terça-feira, 25 de março de 2014

20140325 Dualidades

Dualidades


Para não errar a forma de grafar trouxe do Wikipedia:
Em Descartes, res cogitans ("coisa pensante") é o sujeito pensante, que encontra obstáculo numa res extensa ("coisa extensa") que é o corpo, a realidade deste
mesmo ou matéria.


Assim temos, segundo o pensador:


res cogitans  x  res extensa
 
pensamento  x  matéria


Levando em consideração que o pensamento é a essência do espírito, ou o espírito em si mesmo; e que a matéria é a positiva representação do corpo temos:


espírito  x  corpo


Aqui temos a dualidade clássica, passível até de questionamentos monistas, mas não é o momento para isso agora.

Penso em, neste jogo de oposições, estabelecer talvez a maior dentre todas as oposições:


espiritualidade  x  materialidade


Sendo a espiritualidade nos moldes por mim concebidos, isto é, tudo quanto nos leve à abstração dos sentidos.

Estudar matemática está inserido na espiritualidade.

O tempo dedicado ao estudo de sociologia é um tempo de espiritualidade.

Quando escrevo um poema estou em clima de espiritualidade.

Se desenho ou componho uma música estou em clima de espiritualidade.



Mas que absurdo, dirá alguém, voce está tirando a espiritualidade da religião?


Nem um pouco. Estar em prece, em oração, lendo textos religiosos é também estar em clima de espiritualidade.


Estou ampliando a espíritualidade, ou as possibilidades de estarmos imersos nela.


Tudo aquilo, capaz de nos remover da materialidade do dia a dia, nos coloca exatamente em seu contrário: a espiritualidade.


Toda atividade capaz de nos levar à abstração mental, cujo objetivo seja um incremento nas nossas potencialidades enquianto Ser, como gosta de se referir Heidegger; ou como espírito, como prefere Kardec; isso tudo nos insere no campo da espiritualidade.


Diferentemente ocorre, a meu juizo, se estivermos fazendo mil cálculos matemáticos, mas nossa preocupação maior estiver voltada para a ansiedade por maiores lucros. Ou mesmo visando colocar nossa empresa em um patamar de competitividade mais intenso, tendo por projeto reduzir o espaço do nosso concorrente. Estas
são coisas estritamente vinculadas à materialidade.


Nesse jogo de oposições, tão forte e tão verdadeiro, entra um terceiro elemento, qualificador de cada um dos nossos pensamentos e dos nossoas atos: a intencionalidade.


Quem sabe das minhas intencionalidades sou eu. Tu não me podes julgar de forma nenhuma. Da mesma forma, não posso eu julgar a ninguém.

Sem dúvida, tanto quanto o discernimos, tanto quanto a nós próprios nos podemos indagar, o sistema dualista (mas só sob a direcção de um Ser originário sumamente bom) tem em si um princípio preponderante, do ponto de vista prático, para cada homem a si mesmo se julgar (embora não tenha competência para julgar os outros). De facto, tanto quanto a si mesmo se conhece, a razão não lhe deixa mais nenhuma outra vista sobre a eternidade a não ser a que a sua própria consciência moral lhe abre no fim da vida, a partir do modo de vida que, até então, levou. Mas para fazer do sistema dualista um dogma, portanto, para o transformar numa proposição teórica em si mesma (objectivamente) válida, ele é, enquanto simples juízo da razão, muitíssimo insuficiente.
 
Pois que homem se conhece a si mesmo, quem conhece tão perfeitamente os outros para decidir se, quando das causas do seu modo de vida pretensamente bem conduzido separa tudo o que se chama o mérito da felicidade, por exemplo o seu temperamento benigno congénito, a força natural maior das suas potências superiores (do entendimento e da razão, para dominar os seus impulsos), ademais, também ainda a oportunidade pela qual o acaso lhe poupou felizmente muitas provações que afectaram outrem; se separar tudo isso do seu verdadeiro carácter (como necessariamente deve descontar, para a este valorizar de um modo justo porque, enquanto dom feliz, não o pode atribuir ao
seu próprio mérito), quem quererá então decidir, digo eu, se aos olhos que tudo vêem do Juiz Universal um homem, segundo os seus valores morais íntimos, tem ainda alguma superioridade em relação a outrem?
 
Não seria, talvez, uma presunção absurda em tão superficial autoconhecimento proferir um juízo tanto em vantagem própria sobre o seu valor moral (e o destino merecido) como sobre o de qualquer outro indivíduo?
 
(Immanuel Kant "O Fim de Todas as Coisas")
 
 
 
No nosso pensamento reside nossa intencionalidade, essa mesma capaz de alocar uma atividade nossa no lado da espiritualidade na balança da vida; ou, pelo contrário, lancá-la na materialidade.


Mas afinal o que é a materialidade até agora tratada?


Muitas coisas se destacam. A mais evidente é a competição entre as pessoas: seja competição no âmbito profissional; seja na posse de bens materiais (um carro de ano mais recente; um equipamento de última geração; etc.); seja ainda no âmbito intelectual, nada menor que pessoas competirem para ter maior destaque que as outras e aparecer mais num determinado grupo, isso denota primitividade espiritual, sendo muito comum no universo acadêmico e nas instituições religiosas.


Um aspecto bastante forte de determinação da materialidade presente na vida é a luta por interesses pessoais, de grupos, ou de associaçãoes: os lobbies do Congresso Nacional; os interesses das categorias profissionais; as lutas intestinas dentro da mesma categoria, chamada luta sindical; a luta pelo poder, nem sempre
levada a cabo com lisura; etc.


Todas estas coisas estão enfeixadas no que chamo materialidade.


Tomo estas apenas como exemplo, uma vez ser o rol muito extenso, e qualque pessoa de bom senso poderá, por si, fazer as necessárias deduções e classificações. Basta pensar se despojando de conceitos pré-estabelecidos.


Voltando, reforçando e finalizando:


res cogitans  x  res extensa
 
pensamento  x  matéria
 
espírito  x  corpo
 
espiritualidade  x  materialidade


As oposições da vida existem.


Existem, e aí estão para nos mostrar algo, nos ensinar algo, pois absolutamente todos somos "eternos aprendizes", como bem nos ensinou Luis Gonzaga Junior, o Gonzaguinha.






O que é, o que é?
Gonzaguinha



Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita



Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz



Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita



Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz



Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita



E a vida
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida de um coração
Ela é uma doce ilusão
Hê! Hô!



E a vida
Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão



Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo



Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor



Você diz que é luta e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer



Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser



Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte



E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita



Viver
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz

Ah meu Deus!

Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita



No momento de criatividade/da criação na qual brotou esta música, Gonzaguinha estava imerso em profunda espiritualidade.
Estou seguro disto. Com sua licença meu irmão Gonzaguinha.

Paulo Cesar Fernandes
25 03 2014

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