terça-feira, 29 de outubro de 2013

20131029 Nossas funções superiores

Nossas funções superiores


Interessantes coisas acontecem com os objetos que compramos.


O teclado do meu micro, em poucos meses, a tinta das letras desapareceram. Mas, se toco com os dedos as teclas certas, elas e os sinais são corretamente digitados. A missão superior de cada uma das teclas permanece inalterada.


Posso eu, e isso ocorre algumas vezes me enganar na tecla apertada, mas as funções superiores estão sempre ali. Presentes. Firmes. Perenes.


Assim são os homens. Aqueles cuja vida sempre se pautou pela busca do desenvolvimento de funções superiores da personalidade, verão seu corpo perder a vitalidade; a mobilidade ir perdendo a velocidade; por vezes uma doença tolhe alguma possibilidade física; mas as funções espirituais superiores sempre darão uma resposta condizente a tudo aquilo amealhado ao longo de toda a vida.


Muitos, nos momentos mais difíceis de sua avançada idade, dão mostras de um bom ânimo ausente em muitos jovens na plenitude de seu vigor.


É a luz da inteligência; é a paciência perante os dissabores da vida; é a palavra fácil e doce, trazendo aos homens da Terra uma nova esperança, uma perspectiva mais ampla ante os limitantes do
momento.


Muitos homens e mulheres valorosos e memoráveis temos ao nosso lado em nossa jornada; e, mais da vezes, não lhes valorizamos a companhia. Não dizemos o quanto nos são importantes, o quanto os admiramos e os amamos. Somos silenciosos demais quando se trata em verbalizar o amor.


Homens e mulheres temem falar do amor que lhes vai no coração. Como se amar nos tornasse mais fracos ante os demais.


Seria o amor uma fragilidade?


Contrário. Amor é uma força a mover o mundo, mesmo quando não o é percebido assim, pelos contemporâneos dos capazes de amar verdadeiramente, sem qualquer adicional intenção ou interesse.


Pessoas há cujo amor se expressa na mais cristalina pureza. Habitam nossos caminhos e não o percebemos. Nossos olhos não são olhos de ver o amor.


Mais facilmente vemos o desamor, as baixas emoções, a agessividade. Somos criados na forja da competição, da necessidade de vitória material, na busca da sobrepujança sobre o outro, na dominação dos demais.


Colocar o outro a meu serviço é a meta no mundo. "Todos querem impor regras ao mundo." diz uma música de Patti Smith, cantora norteamericana nada divulgada no Brasil por sua ideologia.


Georg F. W. Hegel em "Dialética do amo e do escravo" descreve a vida a nós imposta, pela educação de milênios, mesmo dentro das religiões. Vencer o outro. O outro é sempre um oponente, quando não um inimigo. As "Guerras Santas" e toda a incompreensão religiosa marca a história dos povos.


Uma outra lógica é possível, e bem provavelmente seja essa a lógica capaz de nos conduzir à felicidade.


É essa a questão central a partir de agora, um tempo de maior liberdade.


Quais valores nos são válidos?


Como nos postamos diante de nossos semelhantes?

Adversários? Inimigos?


A palavra de nosso vizinho será sempre para nos ferir? Ou será uma lúcida advertência capaz de nos fazer sentir a vida numa ótica renovada?


Estamos numa fase de transição na história da humanidade. A incerteza generalizada abre espaço ao novo. O novo pensar. Um novo agir. Uma nova possibilidade, e não mais de lucro material, mas de avanço civilizatório.


Assim. Podemos seguir como somos. Ou, por meio de nossos atos, nos tornar arautos de um novo tempo, um novo rumo para esta Terra tão combalida nas mesquinharias tantas por ela já
vivenciadas.


O futuro não está nas mãos do Estado como propunha Hegel. O futuro é de nosso interesse e responsabilidade. A dialética mais importante se realiza dentro de cada um de nós.


Quando Gandhi dizia "Vitorioso é o que vence a si mesmo" não mentia. Já propunha uma outra lógica capaz de nos reorientar as diretrizes existenciais.


Não é tempo para nos sentirmos pequenos. Mas para nos fazermos automotivados na pequena transformação de cada dia.


Solitária. Sem holofotes. Silente. Mas constante como a água diária a nos sanar o corpo.


Não será uma jornada fácil para quem faça tal escolha. O mundo vem no rumo oposto.


Despojados do imposto pela errônea educação do passado, nossos passos serão muito mais eficazes e rumaremos sim, mesmo contracorrente, com o coração sereno e a consciência de termos feito o melhor ao nosso alcançe. Pois teremos por único parâmetro nosso passado. E nosso espaço já percorrido confrontado com o vindouro.


O melhor de nós a cada dia. Apenas isso.



Paulo Cesar Fernandes

29 10 2013

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