terça-feira, 14 de julho de 2015

20150714 Devaneios em nossa vida




A quem não ocorreu a solução de problemas, exatamente naqueles momentos de maior devaneio, ou em meio da noite?


Qual de nós, ao deixar um problema no mais puro repouso, não teve um insight "solucionático" para tal problema?


Verdade, o espírito não descansa. Mas, por outro lado, o aplacar da Racionalidade abre espaço ao surgimento das soluções.


Mas de onde emergem tais soluções? Essa é a questão.


Por que motivo ela nos acorda no meio da noite se entregando assim, de forma tão simples?


Ou invadindo, como uma torrente, os momentos do nada se apoderando de nós, os momentos meditativos mais serenos, momentos de um quase não existir.


Esses momentos são, de forma geral, os momentos de acesso a estruturas ancestrais de conhecimento. Trazemos ao presente, isto é, "presentamos" progressos e vivências pessoais de momentos ancestrais; ou, ainda mais forte, trazemos a carga de ancestrais 
civilizações nas quais tenhamos tido experiências.


Onde fica isso? No inconsciente.


Para Carl Gustav Jung há distinção entre o Inconsciente Pessoal e o Inconsciente Coletivo.


Sendo o espírito uma unidade, capaz de vivenciar oportunidades em diversos momentos históricos; bem como nas mais diferentes regiões geográficas da Terra. Nele tudo se concentra. É o ponto focal de todo o conhecimento acumulado.


Esse conhecimento não está vivo em tempo de consciência ativa. Mas não deixa de estar registrado em algum lugar. O lugar que Freud e seus seguidores resolveram chamar de inconsciente. Aquilo que não aflora à consciência em nossa vida de relação. É isso.


A Arte inclusive tem muito disso. O músico por exemplo, se projeta fora de si em momentos em que nada existe, a não ser a obra na qual está trabalhando. A dimensão temporal perde o sentido. É um mecanismo de acesso a coisas muito profundas e aparentemente sem lógica explicação.


Estou abstraindo de minha análise a possibilidade mediúnica, uma realidade a meu ver. Não é disso que trato aqui.


Meu foco é a criação do artista. Um ator, ao interpretar um personagem como Giordano Bruno, por exemplo. Não pode ele trazer algo de uma experiência tida nessa mesma época de 1600?


Um interprete de J. S. Bach, em sua fidelidade à obra, não pode nesse momento de execução trazer algo do mais profundo de si para o palco?


Heitor Villa-Lobos, ao escrever as Bachianas Brasileiras, não estaria imbuído do sentir de uma época remota de suas pessoais 
experiências. Não seja ele mesmo a reencarnação de Bach. Mas tenha vivido na Áustria de remotos tempos?


Somos todos velhos espíritos, e nunca sabemos quais caminhos marcaram nossas experiências mais importantes. Que espaço geográfico habitamos. Quais áreas do saber nos foram mais próximas. O rio do esquecimento nos apaga tudo.


E a Racionalidade Ocidental reforça esse apagar.


Mas será capaz disso? 


A intuição está sempre ao nosso lado, para nos permitir um acesso mais amplo a coisas não imaginadas por nós, em tempos recentes 
até.


Por mais "formatados" tenhamos sido para a mentalidade científica e racional, um momento de relaxamento nos virá ao encontro, nesse momento será a voz da intuição a ecoar em nós, trazendo indicativas do caminho a seguir. E acredite. O inconsciente tem sua sabedoria, e vale a pena confiar nele.


Não apenas Jung, mas Gustave Geley nos apontam elementos importantes vindos das profundezas da alma. Nas primeiras décadas do século passado esta foi a proposta de Jung. E ainda hoje, o homem moderno e pós-moderno se defronta com a mesma dificuldade de aplacar sua mentalidade científica, sua racionalidade. Motivo de parte dos seus sofrimentos.


O restante dos sofrimentos são provenientes de anseios infantis não realizados.


Ouvir o mundo interior, se livrar das ilusões; me parece ser um bom inicio para uma relação harmoniosa consigo mesmo.


Paulo Cesar Fernandes

14/07/2015  

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