quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

20140123 Que tal o Pai Nosso?

Que tal o Pai Nosso?


"Não nos deixes cair em tentação
 Livra-nos de todo mal."



Ora bem estranho esse pedido.

Como coisa que a tentação, se é que existe, seja algo exterior a nós.
Um bicho papão ou um diabo, a nos tentar insistentemente para que, caindo em tentação, sejamos levados ao calderão do diabo.



Com efeito. Que falta de senso. Outra coisa:


Pode alguém nos livrar de todo mal?


Seja o mal advindo de alguém exterior a nós, seja o mal que nos habita.

Não tem nada disso. Pura besteira.
É colocar fora de nós as questões atinentes ao nosso projeto de vida e unicamente a ele.


Um amigo, chamado Rafael, diz que "tudo depende como nos posicionamos em nossa vida".

Nada mais verdadeiro que isso.


Veja a Felicidade por exemplo. Todos a querem e sempre, mas sempre mesmo, a colocam em coisas e projetos exteriores à sua
essência interior. Não é de estranhar que nunca a alcancem. Melhor dizendo, que na maioria das vezes não a obtenham. Me lembra
em muito a cenoura que colocamos à frente do cavalo para acelerar sua marcha.


Há uma grande diferença entre sermos dotados de projetos, de sonhos, e vivermos o tempo todo pautados em ilusões.

Projetos e sonhos são elementos propulsores do progresso do homem, enquanto que as ilusões deslocam o homem da realidade,
rompem com sua racionalidade fazendo-o passar por um infante.


Nas crianças as ilusões e as fantasias fazer parte de seu universo
onírico essencial para sua formação. Num adulto me parece haver algo de patológico se este vive de ilusões.


Como observa Rafael, nossa vida é o que dela fazemos, sem tirar
nem por.


Disto advém nosso bem ou nosso mal estar. Já nem me refiro à Felicidade, algo mais complexo. Mas ao bem estar.


Nada melhor que a sensação de completude. De inteireza. Mesmo dentro de um mundo complexo e injusto podemos chegar a um
patamar de completude interessante. Principalmente se estamos certos de fazer a nossa parte de alguma forma. Ou nos esforcarmos
para fazer tudo da melhor maneira ao nosso alcance.


Nada faz a alma mais feliz. A consciência tranquila é o foco maior do bem estar das pessoas voltadas ao Bem Maior (O Bem de toda
a humanidade).


O processo consciencial e a construção do amor tem um percurso interessante: inicia no estreito limite do Lar; ganha novo espaço
no universo escolar, onde o egoísmo é testado a cada dia, e precisamos ensinar a amar ao outro para que a educação cumpra sua finalidade; uma vez feita a trajetória de preparação para a vida profissional o Ser chega ao âmbito profissional, é aí a arena onde
recebe os maiores golpes, é onde a ética da formação familiar falará de seu sucesso ou de seu fracasso; alguns homens ampliam mais ainda sua forma de atuar no mundo se vinculando a entidades de cunho benemerente, mesmo aí a formação familiar mostrará a
sua cara, é inconcebível a competitividade nesse tipo de entidade.


Na verdade um homem competitivo pode ter até sucesso, mas só terá valor "se os meios forem verdadeiramente caminhos do fim".
Uma finalidade positiva só é validada se, para atingir tal meta, os atos da caminhada tiverem sido coerentes com a finalidade. "Seja o
teu falar sim sim e não não."


Caminhos tortos são desestabilizadores da alma.


Não tem religião. Não tem filosofia. Não tem nada.


Somos frutos bons ou podres de nossas famílias. E muitas vezes frutos de nós mesmos apesar das familias, para o Bem ou para o
Mal.


Toda meta tem um caminho, e todos os caminhos podem ter veredas, bifurcações e atalhos. Somos cavaleiros sem cavalos. Nossos pés tomam a direção de nossos mais profundos sentimentos, sentimentos cultivados em nós desde a mais tenra idade. Mas é a nossa Razão quem dirige nossos pés e nossos caminhos.


Cosi é, secondo me.   (Assim é, na minha opinião.


Paulo Cesar Fernandes

23  01  2014


Nota: A leitura do livro sobre a vida e obra de Giorgio Gaber tem me obrigado a um pensamento mais profundamente existencial.

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