domingo, 23 de março de 2014

20140323 Mediunidade é aprendizado no tempo

Mediunidade é aprendizado no tempo


Mais de 20 anos atrás, quando eu ainda coordenava o CEM, o curso de mediunidade do Centro Espírita Allan Kardec em Santos, advogava eu, e ainda advogo, ser a mediunidade uma potencialidade aprendida pelo espírito no transcurso do tempo.


Assim como aprendemos música, desenho, geometria ou trigonometria podemos aprender mediunidade.


A mediunidade é uma potencialidade, dentro do campo da comunicação, da capacidade de interação entre espíritos. Isto no amplo espectro das áreas do conhecimento.


Temos espíritos mais fechados em si mesmos, logo menos aptos à mediunidade, e espíritos mais abertos às interações com outros espíritos. Logo, seu pensamento mais facilmente interpenetra com o pensamento de outros espíritos.


E isto ocorre independentemente de estarmos na corporeidade ou fora dela.


É uma construção histórica do espírito. Com obrigatórias implicações na genética de uma nova encarnação?


Não necessáriamente. Mas pode o espírito, na formação de um novo corpo, por um processo de automatismo natural, prover este corpo das capacidades físicas para um processo de comunicação mais amplo com a espiritualidade.


Os oponentes de minha ideia diziam: "No livro está claro ser uma disposição orgânica.". E de fato assim está escrito.

No Livro dos Médiuns de Allan Kardec, capítulo XVII:

"209. No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boavontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica."


Mas, eu não me prendo à letra, e me pauto na lógica.


Não é mais lógico que, como todas as outras formas de conhecimento, a mediunidade se insira num processo de aprendizagem?


Eu creio que sim. E este meu pensamento em nada rompe com a predisposição orgânica. O corpo terá ou não características orgânicas capacitantes da mediunidade. Mas o elemento detentor da capacidade de comunicação é o espírito. Bem como de todas as outras capacidades. E ponto final.


Na leitura de Fredrich Myers, "A personalidade humana" um trecho me trouxe à mente o debate de tantos anos passados:


Vê-se que esses fenômenos não são suficientemente simples para que possamos considerá-los apenas do ponto de vista que os separa da morte.
O que chamamos “um espírito” constitui provavelmente um dos fenômenos mais complexos da natureza. Constitui a função de dois fatores variáveis e desconhecidos: a sensibilidade do espírito encarnado e a capacidade do espírito desencarnado para manifestar-se.
Nossa tentativa de estudar essa ação recíproca deve, pois, iniciar por um outro destes dois fatores, pelo sujeito, ou pelo agente.

Devemos perguntar:

a) como recebe a mensagem o espírito encarnado?
b) como a produz e a transmite o espírito desencarnado?


Ao aprofundar a primeira destas perguntas, possuímos maiores probabilidades de obter uma certa claridade. Sempre que consideremos os espíritos encarnados, encontramo-nos, numa certa medida, num terreno conhecido; e podemos esperar encontrar em outras operações do espírito analogias que nos permitam entender essas operações, talvez as mais complexas, que consistem em ter conhecimento das mensagens procedentes dos espíritos desencarnados e de um mundo invisível.

Acredito que “o meio mais seguro, se bem que o mais distanciado”, como diria Bacon, “de compreender esses fenômenos súbitos e assombrosos consiste no estudo de fenômenos mentais menos raros, que se podem observar mais comodamente, da mesma forma que o meio “mais seguro, embora mais afastado,” de estudar os astros inacessíveis consistiu no estudo dos espectros incandescentes de substâncias terrestres que se acham sob nossos pés.

Espero que o estudo das diversas formas de consciência subliminar, das capacidades subliminares, da percepção subliminar, nos tenha permitido obter finalmente, no que concerne ao nosso ser e ao nosso modo de funcionamento, um conceito que provara que a percepção pelos espíritos encarnados de mensagens originadas nos espíritos desencarnados, longe de constituir uma anomalia isolada, é, talvez, o resultado do exercício de capacidades comuns e inatas.



Não creio ser eu e Myers donos de alguma verdade inabalável.

Penso tão somente ser minha ideia coerente com o primado da lógica estabelecido pelo Senhor Allan Kardec.


Não obrigo ninguém a aceitar o que proponho. Mesmo porque o tempo trará luz a todas estas coisas. Me obrigo apenas a uma única coisa: dar a conhecer meu pensamento e minhas reflexões, muito antigas mesmo, do processo de comunicação mediúnica.


Afinal, temos a inteligência e o bom senso, para dar conta exatamente dessas questões de compreensão das Leis Naturais, diretrizes de nossas vidas e, mais amplamente, de nossas existências.


Paulo Cesar Fernandes

23 03 2014


Nota: Quando Myers fala em sublimnares podemos compreender perfeitamente como inconscientes. No sentido freudiano do termo.

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