sexta-feira, 8 de abril de 2011

Como Hegel trata a divisão Espírito e Matéria

No meio da leitura de A Razão na História de Hegel me deparei com algo que tenho por interessante.
Até porque jamais tinha lido algo similar como explicação do aparecimento da dualidade Idéia absoluta (Deus) e tudo o mais (Matéria).

Posso estar errado nas minhas apreensões, mas por certo não sou o mesmo de antes da leitura desse trecho  do texto.

E jamais serei o mesmo ao finalizar a leitura da obra deste grande do Idealismo Alemão.
Criticas dos eventuais leitores serão enriquecedoras para minha compreensão do texto.

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Como Hegel trata a divisão Espírito e Matéria.
Ou, melhor dizendo, como se cria a matéria, segundo Hegel.

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Hegel, Georg Wilhelm Friedrich
A razão na História: uma introdução geral à Filosofia da História.
São Paulo : Centauro, 2001

Introdução: Robert S Hartman.
Tradução: Beatriz Sidou.
Traduzido para o inglês em 1953 por Robert S Hartman.

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Obs.: Em azul (corpo 10) estão minhas observações. O texto original de Hegel está em preto (corpo 12), ambas em Times New Roman. E como observação final: isto não é nenhum Pato Donald da vida. Sem qualquer demérito ao querido personagem.



Observação preliminar:


Este é o momento, um deles (que pude reconhecer uma vez que não li a obra toda) onde Hegel estabelece como se dá a criação da matéria. Daí nascendo a dualidade Idéia absoluta (Deus) e consciência própria individual (matéria).


Lembro que neste texto, consciência própria individual que nós colocaríamos/nominaríamos de espírito, Hegel classifica, segundo compreendi dentro da categoria de elemento material. Muito embora em outros textos, ao usar o termo espírito, o faz tal qual o fazemos nós espíritas.


Ao texto quem tiver interesse:



Página 72 e seguintes.

A idéia tem dentro de si a determinação de sua auto-consciência de atividade.

A Idéia (espírito) sabe que não está parada, que é capaz de uma atividade interna.

Por conseguinte, ela é a vida eterna de Deus, como era, por assim dizer, antes da criação do mundo, a conexão lógica (de todas as coisas).

Independentemente do uso do termo Deus, Hegel estabelece aqui o primado da Idéia. Sendo, mesmo antes da criação do mundo a conexão lógica entre todas as coisas.
I Idéia como elemento vinculante de todas as coisas capazes de serem pensadas naquele momento. O momento antes da Criação do Mundo.

Ela ainda carece, a esta altura, da forma de ser que é a realidade. Ainda é o universal, o imanente, o representado.

A Idéia está, aí, em seu ponto de representação apenas. Sem concretude material.

A segunda fase começa quando a Idéia satisfaz o contraste que originalmente só está nela de maneira ideai e postula a diferença entre si em seu modo universal livre, em que ela permanece dentro de si e em si como reflexão puramente abstrata de si.

Passando assim por cima para um lado (para tornar-se objeto de reflexão), a Idéia estabelece o outro lado como realidade formal (Fürsichsein = ser para si; ser para si mesmo), como liberdade formal, como unidade abstrata da consciência própria, como reflexão infinita em si e como negatividade infinita (antítese).

Quando a Idéia se projeta de seu modo universal livre para outra coisa, objeto de reflexão acaba criando essa outra coisa; um outro lado, este, como realidade formal.
Uma unidade abstrata da consciência própria, como reflexão infinita, e como negatividade infinita.
Antítese, como admite o próprio Hegel, e a antítese da Idéia nada mais é do que a matéria, também dita realidade formal.



Falando desse outro lado criado pela Idéia :

Assim ele se torna o Ego que, como um átomo (indivisível), opoe-se a todo o conteúdo e, dessa maneira, é a antitese mais completa – a antítese, nomeadamente, de toda a plenitude da Idéia.

O trecho a seguir corrobora com minha interpretação, creio eu:

A Idéia absoluta é assim, por um lado, a plenitude material do conteúdo e, por outro lado, a vontade livre abstrata. Deus e o universo apartaram-se e se colocaram como opostos entre si.

Vejamos ainda este outro trecho:

A consciência, o Ego, tem um ser tal, que o outro (tudo o mais) está para ela (é seu objeto). Ao desenvolver esta cadeia de pensamento, chega-se à criação do mundo, dos espíritos livres e assim por diante.

Como ele explica a finitude da matéria:

A antítese absoluta, o átomo (isto é o Ego) que ao mesmo tempo é uma diversidade (de conteúdos da consciência), é a própria finidade. Ela é em si (na realidade) apenas a exclusão de sua antítese (a Idéia absoluta). É seu limite e sua barreira. Assim, ela é o Absoluto em si tornado finito.

Depois segue se referindo aos seres da criação em sua reflexão:

A reflexão em si, a consciência própria individual, é a antítese da Idéia absoluta e, por isso, a Idéia em finidade absoluta. Esta finidade, o apogeu da liberdade, este conhecimento formal – quando relacionados com a glória de Deus ou com a Idéia absoluta que reconhece o que deve ser – é o solo em que o elemento espiritual do conhecimento como tal está caindo, ele assim constitui o aspecto absoluto de sua realidade, embora permaneça apenas formal.

A consciência própria individual (o espírito) que é a antítese da Idéia absoluta (Deus), e por isso sujeita à finidade/finitude. Embora seja essa finidade (a morte) o apogeu da liberdade, ao ser comparado à grandeza de Deus passan a ser o solo onde pode crescer o conhecimento, o que há de mais absoluto em sua realidade. Apesar de tudo isso a consciência própria individual segue sendo apenas formal, material; portanto perecível.

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