quinta-feira, 19 de junho de 2014

20140619 Deolindo Amorim Entre Deus e César


Deolindo Amorim   Entre Deus e César



Alguns livros nos chamam a uma práxis dos preceitos espíritas. Este, de Deolindo Amorim me espanta pela sua clareza e a sua maneira de colocar as ideias.

Concordar plenamente com ele?

Quase que sim, não fosse ele defender a Lei de Causa e Efeito, algo inexistente no que se refere à ética. Perfeitamente admissível nas Leis da Natureza, não se pode transplantar tais conceitos para o campo vivencial ou existencial. Não mesmo. Equivoco do velho movimento espírita. Novos pensadores já se libertaram dessas amarras.

Mas eu quero destacar um pequeno trecho do capítulo Entre Deus e Cesar onde ele aborda o tema, a meu ver atirando em dois objetivos a um só tempo: de um lado o Estado totalitário da União Soviética, e todo totalitarismo é realmente reprovável; e de outro lado, criticava a sociedade capitalista da forma em que ela vinha se estruturando. Ele apoiava os movimentos ocorridos no Maio de 68 na França.

Uma posição muito mais progressista que Alain Renaut e Luc Ferry em seu livro “Pensamento 68”, na qual os autores apontam as mobilizações estudantis e obreiras de Maio de 68, através de seus intelectuais,  como desencadeadoras da sociedade individualista na qual hoje vivemos.

 


Vejamos a posição de Deolindo. Separei o parágrafo em trechos, diferentemente do que se encontra no livro, com o objetivo de permitir ao leitor uma análise de cada trecho. Retirei os grifos deixando o texto limpo para a livre apreciação do leitor, a quem, a meu critério cabe análise e reflexão:

 

Seja qual for a condição social, a criatura humana tem aspirações que não podem ser reprimidas por nenhum poder estranho: - o saber pelo saber, a criatividade do espírito, o culto das expressões estéticas, a liberdade nas preferências intelectuais. Sem o direito de escolha nas tendências vocacionais, a civilização terá uma geração de jovens frustrados e recalcados. Os planos da inteligência criadora na conquista do conhecimento não podem ser traçados pelo Estado.

 

E, se assim for, se continuar a interferência do Poder na formação da cultura, impondo uma "profissionalização" absorvente para que haja somente homens ''eficazes'', como acentuou o crítico da situação francesa de 68, a chamada civilização tecnológica chegará a ponto extremo de transformar o homem apenas em robô, cuja função na vida é produzir, e produzir maquinalmente.

 

Então, a cultura já não teria o sentido de riqueza do espírito, uma vez que tudo já estaria "programado", segundo a bitola do sistema dominante. Tudo isto, afinal, significa a primazia da preocupação econômica sem um padrão de ética.

 

Tais fenômenos, analisados à luz dos princípios espíritas, revelam uma tendência ostensivamente prejudicial ao desenvolvimento espiritual do ser humano, pois a cultura nunca deve ser dirigida mecanicamente com o intuito de apresentar produção para fins imediatos e predeterminados.

 

A cultura é opção do espírito, tanto faz literária, quanto científica, filosófica ou artística. Por isso mesmo, em concordância com o raciocínio espírita, entendemos que não se pode excluir a ética das realizações econômicas, embora o fato econômico não se confunda com o fato moral. A distinção entre Deus e César não exclui a responsabilidade moral nos empreendimentos do mundo.

 

Que possamos sempre ter em mãos livros capazes de nos orientar nos rumos de nossa vida. Embora nunca tenhamos pastores ou senhores, pois não podemos abrir mão de nossa liberdade de elaborar nossas concepções vivenciais, e direcionar nossos pensamentos e atos. Tomamos as palavras de Herculano, Deolindo Amorim e do próprio Kardec como elementos referenciais, mas nunca como elementos mandatórios da nossa vida. Pois somos os únicos responsáveis por nossos sucessos e insucessos.

 

Paulo Cesar Fernandes

 

19 06 2014

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