domingo, 22 de janeiro de 2012

Da humana existência.

por Paulo Cesar Fernandes, quarta, 31 de Agosto de 2011 às 23:29.

Sim, humana. É dos seres humanos e para seres humanos a destinação do presente artigo. Não está focado nos viventes em realidade não corpórea, mas nos espíritos que existencialmente e fisicamente habitam o nosso Planeta Terra. Este é o foco.

Por que usar no título a ordem inversa numa construção da Renascença? Para enfatizar o humano, tendo o existencial como qualificador do dia a dia do homem, inexoravelmente. E esta é uma realidade da qual este não se pode desvincular.

Viver é um ato existencial.

A morte, esse fantasma que assombra a humanidade desde tempos imemoriais. Não temos memória ou lembrança do momento em que pela primeira vez esta nos assombrou. Esta nos surpreende desde os primeiros tempos da passagem terrestre: um avô, uma tia, uma avó bonachona, deixam a vida num momento inesperado. Mesmo um animal de estimação pode morrer, trazendo ao ingressante do planeta alguma sensação de vazio e desconforto.

Diante da presença da morte, descobre a criança ou adolescente a sua condição de ente biológico; e o faz de forma mais profunda e impactante que poderiam lhe trazer qualquer uma das aulas de ciências biológicas dos bancos escolares. É tocada sua emoção, seu sentimento.

Muito além do biológico que o homem é, da consciência de si mesmo compartilhada com os animais, é possuidor algumas coisas a mais: a razão; a imaginação; e ampla gama de sentimentos e emoções. Faz parte da natureza, portanto está sujeito à Lei ou Natural (LN), mas se sente incapaz de modificar qualquer dos aspectos dessa Lei, por ser ela universal e perene. Daí lhe advém sua sensação de impotência diante de seus ditames.

Tendo a razão como instrumental, é capaz de desvendar aspectos da LN, mas cada aspecto desvendado lhe abre novas portas, trazendo novos desafios. Essa é a dinâmica do conhecimento. Segundo Fromm[1] “o homem é o único animal para quem sua existência é um problema que ele tem que solucionar e do qual não pode fugir. Ele não pode voltar ao estado pré-humano de harmonia com a Natureza; tem de prosseguir para desenvolver sua razão até que se torne senhor da Natureza e de si mesmo”.

A única possibilidade de fuga seria o suicídio, se este trouxesse realmente o fim. Diante do fato da imortalidade e da reencarnação esta opção cai por terra: o Espírito segue existindo.

Na atualidade, muitos homens e mulheres urbanos têm profunda nostalgia com relação à harmonia do meio rural. Se sentem apartados da natureza, descontentes. E tal descontentamento acaba sendo uma das alavancas do progresso, pois os impele na busca de novas opções, querendo tornar para si conhecido aquilo que desconhecem, procuram respostas enfim. Sentem necessidade de prestar contas de si a si mesmo. Saber o significado de sua existência terrestre e das atribulações desta.

Sabedor de sua condição de ser biológico e tendo a morte como um fato, a duração da vida terrena lhe impede o desenvolvimento das potencialidades plenas, melhor dizendo: de todas elas. Percebe suas possibilidades e é incapaz de transformar potência em ato.

Como poderia o homem desenvolver todas as suas potencialidades? Fazer de todas as suas potências atos?  Tendo o tempo da Humanidade.

Isso parece impossível se deixarmos nossos pés na Terra, mirando uma só existência. Se, em lugar disso, olharmos a imortalidade da alma como uma aliada, essa angústia existencial de ampliação de potencialidades se desfará no ar. O tempo sai da condição de algoz para se tornar um aliado.

Mesmo a morte, “angústia de quem vive” segundo Vinicius de Morais; passa a ter relativa significação, embora busquemos viver plenamente sempre, a cada minuto. Spinoza diz que “Tudo o que o homem tiver dará pela vida, e o homem sábio não pensa na morte, e sim na vida”.

Solidão e Sociedade

Somos solitários em nossa jornada espiritual. Na busca de decisões importantes na nossa vida atual. Porém, quanto mais solitários nos sabemos, maior importância auferimos ao outro. O outro que partilha conosco: seja no lar, no campo profissional, ou em qualquer outra área. Este é sempre o espelho onde podemos nos mirar, sendo o referencial para nos sentirmos vivos e também gente.

O isolamento denota patologia.

É no confronto e no encontro com seus semelhantes que o homem dá significado à própria vida. Um significado baseado nalguma certeza, porém também nas incertezas capazes de alavancar a expansão de suas forças, suas potencialidades, trazendo produtividade ao seu existir no mundo, se valendo da razão e da sensibilidade humana da qual é portador, sendo o uso de tais características a fonte de reencontro consigo mesmo.

O humano, se ligando ao outro humano numa perspectiva de solidariedade.

Segundo Fromm: “Todos os homens são ‘idealistas’ e anseiam por algo além da mera satisfação física. Eles divergem na espécie de idéias em que acreditam. As melhores, assim como as mais satânicas expressões da mente do homem, não são manifestações de sua carne, e sim desse ‘idealismo’ de seu espírito”.

Em que pese o texto de Fromm não se valer de terminologia espírita, mais adequada a meu ver, seu alerta é importante, pois coloca responsabilidade e autonomia diante de nós, tal qual faz o Espiritismo: fomos criados simples e ignorantes, chegamos ao patamar do pensamento contínuo, para enveredar cada vez mais no crescimento do senso de justiça e ampliar os conceitos da moral dominante na sociedade em que vivemos.

E basta!.

Paulo César Fernandes – Filósofo – Santos-SP

[1] FROMM, Erich “Análise do Homem”. Rio de janeiro : Zahar Editores, 19xx.

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