sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

20141205_Acerca do Inconsciente



OBRAS COMPLETAS DE C. G. JUNG
 
Volume VII/1
 
Psicologia do Inconsciente
 
 
 


FICHA CATALOGRÁFICA
CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
Jung, Carl Gustav, 1875-1961.
J92p     Psicologia do inconsciente
C G Jung; tradução de Maria Luiza Appy. Petrópolis, Vozes, 1980.
(Obras completas de C. G. Jung, v.7, t.l).
Tradução de: Zwei Schriften Über Analytische Psychologie: Über die Psychologie des Unbewusten.


Bibliografia.
1. Psicanálise — Estudo de casos.
2. Subconsciente.

I. Título.
II. Série.

CDD — 154.2   616.8917   78-0241
CDU — 159.964.2

=

Abstração feita dos riscos do tratamento, o inconsciente em si já pode representar um perigo. Uma das formas mais comuns desse perigo é provocar acidentes. Acidentes de todo tipo — em número bem maior do que o público possa imaginar — são causados por fatores de ordem psíquica. A começar por pequenos acidentes, como tropeçar, esbarrar, queimar os dedos, etc. até os acidentes automobilísticos e catástrofes alpinistas: tudo pode ter origem psíquica e, às vezes, já está programado semanas ou até meses antes.


Examinei grande número de casos dessa ordem, e pude comprovar que muitas vezes, semanas antes, os sonhos já revelaram uma
tendência autodestrutiva. Todos os acidentes provocados por descuido, como se diz, deveriam ser investigados, sob este enfoque.


Sabemos muito bem que não só tolices de maior ou menor importância podem suceder-nos quando, por qualquer motivo, não estamos bem, mas também estamos expostos a perigos que, em dados momentos psicológicos, podem até comprometer a vida. O ditado popular: "Fulano ou sicrano morreu na hora certa", exprime uma certeza intuitiva quanto à causalidade psicológica secreta do
caso.


Da mesma forma, podem ser provocadas ou prolongadas as doenças físicas. Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, inversamente, um sofrimento corporal consegue afetar a alma, pois alma e corpo não são separados, mas animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença do corpo, ainda que não seja de origem Psíquica, que não tenha implicações na alma.


Mas não seria justo salientar unicamente o lado negativo do inconsciente. É comum o inconsciente ser desfavorável, ou perigoso, por não concordarmos e, portanto, nos opormos a ele.


A atitude negativa em relação ao inconsciente, isto é, a ruptura com o mesmo, é prejudicial, na medida em que a sua dinâmica é idêntica à energia dos instintos. (Ver Instinkt und Unbewusstes, em Über psychische Energetik und das Wesen der Träume, 1948, p. 261ss. Obras Completas, Vol. 8, § 263ss) A falta de solidariedade com o inconsciente significa ausência de instinto,
ausência de raízes.


Quando conseguimos estabelecer a função denominada função transcendente, suprime-se a desunião com o inconsciente e então o
seu lado favorável nos sorri. A partir desse momento, o inconsciente nos dá todo o apoio e estímulo que uma natureza bondosa pode dar ao homem em generosa abundância.


O inconsciente encerra possibilidades inacessíveis ao consciente, pois dispõe de todos os conteúdos subliminais (que estão no
limiar da consciência), de tudo quanto foi esquecido, tudo o que passou despercebido, além de contar com a sabedoria da experiência de incontáveis milênios, depositada em suas estruturas arquetípicas.


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Não consigo ver o Inconsciente como uma instância separada do espírito.


A somatória das experiências vivenciais do espírito formam o que Jung chama de Inconsciente. É provável, o próprio conceito
de Inconsciente Coletivo (Arquétipo Coletivo), união da somatória de todos os signos e símbolos da História da Humanidade, não passe ele do repositório das lembranças das encarnações passadas.


Desconectado de tudo aquilo que posso chamar de não-eu.


Embora Jung estabeleça diferença entre Inconsciente Pessoal e Inconsciente Coletivo, eu creio tudo ser propriedade do Ser ou
do espírito.


A leitura deste livro me trouxe esta outra visão.


Minha visão anterior era de um Inconsciente apartado do Ser, numa leitura mais freudiana, isso permitia ao homem o processo de
recalque das coisas desagradáveis. Reprimia tudo, abafando ou "entulhando" no inconsciente. Cuja função seria a de um sótão
ou um local de despejo das coisas que não queremos no nosso dia a dia (o consciente).


Mas como hoje penso no espírito como pensamento, uma unidade indivisível, mesmo teoricamente ou didaticamente, não consigo
mais ver as coisas de modo estanque, compartimentadas. O espírito é uno, e ponto final.


Muito embora o processo de recalque, de fuga de si mesmo continue ocorrendo da mesma maneira, mas dentro do processo de
elaboração constante do espírito diante das suas dificuldades.


É parte do viver lidar com nossos problemas, é parte do viver enfrentar ou fugir deles, é parte do viver vencer e encarar de
frente ou agir como o avestruz. E não cabe julgamento de forma nenhuma.


Cada qual joga o jogo da vida da forma que mais lhe compraz. No tablado desse palco somos todos artistas em eterno improviso, pois a vida é uma grande peça teatral sem texto prévio.


"Caminhante, não há caminho.
O caminho o fazemos ao caminhar."

     Antonio Machado, Poeta Espanhol.


Nada mais verdadeiro. A cada dia fazemos uma nova estreia.

E assim, de estreia em estreia vamos percorrendo os dias, meses, anos e encarnações.

Possamos todos fazer bom uso do espaço de palco a nós ofertado pela Vida.


Paulo Cesar Fernandes

05/12/2014

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