quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Uma questão de tamanho

Uma questão de tamanho?


Não sou pequeno. Não sou um nada.

Mas me ponho a refletir acerca de tudo aquilo que nos cerca; no âmbito material, bem como no imaterial; nas coisas tangíveis/visíveis, ou nas intangíveis/invisíveis. Apercebo-me do meu real valor, sua pequenez e relatividade ante o todo.

É uma postura de humildade. Mas nego a humildade piegas e autoritária das religiões e dos espíritos que supostamente nos vem ajudar. A humildade a que me submeto é pautada na Razão de alguém capaz de olhar o universo ao seu redor (ou os universos); saber de sua possibilidade de expansão; e ter em conta a impossibilidade de abarcar todo o conhecimento, uma vez que este tem contínuo crescimento.



Um filme de Woody Allen mostra o desespero da mãe cujo filho se nega terminantemente a voltar à escola. Seu raciocínio é simples e cristalino:

_ Se vou à escola aprender e aprendo tudo bem, mas o que aprendo é um nada na medida em que o crescimento do universo suscita novos conhecimentos que a escola não dá conta.

Diante da mãe e do Coordenador da Escola espantados, é categórico:

_ Não vou mais à escola.

Não me nego a novos conhecimentos, até porque, curioso nato, isso seria a morte intelectual, me restando apenas a vida vegetativa. Mas me defronto com o desafio do constante crescimento do que há a conhecer.

Desenvolvi desde a juventude uma metodologia, que se não dá conta cabal do problema, atende até certo ponto. Pinçar um ou dois tópicos, e neles mergulhar por um período, até que sinta saciada a necessidade/sede de melhor conhecer tal/tais assuntos.

Foi com surpresa e contentamento que assistindo uma entrevista do cantor pernambucano Otto, pouco conhecido, pois está fora do circuito dos Meios de Comunicação dominantes; quando o repórter se referiu a determinado ano em que uma obra sua teria sido publicada Otto responde:

_ Não, não. Nesse período a que você se refere, eu estava focado completamente nas Raízes Ibéricas da Música Nordestina.

Esse fato me despertou a atenção, fez cair a ficha do fato de muitas pessoas poder usar o mesmo método, a mesma forma de agir, com relação à determinada área de conhecimento a desbravar.

Mergulhando a fundo num tema, vai se apropriando pouco a pouco de algo mais da imensidão do conhecimento com o qual nos defrontamos. Sendo impossível, abarcar a totalidade, uma vez ser esta expansível.

Tenho dúvida se é mesmo um método, ou alguma forma de obsessividade. Retomo a tranqüilidade, ao pensar que por muitos anos já me vejo livre da obrigatoriedade de alguma coisa. O tormento da frase: “Tenho que ...” sempre causadora de amarras às quais me submetia, causadoras de tensão, ansiedade e frustração.

Agora não “Tenho que ...” mais nada.

Vinha bem no primeiro semestre de 2011, escrevendo, lendo bem.

Já o segundo semestre chegou me trazendo uma série de dificuldades e aborrecimentos. O tipo de clima mental incapacitante da expansão da criatividade; além do abalo ao sossego necessário a qualquer trabalho de cunho intelectual, que simplório seja, requer certo equilíbrio.

As coisas deram uma paralisada. Ficaram no que em informática chamamos de “wait status” (estado de espera). Muitas vezes necessário, como foi o caso.

Sem problema, fui me dedicando a outros aspectos da vida até que tudo se normatizou e a vontade de escrever se recompôs.

Por vezes encontro uma amiga, ex-aluna na universidade onde trabalhei e ela, fazendo mestrado na área de saúde da UNIFESP me incentivou a tentar fazer mestrado na área de psicologia.

Da primeira vez que a ouvi falar me chegou certo animo. No caminho do almoço para casa já ia ponderando o número de “Tenho que ...” que haveria de enfrentar novamente. A tranqüilidade que perderia. E a idéia se diluiu por completo no período de uma hora.

Preferi seguir focado no meu interesse em desvendar a PósModernidade. São muitos os autores, muitas as vertentes de pensamento, um instigante universo que me traz muito prazer mesmo.

Principalmente um autor polonês, nascido em 1925 e que mantém uma lucidez inacreditável. Seu nome é Zygmunt Bauman. Anotem esse nome. Sua análise sociológica, que no início nos parece difícil, em algumas páginas já vai se abrindo à nossa compreensão. A leitura de uma segunda obra desse autor clareia tudo. Realmente fascinante compreender o mundo atual, e os Tempos Líquidos aos quais ele se refere. Nossas perguntas sobre o nosso tempo têm ali uma série de respostas capazes de nos satisfazer a curiosidade plenamente.

Ler Bauman é um convite a ler mais Bauman, e não faltam obras a essa fértil inteligência.

Mas o sem fim do conhecimento não se restringe a Bauman, longe disso está. E tampouco me mete medo. Pois como bem diz o cantor Jorge Bem, quando ainda assim se chamava: “...pois eu só ponho meu chapéu aonde eu posso apanhar.” Deixar de lado o que está fora do foco e fazer o possível para avançar no projeto a que se está dedicando.

Com isso aproveitamos o tempo, e agregamos alegria e conhecimento, mesmo inseridos na conturbação desta PósModerna vida.



Paulo Cesar Fernandes

07/01/2012

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