Allan Kardec
Revista Espírita
1860
Exame crítico das
dissertações de Charlet sobre os animais
Estas reflexões nos são
sugeridas como princípio geral, e estar-se-ia errado não vendo nelas uma
aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos que foram publicados sobre o Espiritismo,
os há, sem dúvida, os que poderiam dar lugar à crítica fundada; mas nos guardamos
de colocar tudo na mesma linha; indicamos um meio de apreciá-los, cabe a cada um
fazê-lo como entenda. Se ainda não empreendemos deles fazer um exame na nossa Revista,
foi pelo temor de que não se menospreze sobre o motivo da crítica que
poderíamos fazer; preferimos, pois, esperar que o Espiritismo fosse melhor
conhecido e, sobretudo, melhor compreendido; então a nossa opinião, apoiando-se
sobre uma base geralmente admitida, não poderia ser suspeita de parcialidade. O
que esperamos se produza cada dia, porque vemos que, em muitas circunstâncias,
o julgamento da opinião precede o nosso; também nos aplaudimos pela nossa
reserva. Empreenderemos este exame quando crermos o momento oportuno; mas já se
pode ver qual será a nossa base de apreciação: esta base é lógica, da
qual cada um pode fazer uso por si mesmo, porque não temos a tola pretensão de possuí-la
por privilégio.
A lógica, com efeito, é
o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos
humanos. Sabemos bem que aquele que raciocina em falso crê ser lógico; o é à
sua maneira, mas não o é senão para ele, e não para os outros; quando uma
lógica é rigorosa como a de dois e dois são quatro, é que as consequências são deduzidas
de axiomas evidentes, o bom senso geral, cedo ou tarde, faz justiça a todos
esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:
1º Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar
senão o bem; portanto, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um
bom Espírito;
2º Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente
superiores não podem ensinar coisas absurdas; portanto, toda comunicação
manchada por erros manifestos, ou contrários aos dados mais vulgares da ciência
e da observação, atesta, só por isso, a inferioridade de sua origem;
3º A superioridade de um escrito qualquer está na
justeza e na profundidade das ideias, e não na inchação e na redundância do
estilo; portanto, toda comunicação espírita onde haja mais de palavras e de
frases brilhantes que de pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito verdadeiramente
superior;
4° A ignorância não pode contradizer o verdadeiro
saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; portanto, todo Espírito
que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá,
está convicto de fraude;
5º É da essência de um Espírito elevado se ligar
mais ao pensamento que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do
Espírito está em razão da elevação das ideias; portanto, todo Espírito
meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, em uma palavra,
que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma
pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;
6a Um Espírito verdadeiramente superior não pode se
contradizer; portanto, se duas comunicações contraditórias são dadas, sob o
mesmo nome respeitável, uma das duas é necessariamente apócrifa; se uma é
verdadeira, esta não pode ser senão aquela que não desmente em nada a superioridade do Espírito cujo
nome foi posto em frente.
A consequência a se
tirar destes princípios é que fora das questões morais não é necessário acolher
senão com reserva o que vem dos Espíritos, e que, em todos os casos, nunca é necessário
aceitá-lo sem exame. Daí decorre a necessidade de pôr a maior circunspeção na publicação
dos escritos emanados dessa fonte, quando, sobretudo pela estranheza das doutrinas
que contêm, ou a incoerência das ideias, podem se prestar ao ridículo. É
preciso desconfiar da tendência de certos Espíritos para as ideias sistemáticas,
e do amor-próprio que colocam e propagam-nas; é, pois, sobretudo nas teorias
científicas que é necessário colocar uma extrema prudência, e se guardar de dar
precipitadamente como verdades sistemas frequentemente mais sedutores que
reais, e que, cedo ou tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam
apresentados como probabilidades, se são lógicos, e como podendo servir de base
a observações ulteriores, seja; mas haveria imprudência em dá-los, prematuramente,
como artigos de fé. Um provérbio diz: Nada é mais perigoso do que um imprudente
amigo. Ora, é o caso daqueles que, no Espiritismo, se deixam levar por um
zelo mais ardente que refletido.
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Estejamos atentos quer
pessoalmente, quer nas instituições aos quais estejamos vinculados. Afinal “prevenir
é sempre melhor que remediar”.
Nota: O tópico deste texto é a mediunidade e as precauções no tocante a essa atividade. A imagem da cadela tem apenas intenção estética. É uma forma de gratidão à Niña, pelos momentos de convivência com essa que, durante 7 anos, animou minha vida e meu Lar. Esse Protoespírito na forma de cadela.
Paulo Cesar Fernandes
11 06 2014
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