a exemplo do yoga tântrico há relação do orgasmo com o êxtase religioso a ser aprendida. Referindo-se ao "transe" religioso pode ser também descrito como " consciência cósmica" (ampliada), "comunhão com a natureza"; "iluminação" e ainda vocábulos de religiões específicas como nirvana que, no budismo, significa paz, estado de ausência total de sofrimento.
 
Arcstase = Prefixo grego ARC significa superioridade, principal. Como em arcanjo; arquimilionário.
 
NeoPositivismo = Positivismo lógico é uma posição filosófica geral, também denominada empirismo lógico ou neopositivismo, desenvolvida por membros do Círculo de Viena com base no pensamento empírico tradicional e no desenvolvimento da lógica moderna.
O positivismo lógico restringiu o conhecimento à ciência e utilizou o verificacionismo para rejeitar a Metafísica não como falsa, mas como destituída de significado. A importância da ciência levou positivistas lógicos proeminentes a estudar o método científico e explorar a lógica da teoria da confirmação.
O positivismo lógico hoje em dia é desconsiderado pela maioria dos filósofos. Mas, as correntes filosóficas desdobradas de Kuhn (que estabelece o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend (demonstrando que na prática científica a ciência não evolui segundo normas pré-estabelecidas) geraram graves problematizações de suas ideias.
Ludwig Wittgenstein e seu "Tractatus Logico-Philosophicus" contribuíram para a construção da doutrina do Círculo de Viena.
Após a II Guerra Mundial, as doutrinas do positivismo lógico eram cada vez mais atacadas por pensadores como Willard Van Orman Quine, Karl Popper, Thomas Kuhn, Peter Strawson e Hilary Putnam, chegando a sua total decadência por volta dos anos 60.
 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
Foi necessário correr todo um século, sob o impacto desumano de duas conflagrações mundiais, para que a proposição espírita sobre o Ser voltasse a preocupar os homens de saber, através da pesquisa científica. Hoje, a pergunta sobre o Ser, que Heidegger recolocou em termos de pesquisa, está sendo respondida segundo o método kardeciano: pela observação e a experiência de laboratório, nos quadros da Parapsicologia. Mas, enquanto o existencialismo kierkegaardiano se fragmenta em correntes contraditórias, o Espiritismo kardeciano sustenta a sua unidade primitiva e tem os seus princípios confirmados pela investigação científica. Isto não desvaloriza a posição e a contribuição do Existencialismo, mas demonstra que o Espiritismo, desprezado e escarnecido, retoma o seu lugar epistemológico na cultura atual, como a pedra rejeitada da parábola.

 

·         Quer neste livro, quer em “Parapsicologia e suas perspectivas” o Professor Herculano aposta todas as suas fichas na Parapsicologia como ramo do conhecimento atestador da realidade dos fatos espíritas. O passar do tempo tem trazido outras preocupações ao homem da atualidade, e a Parapsicologia e tudo referente a algo próximo da metafísica perdeu seu valor.

·         Venceu o materialismo em todos os meios: religiosos e não religiosos. As coisas do Estar aí no mundo ao nosso redor, e a preocupação com os bens ofertados por esse mundo dominam a todos os segmentos sociais e em todos os continentes.

·         Não é sem motivos que amplos contingentes populacionais se deslocam para países capazes de lhes ofertar melhores condições de vida; traduzidas essas condições em maior acesso aos bens de consumo ofertados pelas “Sociedades dos Consumidores”, conforme designa Zygmunt Bauman em “Tempos Líquidos”.

·         Os Estados Unidos é a nova Meca dos latinos. Seja para comprar simplesmente; seja para se estabelecer como seu novo pais. Nada de errado há nisso, pois é da natureza do espírito a busca do melhor para si e sua família em todas as épocas da humanidade.

·         As preocupações existenciais figuram entre  as menores, dentre aquelas ocupando a mente do homem contemporâneo. Gostemos ou não, venceu a materialidade. Ficando aos filósofos, teólogos e artistas, músicos principalmente as preocupações com a existência e com as relações humanas.

  

O problema do Ser, no Espiritismo, foi colocado na perspectiva existencial, mas não foi absorvido nem perturbado pela problemática da existência. Por isso mesmo, o Espiritismo tem muitas contribuições a fazer, para o esclarecimento dos impasses a que chegaram as Filosofias da Existência. Da mesma maneira, suas contribuições para a orientação dos tateios científicos da Parapsicologia, em favor de uma colocação mais clara do problema ontológico, são da mais relevante importância. Se os homens de saber quisessem ouvir o conselho de Descartes, pondo de lado a precipitação e o preconceito, encontrariam no Espiritismo um poderoso auxiliar para o prosseguimento de seus trabalhos, tanto no campo da ciência, quanto nos da Filosofia e da Religião.

 

·         Hoje a Parapsicologia é uma ciência desgarrada da Academia, ao que me parece. A academia a colocou no âmbito dos conhecimentos místicos da humanidade, por maior valor possam ter os experimentos feitos por Joseph Banks Rhine na Universidade de Duke, nos EEUU.

·         Por outro lado, outra fronteira se abriu através da Neurologia, em seus experimentos com macacos movimentando, pela vontade, alguns mecanismos. O universo do cérebro, a nominada Câmara Escura por Guy Claxton, vem recebendo os primeiros sinais de luz sobre sua estrutura, seu funcionamento e suas possibilidades.

·         Mas isto jamais fará, ao meu modo de ver, um aperto de mãos entre a academia e o espiritismo. Principalmente no Brasil onde viceja o CatoEspiritismo. São caminhos paralelos, infelizmente.

 


A investigação ontológica aqui desenvolvida é precária e frágil, como a própria vida humana. E não pretende ser mais do que isso. Porque basta ao homem acender uma pequena luz nas trevas, para que a escuridão se dissipe e o contorno das coisas se mostre por si mesmo. Acendemos apenas a Lanterna de Diógenes, para procurar o Homem nas ruas do mundo, em plena luz solar. É quase certo que a pequena lanterna passará despercebida, sob os clarões atômicos que ameaçam o século. Mas, mesmo em pleno dia, precisamos às vezes a luz humilde de uma lanterna, como demonstrou o filósofo, para enxergarmos pequenas coisas ocultas. Se a luz tateante desta lanterna revelar os contornos, mesmo superficiais, do objeto ontológico, escondido no homem, terá prestado algum serviço aos que buscam.

Na inquietação da vida, o homem sempre se refaz, quando se defronta com a serenidade.

 

·         A busca de nosso autoconhecimento é sempre algo tênue, fugidio, que nos escapa das mãos, por mais tentemos reter. Fruto de nosso atual estágio. Somos seres incompletos.

·         A lanterna proposta pelo professor para sua obra não visa o encontro com um homem honesto, mas por certo o encontro com homens cuja preocupação ontológica supere todas as preocupações materiais e passageiras de nosso tempo. Ocupando sua alma com elementos metafísicos.

·         Destaco neste trecho a humildade de Herculano Pires diante de um trabalho de tal monta, de tal profundidade. Além da emoção da primeira leitura fica comigo a lição: nunca somos grandes, se nos imaginamos grandes. Pelo contrário.




Diógenes de Sinope (em grego antigo: Διογένης ὁ Σινωπεύς; Sinope, 404 ou 412 a.C.[1] – Corinto, c. 323 a.C.[2] ), também conhecido como Diógenes, o Cínico, foi um filósofo da Grécia Antiga. Os detalhes de sua vida são conhecidos através de anedotas (chreia), especialmente as reunidas por Diógenes Laércio em sua obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes.
Diógenes de Sinope foi exilado de sua cidade natal e se mudou para Atenas, onde teria se tornado um discípulo de Antístenes, antigo pupilo de Sócrates. Tornou-se um mendigo que habitava as ruas de Atenas, fazendo da pobreza extrema uma virtude; diz-se que teria vivido num grande barril, no lugar de uma casa, e perambulava pelas ruas carregando uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando por um homem honesto. Eventualmente se estabeleceu em Corinto, onde continuou a buscar o ideal cínico da autossuficiência: uma vida que fosse natural e não dependesse das luxúrias da civilização. Por acreditar que a virtude era melhor revelada na ação e não na teoria, sua vida consistiu duma campanha incansável para desbancar as instituições e valores sociais do que ele via como uma sociedade corrupta.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Não serão os materialistas, os ateus, os Tomés do positivismo científico, e nem também os teólogos, os crentes desta ou daquela seita, os idealistas e sonhadores inconsequentes, que nos darão resposta certa a essas perguntas. Só a pesquisa do Ser, no plano científico e no plano filosófico, a descoberta do sentido da nossa existência, implícito na natureza do nosso Ser, poderá realmente responde-las. Que estas páginas possam oferecer algumas sugestões para essa busca é o máximo que devemos desejar.

 

·         Mesmo porque não há um único caminho para atingir a meta da Serenidade. Cada espírito, ao traçar o seu roteiro pode, de uma maneira ou de outra, encontrar hiatos de serenidade. Como se fossem oásis no total deserto do Ser.

·         A posse das reflexões trazidas por Herculano Pires amplia possibilidades de trazermos para antes, muito antes, esse encontro. Tão desejado por todos: nosso encontro com a serenidade.




[1] O Pensamento de Gabriel Marcel
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gabriel_Marcel  consultado em 23/05/2014
 
Partindo de sua própria existência, acentua ter vivido problemas filosóficos que o oprimiram e afirma: “a filosofia concreta nasce somente de uma tensão criadora, continuamente renovada, entre o eu e as profundezas do ser, da mais estrita e rigorosa reflexão, fundada na experiência vivida até o limite de sua intensidade”. Gabriel procura dar à existência aquela prioridade metafísica que lhe havia tirado o idealismo.
A pesquisa do homem encarnado de Marcel orienta-se para a descoberta de um sentido para a vida, o qual é sempre o sentido da minha vida. Recusar-se a esclarecer o sentido da vida é renunciar a própria identidade profunda, é dissolver-se no Ter.
 
O Ter e o Ser
Esta distinção é fundamental na ontologia de Marcel. Ter diz respeito a coisas que me são externas e que de mim não dependem, embora eu seja proprietário e delas me disponho. Ser é fonte de alheamento: os objetos que possuímos possuem significados que ameaçam tragar-nos. Os que estão apegados ao Ter estão prestes a sofrer de deficiência ontológica com a perda do Ser. Para quem vive na dimensão do Ter todas as coisas são problemas. Exemplo: Dom Juan vive na zona do Ter: vê a mulher do ponto de vista da posse e por sequência, um mero problema, por isso passa de uma para outra, sem poder saciar-se com nenhuma.
O corpo e o Ter-típico: é a exterioridade em comunicação com o “eu” interior. Entre a realidade e mim, o corpo é mediador absoluto. O corpo é a primeira coisa possuída.
O Ser tem a primazia na pesquisa metafísica em relação ao pensamento e ao Ter. Não há e não pode haver passagem do pensamento ao ser; esta passagem é impensável; o pensamento já está no ser e não pode sair dele, não pode fazer abstracção dele. É necessário dizer que o pensamento é interno ao ser, que ele é certa modalidade do ser. O pensamento está para o ser assim como os olhos para a luz.
 

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