quarta-feira, 11 de junho de 2014

20140611 Exame crítico das dissertações de Charlet sobre os animais


Allan Kardec

 

Revista Espírita

 

1860

 

 

Exame crítico das dissertações de Charlet sobre os animais

 


 
Estas reflexões nos são sugeridas como princípio geral, e estar-se-ia errado não vendo nelas uma aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos que foram publicados sobre o Espiritismo, os há, sem dúvida, os que poderiam dar lugar à crítica fundada; mas nos guardamos de colocar tudo na mesma linha; indicamos um meio de apreciá-los, cabe a cada um fazê-lo como entenda. Se ainda não empreendemos deles fazer um exame na nossa Revista, foi pelo temor de que não se menospreze sobre o motivo da crítica que poderíamos fazer; preferimos, pois, esperar que o Espiritismo fosse melhor conhecido e, sobretudo, melhor compreendido; então a nossa opinião, apoiando-se sobre uma base geralmente admitida, não poderia ser suspeita de parcialidade. O que esperamos se produza cada dia, porque vemos que, em muitas circunstâncias, o julgamento da opinião precede o nosso; também nos aplaudimos pela nossa reserva. Empreenderemos este exame quando crermos o momento oportuno; mas já se pode ver qual será a nossa base de apreciação: esta base é lógica, da qual cada um pode fazer uso por si mesmo, porque não temos a tola pretensão de possuí-la por privilégio.

 

A lógica, com efeito, é o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos humanos. Sabemos bem que aquele que raciocina em falso crê ser lógico; o é à sua maneira, mas não o é senão para ele, e não para os outros; quando uma lógica é rigorosa como a de dois e dois são quatro, é que as consequências são deduzidas de axiomas evidentes, o bom senso geral, cedo ou tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:

 

 

1º Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; portanto, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;

 
 

2º Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; portanto, toda comunicação manchada por erros manifestos, ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, atesta, só por isso, a inferioridade de sua origem;



3º A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias, e não na inchação e na redundância do estilo; portanto, toda comunicação espírita onde haja mais de palavras e de frases brilhantes que de pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito verdadeiramente superior;

 
 

4° A ignorância não pode contradizer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; portanto, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, está convicto de fraude;

 
 

5º É da essência de um Espírito elevado se ligar mais ao pensamento que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está em razão da elevação das ideias; portanto, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, em uma palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;

 
 

6a Um Espírito verdadeiramente superior não pode se contradizer; portanto, se duas comunicações contraditórias são dadas, sob o mesmo nome respeitável, uma das duas é necessariamente apócrifa; se uma é verdadeira, esta não pode ser senão aquela que não desmente em nada a superioridade do Espírito cujo nome foi posto em frente.

 

A consequência a se tirar destes princípios é que fora das questões morais não é necessário acolher senão com reserva o que vem dos Espíritos, e que, em todos os casos, nunca é necessário aceitá-lo sem exame. Daí decorre a necessidade de pôr a maior circunspeção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, quando, sobretudo pela estranheza das doutrinas que contêm, ou a incoerência das ideias, podem se prestar ao ridículo. É preciso desconfiar da tendência de certos Espíritos para as ideias sistemáticas, e do amor-próprio que colocam e propagam-nas; é, pois, sobretudo nas teorias científicas que é necessário colocar uma extrema prudência, e se guardar de dar precipitadamente como verdades sistemas frequentemente mais sedutores que reais, e que, cedo ou tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam apresentados como probabilidades, se são lógicos, e como podendo servir de base a observações ulteriores, seja; mas haveria imprudência em dá-los, prematuramente, como artigos de fé. Um provérbio diz: Nada é mais perigoso do que um imprudente amigo. Ora, é o caso daqueles que, no Espiritismo, se deixam levar por um zelo mais ardente que refletido.

 

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Estejamos atentos quer pessoalmente, quer nas instituições aos quais estejamos vinculados. Afinal “prevenir é sempre melhor que remediar”.

Nota: O tópico deste texto é a mediunidade e as precauções no tocante a essa atividade. A imagem da cadela tem apenas intenção estética. É uma forma de gratidão à Niña, pelos momentos de convivência com essa que, durante 7 anos, animou minha vida e meu Lar. Esse Protoespírito na forma de cadela.


Paulo Cesar Fernandes

11 06 2014

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