sábado, 28 de janeiro de 2012

Quem se atreve a Nietzsche?

Poucos muito poucos se aproximam de sua obra. Alguns ousam.

Lêem suas palavras, mas não se dão conta do que está no palco, por trás da cortina de palavras de seu discurso.

Subjaz uma realidade distante da loucura a ele atribuída. Há sim, outra forma de racionalidade, com intencionalidade não evidente.

Não lhe percorri a obra com o carinho dedicado a Hegel e a Zygmunt Bauman, este nascido em 1925 e com uma cortante lucidez ainda hoje. Daí podemos todos concluir que pensar rejuvenesce.

Há neste Nietzsche um não sei que de instigante, que perpassa o aspecto demolidor de seu discurso. Há algo mais. Minha intuição sensível me induz a descobrir essa vertente, encoberta pela leitura superficial que até a data tenho feito.

Assim como eu, as pessoas não compreendem Nietzsche. Nada, mais que nada compreendemos.

Há um outro personagem, que a leitura banal não é capaz de vislumbrar.

Já foi um avanço a aproximação da obra desse pensador.

_ Aquilo é um louco. – ouvi certa feita de pessoa que muito considero. Perdeu muito de meu respeito intelectual ao fazer tal afirmação.

Nenhum pensador sério é merecedor de reproche, de nosso desprezo. Podemos discordar e até combater seu modo de pensar. Sempre através do bom combate no campo das idéias. Essa é a única maneira de agir, por exemplo, com pensadores conservadores/reacionários politicamente. Combater suas idéias tão somente. Espíritos dignos a ponto de expressar suas idéias abertamente, merecem a dignidade em contrapartida. Aos indignos, desprezo.

Nietzsche foi o primeiro a sistematicamente desconstruir tudo quanto havia sido engendrado pela religião; e mais, avançou corajosamente contra a filosofia anterior a ele.

Hegel combate a subjetividade dos filósofos que o antecederam (Kant e Descartes). E se vale do pensamento grego como modelo para suas reflexões. Se refere a Deus ora usando o próprio termo Deus, ora se valendo da expressão Razão Absoluta. Podemos comprovar essa assertiva no livro “Razão na História”.

Nietzsche foi o primeiro a afirmar a morte de Deus, numa ruptura total.

Vamos refletir juntos: vivemos séculos, senão milênios, sob os ditames nada cordiais da Igreja Católica, pagando com a vida o atrevimento de um pensamento divergente do seu. Giordano Bruno bem sabe disso, não deve ter esquecido dos eventos ocorridos no ano de 1600, quando foi queimado vivo. Mas, sempre firme, não abdicou de seus ideais. Exemplo de firmeza de caráter e dignidade.

Mesmo distante da Igreja Católica, por milênios afora, fomos obrigados a admitir a existência de um ser superior. Se nos projetarmos no passado da primitividade, já lá se nos impunha tal idéia como regra. E nos mais diversos povos, com as mais diversas denominações e representações, lá estava o ente superior a ser reverenciado.

Sem qualquer possibilidade de questionamento.

Quem afinal foi o libertador das consciências?

Quem abriu caminhos a outras possibilidades eliminando a idéia de Deus?

Nietzsche. E depois dele ficou tudo mais fácil para todos aqueles que quisessem refletir. Já havia um referencial anterior. Como ocorre na área do direito: já havia jurisprudência firmada sobre o assunto. Partir dessa jurisprudência e avançar, tornou-se algo comum e até certo ponto usual, entre pensadores de diversas áreas e escolas.

Este pensador é um gênio incontestavelmente. Sendo assim, é um divisor de águas na história da filosofia contemporânea. A tal ponto importante, já é merecedor de uma maior atenção nas lides acadêmicas que em geral o temem; bem como entre os espíritas capazes de pensar, despidos de preconceitos.



Paulo Cesar Fernandes

29/01/2012



Um comentário:

Camila disse...

Obrigada pela visita em meu reduto!. Eis uma amante da obra de Nietzsche e a partir de hoje, leitura assídua do vosso blog, parabéns!.

Camila